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2.4 A COMPATIBILIZAÇÃO DA PADRONIZAÇÃO COM A ISONOMIA

2.4.5 A isonomia no procedimento de padronização

A padronização é um procedimento administrativo que transcorre mediante impulso da própria administração, não existindo litígio entre partes ou entre particular e a Administração Pública, o que faz com que Diógenes Gasparini afirme que “não se pode permitir que os vários produtores de bens similares tenham uma participação efetiva na defesa de seus produtos ou na contestação dos que lhes são similares”. E que se os fornecedores “entenderem ilegal ou sem razão a padronização, devem contestá-la administrativa, em outro processo, ou judicialmente”359.

A afirmativa do autor encontra guarida na prática administrativa, uma vez que, quem caracteriza o objeto que irá comprar é a própria Administração, e como a padronização nada mais é do que um procedimento de caracterização do objeto seria lógico afirmar que o procedimento é implantado para garantir o seu próprio convencimento. Logo, o fornecedor que se sentir prejudicado em virtude do seu produto não ter sido contemplado com determinados atributos ou que discorde de atributos conferidos a produtos de seus concorrentes, teria que questionar em processo próprio administrativo ou judicial e não no transcurso do procedimento de padronização.

357 CASTRO. Carlos Roberto Siqueira de. O devido processo legal e os princípios da razoabilidade e da

proporcionalidade. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 137.

358 FURTADO, Lucas. Curso de licitações e contratos administrativos, p. 97.

Quando não existe a padronização, a Administração caracteriza o bem e inicia um procedimento licitatório ou uma contratação direta. No primeiro caso, o fornecedor tem a possibilidade de impugnar o Edital questionando a caracterização do objeto e, não satisfeito com a resposta, ir aos órgãos de controle externo. No segundo caso, não existe recurso administrativo próprio para questionar a contração direta, o que faz com que os fornecedores provoquem os órgãos de controle, principalmente de controle externo.

Todavia, um dos objetivos da padronização é conhecer os produtos existentes no mercado. Logo, há que existir um canal direto de acesso entre a comissão e o fornecedor, para que sejam apresentadas as vantagens do seu produto no atendimento ao interesse público360. Para tanto, há necessidade de que seja garantida a isonomia no acesso à comissão e durante o transcorrer do procedimento.

A isonomia no acesso depende da ampla publicidade da existência de padronização, uma vez que nesta etapa qualquer potencial interessado em fornecer o produto que se pretende padronizar tem o direito de participar do procedimento. Logo, há que divulgar a competência da comissão de padronização para receber informações sobre produtos e amostras. Como no presente trabalho há a proposta de relação dinâmica, em fluxo contínuo, há a possibilidade de ser realizado contato a qualquer tempo, independente da existência de procedimento de padronização em andamento, finalizado ou mesmo da inexistência de padronização. É claro que a Administração só irá receber informações e amostras sobre produtos que lhe são úteis e que possam ser objeto de compra.

Tal abertura faz-se necessária, uma vez que a comissão de padronização assume a competência de atualização do produto, o que poderá desencadear uma série de ações, tais como: a) inclusão do produto no catálogo de padronização após verificação técnica; b) surgimento de produto que após análise da comissão se apresenta com melhor custo-benefício em relação ao padronizado, o que irá provocar a revisão do padrão existente; c) recebimento de produto durante o procedimento de padronização que será analisado junto com os demais; d) surgimento de produto que desencadeia o início de procedimento de padronização; e e) confirmação de que não existem novidades no mercado que justifiquem a alteração do padrão existente.

Há que se destacar que o procedimento de padronização apresenta-se diferente do licitatório, tanto em relação à descrição do produto quanto à participação dos fornecedores. Na licitação, o produto já se encontra caracterizado, o que implica restrição aos potenciais licitantes, enquanto na padronização, a descrição do objeto é de forma ampla, pois a caracterização só ocorrerá na finalização do mesmo. A padronização se inicia com um mínimo de descrição do bem em conformidade com as regras de mercado e normas técnicas.

O formalismo do procedimento de padronização é menor do que o licitatório, uma vez que a comissão de padronização impulsiona a produção dos documentos necessários, sendo possível o acesso a bancos de dados de caráter público e contato direto com o fornecedor para a produção das informações necessárias ou suplementares. A participação do fornecedor também ocorre de forma diferente, pois os produtos são analisados por marca, tipo ou modelo e não por fornecedor, o que reduz o número de participantes, bastando a participação de um representante da marca.

Para que a isonomia seja respeitada, a comissão terá que utilizar métodos objetivos no comparativo entre os produtos e na justificativa pela opção do produto-padrão. A autoridade responsável pela decisão também terá que se conduzir de forma objetiva ao acolher ou rejeitar o parecer da comissão de padronização. Além da objetividade, há necessidade da transparência do procedimento, o que envolve: a) a divulgação da abertura do procedimento e da fixação do produto-padrão e b) a garantia do direito de acesso ao procedimento pelos fornecedores.

A abertura de procedimento de padronização de determinado bem ou bens demanda uma publicidade ampla, de forma a realizar um chamamento público aos potenciais interessados em fornecer aquele produto. A Administração pode se utilizar de ferramentas de tecnologia de informação para atingir os potenciais interessados, informando em seu sítio na

internet a abertura do procedimento, bem como enviar comunicações para os fornecedores cadastrados pela comissão de padronização. Quanto mais ampla a publicidade, melhor, uma vez que há o interesse na participação do maior número de interessados.

A divulgação da fixação do padrão também deve ser ampla, independente da existência de catálogo, pois os interessados em contratar com a Administração precisam ter conhecimento da existência de padronização e o prazo de duração da mesma, para se preparar para as futuras licitações, seja providenciando documentos ou adaptando o seu produto às

especificações. O direito de acesso ao procedimento pelos interessados se manifesta como extensão do direito à transparência, propiciando ao fornecedor o acesso aos resultados da avaliação do seu produto e ao comparativo com os demais existentes no mercado.

Como o comparativo entre os produtos existentes no mercado constam do relatório e as justificativas pelas especificações constam do parecer da comissão de padronização, entende-se que deve ser aberta a possibilidade de manifestação dos fornecedores, sendo que eventuais manifestações devem ser anexadas ao procedimento e encaminhadas para a autoridade que as analisará, preliminarmente à decisão. Tal medida se justifica em função de erros nas informações, alterações de dados e especificações ou substituição de produtos que tenham ocorrido no trâmite do procedimento.

Dessa forma, a comissão de padronização informa aos fornecedores a finalização da instrução e concede prazo para manifestação sobre o relatório e parecer final, propiciando aos mesmos o direito de corrigir informações errôneas ou informar alterações ocorridas em seu produto ou no produto do concorrente, desde que sejam relevantes para a padronização. Aplica-se por analogia o previsto no art. 44, da Lei de Processo Administrativo Federal.

A manifestação se apresenta como um direito e não como uma obrigação, bastando à Administração a abertura de prazo para a manifestação dos fornecedores, sendo o momento oportuno para que o fornecedor, “satisfazendo o seu interesse, possa demonstrar à Administração qual a melhor solução a ser adotada na espécie”361. Pode ser aplicado o prazo previsto na lei, ou seja, o máximo de 10 dias. Há que se destacar também que, caso o fornecedor se manifeste sobre o produto de outro fornecedor, a comissão de padronização poderá abrir prazo de resposta. Tal direito será garantido somente nos casos em que a manifestação apresente dados e informações que, caso fossem acatados, gerariam alterações no resultado da padronização.

361 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo administrativo federal (Comentários à Lei n. 9784, de

3 PROCEDIMENTO DE PADRONIZAÇÃO

O procedimento de padronização das compras governamentais precisa ser repensado para se transformar em algo rotineiro e dinâmico, realizado em conformidade com os princípios constitucionais e legais que regem as compras governamentais. Tais transformações dependem da adoção de novos parâmetros de conformação, que serão apresentados neste capítulo, em caráter de contribuição.