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A HORA E A VEZ DO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA MENTAL: NOVOS CONCEITOS, NOVAS EMOÇÕES

EVOLUÇÃO DA MATRÍCULA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 1998 A 1999 POR REDE DE ENSINO

2.1.2 A legislação educacional brasileira e a Educação Especial

A preocupação com o cidadão, no aspecto social, tem sua origem nos ideais da Revolução Francesa e ficou sistematizada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), que assegura ao homem, entre outros, o direito à liberdade, à igualdade, à propriedade e à segurança.

Os preceitos ali postos foram ratificados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem .proclamadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, que reconhece serem aqueles direitos comuns a todos os homens, sem qualquer discriminação, destacando-se o direito à educação.

Atendendo a essa necessidade, a ONU elaborou a Declaração dos Direitos da Criança e a Declaração dos Direitos do Deficiente, que visam assegurar a todas as pessoas o desenvolvimento de uma vida digna em sociedade. Os princípios contidos nessas Declarações foram absorvidos pelos países que após a Segunda Guerra Mundial, optaram pelo regime democrático.

Porém, em nações onde o processo de democratização ainda não está perfeitamente sedimentado, a definição genérica dos direitos sociais do cidadão, seja ele portador de deficiência ou não, mostra-se insatisfatória, fazendo-se necessário conquistar direitos e direcioná-los, muitas vezes exigindo o puro e simples cumprimento das leis existentes.

A Constituição Brasileira preconiza, no Artigo 205, que todos têm direito à educação, preceito que, na prática, ainda não se concretizou, pois as estatísticas e a literatura específica vêm mostrando, insistentemente, que um grande número de crianças e adolescentes em idade escolar está à margem do processo educacional.

Quando se trata de ofertar educação aos portadores de deficiência, o problema se agrava, haja vista que ela tem se concretizado, tradicionalmente através de instituições especializadas de caráter particular, embora se possa identificar uma crescente preocupação dos Estados brasileiros em difundi-la na rede pública de ensino.

Na tentativa de minimizar o problema e garantir o direito à educação aos portadores de alguma excepcionalidade, estimados pela ONU em 10% da população mundial, é que a atual Constituição Federal estabelece, no Artigo 208, inciso III, que o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência se fará preferencialmente na rede regular de ensino.

Essa proposição é fundamental para a demonstração do ensino e a integração do deficiente, uma vez que esse alunado, em nome do combate à segregação e estigmatização, deverá ser atendido em escolas comuns, junto a outras crianças, desde que suas características psicológicas, condições físicas e de aprendizagem lhe permita freqüentar uma classe comum. Nesta classe, qualidade de ensino lhe deve ser assegurada por proposta educacional adequada, equipamentos pedagógicos que garantam sua implementação e professores especializados e capazes de colocá-la em prática.

O direito dos portadores de deficiência à educação está previsto, ainda, em dois outros dispositivos legais de âmbito federal, destacando-se a lei n°. 7.853/89, que estabelece os Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, e a lei n°. 8.069/90, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Sob a ótica da legislação educacional, a Educação Especial foi contemplada, inicialmente, no texto da lei n°. 4.024/61, que fixou as diretrizes e bases da educação nacional e estabeleceu que "a educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade" (Artigo 88).

O Artigo 9o. da lei n°. 5.692/71 determina que seja atribuído tratamento especial aos alunos portadores de deficiências físicas4 ou mentais, aos que se encontrarem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e aos superdotados. Por uma questão de enfoque filosófico, a Educação Especial, embora prevista na lei n°. 5.692/71, não recebeu o mesmo tratamento a ela destinado pela lei n°. 4.024/61, o que pode ser explicado a partir da ênfase atribuída, pela lei n°. 5.692/71, à relação da educação como caráter produtivo e à desconsideração dos portadores de deficiência como participantes da força de trabalho.

Após oito anos de discussões no Congresso Nacional, finalmente foi sancionada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, aos 20 de Dezembro de 1996, a segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB. Recebeu o número 9.394 e foi publicada na Seção I do Diário Oficial da União (DOU), de 23/12/96.

A Educação Especial é explicitada na letra dessa lei, com três artigos, com seus parágrafos e incisos que integram o Capítulo V, adrede organizado em torno da educação especial.

Art. 58 - Entende-se por educação especial, para efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos que apresentarem necessidades especiais:

§1°. Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular para atender às particularidades da clientela de educação especial; §2°. O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular;

§3°. A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero aos seis anos, durante a educação infantil.

Art. 59 - Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos para atender à suas necessidades;

II - terminalidade específica para aqueles que não possam atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo programa escolar para os superdotados;

III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitado para a integração desses educando nas classes comuns;

IV - educação especial para o trabalho, visando à sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelam capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante a articulação com órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artísticas, intelectual ou psicomotora;

V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível de ensino regular.

Art. 60 - Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público.

Parágrafo Único. O Poder Público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo.

Cabe afirmar que a presença da educação especial na nova LDB, como Capítulo, é benéfica, pois poderá trazer frutos cada vez mais positivos tanto mais úteis quanto mais a educação especial for entendida como um conjunto de recursos à disposição da educação escolar e do ensino público.

2.1.3 A concepção da excepcionalidade e suas implicações