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O CONHECIMENTO: UMA TRAVESSIA DE SONHOS E FANTASIAS PELAS PEDRAS DO MUNDO VIRTUAL

4.3 Procedimentos metodológicos

Para analisar as interações estabelecidas pelo portador de deficiência mental num ambiente pedagógico informatizado, realizamos observações por meio de registros escritos e de filmagens das sessões, acrescidas de entrevistas estruturadas com os atores, a fim de captarmos suas expectativas em relação ao uso do computador na educação desse sujeito.

4.3.1 Procedimentos de interação: criança/computador

Nosso trabalho com o grupo objetivou explorar atividades que focalizassem os seguintes aspectos:

■ Esquema corporal; ■Lateralidade; ■ Direcionalidade; ■Organização espacial; ■Organização temporal; ■Atenção concentrada; ■Vocabulário;

■Utilização do corpo, da linguagem e dos objetos do ambiente LOGO-MicroMundos;

■Criatividade.

Para a realização dessa etapa do trabalho, estabelecemos como princípio fundamental o relacionamento afetivo com a criança, permitindo uma aproximação natural e criativa entre o mediador/criança.

Foram oportunizadas a esse grupo de crianças com deficiência mental, experiências interativas em microcomputadores utilizando a linguagem LOGO- MicroMundos, realizadas em dois momentos distintos.

Num primeiro momento, desenvolvemos atividades lúdicas, por intermédio do corpo e das artes, tendo em vista a preparação para introduzir o trabalho com o computador. Assim sendo, trabalhamos noções de lateralidade, direcionalidade, deslocamento do corpo para frente, girando à direita e à esquerda, sendo que essas noções correspondem aos comandos básicos do programa.

Foi apresentada às crianças a figura de uma Tartaruga em cartolina, conforme mostra a figura abaixo.

Figura 14. Tartaruga em cartolina.

A primeira atividade consistiu na pintura, no recorte e na colagem da Tartaruga com os materiais disponíveis, levados por nós especialmente para esse fim.

Após o término dessa atividade, conversamos a respeito desse animal, e cada criança escolheu o nome para a sua Tartaruga. Explicamos que essa Tartaruga seria sua companheira durante os trabalhos no laboratório. Nas patas, havia os comandos PE e PD, na cauda PT e na cabeça PF.

Num segundo momento, as sessões ocorreram no laboratório da escola, quando as crianças interagiram com os microcomputadores e o Programa MicroMundos, operando com o objeto concreto , ou seja, a Tartaruga.

Ingressando no laboratório, levamos as crianças a explorar o microcomputador. Na apresentação do Programa MicroMundos, desenvolvemos as seguintes atividades:

- Como abri-lo;

- Familiarização com a Tartaruga; - Exploração dos centros;

- Colocação do disquete; - Como salvar arquivos;

Nessa etapa, inicialmente buscamos mesclar o trabalho em dois momentos: - Trabalho com os comandos PF/PT/PD/PE/UL;

- Elaboração de projetos livres, utilizando os recursos do programa. No primeiro momento, foram apresentados desafios para que as crianças aplicassem à sua Tartaruga e por meio do processo da descoberta, construíssem o seu conhecimento. A atividade de comandar a Tartaruga envolvia uma linguagem de comunicação - ações e regras na maneira de ordenar as ações, conforme demonstra o exemplo a seguir:

Figura 15. C asinha do MicroMundos.

As crianças, utilizando-se do comando para frente, deveriam levar a Tartaruga até dentro da porta da casa. A casa estava colada no topo da tela e a Tartaruga na parte inferior.

Depois foi colado o carrinho, também do centro de comandos do MicroMundos:

Figura 16. C arrinho do centro de comandos.

U U

As crianças, utilizando o comando para trás ou pt, teriam que levar a Tartaruga até dentro do carro. O carro estava colado na parte inferior da tela e a Tartaruga na parte superior.

Para o desenvolvimento dessas atividades, foi elaborado um material de apoio, uma Tartaruga feita a lápis, conforme a figura abaixo:

Figura 17. Material de apoio.

Quanto aos outros comandos, as crianças utilizaram-nos na medida em que foram construindo seus projetos através dos desenhos com o uso da Tartaruga de apoio.

Num segundo momento, trabalhamos com o seguinte tema: o Pantanal. Para o desenvolvimento desse tema, utilizamos alguns recursos, como o contar de histórias e a projeção de filmes que retratassem o mundo do Pantanal, pois as crianças não tinham conhecimento a respeito do tema. Durante a elaboração dos projetos individuais, as crianças trabalhavam com várias Tartarugas; os animais eram fantasiados de acordo com as personagens. Além disso, as crianças utilizavam ainda o recurso do desenho com o pincel. Para melhor ilustrar essa etapa do trabalho, apresentamos os projetos finais das crianças nos anexos a esta dissertação.

4.3.2 Observações

Nosso trabalho aconteceu semanalmente, no período de fevereiro a junho de 2001, de início com 60 minutos de duração para cada sessão, sendo posteriormente aumentado para uma hora e 30 minutos.

Focalizamos preferencialmente um sujeito de cada vez, no máximo dois, quando ocorria de dois sujeitos estarem operando os computadores próximos um do outro. Essa forma de registro focal foi por nós adotada, tendo em vista

nos permitir acompanhar um ciclo de interações com início e fim de um projeto realizado pelo sujeito no computador. Paralelamente ao registro em vídeo, realizamos também anotações em caderno, de forma que se completassem os dados captados pela câmera e vice-versa, a fim de explorar minuciosamente os dados coletados no fluxo interacional observado.

4.3.3 Entrevistas

Considerando o objetivo deste estudo, ou seja, analisar as interações realizadas pelo sujeito portador de deficiência mental num ambiente pedagógico informatizado, entrevistamos também as pessoas que estão envolvidas direta ou indiretamente com os alunos, por acreditarmos que suas informações contribuiriam na análise e no enriquecimento dos dados coletados durante as observações.

As entrevistas foram realizadas com os atores no período de abril a junho de 2001, em local e hora previamente marcados pelos entrevistados, e tiveram em média uma hora de duração, sendo que algumas extrapolaram esse tempo, em virtude do fluxo de informações prestadas por alguns informantes.

A colaboração por parte dos atores no fornecimento das informações solicitadas facilitou o nosso trabalho como entrevistadora, contribuindo para que a entrevista ocorresse num clima bastante favorável e tranqüilo.

Para análise de dados, fizemos sucessivas leituras das informações, procurando desvelar o conteúdo implícito nas falas de cada um, de forma que captássemos as expectativas manifestas pelos atores em relação ao uso do computador na educação dos sujeitos portadores de deficiência mental.