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A Lei da Mata Atlântica

COMUNIDADES EM OLHOS D’ÁGUA

I.5. CARACTERIZAÇÃO DE FATORES ABIÓTICOS E BIÓTICOS DO PNSV 1 Clima

I.5.3. Geomorfologia e Hidrografia

I.5.7.2. A Lei da Mata Atlântica

A Lei da Mata Atlântica (n° 11.428/2006) está associada a um mapa para orientar a sua aplicação, elaborado pelo IBGE, utilizando o sistema de classificação vegetal descrito por Velloso et al (1991) como base. A fim de visualizar a incidência desta lei na região da UC, foi produzido o mapa apresentado na figura 56 com identificação dos polígonos de aplicação da Lei da Mata Atlântica em Minas Gerais, com detalhes das diferentes formações abrangidas pelo bioma Mata Atlântica e ainda os refúgios vegetacionais, onde esta lei também é aplicada.

De acordo com o sistema de classificação vegetal adotado pelo IBGE, os ambientes típicos do espinhaço são definidos como “Refúgios Vegetacionais” ou “Relíquias de Vegetação”. Tais termos se referem às comunidades vegetais isoladas que diferem e se destacam do contexto da flora regional, apresentando particularidades florísticas, fisionômicas e ecológicas, que é o caso do Espinhaço.

Assim, para efeitos legais, de acordo com o mapa da Figura 54, quase a totalidade da área do PNSV, e parte de seu entorno está sujeito à legislação aplicada à Mata Atlântica.

Figura 56: Lei da Mata Atlântica em Minas Gerais conforme IBGE (BRASIL, 2008) I.5.7.3. Os Campos Rupestres

Ao longo de toda a Cadeia do Espinhaço, nas regiões de altitude superior a 900 metros, predominam as formações campestres, em especial os campos rupestres, áreas de grande diversidade biológica (GIULIETTI & PIRANI, 1988; GIULIETTI et al, 1998 apud RAPINI et al, 2008). Além da Cadeia do Espinhaço, os campos rupestres também ocorrem em áreas disjuntas, como ilhas florísticas isoladas, na porção sudoeste e sul de Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal (ROMERO, 2002).

Alguns autores consideram os campos rupestres do Espinhaço como um bioma à parte. Gontijo (2008) entende a Cadeia do Espinhaço como a base de um bioma, o quarto grande bioma de Minas Gerais, junto com a Mata Atlântica, o Cerrado e a Caatinga. O Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra do Cipó, UC também situada no Espinhaço Meridional, na sua porção sul, considera a ocorrência de três biomas na área da unidade de conservação: Campo Rupestre, Mata Atlântica e Cerrado (ICMBio, 2009 b). Benites et al (2003) citam os Complexos Rupestres de Altitude como biomas singulares que ocorrem

nas cimeiras das principais cadeias montanhosas do Brasil, incluindo Serra do Espinhaço, Serra do Mar e da Mantiqueira.

Não há consenso relativo à classificação destes Complexos Rupestres de Altitude e diversos nomes já foram atribuídos nesta divisão. Muitos autores admitem uma divisão de acordo com a litologia, se situados sobre rochas ígneas ou sobre áreas quartizíticas como citado por Benites et al (2003) e Semir (1991). As denominações de Ferri (1980) de “campos rupestres” e “campos de altitude” (respectivamente aqueles sobre áreas quartizíticas e ígneas) são as mais comumente citadas pelos botânicos e fitogeógrafos (Giulietti & Pirani 1988; Giulietti et al 1997; Safford 1999a e Fiaschi & Pirani, 2009 apud VASCONCELOS, 2011).

Os Campos Rupestres apresentam dois tipos de definições: (i) stricto sensu, ou seja, somente a vegetação com fisionomia campestre (campos graminosos, campos brejosos e afloramentos rochosos); e (ii) lato sensu, que considera os campos rupestres como um conjunto de comunidades vegetais, associadas ao substrato de origem principalmente quatzítica e filítica, situados na Cadeia do Espinhaço em altitudes superiores à faixa de 900 metros (VITTA, 2002).

A vegetação da serra do Espinhaço não é homogênea, mas sim um mosaico de fisionomias diferentes, tratando-se de um complexo vegetacional, denominado por Semir (1991) como “complexo rupestre de quartzito”. O autor considera os campos rupestres como um mosaico de comunidades sob o controle da topografia local, substrato e microclima. Considerando a importância desses ecossistemas e também de marcante aspecto da transição entre os Biomas Cerrado e Mata Atlântica existentes e que se estende às áreas fora dos limites do PNSV, adotou-se neste documento a definição de campo rupestre latu sensu.

O complexo de fitofisionomias que caracteriza os campos rupestres inclui formações campestres, savânicas e florestais, determinadas pelas variações do ambiente. Nos campos rupestres da região do Espinhaço, predominam fitofisionomias campestres associadas a solos originados da intemperização de rochas com alto teor de quartzo. Em meio a estes campos há uma grande diversidade de fitofisionomias determinadas pela complexidade da paisagem. Dependendo da profundidade do solo, ou ausência deste, têm-se mais ou menos espécies arbustivas e arbóreas. Sobre afloramentos de rocha, que muitas vezes são a matriz da paisagem, predominam plantas arbustivas e herbáceas, especialmente aquelas com adaptações fisiológicas para condições de escassez de nutrientes e déficit hídrico. Porém, onde há rochas com mais fissuras e porosidade, o que resulta em maior disponibilidade de água, podem ocorrer fitofisionomias caracterizadas por espécies arbóreas. A drenagem do solo e disponibilidade hídrica são fatores também importantes para determinar a vegetação. Solos mal drenados são geralmente caracterizados pela dominância de espécies herbáceas, raros arbustos e total ausência de árvores. Solos bem drenados, ou de drenagem intermediária, podem apresentar

formações florestais. Dada a complexidade da paisagem que caracteriza a Cadeia do Espinhaço, criando condições ambientais extremamente variáveis em curta escala espacial, diferentes solos e relevos que determinam diferentes ambientes com diversas combinações de drenagem, disponibilidade de água, sustentação das raízes e disponibilidade de nutrientes, as fitofisionomias que ocorrem nesta região são únicas e ainda não foram classificadas de forma abrangente e consistente (ICMBio, 2013a).

A heterogeneidade de substrato, topografia e microclima é refletida na estrutura das comunidades e na composição florística dos campos rupestres, agregando vários microambientes em espaços restritos (VITTA, 2002, CONCEIÇÃO & GIULIETTI, 2002;; CONCEIÇÃO E PIRANI, 2005; CONCEIÇÃO et al, 2005 apud RAPINI et alli.).

A extensa área dos campos rupestres, tanto na Cadeia do Espinhaço como em suas disjunções, necessita de maiores estudos para conhecimento da diversidade da flora, bem como da estrutura e dinâmica de suas comunidades vegetais (ROMERO, 2002).

Os levantamentos realizados ao longo do Espinhaço (e.g., Giulietti et al, 1987; Stannard, 1995; Pirani et al, 2003 ; Zappi et al, 2003 apud RAPPINI, et al, 2008), por apresentarem diferenças florísticas entre si, confirmam a grande diversidade e as altas taxas de espécies microendêmicas nos campos rupestres. O número de espécies nas áreas de campos rupestres é bastante alto e o número de espécies endêmicas e novas vem aumentando a cada levantamento realizado. Atualmente, pesquisadores apontam a necessidade de coletas com metodologias que possibilitem a inferência da diversidade de cada área, bem como comparações com outras localidades (ZAPPI et al, 2003).