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A Lei de Improbidade Administrativa e a Lei da Ficha Limpa

4 CONCEITO E CONSIDERAÇÕES SOBRE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

5.1 Da improbidade administrativa

5.1.4 A Lei de Improbidade Administrativa e a Lei da Ficha Limpa

A Lei Complementar 135/2010 conhecida popularmente como “Lei da Ficha Limpa”, alterou a Lei Complementar 64/1990 (Lei de Inelegibilidade), e estabeleceu novas hipóteses de inelegibilidade para os agentes públicos condenados por atos de improbidade administrativa.

Vale salientar que o STF já pôde analisar e reconhecer a constitucionalidade da “Lei da Ficha Limpa”, tendo em vista que a edição da referida lei causou grande discussão social e jurídica em todo o Brasil, principalmente por ser um dos aspectos que gerou grande expectativa à sociedade de melhora da qualidade dos políticos brasileiros185.

A Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu art. 14 elenca os Direitos Políticos, condições de elegibilidade e causas de inelegibilidade (§§4°, 5°, 6°, 7° e 9°). Sendo

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STJ, REsp 1.034.511/CE, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe 22.09.2009 (Informativo de Jurisprudência do STJ 405).

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Questão de Ordem na Petição n° 3211/DF: EMENTA Questão de ordem. Ação civil pública. Ato de improbidade administrativa. Ministro do Supremo Tribunal Federal. Impossibilidade. Competência da Corte para processar e julgar seus membros apenas nas infrações penais comuns. 1. Compete ao Supremo Tribunal Federal julgar ação de improbidade contra seus membros. 2. Arquivamento da ação quanto ao Ministro da Suprema Corte e remessa dos autos ao Juízo de 1º grau de jurisdição no tocante aos demais.

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ADC 29/DF e da ADC 30/DF, Rel. Min. Luiz Fux (Informativo de Jurisprudência do STF 655), e RE 633703.

que no § 9º, traz a hipótese normativa que determina que os casos de inelegibilidade, somente poderão ser estabelecidos por Lei Complementar (além dos constitucionalmente já postos).

Além do que, diz que os casos de inelegibilidade têm por objetivo “proteger a probidade administrativa”, “a moralidade” sendo que essa moralidade deve considerar a “vida pregressa do candidato”, “e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”186, o que se coaduna com os princípios gerais norteadores da administração pública, elencados no caput do art. 37 da CF/88.

A Lei Complementar 64/1990 veio para regulamentar o já mencionado §9° do art. 14 da CF/88, e em relação à improbidade administrativa, trouxe duas novas hipóteses normativas, ambas incluídas por força da Lei da Ficha Limpa. Sendo a primeira a da letra “g” do inciso I do art. 1º, que estabelece a inelegibilidade para qualquer cargo daqueles que “tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa”, sendo que essa rejeição de contas deve ter sido havida “por decisão irrecorrível do órgão competente”, o que já traz como efeito “para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão”.

A segunda hipótese fora trazida na letra “l”, inciso I do mesmo art. 1º da referida Lei Complementar, e torna inelegíveis os agentes públicos que forem condenados à suspensão dos seus direitos políticos, “em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito”, mas ressalva, que tal inelegibilidade terá como prazo o momento da condenação ou do trânsito em julgado, até o transcurso do prazo de oito anos após o cumprimento da pena.

As inelegibilidades trazidas pela “Ficha Limpa” dependem em qualquer caso da condenação pela prática de ato doloso de improbidade administrativa. Ou seja, se a condenação for por ato culposo de improbidade, somente admitido na hipótese do art. 10 da Lei 8.429/1992, não se aplicará a inelegibilidade ao agente público, como demonstrado no tópico que trata dos atos de improbidade.

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Como já visto anteriormente, os atos considerados como de improbidade administrativa são os que estão capitulados nos arts. 9°, 10° e 11 da Lei 8429/92, sendo basicamente, o enriquecimento ilícito, a lesão ao erário, e violação aos princípios da Administração Pública, respectivamente.

Se a Lei da “Ficha Limpa” impôs que, para que haja a imposição da inelegibilidade, depende da ocorrência de “lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito” pelo ato de improbidade atacado (caso da letra “l” do inciso I do art. 1° da Lei Complementar 64/1990), se depreende então que não haverá a imposição de inelegibilidade em consequência na condenação por improbidade com fundamento no art. 11 da Lei 8.429/1992 (violação aos princípios da Administração Pública).

E ainda, na referida hipótese (letra “l” do inciso I do art. 1° da Lei Complementar 64/1990) se pressupõe que a condenação seja imposta por “órgão judicial colegiado”, não bastando a existência de sentença condenatória por Juízo monocrático, havendo que se respeitar o duplo grau de jurisdição.

Discussão essa que vem tomando força tanto na doutrina quanto na jurisprudência pátria, em virtude de que as decisões proferidas por órgãos judiciais colegiados, independentemente do trânsito em julgado, justificar a imposição da inelegibilidade, já que a Constituição Federal brasileira tem como um de seus princípios basilares e norteador a presunção de inocência (art. 5.º, LVII, da CF/88B), o que gera um questionamento quanto à sua constitucionalidade, mas que aqui não vale adentrar em sede de cognição exauriente, por não ser o objeto de estudo do presente trabalho, pelo que se tece somente alguns comentários.

O argumento para que não seja considerada inconstitucionalidade na imposição da inelegibilidade por decisão não transitada em julgado se baseia em duas razões: a que o texto constitucional deve ser interpretado de maneira sistemática, inexistindo normas com caráter absoluto, razão pela qual, por meio do processo de ponderação de interesses, a presunção de inocência não deve se sobrepor ao princípio constitucional da moralidade administrativa, que fundamenta as hipóteses de inelegibilidade; e, que o princípio da presunção de não culpabilidade não se aplica às hipóteses de inelegibilidade, pois estas

últimas não são “penas”, mas condições de inelegibilidade, apoiadas no art. 14, § 9.º, da CF/88187.

Por fim, merece menção o fato de que as condições elegibilidades e as causas de inelegibilidade devem ser demonstradas no momento da formalização do pedido de registro da candidatura, salvo as alterações supervenientes, conforme disposto na Lei 9.504/97188.

5.1.5 A moralidade do art. 37 da Constituição Federal de 1988 e o dever de probidade