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A Lei do PSPN, a carreira e o regime de previdência

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Mesmo os que acompanham à distância o cotidiano de trabalhadores têm percebido que o assunto da previdência tem provocado bastante sofrimento para a categoria dos professores quando estes saem da ativa e buscam ingressar no sistema previdenciário, ou seja, aposentam-se. Para os profissionais do magistério público da educação básica da Rede Municipal esse caminho ficou mais tortuoso depois da mudança de regime jurídico dos

servidores públicos, recomendada pela CF de 1988. A legislação facultou aos servidores estatutários ter previdência própria, ou manter-se vinculados ao regime geral de previdência. Na década de 1990, período em que ocorreu a reforma política e administrativa nos municípios, por consequência das instituições das Leis Orgânicas Municipais, muitas prefeituras implantaram os próprios regimes de previdência, seguindo uma tendência dos Estados. Outras optaram por continuar vinculadas ao regime geral.

Com o transcorrer do tempo, algumas prefeituras não conseguiram manter seus próprios fundos e retornaram ao regime geral, o do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), principalmente os municípios de pequeno porte. Os municípios que integram o Território do Sertão Produtivo não possuem regimes próprios, estão vinculados ao INSS, inclusive Guanambi chegou a instituir o fundo juridicamente, colocou-o em funcionamento, mas retornou ao INSS.

Insere-se nessa breve contextualização a Lei do PSPN aprovada em 2008, que estende seus benefícios de ordem salarial aos profissionais do magistério público da educação básica que estão inativos, os aposentados e pensionistas. Todavia, o INSS não tem garantido esse direito. Esses profissionais que trabalharam em municípios que não possuem fundos próprios de previdência, ao se aposentarem, passaram a receber o salário mínimo. Ou seja, os professores que atuam na Rede Pública Municipal, quando se tornam inativos, não recebem o PSPN. Isso constitui um grande problema de ordem social e econômica para essa categoria, que ainda na ativa enfrenta uma série de problemas de saúde e quando entra no processo inativo necessita de mais cuidados e tem seu vencimento diminuído drasticamente.

A falta de comprometimento dos gestores com a categoria, quando seus profissionais se tornam inativos, é evidente. Chama a atenção, também, o comportamento dos sindicatos que, em sua maioria, deixam de ser combativos e optam por “lavar as mãos”, não enfrentam o problema.

Ao serem questionados pela pesquisadora sobre as disposições relativas ao piso salarial de que trata a Lei do PSPN no art. 2º § 5º, sobre a aplicação a todas as aposentadorias e pensões dos profissionais do magistério público da educação básica alcançadas pelo art. 7o da E.C. n.o 41, de 19 de dezembro de 2003 e pela EC n.o 47, de 5 de julho de 2005, todos, 100% dos representantes dos sindicatos e das Secretarias Municipais de Educação, disseram que não, os professores não recebem o piso após se tronarem inativos. Uma secretária chegou a comentar que depois que o professor se aposenta, desvincula-se, a SME passa a não ter mais responsabilidade com o profissional. O problema passa a ser entre o professor e o INSS.

Também detectamos com a pesquisa que os profissionais do magistério enfrentam outros problemas com o processo de aposentadoria. As aposentadorias não são concedidas pelo INSS porque não constam no sistema os repasses que devem ser realizados pelo órgão empregador. Ou seja, a prefeitura faz o desconto na folha, mas não efetua o depósito no INSS. Em outros casos desconta-se um valor no contracheque do funcionário e repassa-se outro valor, inferior, para o INSS.

Na legislação brasileira o empregador que desconta do empregado e não recolhe para o órgão para o qual o desconto deve ser feito, está cometendo um crime de apropriação indébita. Apesar disso, quando perguntamos sobre os principais embates ocorridos entre o movimento sindical docente e os gestores dos municípios em que houve necessidade de intervenção do poder judiciário, esse problema não aparece na relação de fatos/queixas levados à justiça pelo sindicato. Dentre tantas funções a desempenhar, essa é mais uma delegada aos sindicatos: acompanhar o recolhimento previdenciário dos profissionais do magistério.

Mesmo sendo conhecedores da morosidade da justiça no Brasil, o monopólio da jurisdição é do Estado. Na condição de controlador, cabe a ele, juiz, resolver os conflitos, seja pela conciliação seja pela sentença impositiva.

Salienta-se que a lei deve ser interpretada de forma inteligente; quando ela causa um absurdo, algo está errado e precisa ser revisado sob o olhar dos estudiosos desse campo do conhecimento. Entretanto, não é preciso estudar Direito para entender o problema de uma pessoa pagar o fundo durante todo o período que esteve na ativa, com um determinado valor, e receber um salário inferior quando passa à inatividade.

A Figura 1 ilustra o salário de um professor de nível 2, com formação superior e o tempo/jornada de trabalho de 40h semanais. Quando estava na ativa o professor recebeu auxílio-transporte, incentivo à titulação e tempo de serviço no valor de 5% sobre o salário base a cada cinco anos de efetivo serviço. A soma de todos esses direitos, conquistados historicamente, compõe a remuneração.

Figura 1 ─ Contracheque do Professor em atividade no Ensino Fundamental com carga horária de 40 horas semanais na rede municipal da Bahia − novembro de 2014

Fonte: Pesquisa de campo (2014)

Ao postular a aposentadoria o professor informa ao INSS, por meio dos contracheques, os últimos salários recebidos para que seja realizado o cálculo. O contracheque exposto na Figura 2 pertence ao mesmo professor da Figura 1, que está na condição de aposentado.

Esclarecemos que não estamos falando de salários que ultrapassam o teto do INSS, R$ 4.663,75, mas sim de uma remuneração de R$ 3.135,68, que é rebaixada para R$ 2.154,21 quando o profissional se torna inativo. Esse valor não é reajustado de acordo com o percentual do piso salarial.

A cada ano o salário do professor aposentado perde o poder de compra até chegar ao salário mínimo. Para compreender melhor essa realidade buscamos informações com uma professora que se aposentou em 2009, um ano após a implantação da Lei do PSPN. Ao se aposentar, mesmo com a redução ela recebia cerca de 3 salários mínimos, em julho de 2015 estava recebendo pouco mais de um salário mínimo, segundo a professora a redução foi de mais de 60%.

Figura 2 ─ Comprovante de salário/aposentadoria do professor do Ensino Fundamental com Carga Horária de 40 horas semanais na rede municipal da Bahia − dezembro de

2014

Fonte: Pesquisa de campo (2014)

É comum ouvir casos como esse entre os professores e as lideranças sindicais em assembleias, momento em que expõem os fatos em busca de orientações e experiências diferenciadas. Os escritórios de advocacia têm-se especializado a cada dia mais, com o objetivo de mediar com o poder judiciário soluções legais para a problemática. Daí a importância de os sindicatos atuantes frearem esses abusos praticados pelo poder executivo municipal, buscando o poder judiciário, e esclarecer a ignorância por meio do diálogo. Ao cidadão não pode ser negado seu direito.

O INSS tem utilizado como subterfúgio para fazer os cálculos a exclusão da parcela variável dos salários, do tempo de serviço, da titulação, dentre outros fatores, que os profissionais do magistério pagam ao INSS e que não estão incorporados aos salários. Quando questionado sobre os baixos valores pagos aos que requerem o direito da aposentadoria após cumprir o tempo de serviço e estar na idade adequada, o INSS invoca o art. 195 da CF de 1988 para alegar a fonte de custeio. Alguém tem que pagar para que o profissional requerente possa receber, esse é um dos principais argumentos do INSS.

O Prof. Abicalil (2014) considera que esse tema está muito presente. Em sua fala fica evidente que a justificativa dada aos profissionais do magistério pelos prefeitos de que quem se aposenta pelo INSS, não tem integralidade é falsa. Desde a EC n.º 51 as prefeituras e os

estados que não sustentam regimes próprios, que é uma faculdade das prefeituras, devem garantir a integralidade dos proventos dos aposentados por meio de um fundo público complementar.

O palestrante ainda explica que se algum/a professor/a na ativa, em sua carreira, ganha mais do que o teto salarial pago pelo INSS, R$ 4.663,7539, o gestor público deve depositar o recurso adicional em fundo complementar, que pode ser próprio da prefeitura ou de um banco, para garantir a integralidade do salário. A decisão sobre a constituição de fundos complementares é anterior à emenda do piso, a EC n.º 51 da reforma da previdência.

Outra lei que tem sido bastante utilizada para o não pagamento do PSPN aos profissionais do magistério é a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), Lei Complementar n.º 101 de 04 de maio de 2000. Vejamos a seguir como isso ocorre.

No documento Download/Open (páginas 100-105)