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O 5º ano do Ensino Fundamental: tempos acrescidos ou tempos redimensionados

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A Lei n.º 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, ampliou o Ensino Fundamental para nove anos de duração, contando com a matrícula de crianças de 6 anos de idade, e estabeleceu prazo de implantação, pelos sistemas, até 2010. Com a obrigatoriedade do Ensino Fundamental de 9 anos, o sistema de ensino brasileiro redesenhou outra configuração de agrupamento dos alunos no tempo e no espaço escolar. Muitos professores que atuavam na 4a série passaram a atuar no 5º ano do Ensino Fundamental.

Para muitas pessoas, inclusive para os alunos, essa alteração foi muito conturbada, a partir de 2006 passaram a existir dentro das escolas os alunos da antiga 5ª série e os estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental, visto que os alunos do 5º ano correspondiam à 4ª série. Essa correspondência não foi uma mera transposição dos conteúdos da 4ª série para o 5º ano, outras alterações foram realizadas, não objetivamente, no início, mas sim subjetivamente, pois muitas interrogações surgiram no espaço escolar e desestabilizaram os docentes que atuavam na 4ª série.

Os currículos direcionados para a 5ª série e para o 5º ano são distintos e orientados de formas diferentes. No 5º ano os alunos foram acompanhados, inicialmente, em suas atividades pedagógicas, por um único professor, em alguns municípios e/ou escolas, atualmente, já trabalham por área do conhecimento com mais de um professor por turma. Os alunos da 5ª série, por sua vez, eram acompanhados por uma multiplicidade de professores, dentro das respectivas áreas do conhecimento.

As classes formadas por alunos do 5º ano do Ensino Fundamental são geridas por pedagogos e apresentam um quadro bastante sombrio de fracasso escolar, com alto índice de reprovação e repetência. As análises realizadas para compreender esse mau desempenho variam entre a problemática da gestão de recursos e de pessoas apontadas pelas agências de financiamento e o ensino/aprendizagem, visto pelos pesquisadores da área de educação, que atribuem ao currículo “inchado”, com muitas disciplinas, as condições ruins de trabalho e a necessidade de o professor transformar-se em um “faz tudo”. Os objetivos nucleares do ensino são absolvidos pelos objetivos secundários.

De acordo com o Relatório de monitoramento de educação para todos da Unesco (2008),

o Brasil está perto de atingir o objetivo de universalização da educação compulsória, quando se leva em conta apenas o acesso. No indicador de qualidade, a taxa de sobrevivência no 5º ano está em sua pior situação: entre

os 129 países avaliados no Relatório de Monitoramento Global o Brasil ocupa 93ª posição.

O censo escolar da educação básica em 2013 mostrou que a Rede Municipal assumiu 81,7% das matrículas nas séries iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano), enquanto a Rede Estadual assumiu apenas 18,3%. Nas séries finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) esses percentuais foram mais equilibrados: a Rede Estadual matriculou 53% dos alunos e a Rede Municipal 47%. O censo registrou também uma diminuição do número de matrículas entre os níveis I e II do Ensino Fundamental. Em números absolutos o total de matriculados no EF I foi 12.876.507 e no EF II foi 11.313.862 (INEP/MEC, 2013). Os dados mostram uma descontinuidade do 5º ano do Ensino Fundamental I para o Ensino Fundamental II, alguns alunos se perdem nessa travessia, ficam retidos ou se evadem. Ademais, a diferença entre o número de matriculados entre o 5º ano e o 6º ano é de 11.182 alunos, é muito alta.

Como trabalhamos com professores que atuam no 5º ano do Ensino Fundamental, pudemos escutá-los no sentido de externar o quanto é complexo preparar o aluno para iniciar o 6o ano do Ensino Fundamental45. São muitos os conteúdos distribuídos em várias áreas do conhecimento, com grau elevado de dificuldade, e o currículo do curso de Pedagogia não consegue contemplar, sendo necessária uma formação mais específica, voltada para essas áreas do conhecimento (LIBÂNEO, 2011). A maioria dos professores também construiu seu percurso educacional na rede pública e fez um Ensino Médio “capenga”, com disciplinas básicas, nucleares, principalmente da área de exatas, entregue a professores sem a devida formação. Esse efeito dominó continua perpetuando. O professor que não possui o conhecimento da matéria não pode dar significado, forma, ao conteúdo, torná-lo interessante para o aluno em formação.

Além disso, a legislação educacional brasileira, LDB n.o 9394 de1996, aumentou o tempo para a formação dos alunos em todas as etapas da educação básica e do ensino superior. O tempo destinado ao Ensino Fundamental compreende 200 dias letivos e o mínimo de 800 horas por ano. Demo (2007) critica duramente essa deliberação, haja visto que não

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Essa preocupação é histórica. O Decreto-lei n.o 8529 de 02 de janeiro 1946 instituiu a Lei Orgânica do Ensino Primário. Essa lei demonstrava algumas influências do Movimento da Nova Escola. Dividido em Fundamental (quatro anos) e Complementar (um ano), o ensino primário deveria preparar para o exame de admissão ao ensino secundário. Ele oferecia as seguintes disciplinas: Leitura e Linguagem Oral e Escrita, Desenho e Trabalho Manuais, Iniciação à Matemática, Conhecimentos Gerais Aplicados à Vida Social, Educação para a Saúde e Trabalho, Geografia e História do Brasil, Canto Orfeônico e Educação Física. Oferecia ainda o Supletivo para adolescentes e adultos. Para ter acesso ao ginasial, os alunos tinham que estar em uma faixa etária de no mínimo 12 anos e dominar conhecimentos de curso ginasial, com duração de quatro anos, destinado a dar aos adolescentes elementos fundamentais do ensino secundário (ALVES, E.; OLIVEIRA, s.d.).

refletiu em melhoria da qualidade do ensino/aprendizagem. Ao prolongar os problemas de ordem estrutural, social e econômica dentro das escolas, a exploração do professor tornou-se evidente, pois, ao conviver com toda essa problemática, enfrenta os problemas de ordem trabalhista.

4.4 O cotidiano de professores que atuam no 5º ano do Ensino Fundamental no

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