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Capítulo 1-. Bases teóricas para compreensão dos princípios

2.1 A leitura na concepção sociocognitivo-interacional

A leitura, na atualidade, é fundamental para a vida em sociedade, porque amplia e diversifica nossos conceitos. De acordo com Manguel (1997, p.20) ―lemos para compreender, ou para começar a compreender. Não podemos deixar de ler. Ler é quase como respirar, é nossa função essencial‖.

Os estudos da Linguística textual concebem o leitor como participante ativo no processo de leitura e compreensão. Considerando o modo como o processo de leitura é apresentado neste trabalho, descrevemos, a seguir, os aspectos sociocognitivo-interacionais da leitura, destacando sua contribuição para a

8 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): proposta apresentada pelo Ministério da Educação,

construção de sentido, tendo em vista que o texto é resultado de um processo interacional complexo.

Pelo fato de ser um ato de construção, o ato de leitura pode ser entendido de várias maneiras. Ler, então, significa perceber e compreender as relações existentes no texto. Desse modo, o ato de construção está associado às relações do leitor com o mundo. Ler é atribuir sentido ao texto, relacionando-o com o contexto e com as experiências prévias do leitor.

Nessa perspectiva, Solé (1998) considera que o texto não é um produto de decodificação, mas um produto de construção de sentidos que envolve texto, conhecimentos prévios do leitor e objetivos da sua leitura.

Assim, a construção de sentidos depende dos fatores que agem dentro de determinado contexto, no processo de interação. Dentre esses fatores, destacam- se os conhecimentos linguístico, enciclopédico e interacional, que constituem o contexto sociocognitivo e podem ser compartilhados em uma situação de interação. Nesse sentido, sendo a leitura uma atividade de produção de sentido, leitor e autor trazem consigo uma bagagem de informações que podem ser alteradas e ampliadas em cada processo de interação.

Neste trabalho, adotamos a concepção de leitura como prática social, cognitiva e interacional, uma vez que esta pesquisa visa propor atividades de leitura na perspectiva sociocognitivo-interacional.

Em tal concepção, o texto é visto como lugar de interação entre os sujeitos. No processo de leitura, o leitor utiliza as pistas textuais, deixadas pelo autor, na sua construção dos sentidos. Essas pistas são relevantes para a compreensão do texto. Logo, as marcas linguísticas que o autor faz, ao produzir um texto, são estratégias para direcionar a compreensão do leitor. Essas marcas são denominadas pistas textuais. No que diz respeito a esse processo, Geraldi (2006, p.102) observa que

[...] o outro é a medida: é para o outro que se produz o texto. E o outro não se inscreve no texto apenas no seu processo de produção de sentidos na leitura. O outro insere-se já na produção,

como condição necessária para que o texto exista. É porque se sabe do outro que um texto acabado não é fechado em si mesmo. Seu sentido, por maior precisão que lhe queria dar seu autor, e ele o sabe, é já na produção um sentido construído a dois. Quanto mais, na produção, o autor imagina leituras possíveis que pretende afastar, mais a construção do texto exige do autor o fornecimento de pistas para que a produção do sentido na leitura seja mais próxima ao sentido que lhe quer dar o autor.

Diante disso, Koch & Travaglia (2008, p.98) afirmam que duas pessoas, interagindo por meio da linguagem, ―se esforçam por fazer-se compreender e procuram calcular o sentido do texto do(s) interlocutor(es), partindo das pistas que ele contém e ativando seu conhecimento de mundo, da situação, etc‖.

Para Moita Lopes (1996, p. 36), a leitura é ―um modo específico de interação entre participantes discursivos, envolvidos na construção social do significado: a leitura é uma prática social. É uma forma de ação através do discurso, no qual as pessoas co-participam‖, ou seja, a leitura é um ato social, uma forma de agir no mundo, por meio da linguagem.

Podemos perceber que há uma consonância entre os autores, tendo em vista que, a leitura é entendida como prática social e não, simplesmente, como a decodificação de signos linguísticos.

Como prática social, a leitura permite a interação leitor-leitor e leitor-textos. Nesse processo de interação, o leitor pode produzir diferentes leituras do mesmo texto, passíveis de variação de momento a momento. Isso ocorre porque a relação leitor-texto-contexto é condicionada pela variedade de experiências pessoais do leitor, como também dos seus modos de ver, estar e viver.

Moita Lopes (1996), por exemplo, considera que ler é inserir-se numa prática social, destacando que, nessa prática, há relações de poder implícitas no uso da linguagem. Ao ler o texto, portanto, o leitor deverá adquirir uma postura crítica na construção dos sentidos, ou seja, ―a compreensão da leitura como prática social envolve a consciência sobre os embates discursivos na definição de

significados e, consequentemente, sobre como resistir a significados hegemônicos‖ (MOITA LOPES, 1996, p.38).

Para Koch (2002, p.17), na concepção interacional (dialógica) da língua, na qual os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, ―o texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos. Isso significa dizer que a construção dos sentidos ocorre mediante‖ a representação do objeto linguístico, por meio do processo interacional entre leitor e autor.

Koch & Elias (2006) destacam a ação do autor, o texto e a interação autor- texto-leitor. A leitura, com foco no autor, é uma atividade de captação de ideias que se concentra na intenção de compreender o sentido do comunicador do texto, ou seja, ―o foco de atenção é, pois, o autor e suas intenções, e o sentido está centrado no autor, bastando tão somente ao leitor captar essas intenções‖ (KOCH & ELIAS, 2006, p.9).

Com o foco no texto, o sentido é reconhecido pelas palavras e estrutura do texto: ―é uma atividade que exige do leitor o foco no texto, em sua linearidade, uma vez que tudo está dito no dito‖, ou seja, é uma atividade de reconhecimento e de reprodução. A interação autor-texto-leitor é descrita como dialógica, ou seja, um evento em que os sujeitos são construtores sociais, ativos, que se constroem e são construídos no texto a partir de questões: O que é ler? Para que ler? Como ler?

Nessa perspectiva, para Koch & Elias (2006, p.11), a leitura é ―uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização‖.

Em outros termos, o processo de leitura demanda a mobilização de um vasto conjunto de saberes, no interior do evento comunicativo, e durante o processo de leitura ―espera-se que o leitor concorde ou não com as ideias do

autor, complete-as, adapte-as‖ (KOCH & ELIAS, op.cit., p.12), inferindo dessa maneira, princípios textuais, tais como informatividade e intencionalidade.

Em relação ao princípio da informatividade, Koch (2006) observa que a elaboração de um texto deve ter uma distribuição equilibrada da informação nele inserida, mediante o movimento de retroação que retoma a informação dada e, também, mediante o movimento de progressão que introduz a informação nova. Nesse contexto, é impossível processar um texto, cognitivamente, apenas com dados novos.

Quanto ao grau de previsibilidade da informação do texto, este deve ser ponderado, pois a sua informatividade varia de acordo com a previsibilidade da informação – quanto menor for a previsibilidade, maior será o seu grau de informatividade.

Nessa direção, Koch & Elias (2006, p.19) salientam que ―a constante interação entre o conteúdo do texto e o leitor é regulada também pela intenção com que lemos o texto, pelos objetivos da leitura‖. Diante disso, é importante observarmos que sempre se lê com algum objetivo, ou seja, lê-se por lazer, para buscar informações, realizar um trabalho, etc. Seja qual for o objetivo de leitura, ele é fundamental no sentido que se dá ao texto. A finalidade do leitor, em relação a um texto, portanto, estabelece expectativas e previsões, que serão confirmadas ou não, sobre o que será lido. Para ―realizá-las, baseamo-nos na informação proporcionada pelo texto, naquela que podemos considerar contextual e em nosso conhecimento sobre a leitura, o texto e o mundo em geral‖ (SOLÉ, 1998, p. 25).

Ao produzir um texto, o autor tem uma intenção, e para que o leitor se aproxime do sentido que ele quis dar ao texto, faz uso das pistas textuais que levam o leitor à construção dos sentidos. Assim, quanto mais o leitor constrói conhecimentos, mais rica e complexa será a atividade e maior a interação.

Isso significa dizer que, embora, para o autor, seja difícil prever as hipóteses que o leitor poderá constituir, ele deverá presumir os conhecimentos que o leitor possui para viabilizar a compreensão das informações textuais.

Essas considerações permitem pronunciarmos que a leitura é um processo de investigação, no qual o leitor se apropria de seus conhecimentos para chegar à compreensão do texto.

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