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A LGUNS ATORES DO PROCESSO

No documento A PARECIDA M ESTRADO EMC (páginas 33-38)

Despontam neste horizonte vários atores que deram visibilidade a esse novo jeito de ser católico. Um dos primeiro a desbravar o caminho da mídia católica foi o Pe. José Fernandes de Oliveira, mais conhecido como Pe. Zezinho. Numa época pós- conciliar, em 1967, Pe. Zezinho inovou ao gravar discos de músicas para a juventude, apresentar-se publicamente tocando violão, compor músicas em ritmos brasileiros para as celebrações eucarísticas. Ele acredita que investir em novos modos e espaços de evangelização era necessário.

“A igreja precisa largar as torres, pequenas ou grandes, cheia de sinos e carrilhões, e no lugar delas, implantar torres de rádio ou de televisão e, se não as tiver, gastar dinheiro alugando horários, porque está na hora de pararmos de anunciar o Evangelho somente para o último da igreja; está na hora de assumirmos as palavras de Jesus – ‘anunciar o Evangelho de cima dos telhados’. Hoje anunciar o Evangelho de cima dos telhados é usarmos os meios de comunicação modernos. Porque a Igreja tem um discurso muito bonito a respeito, mas é muito tímida na hora de usar a Mídia. Ou porque os padres não têm preparo ou porque não querem gastar dinheiro com isso.” (PE. ZEZINHO, Revista de Seleção bibliográfica de Edições Paulinas, nº. 66, 1991, p. 5 Apud SCHMIDT, 2008)

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Figura 2 - Padre Zezinho. Fonte: < http://omensageiro.org.br/noticias/padre-zezinho-sofreu-um-leve-avc/ Acesso em 01 jul. 2013

Dos padres midiáticos, o mais conhecido deles, é o Pe. Marcelo Rossi, padre da diocese de Santo Amaro, região metropolitana da capital paulista. Multimidiático, pe. Marcelo comanda duas missas televisionadas22, aos sábados na Rede Vida, e aos

domingos pela Rede Globo; diariamente apresenta um programa na Rádio Globo (gerado de São Paulo para as emissoras da rede e afiliadas), além do portal da internet www.padremarcelorossi.com.br

“Apresentador das chamadas show missas, cantor de recursos medianos, o que é admitido por ele publicamente, sem maiores pendores artísticos e bastante limitado academicamente, recupera antigas canções do cancioneiro católico mais tradicional, cria algumas músicas novas, associa sua produção ao exótico “terço bizantino”, é presença em todas as mídias, bate recordes de vendagens de toda a sua produção (CDs, revistas, gravações em áudio, artigos “religiosos”, etc.) e já aconteceu aparecer, num mesmo dia, em programas populares das três principais redes de televisão do País.” (HARTMANN, p. 19)

22 As missas são transmitidas do mega-templo que está sendo construído na zona sul da capital paulista, região de

Interlagos: Santuário Theotokos – Mãe de Deus. Após concluído, terá a capacidade para 100 mil pessoas, sendo 25 mil na área interna. O santuário também será a catedral da diocese de Santo Amaro

Figura 3: Planta do Santuário Theotokos. Fonte: < http://carlosferreirajf.blogspot.com.br/2012/11/santuario- theotokos-mae-de-deus.html > Acesso em 25 jun. 2013

Figura 4: Santuário Theotokos. Fonte: < http://vejasp.abril.com.br/materia/novo-santuario-padre-marcelo > Acesso em 25 jun. 2013

Vários sacerdotes trilham esse caminho, de uma evangelização diferenciada, através da música e dos meios de comunicação: Pe. Antônio Maria, que faz a divulgação da devoção da Mãe Rainha (ou Mãe-Peregrina) Três Vezes Admirável de Schönstatt; Padre Zeca (a resposta fluminense da mídia para o fenômeno Pe. Marcelo Rossi), que já deixou o sacerdócio; Pe. João Carlos, em Belo Horizonte. E os

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fenômenos mais recentes são Pe. Reginaldo Manzotti, de Curitiba (PR) e Pe. Fábio de Melo, de Taubaté (SP).

Pe. Fábio de Melo desponta como grande figura midiática da atualidade. Já gravou mais de 10 discos; 3 DVDs; publicou uma série de livros, entre romances, fotografia e autoajuda. Além dos estudos clericais obrigatórios (Filosofia e Teologia) Pe. Fábio tem especialização na área da Educação e mestrado em antropologia filosófica. Semanalmente apresenta o programa Direção Espiritual na TV Canção Nova. Em 2009, o seu livro “Quem me roubou de mim? O sequestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa” figurou no ranking dos mais vendidos da revista Veja por várias semanas, sendo o terceiro mais vendido, no segmento autoajuda, em 200923. Além de sucesso na venda de livros, Pe. Fábio também é um

fenômeno na venda de discos; num mercado onde reina a pirataria, conseguiu vender 600 mil CDs24.

Figura - Padre Fábio de Melo – Fonte: <

http://mensagensdopadrefabiodemelo.blogspot.com.br/2010/12/biografia-do-padre-fabio-de-melo.html > Acesso em 01 jul 2013

Do ponto de vista de fenômeno religioso, o que diferencia a atuação de Pe. Marcelo e Pe. Fábio é que o primeiro foi elevado à categoria de celebridade midiática religiosa pelas aparições que fez nos programas dominicais Domingão do Faustão e Domingo Legal. No início foi disputado pelas atrações, fazendo aparições do seu Santuário do Terço Bizantino no mesmo domingo, ora no Faustão, ora no Gugu. Já Pe. Fábio de Melo adquiriu notoriedade nacional após um longo trabalho apenas na mídia católica, especialmente na Canção Nova.

23 Informação disponível em < http://veja.abril.com.br/livros_mais_vendidos/livros-mais-vendidos-2009.shtml>

Acesso em 30 out 2012. Na mesma lista, também figura o livro “Carta entre amigos”, escrito em parceria com Gabriel Chalita

Pe. Reginal Manzotti, padre da arquidiocese de Curitiba/PR, é escritor e cantor. Suas missas são transmitidas semanalmente pelas emissoras E-Paraná e Século XXI. Criou a rede “Evangelizar de Comunicação”, responsável por emissora de rádio e outra de TV, onde apresenta diariamente programa nos dois meios.

Figura - Padre Reginaldo Manzotti – Fonte: < http://www.portalumuarama.com.br/noticia.php?id=1806 > Acesso em 01 jul 2013

O discurso dos padres midiáticos é típico dos membros da Renovação Carismática, pregando sempre o encontro pessoal com Cristo, à luz do Espírito Santo. Difere muito do discurso católico brasileiro dos anos 70/80, norteado pela Teologia da Libertação25, onde o encontro se dava de maneira comunitária.

“Diante do avanço dos clérigos na mídia, vale comentar os problemas gerados por esse processo no interior das paróquias de bairros. A Igreja Católica, em conjunto com a mídia, ao focar a importância dos padres “artistas”, tende a deixar de dar voz ao trabalho cotidiano dos padres paroquianos, ou seja, aqueles que atendem aos fiéis diariamente, com proximidade e contato contínuo. Foi constatado pela pesquisa que muitos dos padres das paróquias discordam desse processo macro que tende a deixá-los em segundo plano, ou muitas vezes, a pressioná-los para uma atuação semelhante à dos padres famosos. Esse é mais um horizonte das disputas simbólicas do campo religioso católico que merece reflexão.” (BARBOSA, 2011, p. 79)

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APÍTULO

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No documento A PARECIDA M ESTRADO EMC (páginas 33-38)