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C ONSIDERAÇÕES F INAIS

No documento A PARECIDA M ESTRADO EMC (páginas 99-103)

“O coração católico do Brasil bate em Aparecida”

(D. Darci José Nicioli, C.Ss.R, bispo auxiliar de Aparecida em vídeo institucional veiculado no Santuário Nacional)

“A Canção Nova é responsável, em grade parte, pela catolicidade no Brasil” (Ricardo Sá, missionário e apresentador da Canção Nova, programa Trocando Ideias,

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Etimologicamente, a palavra católico tem origem grega, καθολικος, universal. Percebemos que ambas as emissoras estudadas, tentam convergir para si a responsabilidade pela universalidade da prática católica no Brasil. Mas o que ainda se vê é a transposição de uma religião oficial para a televisão.

Entretanto, não podemos pasteurizar a prática religiosa. Num país de dimensões continentais, várias são as maneiras de se vivenciar a fé. Uma não é melhor nem pior que a outra. A região amazônica é um grande campo de missão, pois ainda não há clérigos suficientes para atender as diversas comunidades ribeirinhas que vivem no tempo das águas. O que é diferente da região sudeste, onde muitas dioceses têm superávit de padres.

Não vemos na programação religiosa das TVs, a valorização de práticas religiosas locais. Selecionamos duas semanas para a análise acurada, entretanto monitoramos as duas emissoras desde o início da pesquisa. Ainda que não tenha acontecido nenhum grande evento neste período, percebemos a falta de intenção em, por exemplo, transmitir uma grande procissão com sermão da Semana Santa de alguma cidade histórica de Minas; ou ainda, a cavalhada de Pirenópolis/GO (ou Poconé/MS); a festa do Círio de Nazaré87.

O que é visto, veiculado e que chega ao telespectador, é sempre a religião que acontece dentro do templo.

Não há uma intenção nas grades de programação da TV Canção Nova e da TV Aparecida em fazerem um investimento na área pastoral da igreja. A Igreja Católica no Brasil, nas diversas atividades pastorais, sejam elas internas ou externas à igreja, mantêm uma rede de colaboradores que, muitas vezes, necessitam de formação, seja ela humana ou prática. Nada mais seria que uma tele-educação. Mas como desenvolver um formato adequado a esse público?

O trabalho pastoral é onde a prática religiosa se materializa. Há um trabalho de tradução entre a doutrina católica e o povo. Surge aí uma zona de contato, conforme salienta Boaventura Souza Santos, “campos sociais onde diferentes

87 A Festa do Círio de Nazaré é transmitida pela TV Nazaré de propriedade da arquidiocese de Belém. Ela cede o

mundos-da-vida normativos, práticas e conhecimentos se encontram, chocam e interagem” (2010, p. 129). É um campo movediço, onde há o predomínio da diferença. Uma prática pastoral de um local, em certa medida, não pode ser aplicado integralmente em outro local, sem que haja uma ‘re-tradução’

Do ponto de vista institucional há, por parte da CNBB, a necessidade de maior e melhor orientação aos profissionais da mídia. Mesmo que as emissoras estudadas, estendendo também às outras, não pertençam à conferência, elas acabam se tornando porta-voz da instituição. Mencionamos que bispos e padres têm autoridade para emitir opiniões acerca de temas da fé dentro na sua respectiva circunscrição (diocese ou paróquia). E o que vemos hoje são padres e bispos emitindo os mais diversos comentários sobre quaisquer temas que lhe sejam perguntados, trazendo para si uma responsabilidade que muitas vezes não lhe compete.

Na sua estrutura, a CNBB mantém uma Comissão Episcopal para a Comunicação Social. A maioria das atividades da comissão está relacionada à atividade de Pastoral da Comunicação, um dos vários serviços da Igreja. Mas também promove o prêmio CNBB de Comunicação Social (para profissionais de cinema, rádio, televisão e jornalismo) e articula o Mutirão Nacional de Comunicação. Há um diálogo permanente entre a CNBB e as emissoras de televisão. A instituição já promoveu encontros para os profissionais das TVs. Assis, 2012, relata que foi criado a Signis Brasil, ligado ao Pontifício Conselho para a Comunicação Social (Vaticano), para ser um elo entre a CNBB e as emissoras católicas para que caminhem em diálogo com a igreja no Brasil. Entendemos, apesar da Signis seja muito recente, pois iniciou as atividades em 2010, ainda não há um trabalho conjunto que transpareça ao telespectador.

Pensamos que existe a necessidade de trabalhos em conjunto entre as emissoras. Os departamentos de jornalismo das diversas emissoras católicas poderiam trabalhar em conjunto para apresentarem um jornal diário, com mais notícias factuais, que cubra a extensão territorial do Brasil, que seja mais dinâmico e atuante. Citamos o jornalismo, mas outras possibilidades também existem, como a produção de teledramaturgia.

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Não era o nosso objetivo na pesquisa, mas é impossível não questionar qual será a religião que está emergindo da prática midiática. A prática lationoamericana é de uma religião voltada aos pobres. O espetáculo religioso midiático individualiza a prática, pois não há a necessidade para se sair de casa para vivenciar a religião. “O novo perfil do espetáculo é a sacralização da mídia e a profanação do sagrado” (ASSIS, 2012, p. 196)

Chegando à paróquia, a menor célula eclesial, como o padre deve se portar frente à mídia? Os seminários católicos conseguem formar sacerdotes preparados para dialogarem com e para a mídia? Esse sacerdote conseguirá suprir as necessidades geradas pelo padre da televisão?

As questões são várias, pois o fenômeno ainda é recente. As implicações ainda não podem ser mensuradas. Mas cabe às emissoras um contínuo processo de autorreflexão: qual o papel da TV para a religião e que produto religioso as emissoras estão produzindo e veiculando.

No documento A PARECIDA M ESTRADO EMC (páginas 99-103)