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C ENÁRIOS DA I GREJA NO B RASIL

No documento A PARECIDA M ESTRADO EMC (páginas 58-61)

E O V ERBO SE FEZ I MAGEM

3.1. C ENÁRIOS DA I GREJA NO B RASIL

Para a realização desta pesquisa, restringimos nossa análise da Igreja Eletrônica na grade de programação de duas emissoras que geram seus sinais para todo o país - e até mesmo para fora dele (através da internet e da radiodifusão): a TV Canção Nova e a TV Aparecida. Já mencionamos outras duas emissoras que também transmitem em nível nacional: a Rede Vida e a TV Século XXI. Além dessas, também temos emissoras mantidas por dioceses, como a TV Horizonte (Belo Horizonte/MG), TV Nazaré (Belém/PA), TV Imaculada Conceição (Campo Grande/MS), TV 3º. Milênio (Maringá/PR), que transmitem seu sinal em nível local.

Para eleger as emissoras analisadas, utilizamos o pensamento do teólogo jesuíta João Batista Libanio. O autor analisa o cenário católico brasileiro e traça cinco cenários possíveis da prática religiosa. Aliando os cenários descritos com as possibilidades da Igreja Eletrônica, reduzimos nossa análise a duas emissoras citadas.

A TV Aparecida, representa um cenário da Igreja Institucional.

Impor-se-á o aspecto estritamente institucional da Igreja. Reforçar-se-ão seus três centros principais: a cúria romana, a diocese e a paróquia. Insistir-se-á na visibilidade institucional, desde as vestes clericais até uma presença expressiva na mídia. Atribuir-se-á maior relevância ao Direito Canônico, à lei, às normas, às regras, aos ritos, às rubricas. Continuará a tradição romana do segundo milênio da Igreja, excluindo o pequeno lapso de tempo em torno ao Concílio Vaticano II. Predominará a tradição garantida pela autoridade. (LIBANIO, 2009, p. 15)

Neste cenário, a liturgia busca maior zelo pelo rito, evitando excessos de criatividades nas celebrações. Quanto mais ‘romana’, mais ‘correta’ é a missa. Os movimentos leigos e de espiritualidade existem e são criados para reforçar o papel da Instituição. Têm força os movimentos com estrutura já existentes, movimentos internacionais. Estes ajudam e ratificam a unidade da Igreja. As CEBs33 continuam

convivendo com a estrutura da Igreja. Entretanto, há um foco de tensão entre as

33 CEBs: Comunidades Eclesiais de Base. É uma experiência originária no Brasil e demais países Latinoamericanos

nos anos 70/80. Elas mudam o eixo da estrutura canônica da Igreja: a Igreja deixa de ser representada apenas em paróquias e dioceses, mas ganha força o núcleo menor - a comunidade. Grupos de pessoas se reúnem para vivenciar a fé, em locais onde não há padres disponíveis para o atendimento, fazendo a leitura e vivência do evangelho. A partir de sua melhor organização, as CEBs passaram a reivindicar pequenas melhorias nos bairros, mas ao mesmo tempo indicavam uma caminhada para tomar consciência da situação política e social. Essa micro- estrutura nunca foi incorporada ou reconhecida pelas estruturas canônicas.

CEBs e os movimentos leigos. Enquanto as CEBs são dinâmicas, vivas, e se atualizam constantemente, os movimentos dependem de uma estrutura que não é construída tendo como referencial a experiência local. Essas duas vertentes ocupam camadas sociais opostas. Para a sobrevivência deste cenário, a Igreja intensificar cada vez mais sua presença nas camadas mais jovens e estes caminham sempre na rejeição às instituições.

A mídia se converterá em espaço privilegiado de sua presença, não sem certa ambiguidade. Se, de um lado, o frequentará em busca de visibilidade, fazendo o jogo do marketing, de outro lado terá de engolir o lixo de tal universo simbólico. Tentará criar canais independentes para não ter de estar sujeita a regras que lhe contrariam os critérios éticos. Mas a concorrência nesse mundo será cada vez mais desenfreada, implicando o jogo de capitais fabulosos. Nada disso se conseguirá inocentemente. (LIBANIO, 2009, p. 50)

A TV Canção Nova é representante do cenário da Igreja Carismática.

[...] cenário quase oposto. Em vez da Instituição, triunfará o carisma. Em vez da lei objetiva, a subjetividade. Em vez do clima controlado das normas litúrgicas, a exuberância da emoção. Será o cenário em que clima religioso triunfará. [...] A religião torna-se mais solução dos problemas que uma relação de culto, adoração do ser humano a Deus” (LIBANIO, 2009, p. 57-58)

O cenário carismático é reflexo do mundo atual. Há uma individualização da experiência religiosa. Esta se torna sempre epifania para uma mudança de vida e adesão à fé. Há queda da militância política da Igreja e até mesmo uma queda na participação de leigos nas diversas pastorais, principalmente àquelas ligadas às atividades externas da Igreja. As missas passam a ser grandes eventos religiosos; as liturgias são festivas e emocionais. O lugar de vivência da fé passa a ser exclusivamente as celebrações litúrgicas.

No campo cultural, investir-se-á altamente na mídia. Terá enorme poder de sugestão para criar os climas espirituais. Será o lugar privilegiado para alimentar a espiritualidade. Multiplicar-se-ão os sacerdotes que se qualificarão para um trabalho de qualidade no campo da publicidade espiritual. Pessoas contagiantes. Arrastarão multidões. O clima religioso criado por eles atrairá as pessoas. Lá eles encontrarão paz, tranquilidade, consolo, resposta às angústias espirituais, cura interior e eventualmente milagres de cura física e de melhora de vida material. (LIBANIO, 2009, p. 75)

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Além destes cenários, Libanio (2009), também enumera o Cenário de uma Igreja da Pregação, onde o que se predomina é a pregação da Palavra de Deus, ligada à doutrina, ao conhecimento e ao ensino; e o Cenário da Igreja da Práxis Libertadora, expressão basicamente latinoamericana, será o cenário originário da Teologia da Libertação, onde a prática da religião está intimamente ligada à prática social junto aos pobres.

O último cenário, de uma Igreja Plural Fragmentada Pós-Moderna (Libanio, 2009), é o cenário-síntese. É a prática religiosa formada por elementos dos outros cenários; não há o comprometimento do fiel com esta ou aquela prática; o fiel tem um cardápio de opções e escolhe as práticas que lhe são mais convenientes. Esse cenário prima pelo parecer em detrimento ao existir. E para parecer e aparecer, nada melhor do que o mundo midiático. Vale a regra: a melhor defesa é jogar no ataque.

Jogar no ataque significa ocupar os espaços midiáticos com sua linguagem de beleza, superficialidade, emoção, impacto. Interessa ser visto por maior número possível de espectadores, comunicar-se no sentido de lançar mensagem para responder às necessidades das pessoas. Os pentecostais e neopentecostais tornaram-se exímios nessa arte. E o atual modelo está a produzir os pregadores pop com música, discurso, gestuália própria. Não cabe nenhuma profundidade de vida cristã, mas o toque do consolo e da satisfação imediata das carências materiais e espirituais. As camadas populares esperam solução para seus problemas econômicos. As faixas agraciadas materialmente desejam consolações espirituais. Embala-se no clima generalizado de religiosidade que invade a cultura pós-moderna em nítido contraste com a onda materialista e consumista. O cansaço da vida, que se enche de coisas, de gozos imediatos, de bens de consumo, tem levado ao tédio, ao vazio de sentido. E esse modelo de Igreja da visibilidade e aparência oferece o consolo imediato de Deus sem muito esforço (LIBANIO, 2009, p. 165)

Para Araújo (2012), esses cenários da igreja convergem em ambientes midiáticos de catolicismo. Há uma pluralidade de canais que, em certa medida, representam ambientes diferentes de catolicismo dentro da mídia.

É a partir da diversidade de televisões católicas existentes que se constata certa fragmentação e algumas diferenças nos modos católicos de ser. Apresenta-se uma tipologização das tevês católicas em três importantes blocos, que geram ambientes midiáticos católicos diversificados e com singularidades próprias na tela da TV. Foram classificadas em três tipos: as

compreende determinada eclesiologia que, consequentemente configura toda a grade de programação de suas emissoras, apresentando no vídeo algumas modalidades de jeito católico de ser. (ARAÚJO, 2012, p. 69)

O pesquisador assim divide as emissoras conforme a classificação sugerida: a. Emissoras Pentecostais: TV Canção Nova, TV Século XXI;

b. Emissoras Tradi-Institucionais: Rede Vida, TV Horizonte; c. Emissoras Marianas: TV Aparecida, TV Nazaré.

Em nosso entendimento, a classificação Emissoras Marianas não forma uma categoria independente. Essas TVs, como discorreremos mais adiante, possuem características de emissoras Tradi-Institucionais (utilizando a mesma classificação). O que há de diferente é a grande divulgação da devoção a Maria.

Apresentamos um breve panorama eclesial do catolicismo brasileiro para fundamentar as opções feitas para a pesquisa. Cada emissora, conforme demonstrado, insere-se em um cenário diferente. E este fato determina o tipo de programação que será apresentada e oferecida ao telespectador.

No documento A PARECIDA M ESTRADO EMC (páginas 58-61)