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APÊNDICE 3- Tabelas de plantas introduzidas por Biezanko em Guarani das Missões

3. MOTYLARZ “O HOMEM DAS BORBOLETAS”: Processo de Introdução da Soja e

3.3. Vínculos pessoais e liderança: conformando a rede

3.3.2. A Liderança/dirigência e seus aspectos étnicos

Diante do contexto de intermediações e relações, pretendemos esboçar algumas conclusões sobre a caracterização de Biezanko, ao longo de sua passagem na colônia polonesa, enquanto um líder, na medida em que assumia maior protagonismo diante da microssociedade guaraniense e conseguia estabelecer autoridade suficiente para expor suas ideias e ser ouvido. Nesta parte do texto, não pretendemos esgotar o modo pelo qual Biezanko se torna um líder (étnico), nem como se estabeleceu diante desta liderança, mas apontar algumas inferências que nos ajudam a compreender a categorização do cientista como líder.

Num espaço de esparsos recursos intelectuais formais como é o espaço colonial, um cientista com educação formal e forte capital cultural como Biezanko, apoiado (mediado) por líderes religiosos com características que também apontavam para uma atuação modernizante, específicas relativas a um grupo social e, mais designadamente,

étnico deveras particular, dentro de um núcleo geograficamente pequeno, pode ter contribuído para alicerçar o próprio professor como uma liderança e um dirigente, no caso, um líder recebido na sociedade (SEIXAS, 2006), vindo “de fora”, capaz de promover mudanças e impor ideias que deveriam ser seguidas.

Os líderes são importantes para os grupos sociais, pois “fundam associações e jornais, redigem textos, fazem discursos, buscam convencer os membros do grupo a aderirem a determinadas ideias e a participar de entidades e eventos, e [...] se contrapõem a condições de vida e trabalho consideradas injustas ou discriminatórias” (WEBER, 2014, p. 704), ou seja, tentam melhorar as condições sejam elas de posicionamento social ou econômico do grupo o qual representam, aceitando tais afirmações, podemos concluir que Biezanko correspondeu fortemente com estas características impostas aos líderes de acordo com o apresentado até o momento.

Na leitura de Bourdieu, que encontramos terreno para dispor elementos sobre a noção de liderança, preponderantes para o entendimento da função e relação líder-grupo baseado na noção de “agência” e na “representação”. Para o autor francês,

O porta-voz dotado do pleno poder de falar e de agir em nome do grupo e, em primeiro lugar, sobre o grupo pela magia da palavra de ordem, é o substituto do grupo que somente por esta procuração existe; personificação de uma pessoa fictícia, de uma ficção social, ele faz sair do estado de indivíduos separados os que ele pretende representar, permitindo-lhes agir e falar através dele, como um só homem (BOURDIEU, 1989, p. 158).

Não podemos esquecer que com ficção social, Bourdieu alerta para a construção do sujeito coletivo, enquanto grupo coletivo com um trabalho histórico de invenção teórica e prática. De acordo com Weber (2015) os intelectuais étnicos seriam os que “dariam expressão àquilo que, na teoria dos atores sociais, são atributos do sujeito-ator coletivo ou sujeito-grupo”:

[...] la capacidad de distinguirse y ser distinguido de otros grupos, de definir los propios límites, de generar símbolos y representaciones sociales específicos y distintivos, de configurar y reconfigurar el pasado del grupo como una memoria colectiva compartida por sus miembros (GIMÉNEZ, 1997: 18).

As comunidades imigrantes, sendo segundo Devoto (2006, p. 10), produto da experiência social de colocação em um determinado contexto, o novo país, que conformam grupos sociais, os quais se (re)inventam como grupos étnicos dependendo do tipo de interação social, as lideranças em uma colônia polonesa como Guarani das Missões, podem ou não adquirir características de liderança étnica, sendo responsáveis pela definição do grupo, sua nominação, coesão, homogeneização, enfim, pela constituição de uma identidade e a partir disto, agir em diferentes sentidos para melhorar a condição grupal, de acordo com os interesses em questão.

Para Gjerde os líderes étnicos são fundamentais na definição do grupo, eles transformam os imigrantes em sujeitos étnicos e, destarte, promovem o processo de “etnicização”, de maneira que “Ao criar-se simbolicamente o grupo, a liderança étnica simultaneamente serve a sua comunidade como intermediário entre os imigrantes e as estruturas maiores, incluindo a oportunidade econômica e o poder e os direitos políticos” (GJERDE, 2006, p. 63), desta maneira, para Weber (2014, p. 709) “Os imigrantes, ao chegarem a uma nova terra, são vistos e tratados como adventícios, e, para conquistarem espaço social e direitos, e verem os mesmos reconhecidos, precisam atuar coletivamente, o que nem sempre ocorre de modo espontâneo ou sem conflitos”, por isso é importante a conjunção de alguns fatores importantes como a própria vinculação em redes sociais e a posse de capitais capazes de angariar prestígio e autoridade proporcionando a “agência”.

Os intelectuais (entendidos de acordo com Sirinelli “tanto o jornalista como o escritor, o professor secundário como o erudito”) são personagens especialmente importantes ao tratar de lideranças, pois justamente possuem os recursos capazes de permitirem sua alçada como porta-vozes e mediadores do grupo com a sociedade envolvente, e serem, por esta aceitos.

Biezanko, enquanto intelectual, através de sua agência, utilizando da institucionalização, no caso, associações formais (círculos de debates agrícolas e escola), uso de periódicos, além da colocação como professor, permite exercer ações práticas capazes de operar em função do grupo (neste caso, “de interesses”, quais sejam, políticos, econômicos, etc.), onde podem prevalecer finalidades como a melhoria das condições econômicas dos colonos poloneses na região.

Encabeçamos estes objetivos devido à posição social ocupada por Biezanko, mas em nenhuma fonte ele deixou claro os motivos pelos quais exercitou as suas atividades em Guarani das Missões. Se, como especulamos, estava a serviço da Polônia ou tinha como cientista e polonês, ideais em favor de seus patrícios (se assim os considerava), o que podemos inferir é que utilizando seus recursos culturais e educacionais somado ao capital relacional construído ao longo da passagem pela colônia, constituiu a capacidade de permitir a conjunção de ações voltadas ao desenvolvimento rural e a melhor organização dos colonos, produzindo inovações no seio daquela comunidade camponesa, fatores capazes de permitir sua caracterização enquanto uma liderança, possivelmente, mas não unicamente, étnica, visto que a identidade étnica serviu como alicerce de suas relações e base para sua aceitação. Além disso, muito provavelmente seu capital social e cultural adquirido na Polônia e em Guarani permitiram sua integração e posicionamento na colônia e tornou possível a conclusão de seus projetos científicos, mesmo que em longo prazo não tenha ocorrido um resultado satisfatório.

Ceslau Biezanko em aliança com o clero e lideranças laicais, não apenas tornou- se um líder, capaz de ser ouvido e seguido, mas também permitiu a construção de associações e instituições capazes de em curto prazo, aumentarem suas redes de sociabilidade e expandirem seu caráter de líder, na medida em que podia atingir um número maior de colonos e letrados da colônia. Podemos dizer que para construir as instituições ele precisou constituir-se e ser constituído como líder, ao mesmo tempo em que elas permitiram reforçar sua liderança.

3.3.3. As instituições agrícolas e educacionais: o CTR, a Escola Agrícola e o Kolegjum

O agrônomo Czeslaw Biezanko, propôs mudanças, as quais tinham claras intenções de positivar a situação econômica e social dos seus compatriotas poloneses e descendentes, em geral, com interesses voltados para a agricultura e para a organização de associações para debates, divulgação de ideais e conhecimento de produtos e métodos para o cultivo de plantas e criação de animais. Não queremos expor a imagem do cientista como um intelectual benevolente, ou mesmo como um idealista, mas sim,

como alguém com proposições já experimentadas em outra realidade (na Argentina e Polônia) e capaz de expor seus conhecimentos com um caráter assistencialista, abrindo mão inclusive de uma vida aparatosa ou tranquila como intelectual e professor na Europa, para ir até as colônias agrícolas, assim como outros fizeram, às roças e matas, breus e várzeas, para discutir muitas vezes em ríspidas reuniões e enfrentar o conservadorismo camponês, a fim de encontrar meios de como melhorar a economia colonial de seus patrícios.

Na medida em que é inserido na rede de sociabilidade preexistente centrada no sacerdote e com sua mediação, o cientista vai deslocando o centro da rede para si, expandindo seu raio de relacionamentos pessoais para um grande número de pessoas, principalmente a partir da fundação da escola agrícola e do CTR,fatores preponderantes, pois permitiram a Biezanko a consecução de seus objetivos de desenvolvimento agrícola e educacional na colônia que adotara por moradia e estabeleceram os alicerces de sua liderança, ademais de possibilitar a introdução da soja, num vínculo direto (menos mediado) do cientista com os colonos e letrados da região.

Segundo Gardolinski (1974), Guarani teve desde os primeiros tempos grande quantidade de associações, as quais eram organizadas na sede e nas linhas, principalmente capelas e escolas, mas também as “sociedades” étnicas. Nas comunidades polonesas em geral, há o forte papel das igrejas, as quais tinham o reconhecimento da comunidade e eram, possivelmente, as primeiras instituições a serem organizadas e construídas nas comunidades polônicas. Guarani, desde cedo, fundou

também escolas (étnicas) nas linhas e na sede da cidade, bem como “sociedades”294, as

quais poderiam ter escolas anexas como meio de discussão dos problemas da comunidade e para a promoção do conhecimento entre as gerações mais jovens

294 Wachowicz explica que no Brasil da conjuntura imigratória polonesa surge a “escola-sociedade”,

iniciativa dos colonos para driblar a carência de escolas oficiais no campo e permitir as primeiras letras aos seus filhos, já a sociedade tinha como finalidade as comemorações de datas festivas polonesas, organizar proposições para a juventude, bem como recepção de autoridades, organização de encontros, recreação, etc. Sendo “a primeira manifestação coletiva da aculturação do imigrante polonês no Brasil” (WACHOWICZ, 1974, p. 166). Em Guarani o caso mais clássico seria da Sociedade Matka Boska

Czestochowska (Nossa Senhora de Monte Claro) de 1906. Devemos deixar claro que nas traduções dos

jornais poloneses aparece a distinção da palavra sociedade, no sentido de associação, em polonês,

(GARDOLINSKI, 1974), podendo funcionar muitas vezes como sociedades de “socorro

mútuo”295 ou de manutenção da cultura e língua.

As instituições são importantes para os seres humanos, pois permitem a realização de atividades que não lhe são fornecidas pelo seu equipamento biológico (BERGER, LUCKMAN, 1973). “As instituições são sempre produto de um processo histórico e visam estabelecer padrões para a cultura humana” (WEBER, 2008, p. 237), assim, são organizadas associações, as quais podem se vincular a um grupo social, dependendo de uma classe média, ou seja, um grupo com disponibilidade de tempo e recursos. Estas instituições podem se tornar étnicas ao receberem significados simbólicos específicos ligados à etnicidade, no caso de Guarani, atreladas com as questões identitárias polonesas vigentes naquela colônia, como no caso da Sociedade Polaca Nossa Senhora de Monte Claro (Matko Boska Częstochowska), fundada em 1906.

O fato de as associações organizadas por Biezanko serem voltadas para agricultores, seus “sócios” poderiam ter se concentrado mais nesta característica econômica que no fato dos membros serem ou não poloneses, de qualquer forma, a composição por linhas em geral ocupadas de maneira homogênea por imigrantes e descendentes e o uso do idioma, ingeria aspectos étnicos marcados nas reuniões das

instituições296, as quais foram ocupadas predominantemente (senão totalmente297) por

poloneses na sua direção e entre os colonos participantes (mesmo que a Escola

295 No Rolnik de número 12, o professor Józef Chimielewski em 1933 observava a partir da imprensa

polonesa que o tema de cooperação, círculos agrícolas e organização estavam em voga295 e lembrava o

trabalho dos círculos agrícolas que estavam surgindo, um na linha do Rio (o primeiro) e outros marcados para a inauguração, mas que apenas com a formação de pelo menos uma dezena de círculos, que se poderia dizer que os poloneses estavam realmente organizados e unificados. Além disso, compartilhava das dificuldades vividas pela temática, em relação aqueles que não queriam fazer parte das organizações e que prejudicavam o trabalho conjunto.

296 Não encontramos atas das reuniões, apenas aquelas que foram publicadas nos periódicos, sempre em

Polonês e contando com a presença de poloneses nas direções e administrações.

297Não há relato da participação de não-poloneses nas associações ligadas a Biezanko, o seu trabalho tinha

como foco os seus compatriotas, caso que teria sustentação ainda mais forte se o fato de que ele era um enviado do governo polonês for verdadeiro como supomos no primeiro capítulo. É possível que tal como aconteceu com o Bauernverein de Theodor Amstad ou a Associação Rio-Grandense de Agricultores fundada em 1902, que surgiu com caráter interétnico e interconfessional, mas acabou optando e agregando apenas alemães católicos, até mesmo em função do uso exclusivo da língua teuta (SANTOS, 2013).

Agrícola, por exemplo, usasse apenas o ensino em português e não pudesse ser considerada essencialmente “étnica”).

Podemos dizer que, naquele período, a institucionalização agrícola era tema proeminente entre a comunidade polonesa, aspecto aclarado em artigos nos periódicos polono-brasileiros que tratam da união de agricultores e sua organização. Para o padre

Wróbel298, todas as atividades para a melhora do nível da agricultura e da criação de

animais dependiam da organização, ela seria capaz de garantir futuro bem-estar e tirar o agricultor da posição crítica, que ocuparia. Segundo o padre, “a história da agricultura ensina que as organizações agrícolas faziam as riquezas e potência dos agricultores e

pois a potência das nações”299, porquanto seria possível utilizar do conhecimento, visto

que para o padre, a melhora da agricultura estava intimamente ligada com a educação. Para Wróbel, dever-se-ia seguir o modelo das organizações agrícolas da Europa, em especial da Polônia, mas também as dos alemães e italianos do Brasil, os quais considera que teriam ultrapassado os poloneses imigrantes neste sentido, resgatando o debate da honra e da interação étnica, propulsores para o reforço da identidade e para o trabalho em prol do grupo étnico específico em diferentes sentidos (econômico, político, organizativo, etc.)., Existia o exemplo das ações dos alemães desde o final do século XIX, bem como do suíço Amstadt (SANTOS, 2013) e a criação da Liga das Uniões

Coloniais em 1929300, principalmente nas colônias teutas (SCHALLENBERGER,

2001), as quais buscavam criar estabelecimentos cooperativos.

Conforme Wróbel, a organização traria vantagens morais e materiais aos colonos, os quais na medida em que tomassem consciência destas vantagens deveriam somar esforços para angariar membros e melhorar sua administração, apenas desta

298 Rolnik, novembro de 1933.

299 Historja rolnictwa uczy, że organizacje rolnicze tworzyly bogactwa i potęgę rolników, a więc i potęgę

narodów.

300 Schallenberger (2001) comentando o associativismo baseado no social-catolicismo e com sustentáculo

da Igreja entre os colonos alemães, afirma que a maior organização sindical brasileira do seu tempo, a Liga tornou-se a principal entidade promotora do associativismo cristão, mas era liderada basicamente pelos atores do protestantismo luterano, que, não misturando os assuntos da fé com os da política e da economia, não visualizavam obstáculo para a interlocução com o Estado. Ao constituir a Liga, entendia- se que, para fomentar o desenvolvimento do moderno associativismo, era necessário estimular o surgimento de uma organização profissional livre, que com liberdade pudesse defender os interesses dos seus associados.

maneira os objetivos seriam alcançados, mas para isso deveriam contar com uma sólida organização baseada no entendimento da importância do trabalho conjunto e na defesa dos seus interesses profissionais.

Diante destes ideais organizacionais agrícolas, em março de 1933, surge o

Związek Zawodowy Rolników Polskich w Brazylji (ZZRP- União dos agricultores

poloneses do Brasil), por ocasião do II Congresso dos agricultores poloneses no Paraná, apoiado pelo CZP (Centralny Zwiazek Polaków w Brazylii) de Curitiba, instituição fundada com apoio dos representantes do serviço diplomático polonês em 1930, tendo a intenção de congregar todos os agricultores poloneses pertencentes a diferentes organizações, seja círculos agrícolas (kołko rolnicze), sociedades agrícolas, associações educacionais, cooperativas, entre outros a fim de estabelecer uma série de atividades com o fito de melhorar as condições rurais dos poloneses no Brasil através de reuniões e congressos, seleção e distribuição de sementes, mediar interesses dos colonos com as autoridades públicas, publicar artigos especializados, intermediar relações com associações de outras nacionalidades para troca de experiências, atuar no ensino com a criação de escolas agrícolas e cursos práticos, entre muitas outras tarefas, exemplificando ações concretas entre os poloneses no sentido organizativo, ainda que enfrentando obstáculos inclusive dos colonos, talvez pelo apego da associação ao lado consular, mais anticlerical das lideranças polonesas (POTOPOWICZ, 1936).

Assim como admitido no capítulo 2, como um provável rescaldo de 1929, o início da década de 1930 foi marcado por certa crise econômica dos colonos poloneses no Paraná e também no Rio Grande do Sul, a qual perduraria potencializada por secas ocorridas no período. Segundo o Nasza Praca de julho de 1932 “Como no Paraná, a crise econômica tocou também os nossos agricultores Rio-grandenses” (Tak jak i w

Paranie, kryzys gospodarczy dotknal i naszych Riograndeńskich rolników), os quais

segundo o jornal dependiam da produção suína e artesanal de banha, a qual sofreu com a perda do valor e consequente baixa nos preços ditados pelos comerciantes, sendo assim, era tido como fundamental a união dos poloneses em sociedades agrícolas, a exemplo do que vinham fazendo os alemães, finalmente, o periódico inclui algumas atividades desse sentido em colônias polonesas em Ijuí, Erechim e, mais declaradamente, Guarani com o que chama de Polska Centralna Rolnicza (Central

Agrícola Polonesa), para nós o CTR, oportunizador do encadeamento Biezanko-

colonos-letrados. Primeiro os círculos agrícolas (Kólko Rolnicze), depois, a União

Central das Sociedades Agrícolas (Centralne Towarzystwo Rolnicze-CTR literalmente “Sociedade Central Agrícola”) foi uma instituição associativa, a exemplo do ZZRP, que incluiu diferentes linhas de Guarani das Missões (aproximadamente 16) em torno a uma união coordenada por Biezanko e Wróbel, isto é, a novidade é a importante participação clerical não aparente na associação paranaense.

Segundo o Rolnik de dezembro de 1933 “a Sociedade Central Agrícola em Guarani [...] deveria unir em si todos os círculos e organizações agrícolas localizados na região” complementando que “Já o próprio nome da nossa sociedade prontamente (z

góry) exclui qualquer fundo “partidário” na nossa atividade. O nosso objetivo é unir

todos os agricultores sem diferença de considerações no Estado do Rio Grande do Sul,

para o bem do emigrante polonês, o qual vive daquilo que a lavoura dá”301, enfatizando

o caráter de união e de congregação sem maiores debates políticos (ou religiosos implícito na temática da imigração polonesa) e dentro do contexto da necessidade de organização e cooperação agrícola em voga no debate da intelectualidade polonesa colonial. O próprio Biezanko destaca que “esta união não só cuidava dos assuntos religiosos, mas também se interessava pela agricultura e pelo ensino. Cada “linha” tinha

seu professor e sua escola”302.

Os círculos agrícolas (Kołko Rolnicze) já existiam na Polônia, e a ideia para a criação de uma instituição central, muito provavelmente, pode ter partido de Biezanko assentado em experiências prévias, uma vez que em reunião destacada no Lud de 22 de março de 1933 para a fundação de uma unidade do círculo agrícola numa das linhas da comunidade, Franciszek Kurowski, responsável pela reportagem, afirmou que “Sr. C. Biezanko apresentou o desenvolvimento dos círculos agrícolas na Polônia e seus objetivos e metas e o resultado teórico e material [...]”, infelizmente não obtivemos mais

301 Już sama nazwa naszego Towarzystwa z góry wyklucza jakiekolwiek tło "partyjne" w naszej

działalnośći.

Celem naszym jest skupienie wszystkich rolników bez rożnicy zapatrywań w Stanie Rio Grande do Sul, dla dobra polskiego wychodźywa, ktore głownie żyje z tego, co rola daje.

302 Jornal COTRIFATOS, setembro de 1978, ver compilação de fontes do professor Rudolfi no Museu

informações sobre como foi essa atividade na Polônia303 que inspirou o cientista, mas o pressuposto básico era a união dos agricultores e círculos já preexistentes, pois assim poderiam melhorar suas condições de vida com associação, organização e solidariedade.

No Brasil, alguns intelectuais poloneses são mencionados como incentivadores de círculos agrícolas desde o fim do século XIX até os primeiros anos do século XX,

como Stanisław Kłobukowski304, citado no capítulo 1, economista e jornalista

interessado nas comunidades imigradas, fundador da Towarzystwo Handlowo-

Geograficznie (Sociedade Comercial e Geográfica) de Lwów (o citado Grupo de

Lwów)305, importante ativista nos primeiros contatos de intelectuais com os camponeses