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Landi: os anos bolonheses

2.1.2. A Lisboa Setecentista

O século XVII, em Portugal, é marcado por profunda crise econômica e política provocada, principalmente, pela perda do trono para o rei Felipe II da Espanha. A nobreza abandonou as cidades em direção ao campo, levando consigo pequenas cortes, tentando, assim, manter a identidade sócio-cultural portuguesa. Fechados às influências da Espanha, fecharam-se ao mundo também.

O Barroco, como estilo arquitetônico, exigia dinheiro que Portugal não tinha à época. Assim, ao contrário do restante da Europa, considera-se que o início do estilo, em terras lusas, foi posterior a 1600, condicionado a distintos fatores políticos, artísticos e econômicos que produziram diferentes fases e tipos de influências exteriores. Esse panorama proporcionou uma mistura original, frequentemente pouco entendida por aqueles que procuram ver arte italiana, mas com formas e caráter próprios.

Um fator fundamental para o início do Barroco em Portugal foi a existência da arquitetura Jesuítica, também conhecida como Arquitetura Chã. Os edifícios religiosos tinham predominantemente a forma de basílicas com nave única, capela-mor profunda, naves laterais modificadas em capelas interligadas, ausência de decoração no interior e exterior simples com portal e janelas. Tipo de construção prática, que permitia ser construída por todo o império com pequenos ajustes, e preparada a receber decoração. A talha dourada foi então desenvolvida e adquiriu características nacionais, assim como a pintura, a escultura, as artes decorativas e o azulejo.

Na realidade, o Barroco não se ressentiu da falta de edifícios porque transformou, através da talha dourada, da pintura e do azulejo, antigos espaços áridos, bem como suas fachadas, em suntuosos cenários decorativos.

A economia não era sustentável, pois a riqueza nacional era baseada na proveniente do Brasil, com a qual eram adquiridos os bens de consumo que não eram produzidos no país. Apenas no final do século XVII, a crise econômica do país diminuiu.

A primeira metade do século XVIII foi um período de muita prosperidade para Portugal. A descoberta de ouro e pedras preciosas no Brasil enriqueceu o país tornando-o o mais próspero na Europa daquele século. Era rei

nesse período, D. João V, que tentou rivalizar com o monarca francês, Luís XIV, o Rei Sol, erguendo o maior número possível de luxuosos edifícios. Entretanto, Portugal não dispunha de arquitetos para executar os tais planos do monarca luso, obrigando-o a contratar esses profissionais em outros países, os quais projetaram inúmeros edifícios, alguns deles nem finalizados.

Esse século assiste a intensas transformações culturais no país com o surgimento, entre outros, das academias para o estudo da literatura, da poesia, da história, da religião, da medicina e do teatro. A expulsão dos jesuítas leva a uma reforma no ensino, em todos os níveis. Surgiram novas bibliotecas e as existentes foram melhoradas.

Na cidade de Lisboa, nesse período, era comum a realização de festas profanas e religiosas que contavam com procissões e cortejos pelas praças e ruas da cidade e no interior de certas igrejas. Para isso, os locais que serviam de palco para as manifestações eram ornados com panejamentos, franjas, verduras e flores e carros alegóricos.

O ensino da arquitetura civil era ministrado na aula do risco do Paço da Ribeira desde sua criação no final do século XVII, e, que, após o terremoto, passou para a Casa do Risco das reais obras públicas de Lisboa.

Um terremoto de 1755, seguido de um maremoto, destruiu grande parte de Lisboa. D. José I, monarca nesse período, e seu primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, constituíram um grupo de homens para recuperarem a baixa da cidade.

A grande reconstrução lisboeta fez surgir o estilo Pombalino que, assim como a Arquitetura Chã, foi produto da necessidade de Portugal. Foi assim denominado devido ao Marquês de Pombal, verdadeiro dirigente do reino, principal incentivador da grandiosa obra e seu responsável. Os autores da proposta foram os arquitetos Manuel da Maia e Carlos Mardel.

Com a reconstrução da cidade, o traçado das ruas, ainda medieval, foi modificado e deu lugar a um traçado retilíneo ortogonal. Os espaços, ampliados, permitiram arejamento e iluminação, o que não era possível no traçado anterior.

O edifício pombalino tinha até quatro pisos, lojas no térreo, varandas no primeiro andar e cobertura em água furtada. As construções seguiam um padrão tipológico, sendo acrescidos detalhes decorativos na fachada, de acordo com a importância do local. Em razão da preocupação com novos sismos ou incêndios, foram empregadas tecnologias desenvolvidas para tal. Os palácios obedeceram a uma sobriedade sem ostentação, raro entre a aristocracia, com efeitos decorativos apenas no portal e nas janelas, mais elegantes que dos prédios de habitação. As igrejas, em menor número, seguiram o espírito da época, discreta decoração arquitetônica exterior e tipologias bem definidas, que utilizavam nave única com altares laterais, decoração interna seguindo as formas do Rococó, materiais imitando madeira e estuque, alguma pintura e escultura. Os espaços eram suaves, luminosos e ao gosto Rococó. Desse período, destacam-se as igrejas de Santo Antônio da Sé, dos Mártires, de São Domingos, da Madalena, da Encarnação, entre outras. Nos edifícios menos destruídos, houve a preocupação de harmonizar a decoração existente com as formas pombalinas.

A reconstrução de Lisboa foi um plano renovador e demasiado moderno para a época, no qual se destacaram a funcionalidade, a simplicidade e a eliminação do supérfluo, incluindo a decoração, obrigando a uma sobriedade racional. Refletiu o espírito iluminista e o caráter neoclássico, ainda sem o uso das ordens clássicas.

Embora nesse período pós-terremoto Landi já estivesse morando no Brasil, os reflexos dessas transformações, certamente, chegaram até ele através das instruções que lhe eram enviadas de Portugal.