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A LUSOFONIA COMO FACTOR DE RELEVÂNCIA ECONÓMICA

IV. ESTADO DA ARTE

3. A DIMENSÃO ECONÓMICA DA LUSOFONIA

3.4 A LUSOFONIA COMO FACTOR DE RELEVÂNCIA ECONÓMICA

Partindo da definição de «relevância», inicialmente, evidenciada, desde logo, na fase introdutória deste trabalho, o Prof. Ernâni Rodrigues Lopes sublinhou357 que a construção lusófona só faz sentido se assegurar ganhos específicos para cada um dos países membros da CPLP e, potenciando essa via, também e por acréscimo, para o conjunto, em termos de ganhos colectivos na projecção institucional da CPLP no plano global das relações internacionais.

Essa «relevância», enquanto activo com duas vertentes: pública e privada358, pode ser medida de várias formas, resultando na distinção entre bem público e bem privado, em torno de duas características: a rivalidade no consumo e a aplicação do princípio da

357

Intervenção de LOPES, Ernâni Rodrigues «Uma exigência do futuro: valorizar o binómio mar / Lusofonia», Conferência de Encerramento do Congresso “Os Mares da Lusofonia”, Gare Marítima Alcântara-Lisboa, 27 de Setembro de 2008. (Texto policopiado)

exclusão. A Lusofonia como factor de relevância económica depende da sua proactividade, mediante as suas dimensões pública e privada. A materialização dessa relevância pode ser consubstanciada em diversos critérios de medição, entre eles: a performance dos países lusófonos perante alguns dos indicadores económicos precedentemente aludidos; a sua capacidade de atracção de investimento; o eventual reconhecimento do seu prestígio no cenário internacional; e a sua competitividade perante geografias concorrenciais359 diversas – anglófona, francófona e espanófona.

Não obstante a dimensão demográfica da língua portuguesa (o universo de cerca de 250 milhões de falantes, composto por povos e países, espalhados pelos continentes), se os países que a falam não se afirmarem economicamente, essa língua terá escassas possibilidades de se internacionalizar noutras instâncias (política, económica e científica) que não a linguística.

Portanto, é fundamental o desenvolvimento das relações económicas de comércio, IDE, valorização dos recursos, parcerias estratégicas (nacionais, regionais e internacionais) e joint ventures, pois só desse modo poderá ficar assegurada, para o futuro, a função estrutural de geração/acumulação/reinvestimento do lucro (uma das chaves necessárias ao processo de desenvolvimento económico e social).

Reconhecendo a diversidade geográfica e cultural dos Estados que compõem a CPLP, é necessário que se aposte no ensino em Português, na ligação e interacção do Português com outras línguas (como o crioulo ou o tétum) e na promoção de outras vertentes – empresarial, cultural, etc – que são, em si próprias, veículos de difusão da língua.

O desenvolvimento permite internacionalizar uma língua, fazendo dela um instrumento efectivo de referência cultural e económica. Complementarmente, internacionalizar é ensinar o português como língua estrangeira, é operar junto das escolas secundárias e universidades que depois abrem caminho a outros sectores de actividade (economia, negócios, ciência e cultura), é apostar nos centros de línguas que trabalham o seu ensino fora das universidades e é, não obstante a polémica associada, incentivar a aplicação do

Acordo Ortográfico para a Língua Portuguesa de modo a evitar a existência de dupla

grafia que limita a dinâmica do idioma360, o que diferenças que criam obstáculos em todos os planos em que a forma escrita é utilizada sejam: a difusão cultural (literatura, cinema, teatro); a divulgação da informação (jornais, revistas, TV ou Internet); as relações comerciais (propostas negociais, textos de contratos), entre outros.

Selma Alves Pantoja361 identifica outro aspecto dominante, em torno do diálogo intra- CPLP: a complexidade das questões da cidadania e da circulação no espaço CPLP, sendo certo que a progressiva eliminação das barreiras à circulação de pessoas é um importante factor de integração dos povos, de reforço do sentimento de pertença e de concretização da comunidade. Com o arrastar das negociações para uma eventual aprovação do Estatuto de

Cidadão Lusófono362, mais tarde (aquando da IV Reunião do Grupo de Trabalho sobre a

Cidadania e Circulação de Pessoas no Espaço da CPLP, datada de Abril de 2003)

designado por Estatuto do Cidadão da CPLP, sem ainda reunir o consenso necessário. A criação deste estatuto será um elemento facilitador da integração das comunidades migrantes e da circulação entre os países membros, contribuindo para o sentimento de pertença à Comunidade e para a concretização dos objectivos subjacentes à sua fundação.

O Estatuto deve ser um mecanismo político e diplomático para a defesa da identidade lusófona, uma vez que os países da CPLP estão presentes em culturas e civilizações distintas. Cabo Verde já tinha aprovado anteriormente o Estatuto de Cidadão Lusófono (Lei n.º 36/97 promulgada em 8 de Agosto de 1997, entrando em vigor a 1 de Novembro de 1997), mas este “não passou de um sonho” (PINTO, 2005: 395).

360 Cf. Notícia “Trocando as Letras – O que é esse tal Acordo Ortográfico?” por Rejane Lima (Mestre em Geografia Humana e Planeamento Urbano pela Universidade de Lisboa), revista Share – TV Record Magazine, São Paulo, Maio-Junho de 2011.

361

Entrevista de PANTOJA; Selma Alves (Professora de História de África na Universidade de Brasília, especialista em estudos sobre Angola) “Angola está aberta ao mundo”, Jornal de Angola online, Luanda, 31 de Outubro de 2010. (Texto policopiado)

362 Este estatuto foi proposto em 1997 por Cabo Verde, constituindo um projecto conducente a uma futura livre circulação. Com efeito, a Cidadania e a Circulação representam duas áreas com alguns avanços registados na CPLP apesar das dificuldades em conceder direitos políticos, económicos e sociais, cuja aplicação seja consonante com os actuais ordenamentos jurídicos. Isto porque cada um dos países da CPLP também está integrado noutras organizações regionais e sub-regionais que impõem regras mais estritas.

Destaque ainda para a resolução adoptada pelo Conselho de Ministros reunido em Bissau (VI Conferência de Chefes de Estado e de Governo), em Julho de 2006, que considera a cidadania e a circulação de pessoas no espaço CPLP como factores essenciais e reitera a necessidade do reforço dos laços de solidariedade entre os cidadãos dos países membros e de intercâmbio sócio-cultural dinamizador do conhecimento mútuo e do sentimento de pertença à Comunidade.

Foram também alcançados alguns acordos que permitem, por exemplo, que portadores de passaportes diplomáticos e de serviço de algumas categorias de cidadãos possam beneficiar da livre circulação. Essa liberdade será extensiva aos cidadãos em geral quando todos os Estados da CPLP ratificarem o documento. Nos países onde as mudanças ainda não estão a acontecer é porque a sua legislação ou Constituição ainda cria algumas barreiras ao Estatuto do Cidadão da CPLP. Contudo, a criação da Assembleia Parlamentar da CPLP em Abril de 2009 poderá vir a facilitar este processo, como órgão ligado aos parlamentos que tem a vocação de propor e agendar o debate, bem como permitir a adequação das leis magnas destes países a este Estatuto363.

Os representantes dos Estados não têm invocado objecções de natureza política, mas sim impedimentos jurídico-constitucionais, nomeadamente quanto à atribuição de direitos políticos364, sendo de assinalar que a CPLP é formada por países politicamente independentes, “cada um deles integrado nas suas solidariedades regionais e em que as

diferenças de desenvolvimento a nível mundial incentivam um fluxo migratório no sentido sul-norte” (PINTO, 2005: 373).

Os benefícios do Estatuto do Cidadão da CPLP passam pela organização de programas de intercâmbio Erasmus para estudantes (tal como sucede no espaço europeu), pela possibilidade de escritores levarem aos diferentes países as suas produções literárias, contribuindo para a existência de uma maior proximidade entre os povos, países e culturas; pela organização de festivais, encontros de cinema, música e artes plásticas entre os

363

Entrevista de PEREIRA, Domingos Simões (Secretário Executivo da CPLP) “Lusofonia aproxima os povos”, Jornal de Angola online, Luanda, 24 de Abril de 2010. (Texto policopiado)

364 FERREIRA, Patrícia Magalhães (2009), “Um ano de Presidência Portuguesa da CPLP”, IEEI, Acedido em 10 de Setembro de 2009, in: http://www.ieei.pt/post.php?post=755.

estados; pela colocação à disposição dos cidadãos lusófonos de todas as valências, por exemplo, na área da medicina em complementaridade entre os países membros; pela realização de negócios e investimentos potenciais, visto que actualmente as trocas comerciais continuam a ser fundamentalmente entre cada um dos países e com a Europa, sendo ainda baixa a ligação Sul-Sul, por exemplo, entre Moçambique e Angola ou entre Cabo Verde e São Tomé. A consolidação das trocas no âmbito multilateral é algo que se pretende, não obstante os Estados se encontrarem num processo de afirmação como países independentes, o que pressupõe algum tempo.

Após a queda do império, que implicou “o regresso à plataforma originária, com uma

só fronteira, geográfica, política e cultural, europeia”365, Portugal virou-se para a Europa, redefinindo o seu «conceito estratégico nacional», ainda que a sua integração no espaço europeu tenha começado muito antes do fim do seu Império Colonial em 1974, mais precisamente, na altura em que Império Euromundista começava a desabar como consequência da II Guerra Mundial. Portugal passou a assumir uma “função de fronteira e

articulação, designadamente entre o Atlântico Norte e o Atlântico Sul, onde o futuro do Brasil se projecta”366.

PINTO (2005: 206) sublinhou:

“Os primeiros passos dessa integração foram a adesão à Organização Europeia de Cooperação Económica (OECE), mais tarde OCDE, criada para gerir a ajuda do Plano Marshall, e a adesão à Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA).”

Sob o ponto de vista da defesa, Portugal inseriu-se ainda na Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), viveu uma descolonização tardia e é natural que países como a Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe, Angola (país em guerra durante mais de 40 anos) só mais tarde comecem a dispor de instrumentos de intervenção no domínio da língua que demoram décadas a construir: universidades, academias, centros de pesquisa, académicos qualificados, na medida em que anteriormente tinham outras limitações e prioridades.

365 MOREIRA, 2000: 13.

366 MOREIRA, Adriano (2001b), «A relação privilegiada de Portugal-Brasil», Temas de Integração, N.os 10 e 11, Coimbra: Livraria Almedina, p. 15.

Nesta sequência, é possível afirmar que enquanto Angola, sobretudo, e Moçambique, que são países com dimensão demográfica considerável, não ganharem um peso internacional significativo, será muito difícil que a língua portuguesa se internacionalize. O caso do Brasil é a evidência disto na medida em que está a ganhar uma grande presença e é um país mais poderoso economicamente, começando o português a ser uma língua com algum poder internacional.

Apesar da polémica gerada em torno da aplicação do Acordo Ortográfico da Língua

Portuguesa nos países membros da CPLP, é inegável o papel de locomotiva / alavanca do

Brasil, constatando-se que a língua é um instrumento estratégico muito importante. É neste sentido que a quebra de barreiras, que se perspectiva que este novo Acordo traga para o espaço da Lusofonia, seja vista como uma grande mais-valia.

Daí o anúncio de criação de uma «Universidade da CPLP», a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)367 ou Universidade Federal da Integração Luso-Afro-Brasileira, no Nordeste brasileiro, região do Maciço de Baturité, precisamente no município de Redenção368 (a 63 quilómetros de Fortaleza), no Estado do Ceará. A sede provisória369, chamada de Campus da Liberdade, fica na área onde funcionava a Prefeitura do município, enquanto o campus definitivo370 não estiver definido e construído371.

O projecto de lei da sua criação foi enviado ao Congresso Nacional brasileiro em 20 de Agosto de 2008. A Comissão de Implantação da UNILAB foi empossada pelo Ministro da Educação de então – Fernando Haddad, em 14 de Outubro de 2008, presidida pelo Prof. Paulo Speller (também reitor da UNILAB e ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso – a última universidade federal criada no governo Lula). A Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados aprovou em 13 de Março de 2009 o Projecto de Lei

367

Notícia “Unilab levará desenvolvimento” jornal Diário do Nordeste, Fortaleza, 5 de Fevereiro de 2010. (Texto policopiado)

368 Escolhido para a localização da UNILAB por ter sido a cidade pioneira na libertação dos escravos no Brasil, em 1883.

369

Inaugurada em Janeiro de 2011.

370 A previsão é de que fique pronto em 2012, tendo sido o terreno cedido pelo Governo do Estado.

371 Notícia “Redenção sediará Unilab em Agosto” jornal O Povo online, Cachoeira do Sul, 6 de Março de 2010. (Texto policopiado)

n.º 3891/08 do Executivo, criando a UNILAB, com a finalidade de formar recursos humanos para desenvolver a integração entre o Brasil e os demais países da CPLP, especialmente os africanos.

Os cursos da UNILAB são ministrados preferencialmente em áreas de interesse mútuo do Brasil e dos restantes países da CPLP, com ênfase em temas que envolvam formação de professores, desenvolvimento agrário, processos de gestão e saúde pública, entre outros. Esta universidade viabilizará o intercâmbio de estudantes do Brasil com outros dos PALOP, assim como de Timor-Leste e Macau (metade das vagas é destinada a brasileiros e a outra metade a estudantes dos restantes países lusófonos). As inscrições372, gratuitas, para o processo selectivo da UNILAB, abriram no dia 10 de Janeiro de 2011, sendo oferecidos os seguintes cursos de graduação: Agronomia (bacharelato), Administração Pública (bacharelato), Ciências da Natureza e Matemática (licenciatura), Enfermagem (bacharelato) e Engenharia de Energias (bacharelato), com um total de 180 vagas373. A aula inaugural da UNILAB teve lugar no dia 25 de Maio de 2011 com 360 alunos, a maioria brasileiros e 39 de países africanos.

Segundo o Prof. Paulo Speller, no seu primeiro ano de funcionamento (2011), a UNILAB deveria ter 350 alunos374, oriundos do Brasil e de outros países de língua portuguesa, cuja meta é chegar a cinco mil alunos matriculados num período de cinco anos375.

Entende-se que a instalação de uma universidade deste tipo representará um pólo de desenvolvimento económico e cultural de uma região pouco desenvolvida e onde há uma forte presença africana. Com esta iniciativa, o Brasil poderá afirmar-se como o grande

372 Notícia “UNILAB: Inscrições para o processo selectivo começam no dia 10” jornal Vermelho, São Paulo, 3 de Janeiro de 2011. (Texto policopiado)

373

Edital n.º 1-Unilab/2010 “Processo seletivo para ingresso de estudantes, dos países abaixo indicados, nos cursos de graduação da UNILAB”, Fortaleza, 24 de Novembro de 2010.

374 No campo docente, o primeiro professor africano da UNILAB a ter o seu termo de posse assinado pelo reitor desta Universidade – Paulo Speller, foi o Prof. Lourenço Ocuni Cá – empossado no dia 29 de Outubro de 2010, sendo natural da Guiné-Bissau e cuja formação académica passou pela licenciatura, no Brasil, em Letras e Linguística e pelo mestrado em Administração e Supervisão em Educação, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), de São Paulo.

375 Notícia “Prédio provisório deve ser inaugurado em Janeiro de 2011” Jornal de Hoje / Ceará, Fortaleza, 28 de Dezembro de 2010. (Texto policopiado)

interlocutor no universo da língua portuguesa para África, cujo dinamismo de afirmação política constitui a grande novidade na primeira década do ano 2000.

Segundo estimativas da ONU, num relatório apresentado em Novembro de 2008, a CPLP deverá registar um aumento populacional de cerca de 110 milhões de habitantes até 2050, passando, assim, a ter 357 milhões de pessoas. Os dados do estudo do Fundo de

População das Nações Unidas (UNFPA) apontam para um crescimento da população na

ordem dos 44% nos países da CPLP, concentrando, em 2050, quase 4% do total da população mundial – que nessa altura deverá ter 9,1 mil milhões de pessoas. Portugal deverá ser o único país da CPLP com um decréscimo populacional, ao contrário do que irá suceder nos restantes sete países analisados. Angola, Guiné-Bissau e Timor-Leste verão as suas populações crescer mais do dobro e o Brasil, o país mais populoso da CPLP, passará para 254,1 milhões.

No entanto, para que o aumento da representação da CPLP se reflicta numa maior projecção da Lusofonia no Mundo é necessário reforçar a própria coesão interna do grupo, o que implica transformar a organização para que esta seja, cada vez mais, um instrumento de conhecimento mútuo entre países, de harmonização de vários aspectos e políticas e, ainda, de diálogo entre actores diversificados376.

A institucionalização da Lusofonia através da criação da CPLP, “enquanto

organização necessária à Lusofonia”377, não foi feita contra ninguém, nem para se opor a nenhum bloco assente na língua e na cultura, como a Francofonia e a Anglofonia. A Lusofonia pode constituir o «cimento» da CPLP, mas esta posição pode ser vista numa outra perspectiva, ou seja, que a CPLP possa constituir a institucionalização – o «cimento» – da Lusofonia378

, sendo uma das experiências válidas de acolhimento e reforço das solidariedades, neste caso na área dos 3 A’s (Ásia, África e América Latina), que procuram superar as diferenças étnico-culturais e até os conflitos históricos, pela reavaliação dos interesses e valores que apoiam uma acção conjunta a favor do desenvolvimento interno e

376

Cf. FERREIRA, 2009. 377 PINTO, 2005: 368.

378 PINTO, José Filipe (2009), Estratégias da ou para a Lusofonia? O Futuro da Língua Portuguesa, Lisboa: Prefácio – Edição de Livros e Revistas, Lda.

da presença solidária nos centros de diálogo, cooperação e decisão internacionais379. Partindo da assunção da «Lusofonia» como uma ideia para o futuro, para melhor se compreender a relação entre estes termos poder-se-á sistematizar, sucintamente, a leitura da realidade nos sete tópicos seguintes380:

1. Uma matriz linguístico-cultural, isto é, a base historicamente consolidada da afirmação da Língua Portuguesa;

2. Uma realidade política, isto é, o capital comum constituído pela CPLP como expressão política da ideia histórico-cultural da «Lusofonia»;

3. Uma insuficiência, isto é, a debilidade relativa da rede de relações económico- empresariais;

4. Uma necessidade, isto é, a expressão de sentimento generalizado de que é imperioso e urgente avançar na produção teórica sobre a natureza, os fundamentos e o potencial da Lusofonia, bem como sobre as opções estratégicas da CPLP;

5. Uma fundamentação, isto é, impõe-se, como elemento dominante, a afirmação continuada de uma inequívoca base histórico-cultural da Lusofonia e sobre ela reconhecer a raiz originária da CPLP;

6. Um potencial, isto é, o resultado da compreensão das realidades e potencialidades da Lusofonia em termos geopolíticos, à escala global;

7. Um mecanismo necessário, isto é, a compreensão de que, para que a Lusofonia se desenvolva, se aprofunde e se afirme, são, simplesmente, indispensáveis, a adesão, a mobilização e a acção das respectivas sociedades civis, em termos de consciência e intervenção de cidadania.

FERREIRA (2009) alerta ainda para o facto de que se a CPLP pretende valorizar o factor humano, assumindo-se como uma organização dos povos e como um espaço de cidadania, terá de dar passos para melhorar as condições de acesso a esse espaço, passando pela aprovação e implementação de instrumentos de integração política e social, que promovam a circulação e a partilha, sob pena dessa pretensão permanecer no campo da utopia.

379 Cf. MOREIRA, Adriano (Coord.) (2001a), Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Coimbra: Livraria Almedina.

LOPES (2008) estava convicto que a articulação entre Estados (como detentores do poder soberano formal) e cidadania (como fonte e expressão da própria natureza e existência das sociedades organizadas) permitirá rasgar novos horizontes para a construção e a afirmação da «Lusofonia».

Deste modo, é neste sentido que importa apoiar os vários grupos de cidadania que, em cada um dos países da CPLP, pensam e trabalham para a tarefa de construção e afirmação da «Lusofonia», conduzindo-a a preencher o percurso de conceito multicultural para a sua explicitação como «vector portador de futuro», numa análise prospectiva, “na medida em

que configura novos campos de possibilidade”381. Na realidade, como o tempo é tríbio: “nós seremos no futuro o que projectarmos ser no presente em função do passado”382

.

Sendo a CPLP um espaço descontínuo em termos geográficos, com níveis de desenvolvimento muito díspares e com prioridades de política externa bastante diferenciadas (decorrentes do próprio contexto regional de cada país), todos os avanços que sejam realizados no seio da organização apenas poderão ter efeitos reais se existir um maior envolvimento dos países membros, de forma a incluírem progressivamente a agenda da CPLP nas suas políticas internas.

Na sequência da possível e desejável função da CPLP como plataforma global de afirmação da Lusofonia e de todos e cada um dos Oito, a afirmação dos seus membros no Mundo passa, a título de exemplo, pelo papel de líder do Brasil no que se refere ao MERCOSUL, pelos esforços envidados pelos países emergentes como Angola, Cabo Verde e Moçambique para se tornarem importantes intervenientes regionais (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental – CEDEAO/ECOWAS, Comunidade de Desenvolvimento da África Austral – SADC, UA) e ainda por Portugal como Estado- Membro da UE.

381 LOPES, Ernâni Rodrigues (Coord.); ESTEVES, José Poças e Equipa técnica e consultores da SaeR (2011), A Lusofonia – Uma Questão Estratégica Fundamental, Lisboa: SaeR/Jornal Sol, p. 48.

382 Intervenção de GRAÇA, Pedro Borges «O futuro inscrito na história», Colóquio “CPLP e Lusofonia” (no âmbito da “Semana Cultural da CPLP”), CPLP/CRL/IEE – UCP, Lisboa, 9 de Maio de 2008. (Texto policopiado)

Em suma, a CPLP (apoiando-se na Lusofonia e concretizando a sua dimensão política) constitui uma plataforma (já minimamente estruturada e consolidada) para a projecção de