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IV. ESTADO DA ARTE

1. A NATUREZA CONCEPTUAL DA LUSOFONIA

1.3 O «ESPAÇO LUSÓFONO»

O «Espaço Lusófono» baseia-se, fundamentalmente, na partilha: (1) da língua portuguesa, através da qual se procura potenciar o relacionamento e a comunicação entre os países que dele fazem parte em que as inter-relações se dividem, essencialmente, em alguns subconjuntos: por um lado, a CPLP64, por outro, as relações bilaterais entre o Estado português e os PALOP65 e por fim, as relações entre os próprios estados envolvidos; e (2) dos mares e oceanos que, há séculos levaram Portugal a dialogar com outros Mundos e continentes, e, o trouxeram à Europa, tendo, como elemento simbólico e densificador, a «bandeira marítima da CPLP» singularizada pelo Prof. Adriano Moreira.

É, no entanto, de assinalar, neste «Espaço Lusófono» (Fig. VI), o reconhecimento de realidades radicalmente distintas umas das outras, bem como de uma comunidade pouco coesa e muito desigual, afectada por desequilíbrios demográficos, culturais e económicos flagrantes, mas onde existem igualmente potencialidades a explorar66.

Com efeito, ao albergar realidades completamente distintas umas das outras, o «Espaço Lusófono» manifesta-se como universo de desigualdades sociais, económicas, culturais e demográficas. O seu mérito reside na coragem em desvelar a complexidade da vivência e partilha de uma mesma língua em diferentes países nos tempos actuais67. Esta

abordagem permite, desde já, assinalar como aspecto inovador – a

concepção/construção/densificação desse «Espaço Lusófono», com externalidades positivas para todos os países da CPLP, através da partilha de valores culturais e da sua confluência em factores determinantes da relevância económica.

64 Constituída pelos seguintes países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

65 Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. 66 Cf. MARTINS, 2004.

Figura VI. O «Espaço Lusófono».

Fonte: Observatório da Língua Portuguesa (http://www.observatoriolp.com)

Conforme refere CHACON (2002: 81):

“Portugal, Brasil e países lusófonos africanos têm duas fronteiras: a terrestre, respectivamente com a Europa, Ibero-América e África em geral: porém, todos os lusófonos dispõem do mar oceano como fronteira recíproca a aproximá-los mais que a distanciá-los. O Atlântico surge como o seu espaço comum, une-os, não os separa, articula-os com outros mares oceanos: o Atlântico desprovincianiza os povos luso- -tropicais, ao evitar que se fechem em si mesmos, seja Portugal com a Europa, Brasil com a Ibero-América, ou Guiné-Bissau, ou São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique com seus vizinhos francófonos e anglófonos, Cabo Verde com a compensação da oceanidade.”

Sendo o mar68 um recurso estratégico em termos de desenvolvimento económico,

68 No século XV, o mar era encarado, com um conjunto de medos e interrogações, como um espaço capaz de causar a Morte e a Desgraça. Só a partir do final do século XIX é que o mar passa a ser considerado como um espaço lúdico e socializado, o que permitiu o primeiro fenómeno da Mundialização – a «Mundialização dos Mares», a partir do Oceano Atlântico que representava, até ao século XIX, a via/estrada primordial para fazer a ligação ao mundo inteiro. Destacam-se, sobretudo, três operações fundadoras deste Atlântico socializado em que os africanos participam: i) a criação de ecossistemas inéditos, por exemplo, através do processo de circulação de novas plantas, espécies e animais em países onde não existiam; ii) o surgimento de novas sociedades humanas estruturadas nos espaços africanos que visavam desenvolver-se numa perspectiva de modernidade e que resultavam da conjugação de práticas/valores europeus com práticas/valores africanos, contemplando, neste caso, sobretudo, as Ilhas Atlânticas desabitadas (Madeira, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe); iii) a organização de sistemas relacionais entre europeus e africanos na Costa de África, havendo interesse, de parte a parte, no conhecimento do outro. [Intervenção de HENRIQUES, Isabel Castro, no seminário “África no processo de mundialização – século XV a XX”, CEsA/ISEG, Lisboa, 26 de Maio de 2011].

Rodrigo Oliveira (subsecretário Regional dos Assuntos Europeus e Cooperação Externa do Governo dos Açores) defende a ideia de que a diversidade de áreas de influências e prioridades representa para os Estados do Sul – e ibéricos, em particular – uma oportunidade de afirmação e de contributo para o papel global da UE cujos Estados- Membros possuem diferentes interesses geoestratégicos que dificultam a afirmação de uma política comum de segurança e defesa, com repercussões também na estratégia de relacionamento com “o Atlântico Sul que deve ser encarado como um espaço de diálogo e

cooperação, no qual as regiões ultraperiféricas assumem uma função importante” em que

é fundamental “o papel que o mundo da lusofonia representa neste espaço”69.

Neste contexto, acrescenta que “as questões da segurança e do combate à

criminalidade não podem ser afastadas do apoio ao desenvolvimento e do diálogo Norte- Sul, no qual a Europa tem, também, um papel-chave a desenvolver”. A título de exemplo,

recorda que “durante as presidências portuguesa, em 2007, e espanhola, em 2010, foram

organizadas cimeiras da UE, respectivamente, com o Brasil e com a América Latina”,

reflectindo a vontade de construção de uma Europa igualmente interessada no diálogo com o Atlântico Sul que, do ponto de vista geopolítico, não encerra uma coesão, sendo dominado pelos países de língua portuguesa com um potencial de mercado ímpar70.

Segundo João Aranda e Silva (investigador e jornalista), o Brasil será a grande potência emergente desta região, apresentando-se já como “o líder da América do Sul” 71 devido ao seu crescimento económico acentuado na última década, em consequência da “prospecção intensa do seu mar, a chamada Amazónia Sul”, que lhe permitiu descobrir reservas de petróleo, e de “ter vindo a reformular a sua marinha de forma a ter

capacidade para dominar o Atlântico Sul”. Entre o Brasil e os Estados Unidos da América

vai criar-se um clima de tensão pelo domínio desta zona, antevendo a criação de um “triângulo estratégico”, o qual será constituído por Brasil, Angola e África do Sul.

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Intervenção de OLIVEIRA, Rodrigo, sessão de lançamento do livro “Atlântico Sul – Um Tratado para a Paz ou uma Rota de Colisão Geopolítica” de João Aranda e Silva, Praia da Vitória - Açores, 2 de Novembro de 2010 [Notícia “Regiões Ultraperiféricas e espaço da lusofonia potenciam diálogo e cooperação no Atlântico Sul”, jornal Notícia dos Açores, Ponta Delgada, 3 de Novembro de 2010. (Texto policopiado)] 70 Notícia “A via do Atlântico Sul”, jornal Sol, Lisboa, 4 de Novembro de 2011.

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Intervenção de ARANDA E SILVA, João, sessão de lançamento do seu livro “Atlântico Sul – Um Tratado para a Paz ou uma Rota de Colisão Geopolítica”, Praia da Vitória - Açores, 2 de Novembro de 2010. [Notícia “Regiões Ultraperiféricas e espaço da lusofonia potenciam diálogo e cooperação no Atlântico Sul”, jornal Notícias dos Açores, Ponta Delgada, 3 de Novembro de 2010. (Texto policopiado)]

O autor afirma ainda que Portugal não vai considerar liderar a CPLP visto que, como o Brasil e Angola têm matérias-primas, não vão deixar que lhes imponham regras. O novo Acordo Ortográfico é apontado como bom exemplo desse (re)equilíbrio de forças para garantir a expansão da língua nos seus factores extra linguísticos, consolidando o discurso científico que produz, as expressões cultural e artística que cria e as relações económicas que veicula. Perante este cenário, o autor defende que a luta pelo controlo do hemisfério Sul do Atlântico vai acabar por enfraquecer a importância da Base das Lajes, assumindo para os norte-americanos um maior interesse estratégico em posições em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Os espaços de integração regional – Açores, Madeira, Canárias, Guiana, Martinica, Guadalupe e Saint Martin – apelam, decisivamente, à união, ao diálogo e à cooperação entre Atlântico Norte e Sul, “sem esquecer as relações históricas e

culturais que, por exemplo, as regiões ultraperiféricas portuguesas têm com vários territórios dos dois lados do Atlântico Sul”, concluiu.

Este «Espaço Lusófono» poderá ser, eventualmente, alargado na cimeira de Julho de 2012 em Moçambique72, na sequência do pedido de adesão plena da Guiné Equatorial73 cuja aceitação, pelos países que compõem a CPLP, não se tenha tratado de uma decisão consensual entre a Comunidade, não obstante ter sido aceite aquando da cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP ocorrida, no dia 23 de Julho de 2010, em Luanda, abrindo o processo de verificação do cumprimento de todos os requisitos da adesão.

Durante essa cimeira em território angolano, Portugal passou o testemunho da presidência rotativa da organização para Angola, por um período de dois anos que, por sua vez, escolheu o tema “Solidariedade na diversidade” para mote da sua presidência, na medida em que a identidade comum dos países da CPLP reside na solidariedade e a celebração cultural destes Estados resultante da sua diversidade. Assim, quando se fala da implantação de regimes democráticos baseados na paz e estabilidade, está a falar-se de

solidariedade e diversidade74.

72 Notícia “Guiné Equatorial: Declarações de Obiang sobre adesão à CPLP são legítimas”, Diário dos Açores, São Miguel, 6 de Dezembro de 2011. (Texto policopiado)

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Este país, produtor de expressivos recursos energéticos, possui o Estatuto de Observador Associado na CPLP (desde Julho de 2006), querendo-se tornar membro de pleno direito.

74 Entrevista de PEREIRA, Domingos Simões (Secretário Executivo da CPLP) “Lusofonia aproxima os povos”, Jornal deAngola online, Luanda, 24 de Abril de 2010. (Texto policopiado)

A Guiné Equatorial é uma pequena nação africana cujas línguas oficiais são o espanhol e francês, apesar de um decreto presidencial, datado de 20 de Julho de 2010, ter já proclamado o português como terceiro idioma oficial, um dos requisitos exigidos nos estatutos para poder integrar a CPLP, como país membro75, para além da necessidade de adopção de outros indicadores que provem a sua adesão à cultura e aos traços comuns desta Comunidade. Este diploma presidencial considera que a inclusão do português como língua oficial na Guiné Equatorial contribuirá positivamente para aumentar a cooperação no contexto afro-ibérico e luso-hispânico das nações, em função dos seus interesses regionais e das suas possibilidades económicas e diplomáticas, estando integrada na CEEAC (Comunidade Económica dos Estados da África Central) que também tem o francês e o português como línguas oficiais, a partir da presença do Gabão e São Tomé e Príncipe. É um sinal de que a língua pode ser uma decisão política76.

Adicionalmente, este país é governado pela mão de ferro do Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbsagogo, no poder desde 1979, sendo colocado por vários think tanks internacionais entre os primeiros da lista dos piores ditadores da actualidade. Segundo a prestigiada revista Foreign Policy, aquele Chefe de Estado africano terá acumulado uma fortuna pessoal avaliada em 600 milhões de dólares, sobretudo desde que, há década e meia, as reservas de petróleo descobertas no seu país começaram a ser exploradas por petrolíferas dos Estados Unidos. Mais que beneficiar a população, boa parte das receitas do petróleo tem servido para engordar as contas as contas bancárias de Obiang e do seu clã. Daí que a corrupção na Guiné Equatorial seja endémica em que num ranking de 183 países, elaborado pela Transparency International77, figura em 172.º lugar com o Índice de

Percepção da Corrupção 201178 correspondente a 1.9.

75 Porém, para ser observador associado não é condição básica.

76 Entrevista de MÜLLER DE OLIVEIRA, Gilvan “Língua Portuguesa: expansão e diversidade”, jornal A Semana, Praia, 20 de Junho de 2011. (Texto policopiado)

77 Organização não-governamental, fundada em Março de 1993, com sede em Berlim, tendo como principal objectivo a luta contra a corrupção, com a publicação anual de um relatório que analisa os resultados do Índice de Percepção da Corrupção de países/territórios do mundo.

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Baseado no nível de percepção da corrupção do sector público numa escala de 0 a 10, em que 0 significa que um dado país/território é considerado como altamente corrupto, enquanto 10 representa que está limpo. O lugar ocupado na escala indica a sua posição relativa a outros países/territórios incluídos nesse mesmo índice. No índice de 2011, a Nova Zelândia (9.5) e a Dinamarca, em ex-aequo, com a Finlândia (9.4) figuram no topo da lista, ao passo que a Coreia do Norte, em simultâneo, com a Somália (1) estão no fundo da tabela. No caso dos países lusófonos, o ranking é o seguinte: 32.º-Portugal (6.1); 41.º-Cabo Verde (5.5); 73.º - Brasil (3.8); 100.º-São Tomé e Príncipe (3); 120.º-Moçambique (2.7); 143.º-Timor-Leste (2.4); 154.º-Guiné-Bissau (2.2); 168.º-Angola (2) [In http://cpi.transparency.org/cpi2011/results-Acedido em 30 de Novembro de 2011]

Os esforços diplomáticos da Guiné Equatorial para aderir à CPLP como membro de pleno direito vêm corroborar o alargamento potencial deste espaço, para além de existirem outros países que manifestaram interesse em aderir à CPLP, com o Estatuto de Observador79: Austrália, Áustria, Indonésia, Luxemburgo, Marrocos, Suazilândia e Ucrânia (os dois últimos já formalizaram o pedido de adesão como membros associados).

No caso da Indonésia, são alegadas razões históricas que estão na origem do interesse em integrar a CPLP, para além das duas mil palavras portuguesas que são utilizadas diariamente pela sua população e das potenciais vantagens económicas da adesão à CPLP deste gigante asiático de maioria muçulmana que pertence à ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático)80, G20 (Grupo dos 20)81 e à APEC (Asia-Pacific Economic Cooperation / Cooperação Económica da Ásia e do Pacífico). Daí o seu desejo em firmar parcerias, mormente com Portugal (membro da UE) nas áreas da educação, turismo, cultura e comunicação social, o que leva Portugal a registar com agrado o alargamento da influência que a CPLP possa ter em todas as regiões em que se insere.

A nível político, apesar dos legados semelhantes dos países da CPLP, os seus resultados são diferentes ao nível da democratização, tendo iniciado as suas transições democráticas a partir dos anos 1990. Segundo Aristides Gomes (ex-Primeiro-ministro da Guiné-Bissau), há, actualmente, uma “falência/crise do modelo de Estado que está em

vigor na África Lusófona”82, na medida em que as burguesias nacionais dos países africanos se confundem com o próprio aparelho de Estado. A partir do momento em que a classe dominante se confunde com a burocracia estatal existe uma propensão para originar alguns desvios e é aí que reside uma certa fragilidade em que um Estado, que nasce nestas condições, tem algumas dificuldades, deixando-se dominar, por exemplo, pela corrupção.

79

Este estatuto foi criado na segunda Cimeira da CPLP na Cidade da Praia, em 1998, sendo revisto no Conselho de Ministros de Luanda de 2005, onde foram estabelecidas as categorias de Observador Associado e Observador Consultivo.

80 Cujos países membros são: Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Singapura, Tailândia e Vietname.

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Grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a UE representada pela presidência rotativa do Conselho e do Banco Central Europeu.

82 GOMES, Aristides, no V Congresso Internacional da África Lusófona – “África a caminho de um «Renascimento»: Que perspetivas?”, ULHT, Lisboa, 18 e 19 de Maio de 2011.

Alguns países africanos têm tido, efectivamente, dificuldades na sua democratização, nomeadamente no que se refere à mobilização da população para se bater pela democracia. Porém, os movimentos sociais que ocorreram, em 2011, no Egipto, na Líbia, na Síria, etc são diferentes daqueles que tiveram lugar no século XIX porque enquanto esses eram, sobretudo, decorrentes de questões relacionadas com a trajectória profissional, os movimentos mais recentes são mais individualistas, compostos, essencialmente, por quadros de jovens que tiveram maior acesso ao saber e que conhecem as novas tecnologias mas que estão no desemprego e, por isso, pretendem uma nova perspectiva de vida, o que representa o retorno do «actor/sujeito» com a necessidade de lhe atribuir maior relevância. No caso de Cabo Verde, como se trata de um país cuja maior parte da sua população se encontra fora, é um Estado que tem maior facilidade na democratização porque dispõe, precisamente, de uma maior vivência internacional e democrática, factores estes que influenciaram a sua posição actual.

O falhanço relativo do modelo estadual em todos os Estados Lusófonos estava assente num sistema de governo semi-presidencialista (com sobreposição do poder executivo sobre o poder legislativo em que o Primeiro-ministro é a figura da liderança), com excepção do Brasil, cuja Constituição tem laivos marcadamente presidencialistas. O semi- presidencialismo funcionou melhor em Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe (sem diversidade étnico-linguística nem político-ideológica em que o «power sharing» resulta na coabitação bem sucedida entre o Presidente da República e o Primeiro-ministro) do que, por exemplo, em Angola (o regime está a ficar sobretudo presidencialista visto que há uma concentração do poder na figura do Presidente), na Guiné-Bissau (onde há concentração de poderes nas forças armadas) e em Moçambique (onde existiram conflitos resultantes de autênticos mosaicos de diversidade étnico-linguística e político-ideológica).

A maior parte dos autores africanos tendem a dizer que há uma desadequação entre o modelo ocidental e a realidade do modelo de poder africano, existindo, portanto, um desajuste cultural correspondendo às explicações culturalistas. No geral, Armando Marques Guedes83 (professor de Direito) considera que o regime semi-presidencialista, no

83 GUEDES, Armando Marques, V Congresso Internacional da África Lusófona – “África a caminho de um «Renascimento»: Que perspetivas?”, ULHT, Lisboa, 18 e 19 de Maio de 2011

contexto futuro da África Lusófona, resultará melhor em sociedades quanto menos divididas forem étnico-lingística e político-ideologicamente. Partindo da divisão de poderes entre: «poderes legislativos»84 e «poderes não-legislativos»85. Marina Costa Lobo (professora e investigadora no Instituto de Ciências Sociais-ICS / Universidade de Lisboa- UL) considera que “na CPLP os poderes não-legislativos são superiores aos

legislativos”86 (destaque para Angola e Moçambique em que os poderes presidenciais são maiores), existindo uma grande variação nos poderes não-legislativos. Contrariamente ao que sucede na África francófona, onde se verifica um maior peso dos poderes legislativos.

No caso da Europa, existe um maior equilíbrio entre esses dois tipos de poderes. Considerando as dinâmicas possíveis dos sistemas: parlamentar (o centro do poder executivo está no Primeiro-ministro e no governo), presidencial (o Presidente como chefe máximo) e diárquica (prevê alguma partilha de poderes no quotidiano da política), constata-se que os níveis de dinâmica diárquica são baixos. Porém, se se excluir Angola e Moçambique esta dinâmica passa a ser dominante.

Conclui-se que se defende a existência de uma marca lusófona e não de um modelo lusófono, sendo característica de alguns dos regimes dos países de língua portuguesa, a tendência para a concentração dos poderes presidenciais em poderes não-legislativos, o que significa que, constitucionalmente, há uma partilha, à partida, do poder executivo.