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A MALHA INQUISITORIAL : CORRUPÇÃO E PODER

Origem XVI XVII XVIII Sem data Total %

A MALHA INQUISITORIAL : CORRUPÇÃO E PODER

Em Portugal, os altos cargos da Inquisição se dividiam em inquisidores, comissári- os e familiares. Inquisidores eram cargos de extrema confiança e, por este motivo, nomea- dos pelos monarcas portugueses. Os familiares e comissários eram julgados habilitados após longo e severo processo, no qual o primordial era não descender de nenhuma das na- ções consideradas infectas. Segundo o estudo307 de Daniela Buono Calainho, um processo durava, em média, cerca de seis anos.Para ser comissário era forçoso ser religioso. Os fa- miliares se reportavam ao comissário. E ambos se reportavam aos inquisidores. Havia o Inquisidor Mor, o mais alto posto na hierarquia do Tribunal do Santo Ofício.

Sobre o comportamento ético dos funcionários da Inquisição, escreveu308 a Profes- sora Anita Novinsky:

Os funcionários da Inquisição, os homens escolhidos para fiscalizar as ações e o pensamento dos súditos da Igreja, mal chegavam a esta terra, desvestiam-se de seu puritanismo, adquiriam outros interesses e descobriam as novas possibilidades de vida, que a liberdade do ambiente lhes atirava às mãos. Alguns se ligaram aos cristãos-novos, em profunda amizade, esquecendo completamente do que haviam sido encarregados, outros, deixando-se levar pelas tentações, praticavam toda sorte de fraudes ou imoralidades, não se amendrontando com nenhuma sorte de ameaças. Algumas des- sas personalidades seriam dignas de estudo, pela maleabilidade e tolerância que demonstraram. Sobre certos funcionários foram feitos Autos, e estes servirão para nos aproximar dessas individua- lidades, algumas ainda tão estranhas e indelineáveis para nós.

Um caso interessante é o do comissário do Santo Ofício, Frei Antônio Rosado. Em vez de vir aqui “colher” os cristãos-novos e denunciá-los à Lisboa, tornou-se amigo de muitos deles, indo até “fol- gar” na fazenda de Gonçalo Homem de Almeida. Mostra-se indignado o vigário, não apenas por- que “tomou-se de particular amizade por Diogo Lopes Ulhoa, Duarte Rodrigues Ulhoa, Belchior Vaz Mentola, todos cristãos-novos moradores na Bahia” ou “soltar os presos”, mas ainda por comportar-se como um leigo qualquer, pois “desautorizou-se em uma rua pública de Pernambuco com um pintor andando com ele as bofetadas e punhaladas qiaç de baixo qual de cima arrancando- lhe as barbas e tomando-lhe a espada cousa indigna de um religioso grave e oficial do Santo Ofí- cio”, o que o próprio Temudo não acreditaria, “se ele mesmo o não contara e o soubera de pessoas que hoje estão nesta cidade”.

No Brasil, cabia ao comissário a condução de um processo antes de ser remetido para Portugal. Em alguns casos, em lugares onde não havia comissário do Santo Ofício,

307

CALAINHO, Daniela Buono. Em Nome do Santo Ofício: Familiares da Inquisição Portuguesa no

Brasil Colonial. Dissertação de Mestrado (em História) apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciênci-

as Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1992. p. 50.

308

NOVINSKY, Anita. A Inquisição na Bahia. In Revista de História (publicação da Universidade de São Paulo). São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1968. Volume74, pp. 420-421.

por vezes essa função era exercida por algum religioso, de ilibada conduta. Esse caso aconteceu com o Padre Salvador de Camargo Lima. Quando este ingressou com pretensões de se tornar familiar, o Tribunal do Santo Ofício entendeu que as inquirições ficariam pre- judicadas, uma vez que as testemunhas poderiam ficar intimidadas, já que havia desempe- nhado o alto cargo de comissário do Santo Ofício em terras paulistas.

Cabia aos Familiares do Santo Ofício da Inquisição auxiliar a máquina inquisitorial em todos os aspectos. Denunciando, prendendo, mandando seqüestrar bens dos presos e escoltando presos. No caso de São Paulo, a escolta poderia ser do local da prisão até o co- légio dos jesuítas, ou daí até o porto, de onde sairia a nau para os cárceres da Inquisição, em Lisboa.

Para ilustrar como se dava a prisão de réus da Inquisição, há uma ordem do Gover- nador de Minas Gerais, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho ao Capitão Manuel Antunes de Lemos, para levar à cidade do Rio de Janeiro Inácio Cardoso...

(...) que vai preso por ordem do Santo Ofício e entregará na cidade ao Ilustríssimo Sr. Bispo, e an- tes de desembarcar em nenhuma parte, tomará o porto da Prainha, e dele remeterá logo a carta, que leva separada ao dito Sr. Bispo, e sem resposta ou ordem sua não passará do dito porto, nem entregará o dito preso o qual levará sempre seguro e com toda cautela, não o deixando falar só com pessoa alguma, pondo-lhe sempre sentinela de noite e de dia, porém esta também não falará com o dito preso, salvo publicamente entre todos, nem consentirá se agregue gente alguma de ou- tras tropas à sua e só sendo-lhe necessário mais gente da que leva para melhor guarda do presoa poderá tomar onde quer que a encontrar e se achar notificando-os da parte do Santo Ofício para que o acompanhem; e nas estalagens e sítios, onde parar e pernoitar, alugará a melhor casa309, e

mais segura, desalojando os que a ocuparem, preferindo a todos e a qualquer pessoa em tudo que lhe for necessário para esta condução, e assim de negros como de cavalos, embarcações, e manti- mentos, pagando, porém, pelos preços, seu valor e aluguéis. E quando alguém lhe desobedeça a ele dito capitão sobre o referido o levará em sua companhia preso à ordem do Ilustríssimo Sr. Bispo do Rio de Janeiro; e assim ordeno também aos soldados e ao ajudante José Coelho da Cunha, que vão de guarda ao dito preso lhe façam como devem e são obrigados, e obedeçam em tudo o que for a bem da referida diligência ao dito Capitão Manuel Antunes de Lemos, sob pena de serem castiga- dos rigorosamente e incorrerem nas penas impostas pelo Santo Ofício. E hei por muito recomenda- da esta dita diligência, e condução do preso, e procurar o salário que se manda dar aos soldados, que o acompanha. Minas Gerais do Ribeirão do Carmo, aos 22 de junho de 1711. Antônio de Albu- querque Coelho de Carvalho.

Para se tornar familiar, se fazia necessária uma série de investigações sobre a gene- alogia, costumes e bens do candidato. Forçosamente ele deveria ser cristão-velho, bem como seus pais e avós, viver de forma regrada, cumpridor dos ritos e obrigações da Igreja, não ter tido parentes presos pelo Santo Ofício, ser alfabetizado, e ter bens que comportas- sem sua ligação com a entidade. Era obrigação ainda guardar segredo de tudo que visse e ouvisse de assuntos ligados à Inquisição. A obtenção da carta de venera, ou medalha da

309

Inquisição era, por vezes, árdua, e demorava anos para conclusão do processo, com muita despesa. Mas carregá-la no peito compensava o trabalho, já que trazia orgulho e prestígio ao próprio e aos seus parentes. Além de respeitabilidade, obtinham-se privilégios fiscais. E livraria, como se virá adiante, de comentários maledicentes de ser pertencente a famílias cristãs-novas. Porque a obtenção da venera significava a “prova”, inquestionável, de que ele era cristão-velho, e contestar essa condição seria o mesmo que cometer um crime, su- jeito a reparos de honra.

Comparando com as condições obrigatórias de se tornar cavaleiro de alguma das ordens de Portugal, como de Cristo, de Aviz e de Malta, restaria ao candidato apenas pro- var que ele próprio, seus pais e avós viveram à lei da nobreza, sem terem exercido nenhum ofício mecânico.

Comissários do Santo Ofício de São Paulo, que se conseguiu descobrir:

Nome do comissário Lugar Data

Gaspar Gonçalves de Araújo Natural da vila de Santos e morador na cidade do Rio de Janeiro

1713

Manuel José Vaz cidade de São Paulo 1768

Salvador de Camargo Lima cidade de São Paulo 1768

José Xavier de Toledo vila de Santos 1789

Familiares do Santo Ofício de São Paulo, que se conseguiu descobrir:

Nome Lugar Data

Salvador Jorge Velho (faleceu antes) vila de São Paulo 1690

Veríssimo da Silva vila de São Vicente 1699

Gaspar Leite César vila de Santos 1701

Manuel Pacheco de Lima vila de Santos 1707

João Vaz Cardoso vila de Taubaté 1711

Domingos Jorge da Silva cidade de São Paulo 1711

Filipe de Santiago Diniz cidade de São Paulo 1717

Manuel Antunes Fialho vila de Guaratinguetá 1721

Pedro Taques de Almeida cidade de São Paulo 1729

José Corrêa Leite vila de Taubaté 1730

José de Godoy Moreira vila de Santos 1744

Salvador Corrêa de Toledo vila de Guaratinguetá 1747

Antônio de Toledo Lara cidade de São Paulo 1747

João Vieira da Silva vila de Itu 1764

Manuel de Freitas Matos vila de Santos 1769

Eufrásio de Arruda Botelho vila de Itu 1792

Bento José Leite Penteado Santana de Parnaíba 1792

Francisco Costa Moreira, padre vila de Guaratinguetá 1800

As denúncias ao Santo Ofício

As denúncias de desvios de comportamento e da fé eram encaminhados ao Tribunal do Santo Ofício de Lisboa e registradas nos Cadernos do Promotor. Segue abaixo uma de- núncia310 feita por José Soares de Barros, em 6 de novembro de 1717 na cidade de São Paulo, encaminhada e ainda reforçada com mais informações do Familiar do Santo Ofício José Ramos da Silva:

Pelo não poder fazer no tribunal onde toca; por descargo de minha consciência; e por ser matéria de tanta conseqüência; assentei comigo de dar conta do caso cojmo pela presente o faço. Por en- treposta pessoa qual é José Ramos da Silva único familiar do Santo Ofício que há nesta cidade, e por não haver nela comissário, me pareceu mais seguro fazer este memorial, ou denunciação se tanto valer, pelo qual declaro, em como é verdade que, no fim do mês de julho próximo passado, su- cedeu ausentar-se desta cidade para as Minas, dois estudantes, filhos de Francisco Rondom, e de sua mulher Maria de Araújo, um por nome Francisco; e outro por nome Pedro, de cuja ausência resultou, aos vizinhos estranha-lo de tal sorte que perguntando uns aos outros, qual seria a razão daquela ausência, por serem estudantes bem vistos, os quais se exercitavam no estudo da Filosofia, de que era mestre o Reverendo Padre José Mascarenhas da Companhia [de Jesus], donde veio que no dito tempo achando-me eu em presença de João Sátiro, e de Pedro da Silva, por este foi dito/ vindo-nos a falar na matéria da dita ausência dos ditos estudantes/ que a causa deles se ausenta- rem, e fugirem para as minas aonde estava seu pai fora por respeito do que viam fazer em casa de sua mãe com suas irmãs, e outras mulheres, e reparando em naquele dizer, e perguntando-lhe como sabia, me respondeu que uma negra da dita casa lhe contava várias cousas que lá na dita casa pas-

savam, e que entendia que um clérigo primo irmão da mãe dos ditos estudantes, era o Mestre da Si- nagoga; e que este alugava umas casas que fazem canto em um beco conjunto as que morava o dito padre, as quais estavam sem morador, e a ordem do dito padre, e que enstas supunham que o so- bredito padre fazia a sinagoga, e andava fazendo espreita de noite para averiguar o que se lhe tinha dito; e este sujeito por nome Pedro da Silva se ausentou para as minas há poucos dias chamado para o serviço do Senhor General Dom Pedro de Almeida, e como aquela família onde procedem os ditos estudantes, sua mãe irmãs, e o dito clérigo são tidos, e havidos por gente de nação cuja fama é muito antiga, e não há memória em contrário; e por esta razão, e pelas mais cousas que tenmho ponderado, tenho por mim, que diante de Deus será verdade, e passará na realidade aquela notícia, isto é o que pude alcançar nesta matéria na forma que tenho declarado na verdade e assim o juro aos Santos Evangelhos se assim é necessário. São Paulo, 6 de novembro de 1717. José Soares de Barros.

Outra denúncia311, feita em 4 de novembro de 1717 na cidade de São Paulo, por José de Camargo Neves, como exemplo do denuncismo instaurado pela Inquisição:

Haverá sete anos pouco mais ou menos em ocasião em que eu me achava no bairro de Itapetinga312

em um sítio aonde assistia o defunto José de Camargo Ortiz, meu Pai, estando aí em mina presença e de Matias Lopes, entre várias cousas de certa conversação, em que se achava também Manuel Pe- reira Lobo, e por este foi dito, que não era verdadeira, nem certa a razão de crerem os cristãos que há inferno para o os mesmos cristãos batizados e que quando houvesse seria só para os que não são batizados, e repreendendo eu não falasse em semelhante matéria por ser contra a verdade o dito se alterara dizendo que a verdade era o que ele dizia e que isto dissera certo religioso a uma pessoa de muita verdade. E porque este caso é de tanto porte e me não veio em consideração o denunciar como devia assim porque não cuidei na sua gravidade como porque nesta terra não há comissário do Santo Ofício, e agora que isto me veio à lembrança o fizessem presente a José Ramos da Silva familiar daquele tribunal por entender que é a pessoa mais idônea a quem houvesse de eleger para denunciar, por entre posta (?) pessoa, como diz a bula do dito tribunal que sele nas quaresmas, e além de ouvir o caso referido ao sobredito o reconheceu por homem de vá vida, o qual é morador na freguesia de Juquiri313 do termo desta cidade, e por descargo de minha consciência declarei o

dito caso ao dito familiar o qual me respondeu fizesse por escrito como o fiz que é ao presente pas- so na verdade e assim o afirmo pelo juramento dos Santos Evangelhos se necessário é. São Paulo 4 de 9bro de 1717 anos.

José de Camargo Neves

A viagem para os cárceres da Inquisição

A literatura de época, em pleno vigor da Inquisição, tinha por paradigma mostrar o cristão-novo como desprovido do sentimento de nativismo, sem amor à Pátria, e ainda des- provido de coragem e de altivez, a verdadeira alma do povo português. Há um relato nar- rado pelo escritor Joaquim Norberto de Sousa Silva, no seu famoso livro Brasileiras Céle- bres, escrito em 1862, mostrando uma paulista travestida de heroína, D. Rosa Maria de Siqueira, que se envolveu na defesa do navio que ia do Brasil para Portugal carregando

311

Caderno do Promotor nº 77, f3s. 67. Cópia xerográfica do Arquivo da Professora Anita Novinsky.

312

Região da cidade de Atibaia, grande São Paulo. À época, pertencia à cidade de São Paulo.

313

diversos cristãos-novos presos para serem levados a julgamento na Inquisição. Nessa obra o autor não explica a fonte, o que se encontra em um artigo do próprio autor em uma das revistas314 do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, como segue:

Todas as circunstâncias de tão porfiada batalha, em que teve grande parte de D. Rosa Maria de Si- queira, mereceram de ser transcritas por uma testemunha ocular, que muito exalta o valor desta denodada brasileira; e desse manuscrito que nunca foi publicado serviu-se o cronista de Damião de Fróis Perim315, na composição da breve notícia que sobre ela nos deixou em seu Teatro heroíno, no

tomo 2º, pág. 249 até 353.

Segue o relato de Sousa Silva:

Nasceu dona Rosa Maria de Siqueira na cidade de S. Paulo, no ano de 1690. Seus ricos e nobres pais, Francisco Luís Castelo Branco316 e dona Isabel da Costa e Siqueira317, curaram de lhe dar

uma não medíocre educação. Ligada por laços conjugais ao desembargador Antônio da Cunha Souto Maior, cavaleiro professo na Ordem de Cristo, passou à cidade da Bahia, em companhia de seu consorte, e ali, em princípios de 1713, embarcou em a nau Nossa Senhora do Carmo e Santo

Elias com destino a Lisboa.

Montava essa nau 28 peças; ia carregada de açúcar, tabaco e coirama, e levava a seu bordo 119 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. Tendo feito boa viagem, achava-se na madrugada de 20 de março de 1714 sobre a costa de Lisboa, 15 léguas ao mar das Berlengas, quando ao largo se avistaram três velas. Eram corsários argelinos, que então andavam naqueles mares, aprisionando as naus cristãs e cativando os que nelas encontravam. A capitania montava 52 peças, a almiranta 44, e a fiscal 36, perfazendo ao todo 132 bocas de fogo, e sendo numerosas as tripulações.

Reconhecidas as velas, soou o rebate a bordo da nau cristã, e para logo pediu o Capitão Gaspar dos Santos a Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, que regressava ao reino português de- pois de haver sido governador de Minas, que ocupasse o seu posto, e ele combateria sob suas or- dens. A tão generosa oferta se recusou Antônio de Albuquerque, alegando que não tirava a glória do vencimento, a quem lhe dava tão ilustre princípio com aquela ação, e ainda mais, que da milícia do mar, não tinha a necessária experiência; porém, que estava pronto a obedecer-lhe e a peleja em serviço do rei e da religião. Aceitou o capitão aquela modesta escusa, e dispôs tudo para o comba- te.

Eram 7 horas da manhã, quando retumbaram os mares com os trovões da goram e o ar se toldou de negro fumo. Começado o combate, começou também dona Rosa Maria de Siqueira a assinalar-se por suas ações, como se houvera soado a hora do seu glorioso renome. Acesa de ânimo, cheia de coragem, quis logo compartir a glória dos combatentes na defesa de tantas vidas; e era para ver-se como a ilustre paulista animava os guerreiros no meio de tão encarniçado conflito, já ministrando armas a uns, já levando pólvora a outros, e sempre repetindo: “viva a fé de Cristo!”

Alguns judeus, que iam presos e remetidos ao tribunal do Santo Ofício, desejando o triunfo dos ar- gelinos, preferindo o peso dos grilhões do cativeiro aos tormentos infernais dos cárceres da Inqui- sição, e ao fogo das suas horrorosas fogueiras, acusavam o capitão de temerário e de imprudente, desanimando assim os que combatiam pela própria conservação, honra e liberdade; e diziam que

314 Agradeço a gentileza do amigo Carlos Eduardo de Almeida Barata, que localizou o artigo. In Revista

do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 3º, nº 9 (abril de 1841. 1ª ed., pp. 222-225; 3ª ed., 1960, pp. 178-181.

315 Damião de Fróis Perim era o anagrama de seu verdadeiro nome, Frei João São Pedro, natural de Lis- boa, onde nasceu em 24 de março de 1692. Em 1736 escreveu: Teatro heróico, abecedário histórico e

catálogo das mulheres ilustres em armas, letras, ações heróicas e artes liberais, t. I, Lisboa, 1736.

316

Era português, natural de Aljubarrota, filho de Tomé João e de Maria Luís, moradores na vila de Alju- barrota. Tomé João serviu a Irmandade da Misericórdia naquela vila.

317

Irmã de Paula da Costa (mulher do português Diogo da Silva), filhas de Domingos Gonçalves e de Isabel da Costa.

não era nem valor, nem acerto, aceitar batalha com desigual partido; que a defesa passava a teme- ridade, quando se não podia duvidar do vencimento; e que melhor era entregar a nau antes do es- trago, que depois da vitória, porque os mouros castigariam em todos a culpa de um só, não dando quartel; que o capitão pelejava antes pela sua fazenda embarcada em a nau, do que pela liberdade, honra da nação, e defesa da fé. Dona Rosa, repreendendo-os com energia, a todos persuadiu, que era a morte em tal caso preferível à capitulação e cativeiro de tão bárbara gente, e segurou os âni- mos dos combatentes, tomados de entusiasmo e admiração, por verem que uma senhora sabia pôr em prática o que ensinava por suas palavras. Ela deixou as roupas do seu sexo, trajou a militar, e, confundida com eles, pelejou a batalha, afrontou os perigos, sem que o espetáculo terrível e sangui- noso de um tal conflito lhe quebrasse o ânimo.

Amiudades eram as descargas de artilharia e mosquetaria das naus infiéis: nuvens de projéteis cho-