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Denunciou huma mulher xª vª que indo a villa da Cannanea, E pousando em casa de huma mulher viuva xª nª, E morrendo huma escrava/ não estou lembrado se sua ou dalgumm visinho/ deitara fora a agoa que tinha nos potes.

Denunciou se de hum mulato da Ilha de S. Sebastião de feiticeiro, sabendo que Eu Estava na villa de santos se foi da Ilha.

Denunciou se de tres negras Carijos de feiticeiras são Indias, as quais aparece o diabo E falla com ellas, E lhe faz fazer covas onde deitão algua cousa/ como cousa de roupa ossos Espinhas das pes- soas a que querem fazer mal, E assi vão definhando até morrerem se as feiticeiras não tirão das co- vas o que nellas tem deitado. três me confessarão aparecer lhe o Diabo em diversas figuras, E as induzirem a que fizessem mal as pessoas a que não tinhão boa vontade.

É discutível a “eficiência” da Visitação do Santo Ofício a São Paulo. Analisando, friamente, a sua presença em território paulista, fica suspeita a sua atuação. Duas hipóteses poderiam ser levantadas: a primeira, de que não houvessem judaizantes em São Paulo, além do que se referiu no relatório acima. A segunda, de que o Visitador Luís Pires da Veiga houvesse sido corrompido. Esta é a opinião335 da Professora Dra. Anita Novinsky:

Não deixou também de fazer as suas negociatas, trazendo de Angola muitas “peças” e barras de ouro, “tomara letras do dinheiro delas para este Reino que lhe passara Manuel Gonçalves Barros, cristão-velho e morador na Bahia” e, não sabe, diz Manuel Temudo, “se era isto procedido de di- nheiro da Câmara Eclesiástica que cobrou em Angola por ordem do coletor”. Luís Pires da Veiga foi suspenso do ofício, mas pouco importou-se com a suspensão, continuando a fazer Auto de Tri- bunal.

Sobre os Paulistas arrolados336 no Relatório da Inquisição:

Padre João Pimentel da Rocha

O Padre João Pimentel da Rocha337 nasceu por volta de 1574 no Reino de Portugal, tendo sido vigário da vila de São Paulo por muitos anos, pelo menos de 1608 a 1616. Re- cebeu338, a 21 de julho de 1608, da câmara da vila de São Paulo, carta de dada de chãos, porque...

ele era vindo de novamente de Portugal e que para a administração de sua vigararia lhe era neces- sário assistir nesta vila com sua casa a qual ele não tinha chãos para a poder fazer e que porquanto nos arrabaldes desta dita vila estava uma dada de chãos devoluta..

Essas terras, por estarem devolutas, foram repassadas339 a Antônio Gonçalves Per- domo em sessão da câmara na vila de São Paulo a 11 de abril de 1637.

335

NOVINSKY, Anita. A Inquisição na Bahia. In Revista de História (publicação da Universidade de São Paulo). São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1968. Volume74, p. 421.

336

Para os dois outros, vide no Capítulo Judaizantes e Cristãos-Novos na São Paulo Colonial.

337 BOGACIOVAS- Marcelo Meira Amaral. A Família Rocha Pimentel. In Edição Comemorativa do Cinqüentenário do Instituto Genealógico Brasileiro (1939-1989), 1991, São Paulo: IMESP, p. 620. 338 Registro Geral da Câmara Municipal de São Paulo (publicação oficial do Arquivo Municipal de São

Paulo), 1917, São Paulo: Tipografia Piratininga. Volume I (1583-1636), pp. 154 e 155.

339 Registro Geral da Câmara Municipal de São Paulo (publicação oficial do Arquivo Municipal de São Paulo), 1917, São Paulo: Tipografia Piratininga. Volume II (1637-1660), pp. 17 e 18.

Passou depois ao Rio de Janeiro aonde chegou a ser pároco e vigário geral340. Re- tornando a São Paulo, foi presidente do Mosteiro de São Bento de 1630 a 1633. Era filho do fidalgo da Casa Real Pedro da Rocha Pimentel e de sua mulher D. Suzana de Góes. Um sobrinho do Padre João Pimentel da Rocha, João Ferreira Pimentel de Távora, passou a residir em São Paulo, aqui se casando cerca de 1621, na Sé, com Maria Ribeiro, irmã intei- ra de Amador Bueno341, filhos do castelhano Bartolomeu Bueno e da paulista Maria Pires.

Cornélio de Arzão

Cornélio de Arzão deixou grande geração em São Paulo. Pela Visitação do Santo Ofício fica-se sabendo que era holandês e huguenote. Um neto seu, Pedro de Arzão, habi- litando-se342 de genere et moribus, declarou que seu avô paterno, Cornélio de Arzão, era irlandês de nação e, curiosamente, nenhuma testemunha na inquirição promovida no ano de 1704, em São Paulo, disse o contrário.

Cornélio de Arzão veio para o Brasil ao tempo em que era Governador Geral D. Francisco de Sousa, em 1609, como mineiro e com a missão de construir engenhos de fer- ro343. Casou-se com Elvira Rodrigues, filha de Martim Rodrigues Tenório de Aguilar344 e de sua mulher Susana Rodrigues. Seus filhos, netos e sobrinhos se destacaram sobremanei- ra no bandeirismo e na descoberta aurífera. A um de seus netos, Antônio Rodrigues de Arzão, é atribuída a primeira descoberta de ouro nas Minas Gerais. O famoso sertanista, Tenente General Manoel de Borba Gato, era seu sobrinho por afinidade.

340 ENDRES- D. José L.- Catálogo dos Bispos, Gerais, Provinciais, Abades e Mais Cargos da Ordem de São Bento do Brasil, 1976, Salvador: Ed. Brasiliana, pp. 67 e 258.

341 Aclamado, em 1641, rei de São Paulo, pelo povo castelhano aqui residente, inconformado com a res- tauração da coroa portuguesa.

342 Processo de habilitação de genere et moribus nº 1-2-44, ano de 1704, de Pedro de Arzão- Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo.

343

FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil. São Pau- lo: Indústria Gráfica Siqueira S/A, 1954. pp. 38-39.

344

LEME, Luís Gonzaga da Silva (*1852, †1919)- Genealogia Paulistana, 9 volumes, São Paulo, 1903 a 1905: Duprat & Cia. Volume IV, p. 428.

CAPÍTULO 4: PADECENDO NO PARAÍSO