A matriz de Leopold

As propostas de avaliação de impactos, baseadas em critérios não subjetivos, encontradas em nossas pesquisas derivam de estudos e metodologias desenvolvidos para a avaliação de impactos ambientais, especificamente derivadas de EIA (do inglês “environmental impact assessment), desenvolvidos principalmente nos Estados Unidos e Canadá. A obra fundamental para essa metodologia é a matriz proposta por Leopold (1971). A matriz de Leopold e suas sucedâneas buscam formas não subjetivas de avaliação, com a introdução de matrizes numéricas. Nossa metodologia, entre outros aspectos, faz uma adaptação da matriz de Leopold para avaliação dos impactos urbanos. Na literatura internacional vemos que, apenas a partir da proposta de Leopold, o uso de matrizes passou a ser utilizada como suporte à avaliação de impactos ambientais.

Essa matriz, que se tornou referência internacional para a avaliação de impactos ambientais, foi proposta por Luna B. Leopold, no documento “A procedure for evaluating environmental impact”, para o Departamento de Interior do Governo Federal dos Estados Unidos, em 1971, como já citado. A matriz original era composta de 100 colunas nas quais eram descritas as ações e de 88 linhas que descreviam os fatores ambientais passíveis de serem afetados pelas ações descritas nas colunas. As células da matriz apresentam-

se subdivididas por linha diagonal em que são dispostas as avaliações relacionadas com a magnitude e a importância dos impactos das ações sobre os fatores ambientais. Os valores de julgamento variam entre 0 e 10. Com a soma das linhas se obtém o impacto produzido em um determinado fator ambiental, e com a soma das colunas o impacto produzido por uma determinada ação, como nos ensinam Garmendia et al (2005, p. 78):

La Matriz de Leopold es el primer método que se utizó en evaluaciones de impacto ambiental, em 1971, por el Servicio Geológico de los Estados Unidos de Norteamérica, y a pesar de su antigüedad, com variaciones, es de los que más se utilizan em la actualidad. Se basa em uma matriz donde em las columnas hay 100 acciones y em las filas 88 factores ambientales. Los cruces son posibles efectos ambientales o impactos. Las cuadriculas del cruce que presentem impactos significativos se dividen com uma diagonal marcando em la parte superior la magnitude del impacto, valorada entre 0 y 10, y em la inferior la importância, también em uma escala de 0 a 10. Sumando por filas se obtiene el impacto producido sobre um determinado fator ambiental, y sumando por columnas el impacto producido por una cierta acctión.

Tabela 2 – Matriz de Leopold.

Fonte: Geological Survey Circular nº 645. US Department of the Interior. Washington, 1971. Disponível em: <http://pubs.usgs.gov/circ/1971/0645/report.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2013.

Figura 4 – Detalhe da célula da matriz de Leopold.

Para definir os termos magnitude e importância preferimos citar o próprio Leopold para que não restem interpretações secundárias, que diz textualmente:

The term magnitude is used in the sense of degree, extensiveness, or scale. For example, highway development will alter or affect the existing drainage pattern and may thus have a large magnitude of impact on the drainage. The second is a weighting of the degree of importance (i.e. significance) of the particular action on the environmental factor in the specific instance under analysis. Thus the overall importance of impact of a highway on a particular drainage pattern may be small because the highway is very short or because it will not interfere significantly with drainage. (LEOPOLD, 1971, p.2)

Vemos, portanto que a magnitude se refere à extensão dos impactos à sua escala espacial, à porção territorial afetada. Enquanto que a importância de um impacto tem a função de mensurar o peso ou a significância do impacto no ambiente.

A respeito da matriz de Leopold, Canter a classifica como exemplo de uma matriz simples de interrelações, que foram uma das primeiras metodologias de avaliação de impactos baseadas em técnicas cientificas.

The interaction-matrix method developed by Leopold et. al. (1971) will be used as an example of a simple matrix. The matrix lists approximately 100 specific actions and 90 environmental items. In the use of the Leopold matrix, each action and its potential for creating an impact on each environmental item must be considered. Where an impact is anticipated, the matrix is marked with a diagonal line in appropriate interaction box.” (CANTER, 1996, p.59).

A matriz de Leopold descreve a interação de impactos em termos de magnitude e importância. A magnitude de uma interação é apresentada em uma escala numérica cujos valores variam de 1 a 10, onde o valor 10 representa a maior magnitude e o valor 1 a menor magnitude A determinação do valor da magnitude deve ser baseado em critérios objetivos relacionados com fatos previamente analisados. A escala de importância também varia entre os valores de 1 a 10, onde o valor 10 representa uma interação muito importante e o valor 1 uma interação de baixa importância. Segundo Canter (1996, p.60), a determinação de um valor numérico de importância é baseado

em julgamentos subjetivos, sejam eles individuais, de um pequeno grupo ou mesmo de uma equipe interdisciplinar trabalhando no estudo.

Não obstante as criticas que possam ser feitas à matriz de Leopold, principalmente com relação ao grau de subjetividade sobre a avaliação da magnitude e importância dos impactos Canter (1996) destaca que:

The primary advantages of using the Leopold matrix are that is very useful as a gross screening tool for impact identification purposes, and it can provide a valuable means for impact communication by providing a visual display of the impacted items and of the major actions causing impacts. (p. 60).

O citado autor afirma que a matriz de Leopold se torna útil na discussão de resultados de uma matriz de interação e que pode ser utilizada na identificação de efeitos benéficos e prejudiciais de impactos e que pode ser utilizada na identificação de impactos nas fases temporais de um empreendimento ou atividade e para descrever impactos associados com os diversos limites espaciais de alcance de um impacto. (CANTER, 1996, p.64).

A utilização de formas de classificação de impactos (ratings) através de variações da matriz de Leopold onde a informação é expressa por expressões conceituais como: significante, adverso, benéfico, forte, moderado, moderado, permanente, etc. Canter (1996) nos ensina que Johnson e Bell (1975) desenvolveram uma matriz de impactos que se utilizava de uma forma que abrangia tanto valores conceituais como valores numéricos.

Both letters and numbers were used in impact rating, for example, a rating could be A3, based on the following categories:

A= adverse, Always occurs B= adverse, usually occurs C= adverse, sometimes occurs N= not necessarily good or bad X= beneficial, always occurs Y= beneficial, usually occurs Z= beneficial, sometimes occurs 1= strong, permanent 2= moderate, permanent 3= minor, permanent 4= strong, temporary 5= moderate, temporary 6= minortemporary Blank= no impact (CANTER, 1996, p.70)

De acordo com Canter (1996), a matriz de Leopold foi a primeira e tem sido uma das mais utilizadas em EIAs.

Corroborando com Canter, Garmendia et al (2005, p. 78) afirmam:

La Matriz de Leopold es el primer método que se utizó en evaluaciones de impacto ambiental, em 1971, por el Servicio Geológico de los Estados Unidos de Norteamérica, y a pesar de su antigüedad, com variaciones, es de los que más se utilizan em la actualidad. Se basa em uma matriz donde em las columnas hay 100 acciones y em las filas 88 factores ambientales. Los cruces son posibles efectos ambientales o impactos. Las cuadriculas del cruce que presentem impactos significativos se dividen com uma diagonal marcando em la parte superior la magnitude del impacto , valorada entre 0 y 10, y em la inferior la importância, también em uma escala de 0 a 10. Sumando por filas se obtiene el impacto producido sobre um determinado fator ambiental, y sumando por columnas el impacto producido por una cierta acctión.

Portanto é inegável que a matriz de Leopold trouxe um grande avanço nas metodologias de avaliação de impactos, porém sua proposta ainda não incorpora os processos de inter-relação entre os impactos que poderiam ser avaliados. Essa relação entre os itens geradores de impactos entre si e o resultado desse processo sistêmico não é avaliada na matriz de Leopold.

Além disso, um dos problemas relacionados com a identificação e avaliação de impactos de vizinhança vincula-se com o processo subjetivo de avaliação e interpretação dos impactos. Vimos que os EIAs avançaram no aperfeiçoamento das avaliações com a criação de matrizes numéricas, na busca de uma forma mais objetiva de mensuração da magnitude e importância dos impactos e que tais métodos podem ser aplicados nos EIVs. No entanto, e apesar dos avanços, notava-se que ainda não havia uma abordagem de avaliação de impactos que incorporasse o estudo das inter-relações entre os impactos. A avaliação dos impactos de vizinhança poderia ser mais aprofundada se fosse incorporada às análises a compreensão das dinâmicas derivadas da implantação de novos empreendimentos, atividades e equipamentos no meio urbano.

Não obstante, a matriz de Leopold ainda é um excelente instrumento de identificação e avaliação de impactos, podendo ser utilizada inclusive para identificar os impactos que decorrem das diversas etapas de implantação de um empreendimento e/ou atividade como também é útil para identificar e avaliar os impactos de acordo com suas delimitações espaciais. Nas palavras de Canter:

The Leopold matrix can also be utilized to identify beneficial as well as detrimental impacts through the use of appropriate designators, such as plus and minus signs. In addition, the Leopold matrix can be employed to identify impacts at various temporal phases of a project for example, construction, operation, and post operation phases, and to describe impacts associated with various spatial boundaries – namely, at the site and in region. (CANTER, 1996, p. 64).

O citado autor ainda nos alerta que muitas variações da matriz de Leopold têm sido utilizadas, e versões condensadas têm sido utilizadas em EIAs.

A facilidade decorrente da montagem de uma matriz baseada na matriz de Leopold foi o que inicialmente nos levou a utilizar algumas variações como instrumento auxiliar na elaboração dos EIVs que temos desenvolvido em nossas experiências empíricas.

Tais variações se apoiam principalmente em checklists com uma avaliação preliminar dos impactos, como veremos no capítulo dedicado à metodologia desenvolvida nesta tese.

Uma das abordagens descritas por Canter (1996, p. 69) é a utilização de códigos predefinidos que denotam as características dos impactos. O autor define os códigos utilizados da seguinte forma:

Tabela 3– Caracterização de impactos segundo Canter (1996)

Fonte: Canter (1996, p. 69).