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Lembrando que a construção de hegemonia na sociedade capitalista representa a capacidade de uma classe ser, ao mesmo tempo, dominante e dirigente, devemos levar em consideração que um processo de cooperação com a perspectiva de uma “nova” hegemonia de

classe demanda, portanto, mudanças não apenas no âmbito da estrutura econômica e produtiva, mas uma conseqüente transformação na esfera da política e “no nível da moral, do conhecimento, da „filosofia‟” (GRUPPI apud MILITÃO, 2008, p. 144). Nesse sentido,

pode haver reforma cultural, ou seja, elevação civil das camadas mais baixas da sociedade, sem uma anterior reforma econômica e uma modificação na posição social e no mundo econômico? É por isso que uma reforma intelectual e moral não pode deixar de estar ligada a um programa de reforma econômica; mais precisamente, o programa de reforma econômica é exatamente o modo concreto através do qual se apresenta toda reforma intelectual e moral (GRAMSCI, 2007, p.19).

Sabemos que tais transformações não se dão por decreto. Isso é a própria história que nos diz. É, portanto, das entranhas do “velho” que o “novo” pode surgir. Tratando-se de um processo de continuidade e descontinuidade, Freire (1981) alerta para o seguinte equívoco:

Incidindo sobre a estrutura do latifúndio, trasformando-a noutra, transitória, a do „assentamento‟, a reforma agrária exige um permanente pensar crítico em torno da ação transformadora mesma e dos resultados que dela se obtenham (...). Um desses equívocos, por exemplo, pode ser o de reduzir a ação transformadora a um ato mecânico, através do qual a estrutura do latifúndio cederia seu lugar à do „asentamiento‟, como quando alguém, mecanicamente, substitui uma cadeira por outra, ou a desloca de um lugar a outro (...). Mecanicismo, tecnicismo, economicismo são dimensões de uma mesma percepção acrítica do processo da reforma agrária. Implicam todas elas na minimização dos camponeses, como puros objetos da transformação. Daí que, numa tal perspectiva, de caráter reformista, o importante seja fazer as mudanças para e sobre os camponeses, como objetos, e não com eles, como sujeitos, também, da transformação (...). Os obstáculos ao aumento da produção, com os quais se defrontam os técnicos no processo da reforma agrária, são, em grande medida, obstáculos de caráter cultural (FREIRE, 1981, p.31-32).

Desta forma, frente à realidade analisada, vemos que há uma reciprocidade entre o avanço ou retrocesso da cooperação na produção e o fortalecimento ou enfraquecimento da organização política dos trabalhadores que vivem na Lagoa do Mineiro. Afinal, “o modo de produção da vida material condiciona o processo em geral da vida social, política e espiritual” (MARX apud NETTO; BRAZ, 2007, p.62). Como a relação social orientadora das relações, em geral, no capitalismo, a lei do valor é, portanto, “impregnada de política” (BEHRING apud RAMOS, 2005, p.41).

Assim como na produção, o marco crucial na trajetória política que firma o início da construção de um projeto e uma identidade coletiva, de classe, incidindo sobre a visão de

mundo desses produtores é exatamente a desapropriação da terra e todo processo de organização e resistência política demandado em ocasião da luta pela terra.

As principais mudanças que ocorreram antes da luta pela terra pra cá, pra depois do processo de desapropriação, foi o nível de consciência das pessoas. As pessoas tiveram a consciência da luta. Tiveram coragem para lutar pelo pedaço de terra. E após essa luta, elas também estão tendo a consciência de que só lutar pela terra não basta, mas que na terra precisa ter outro desenvolvimento: a saúde de qualidade, educação, melhor qualidade de vida das famílias. Então, o nível de conhecimento foi importante. Uma outra mudança também foi a questão estrutural, porque antes o assentamento não tinha estrada. Hoje tem um acesso a estrada, tem posto de saúde pra comunidade no assentamento, embora seja só um pra atender todo o assentamento, mas a gente considera também que isso é uma mudança. E também elas são frutos da luta... São bastante lutas que vem sendo feitas pra que isso venha acontecendo (Entrevistada 03/ Representante da localidade Barbosa).

É inegável a importância do conflito de classes para a formação ideopolítica dos trabalhadores que ali viviam sob as normas do patrão cuja exploração parecia ser “invisível” em meio a uma particular formação social própria do país e, especialmente, do Nordeste, como já vimos, cunhada pela mediação do favor, da benevolência e dependência.

Aí nós dissemos: „sabe de uma coisa, nós não temos pra onde ir, nós vamo enfrentar‟. A Ducoco ainda botou uma cerca de arame aqui dentro do terreno. Aí nós se juntemo, mulher e home, botemo as mulhé na frente, aí quando chegou na frente da cerca...(Entrevistado 04/Representante da localidade Corrente).

Os interesses divergentes passam a dar contorno e identidade às pessoas, que até então só se viam enquanto “moradores”, em torno de um projeto coletivo. A figura do patrão e da empresa (Ducoco Alimentos S/A), de um lado, e dos produtores, de outro, assumem uma conformação de classes com interesses inconciliáveis. As contradições inerentes ao capitalismo em sua fase contemporânea são, assim, expostas assumindo configuração desses “dois lados”.

É, portanto, no acirramento dos conflitos e das lutas sociais, na medida em que as classes antagônicas tentam defender seus interesses de classe, que se amplia o elemento da política, presente nessas lutas, “pois a luta pela terra, embora, aparentemente, seja apenas uma luta por melhores condições de sobrevivência, é essencialmente política, posto que a resistência e a luta pela posse da terra são dimensões as práticas da negação dessas situações a que os camponeses estavam submetidos” (DINIZ, 2008, p.13).

Sobre isso, destacamos a importante mediação que a luta passa a ter na vida dos trabalhadores, incidindo diretamente na situação de correlação de forças sociais. Isto também porque “a luta pela terra se transforma em luta pela reforma agrária e, em conseqüência, num projeto político dos trabalhadores se estes, na sua luta, adquirirem consciência social para mudar a sociedade” (STÉDILE; FERNANDES, 2005, p.119).

Então, embora ainda haja muitas dificuldades, é unanime que, após a desapropriação, ocorreram mudanças positivas, extremamente importantes para qualidade de vida na comunidade. Tais mudanças apresentam-se no âmbito político e organizativo a partir de alguns elementos, como: proximidade na relação entre os próprios produtores; maior acesso a políticas públicas (educação e saúde, principalmente) e a infra-estruturas, como estradas e habitações; maior grau de autonomia de decisão e participação política nas organizações políticas internas e externas às localidades, antes, para eles, inexistente e impensável.

Mudou tanto que, às vezes, fica até difícil de você alcançar a medida do que mudou aqui. Depois do assentamento, tem essa questão da educação, né. A educação melhorou bastante (...). Depois do assentamento nós ganhemos mais nome, né, mais responsabilidade, né (...). Nós passamos a ter mais crédito, quando nós passamos a viver independentemente, porque quando nós passamos a ser assentamentos nós passamos a ser, praticamente, independente. Nós aqui trabalha como nós quer. Faz o que a gente quer aqui dentro. É claro que existem as leis que nós temos que também cumprir, mas aí a gente passou a ter mais nome, né, e ser mais visto (...) A sobrevivência mudou também muito porque a gente aqui, na desapropriação, todo mundo era chamado de analfabeto. A questão da moradia, né, também mudou muito, né, que a gente morava em casinha de taipa (...) A questão da alimentação da gente também melhorou, né (...) Hoje, todo mundo melhorou 100% as condições de vida, né (...) como a questão dos projetos também que nós ganhemos o direito de fazer isso, né (...) Aqui nós tem mudado pra melhor (Entrevistado 02 /Representante da COOPAGLAM).

Mudou muito. Teve uma mudança de 100%. Porque aqui era só vareda. Não tinha uma estrada. Hoje nós temos um acesso na frente de nossas casas (...). Cada um tem uma casa de tijolo (...). De primeiro a gente andava léguas e léguas de pés, porque não tinha transporte pra andar. Hoje já tem (Entrevistado 04/Representante da localidade Corrente).

Para o desenvolvimento local e sustentável da comunidade, eu acho que o nível de conhecimento das famílias melhorou, porque antes a família não tinha autonomia própria e hoje a família tem autonomia pra chegar numa reunião e dizer o que não quer. Eu acho que a principal mudança política pro desenvolvimento da comunidade é essa, né. É as pessoas ter autonomia pra dizer o que quer, o que é importante pra nós e o que não é (Entrevistada 03/ Representante da localidade Barbosa).

Ainda a respeito da organização coletiva, segundo os entrevistados, houve um avanço considerável tendo em vista que, antes da desapropriação não existia nenhuma prática “comunitária”, de organização e gestão coletivas, incidindo consideravelmente sobre a qualidade de vida naquelas terras.

Nesse tempo ninguém sabia o que era comunidade. Eu não sei como é que chegou o nome comunidade até aqui (Entrevistado 04/Representante da localidade Corrente).

Sobre isso, relembremos o trecho da entrevista realizada com a Dirigente do Setor de Produção do MST no Ceará, que, na ocasião, referia-se ao motivo que a levou a se inserir no MST, quando ainda era educadora.

Toda vez que a gente investia na capacitação, na escolarização das pessoas, as pessoas aprendiam, falavam, participavam e tudo. Só que quando era na época das eleições as pessoas votavam nos coronéis lá, né. Votava no cara que era um fazendeiro da região e eu dizia “mas por quê?”. E eles me respondiam: “é o seguinte, se eu não votar nele, ele me bota pra fora, eu sou morador dele, então eu tenho obrigação”. Então não adianta pensar na conscientização das pessoas se eles não têm motivo pra se libertar. Então, pra mim, essa história do MST de conquistar a terra libertava as pessoas. Então meu trabalho teria mais fundamento nisso porque as pessoas tinham a terra e era mais fácil não ficarem tão controlados, porque eu nunca aceitava aquele controle, porque como meu pai era pequeno dono de terra, que era do meu avô, a gente nunca teve esse medo. Não que meu pai era consciente politicamente, mas ele não tinha obrigação nenhuma. Então eu achava que isso era um crime: as pessoas se sujeitar ao cara só porque o cara tinha a posse da terra (...). Então a vinda pro Movimento era muito pensando nisso: no Movimento as pessoas conquistam a terra e aí é mais fácil termos a libertação. É mais fácil, mas não é o motivo principal, né (risos). Hoje quando você chega não resolve só quando você conquista a terra também. O caso é mais polêmico. Então o que mais me motivava era isso (...). Foi muito importante a vinda, participar da primeira marcha, da primeira discussão com o Movimento que me deu uma outra visão disso (Dirigente do Setor de Produção do MST no Ceará).

Mediante a tais considerações, observa-se o importante papel da organização política, no caso o MST, na construção de um projeto coletivo. Desta forma, ressaltamos a passagem que nos diz que “a política atravessa todas as esferas do ser social, tornando-se sinônimo de „catarse‟, processo pelo qual certa classe se eleva a uma dimensão universal, ao superar seus interesses econômico-corporativos (COUTINHO apud RAMOS, 2005, p.48-49). Trata-se, portanto, de uma relação bastante estreita entre o conflito direto na luta pela terra, necessidade concreta, intermediado pelo MST, e as mudanças concebidas no âmbito da visão de mundo.

Então, a mediação da organização política toma importância fundamental para avançar nos caminhos de uma nova hegemonia que, como já bem referenciamos, demandará não apenas outra base econômica, como também terá como pressuposto uma concepção de mundo.

Neste sentido, segundo Gramsci (2006), é preciso, antes de tudo, “demonstrar que todos os homens são „filósofos‟, definindo os limites e as características desta „filosofia espontânea‟”, da filosofia que, por exemplo, está contida no senso comum, no bom senso, na “religião popular e, conseqüentemente, em todo o sistema de crenças, superstições, opiniões, modos dever e de agir que se manifestam naquilo que geralmente se conhece por „folclore‟ (p.93)”. Entretanto, há que se passar a um segundo momento: “ao momento da crítica e da consciência”, afinal, “hegemonia realizada significa a crítica real de uma filosofia, a sua dialética real” (GRAMSCI apud DIAS, 1997, p.36). Isso implica refletir sobre o seguinte:

é preferível „pensar‟ sem disto ter consciência crítica, de uma maneira desagregada e ocasional, isto é, „participar‟ de uma concepção do mundo „imposta‟ mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos muitos grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente (...) ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira consciente e crítica (...) participar ativamente na produção da história do mundo (...)? (GRAMSCI, 2006, p.93- 94).

É por isso que Gramsci afirma ser a política a forma elementar de assegurar a relação entre a filosofia “superior” e o senso comum157

. Trata-se, portanto, de tornar crítica uma atividade já existente.

Sobre esse assunto, atentamos para as particularidades da realidade dos trabalhadores que vivem na Lagoa do Mineiro. Mesmo que o MST tenha, principalmente, durante a década de 1990, desenvolvido ações e garantido referência política especialmente no âmbito da produção e da educação, isso não se deu sem a presença de outros sujeitos coletivos. Durante o processo de acirramento dos conflitos e da luta pela terra, por exemplo, o intermédio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) e das CEBs foi fundamental, influenciando decisivamente na concepção de mundo dos produtores.

157 “Uma filosofia da práxis só pode apresentar-se, inicialmente, em atitude polêmica e crítica, como superação

da maneira de pensar precedente e do pensamento concreto existente (ou mundo cultural existente). E, portanto, antes de tudo, como crítica do „senso comum‟ (...); e, posteriormente, como crítica da filosofia dos intelectuais, que deu origem à historia da filosofia e que, enquanto individual (...), pode ser considerada como „culminâncias‟ de progresso do senso comum (...)” (GRAMSCI, 2006, p.101).

A primeira reunião que nós tivemos, pra ajudar a encorajar nós analfabeto, sem saber o que fizesse, né, foi com o Padre Faes. Sabe aonde? Em Juazeiro do Norte. A luta veio de longe (...). Nessa época aí a gente ouvia falar no Movimento, como hoje tem aí, né, mas a gente só ouvia falar aquelas coisas do Carajás, mas também não conhecia. Agora, quando foi chegando o tempo de reunião daqui e pra acolá (...). Mas aqui , antes, foi só nós mesmo, o movimento foi feito por nós (...). Nós fizemos a única tentativa de acampamento aqui que era nós mesmos (...). A gente deve muita homenagem ao Dr. Pinheiro que nos orientou também. No começo, aqui nos trabalho, sem a orientação dele, não tinha dado certo (...) „o que é que vocês tem que fazer‟, ele disse, „o sindicato‟. Na época aqui não tinha sindicato (...). Nós criamos o sindicato de Itarema (...). Eu acompanhei o cargo de conselho, né (...) (Entrevistado 15/Representante da localidade Corrente).

Como podemos perceber no depoimento acima, a “cerca”, o “latifúndio”, conforme os militantes do MST nos dizem, não existe apenas na terra. Há também um cerceamento do conhecimento sobre os fatos políticos e seus determinantes, o que implica diretamente sob a organização coletiva dos trabalhadores. Esta, vale ressaltar, é tida na história do país como “caso de polícia” sendo acompanhada pela herança da falta de uma ampla liberdade política e de uma efetiva democracia que viabilize a “socialização da política” (NETTO, 1990).

Na época da luta do assentamento, aqui, foi movida pela a igreja, as comunidades eclesiais de base. Então, o Movimento ainda não tinha chegado aqui no Ceará, né. Depois que o Movimento chegou no Ceará, a Lagoa do Mineiro já estava em processo de luta e desapropriação. Por isso que há um processo de muitas famílias hoje não ter esse vínculo grande com o Movimento. Então, eu acho que é um vínculo bom que o assentamento tem com o Movimento (Entrevistada 03/Representante da localidade Barbosa).

Outro elemento que implicou sobre a situação disposta no relato acima foi à inexistência de um “acampamento” intermediando o conflito e a luta pela terra, o que realmente não foi comum entre as comunidades rurais, desapropriadas pelo INCRA, da região, pois, em suma, são formadas por famílias remanescentes, que já moravam nas terras. Isso implica sobre as relações sociais que se constituíram no local.

Conforme já dispomos no Capítulo II, enfatizamos, particularmente, o papel da igreja católica na construção de uma concepção de mundo predominante entre os trabalhadores que moram e vivem na Lagoa do Mineiro, afinal “pela própria concepção de mundo, pertencemos sempre a um determinado grupo, precisamente o de todos os elementos sociais que compartilham um mesmo modo de pensar e de agir” (GRAMSCI, 2006, p.94).

Neste sentido, senso comum, religião e filosofia estão em conexão, mas, no entanto, não podem se confundir, tendo em vista que “a filosofia é uma ordem intelectual, o

que nem a religião nem o senso comum podem ser (...). A filosofia é a crítica e a superação da religião e do senso comum e, nesse sentido, coincide com o „bom senso‟, que se contrapõe ao senso comum” (Idem, p.96). Desta forma,

Os elementos principais do senso comum são fornecidos pelas religiões e, conseqüentemente, a relação entre sendo comum e religião é muito íntima do que a relação entre senso comum e sistemas filosóficos dos intelectuais. Mas, também com relação à religião, é necessário distinguir criticamente. Todo religião, inclusive a católica (...), é na realidade uma multiplicidade de religiões distintas e freqüentemente contraditórias: há um catolicismo dos camponeses, um catolicismo dos pequenos burgueses e dos operários urbanos, um catolicismo dos intelectuais, também este variado e desconexo (GRAMSCI, 2006, p.115).

Devido a fatores internos e externos, embora haja presença marcante e reconhecimento político por parte dos produtores em relação ao MST, na região há um conjunto de forças bastante heterogêneas incidindo sobre as experiências locais. Durante a pesquisa, observamos que a direção política dos trabalhadores da Lagoa do Mineiro ainda não está consolidada, fazendo dessa área, como já afirmamos, um território em disputa.

Eu não posso dizer que a direção política aqui no Assentamento é do MST, né. Eu penso que tem pessoas lá dentro que se identificam com a luta, que se identificam com o movimento, mas existe um ecletismo muito grande dentro da direção, hoje, do Assentamento que inclusive a gente tem dificuldade de compreender o que as pessoas são mesmo, né (...). Não é unanimidade a gente dizer que a direção é do MST, no caso o Colegiado Gestor, né. Nós temos, por exemplo, o Setor de Educação que é bem vinculado ao Movimento, que tem um vínculo direto com a Organização, né. Temos um Setor de Produção que tem essa atividade vinculada a assistência técnica com o Movimento, mas nós temos também algumas atividades que a gente não consegue avançar, né, inclusive do ponto de vista da Cooperativa mesmo. Hoje, por exemplo, nós temos ações dentro da Cooperativa que não é só do Movimento porque hoje a gente consegue se articular com outras organizações e faz com que o Colegiado também abrace isso e não fique uma direção vinculada só especificamente ao MST. Existe ação da Federação, do Sindicato, do Estado que é mais forte que as próprias organizações. Inclusive pelo fato do Assentamento ter tido assim uma, ele tem avançado do ponto de vista da sua autonomia, ele tem algumas ações desenvolvidas com o Estado que vai diretamente sem necessariamente se vincular com a FETRAECE ou com o MST. Isso de certa forma acaba sendo um pouco negativo (Dirigente da Brigada “Francisco Barros II”).

Nessa perspectiva, frente a transformações nas relações trabalho junto a redefinições entre Estado e sociedade civil no contexto histórico mais recente, torna-se necessário chamar atenção para mudanças também ocorridas no âmbito da organização

política dos diversos segmentos sociais. Isso demanda reconhecer as “múltiplas forças políticas que emergem em escala mundial, constituindo-se numa ampla teia de aparelhos intelectuais e movimentos variados que, com diversas reivindicações e formas de luta, caracterizam novos sujeitos políticos” (RAMOS, 2005, p.46).

Sob esse ângulo, “além dos partidos e dos sindicatos, ganha visibilidade, na arena política, a presença de novas instâncias e mecanismos de participação coletiva” (Idem, p.51). No entanto, novamente lembramos que

muito diferente do “estilhaçamento” da política, o que temos é a ampliação do campo da política. Ao contrário de “novos sujeitos políticos”, que substituam os “velhos” sujeitos – como, por exemplo, o proletariado -, o que temos são sujeitos políticos renovados pluridimensionalmente. Em lugar de “novas práticas sociais” temos uma práxis social com dimensões ainda ignoradas. E muito mais do que “novos espaços políticos”, o que temos são espaços políticos esquecidos na cotidianidade e que necessitam ser conectados à totalidade concreta, para que possam ser apreendidos (EVANGELISTA, 1997, p.53).

Considerando a realidade da Lagoa do Mineiro, percebemos que, atualmente, tal como na esfera produtiva, no âmbito da organização política há uma situação generalizada que aponta para um desânimo em relação à participação política que tem incidido com força