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2 O TEXTO HISTÓRICO, A LITERATURA E A ESCRITA FEMININA

2.3 A MEMÓRIA: RETOMADA DO PASSADO CONTRA O ESQUECIMENTO

Lembrar, esquecer, rever, selecionar, fazer-se presente, lançar-se ao esquecimento, presentificar o passado, fazer-se registro, tornar-se monumento, confundir, aclarar. Essas são

apenas algumas das facetas ou ações da memória. Mas afinal, o que seria a memória? Uma luta contra o passado, pelo passado, contra o esquecimento?

A memória, diante de suas inúmeras “possibilidades de ser” e indo muito além de um mero caráter biológico, constitui-se em constante luta contra o esquecimento. E não nos referimos aqui somente às memórias individuais, mas, também, às de caráter coletivo. Nessa discussão torna-se necessário, ainda, considerar outros aspectos da memória, como a capacidade de recordar, a motivação ou gatilho para lembrar, o caráter de seletividade dessas lembranças, a produção do registro entre outros elementos.

Nas obras Malinche e Inés del alma mía, são inúmeros os aspectos da memória abordados no processo de “reavivamento” da existência de duas protagonistas na conquista da América – Malinalli e Inés Suárez. Porém, não nos referimos ao uso da memória apenas como estratégia narrativa do ponto de vista estrutural. Essas memórias são mais: são lutas contra o esquecimento e revisões/releituras de imagens criadas sobre essas mulheres ao longo dos últimos cinco séculos. Diante desse contexto, comecemos, portanto, pelo conceito de memória.

De acordo com Le Goff (2003, p. 419), “a memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas”. A afirmação nos faz pensar, primeiramente, sobre as funções biológicas demandadas para a recuperação de informações que entendemos não fazerem parte do presente, mas sim, representamos como sendo pertencentes ao passado e que por alguma razão estamos tentando resgatar. Além disso, o autor nos aponta que esse entendimento de algo como sendo passado, ou melhor, da oposição entre passado e presente é um processo de construção, não é uma característica nata, não se nasce já tendo essa compreensão.

Para a criança, por exemplo, essa combinação do traço biológico com o traço social do processo de formação da memória torna-se essencial para a sua aquisição da consciência do tempo. É na fase da infância que se começa a compreender a distinção entre passado, presente e futuro e essa dinâmica faz parte da própria organização da memória. Vale ressaltar que de acordo com o mesmo autor, a memória vai sendo formada não só pelas próprias lembranças e experiências, mas também pelas lembranças coletivas. No caso da criança, isso se dá com o acesso às lembranças dos familiares mais próximos inicialmente e, posteriormente, pelo crescente contato com diversos grupos sociais. Essa característica da construção da memória nos leva ao reconhecimento de sua dimensão individual, mas também

ao entendimento de que é complicado pensar sua formação de modo exclusivamente individual. Temos o conjunto de memórias que são próprias de cada indivíduo e temos aquelas que são compartilhadas com as pessoas que as vivenciam conosco. Existem ainda as recordações compartilhadas com outros que não as vivenciaram conosco e sabem, portanto, apenas o que por nós é revelado. O ato de transmitir memórias, de efetuar registros, constitui- se basicamente em uma tentativa de evitar seu esquecimento.

Ainda quanto à relação entre memória individual e coletiva, Le Goff (2003, p. 419) afirma que sendo “fenômeno individual e psicológico, a memória liga-se também à vida social”. Por essa perspectiva, embora determinado evento possa ser compreendido como uma memória individual, não podemos desconsiderar sua ligação com o meio social no qual o ser humano está inserido, o contexto, a comunidade com quem ele convive e compartilha valores. Além disso, ao estabelecer conexões com a vida social, torna-se possível dar mais exatidão a certos dados da memória. A falta de certeza pode ser gerada por diversos motivos: pela dificuldade de recordar por esta lembrança estar localizada em um passado muito distante; por ser uma informação compartilhada com outros e que carece de precisão; ou ainda, por considerar a falta de confiabilidade da memória.

Além disso, a relação dinâmica estabelecida entre a memória individual e a coletiva não é exatamente precisa, pois a constituição das lembranças pode seguir diferentes caminhos. É possível, por exemplo, que as imagens impostas a nós pelos outros membros de nossa comunidade interfiram em nossas impressões dos fatos passados ainda que estas sejam mais fiéis aos acontecimentos, havendo um somatório das lembranças reais às lembranças fictícias; no caminho inverso, os testemunhos dos outros seriam mais precisos ou os únicos corretos e, nessas circunstâncias, corrigiriam e rearranjariam as nossas impressões, por assim dizer, incorporando-se a elas. De um modo ou de outro, haveria na composição da memória uma parcela de massa de lembranças fictícias.

No âmbito dessa discussão, cabe-nos acrescentar ainda uma distinção entre memória coletiva e memória histórica e, para tanto, recorreremos ao pensamento de Maurice Halbwachs.

Por memória coletiva, Halbwachs (2003) considera uma corrente de pensamento contínuo, que retém do passado apenas o que a ainda está vivo ou que é capaz de perdurar na consciência do grupo que a mantém. Esse conjunto de memórias estaria, segundo o autor, restrito a um tempo e a um espaço específicos. Ainda de acordo com o autor:

A memória de uma sociedade se estende até onde pode – quer dizer, até onde atinge a memória dos grupos de que ela se compõe. Não é absolutamente por má vontade, antipatia, repulsa ou indiferença que ela esquece uma quantidade tão grande de fatos e personalidades antigas, é porque os grupos que guardavam sua lembrança desapareceram. Se a duração da vida humana dobrasse ou triplicasse, o campo da memória coletiva, medido em unidades de tempo, seria bem mais extenso (HALBWACHS, 2003, p. 105).

Assim, a ideia de memória coletiva está diretamente relacionada à de memória individual, visto que esta seria um ponto de vista específico acerca da memória compartilhada pelo grupo e que seriam os indivíduos responsáveis por sua perpetuação. Não esquecendo aqui que, conforme compreensão do autor, o campo das memórias coletivas encontra um entrave: as restrições do tempo e do espaço ocupado e vivido pelo grupo social que produz essas recordações.

Entretanto, essas memórias não se perdem totalmente no momento em que o grupo social e os indivíduos que o compõem deixam de existir, pois há uma parcela significativa de eventos perpetuados ao longo do tempo devido à denominada, memória histórica. Esta, compreenderia a sequência de eventos que a história se encarrega de conservar a lembrança, destacando os fatos relevantes, por assim dizer, de uma determinada sociedade. Segundo Halbwachs (2003, p. 75), “um acontecimento só toma lugar na série dos fatos históricos algum tempo depois de ocorrido. Portanto, somente bem mais tarde é que podemos associar as diversas fases de nossa vida aos acontecimentos nacionais”. Dessa maneira, podemos pensar nessa categoria de memória não enquanto apreensão da totalidade dos fatos, mas da seleção daqueles que são entendidos como relevantes na dinâmica de uma sociedade e que, implicam muitas vezes em transformações em sua realidade. Ademais, com base nas ideias do autor, a reflexão sobre essas transformações pode ser feita apenas posteriormente, já que a abordagem do fato histórico se daria um tempo depois do ocorrido, só então havendo a possibilidade de que o indivíduo possa estabelecer conexões entre seu passado (ou também seu presente) e determinadas memórias históricas.

Desse modo, complementarmente a essa visão, concordamos com Cristina Bongestab (2011, p. 174), quando afirma que “a memória histórica se caracteriza pela reflexão crítica a respeito dos fatos que apresenta, ou seja, possui uma natureza autoreflexiva sobre a função da memória”. Não se trata de uma simples listagem dos eventos, mas de uma ação reflexiva em torno deles para entender suas consequências para a época em que ocorreram e mesmo para o

presente no qual são analisados9. Dando continuidade ao nosso estudo sobre a memória, outro ponto para o qual Jacques Le Goff chama a atenção, é para o processo realizado pela memória humana de ordenar ou mesmo de fazer releituras dos vestígios, definindo não somente o que será resgatado da memória, como também o modo como isso será feito. Esse é o ponto no qual Le Goff identifica o ato mnemônico fundamental: o comportamento narrativo. A ação de contar alguma coisa a alguém, comunicar algo a um determinado grupo caracteriza acima de tudo a função social da memória, pois se trata de transmitir uma informação sobre um acontecimento ou objeto que já não se faz presente, embora possa se relacionar de algum modo com o momento em que a lembrança está sendo resgatada. O indivíduo que compartilha uma lembrança automaticamente se vê diante da necessidade de organizar em sua mente uma sequência para contá-la. Além dessa sistematização, é preciso considerar que dependendo de quem receberá a informação e do contexto social em que o indivíduo está inserido, a seleção dos vestígios acerca do mesmo acontecimento pode ser distinta, bem como os pontos da narrativa e os personagens que receberão mais ênfase. Por essa razão, falamos em ordenação e em releitura dos vestígios.

Sobre esse tema, entendemos ser relevante também destacar o pensamento de Paul Ricoeur (2007), quando este discorre sobre o “caráter inelutavelmente seletivo da narrativa”, explicando que as narrativas não são plenas porque a memória não é infalível. É impossível lembrar-se de tudo e, consequente, não há como narrar tudo, implicando, necessariamente, em uma dimensão seletiva. E, dentro da dimensão daquilo que é possível resgatar da memória, temos os elementos anteriormente mencionados: quem é o destinatário, qual é o contexto em que a lembrança é resgatada, e ainda, qual é a intencionalidade de quem narra, ou seja, o objetivo implícito ou mesmo explícito do ato mnemônico. Tais elementos interferirão nas lembranças a serem narradas e cada vez que elas são rememoradas, a ênfase pode ocorrer em pessoas ou pontos diferentes nessa narrativa.

Ademais, essa prática de ordenar, selecionar, revisar, nos leva à compreensão da busca da lembrança como uma das principais finalidades do ato de memória, a saber: “lutar contra o esquecimento, arrancar alguns fragmentos de lembrança à „rapacidade‟ do tempo, ao „sepultamento‟ no esquecimento” (RICOEUR, 2007, p. 48). O ser humano demonstra grande receio em esquecer suas experiências e mesmo de ver apagados os rastros de sua existência.

9

As discussões sobre memória coletiva e memória histórica encontram-se em um amplo campo de estudo, no qual muitas vezes são identificadas divergências de entendimento entre os autores. Dessa forma, nos restringiremos a esta breve definição pautada em Halbwachs, por entender que atende às necessidades de desenvolvimento deste trabalho.

Nessa busca incessante por não esquecer, as pessoas acabam subestimando a capacidade da memória, acreditando que ela armazena muito menos do que de fato é capaz de registrar e guardar. Em virtude disso, ao longo de sua existência, o homem tem buscado formas de fugir desse mal que o aflige: o esquecimento.

É bem verdade que a memória não é uma apreensão da totalidade das experiências vividas, sobretudo se considerarmos a ideia de que lembrar é também esquecer. Nesse ponto, vale destacar o fato de a memória estar ligada de modo indissociável ao esquecimento, basta pensar que, se você lembra de algo, é porque esqueceu em algum momento. Ricoeur (2007, p. 424), defende que “é como dano à confiabilidade da memória que o esquecimento é sentido”, pois a memória não é infalível, ela não é capaz de guardar todas as informações às quais tem acesso e, nesse contexto, o esquecimento se faz presente, criando no ser humano a constante necessidade de lembrar; lembrar porque em algum momento esqueceu. Essa falta de confiabilidade leva às incertezas da memória, fazendo com que representemos algo como passado, busquemos essa lembrança, mas em determinados momentos não consigamos estabelecer sua exatidão. Essa dinâmica de recordar e esquecer faz parte do processo de representação do passado, do entendimento e do sentimento de distância característico da lembrança.

Para reforçar essa compreensão, temos a seguinte afirmação de Paul Ricoeur:

Um paradoxo, tal como o expõe o Santo Agostinho retórico: como falar do esquecimento senão sob o signo da lembrança do esquecimento, tal como o autorizam e o caucionam o retorno e o reconhecimento da “coisa” esquecida? Senão, não saberíamos que esquecemos. Um enigma, porque não sabemos, de saber fenomenológico, se o esquecimento é apenas impedimento para evocar e para encontrar o “tempo perdido”, ou se resulta do inelutável desgaste, “pelo” tempo, dos rastros que em nós deixaram, sob forma de afecções originárias, os acontecimentos supervenientes (RICOEUR, 2007, p. 48).

Como podemos notar, a concepção de esquecimento está inevitavelmente ligada a de lembrança, não somente pela dinâmica de funcionamento da memória, mas pelo próprio entendimento do processo, pela racionalização humana do que faz parte do seu passado e que, consequentemente, irá resgatar ou não. Além disso, o autor aborda a questão de qual seria o determinante para o esquecimento, se um impedimento intencional ou natural da memória, ou se a dificuldade de lembrar provocada pelo tempo, aqui responsabilizado pelo apagamento dos rastros. Nesse ponto, estabelecemos um elo com dois aspectos interessantes: o primeiro deles se trata da criação de arquivo como fuga do esquecimento; o segundo, refere-se às

motivações para lembrar, a intensidade da experiência vivida e a influência do tempo no apagamento dos rastros. Comecemos pelos arquivos.

No estudo da memória, um dos pontos abordados por Ricoeur é o do rastro, ou seja, do traço, do vestígio de alguma lembrança, seja ela relacionada a objetos ou acontecimentos. O estudioso propõe a distinção básica em três tipos de rastro: o psíquico, o cerebral e o documental. O primeiro se refere à impressão deixada em nós por um determinado acontecimento marcante; o segundo está associado ao processo biológico de produção da memória e que, por essa razão, situa-se no campo de estudo das neurociências; por último, o rastro documental, chamado inicialmente de rastro escrito, relacionado à produção de documentos que atestem a existência de algo que não se faz mais presente ou a ocorrência de um fato em período anterior ao registro. Segundo Ricoeur, na condição de rastro material, os rastros cerebral e documental são passíveis de sofrer alterações físicas, serem apagados, destruídos, etc. É para evitar esse desaparecimento, seja ele provocado intencionalmente ou não, que se tem a instituição dos arquivos como fontes de informações sobre um passado que não se quer esquecer, cujo registro se vê a necessidade de ser preservado.

A memória não é infalível, como já tratamos anteriormente. Diante disso, e da constante preocupação com o esquecimento, o ser humano passou a criar arquivos como forma de lutar contra o esquecimento. Além disso, as pessoas não querem esquecer e nem ser esquecidas, fogem da sensação amedrontadora de passar pelo mundo e não ter seus feitos recordados após sua morte. Uma das provas disso, por exemplo, é o fato apontado por Jeanne Marie Gagnebin (2012), remetendo-se à relação existente na origem dos termos “rastro” e “túmulo”, com base em seus estudos sobre Walter Benjamin. As lápides são monumentos erguidos para se ter uma prova física, um rastro da vida de alguém e assegurar que ela não seja esquecida depois do falecimento.

Entretanto, faz-se necessário refletirmos sobre o processo de recuperação dessas memórias, desses registros. Assim como nos aspectos relacionados à tradição, há um caráter de seletividade na memória e isso não se dá apenas no âmbito das lembranças individuais, mas também no das coletivas e históricas. Vimos que recordamos de modo seletivo porque nossa memória não é capaz de armazenar tudo e que as rememorações acontecem de acordo com o contexto no qual estamos inseridos e precisamos recorrer a esses vestígios. Quando nos referimos às memórias históricas, elas também podem ser relegadas ao esquecimento, retomadas ou passar por modificações de acordo com o presente em que são trazidas à tona. De acordo com o período histórico, por exemplo, podem ser realizadas discussões sobre

personagens considerados importantes da história de um determinado país; registros pouco explorados ou mesmo desconhecidos, podem ser buscados para lançar novos olhares sobre outros documentos, ou seja, temos aqui uma gama de possibilidades no que concerne ao uso ou rememoração dos rastros materiais.

Nesse momento chegamos ao segundo ponto da discussão que na verdade se desdobra em três elementos considerados relevantes para nossa análise. O primeiro deles, refere-se à motivação para lembrarmos algo, atividade relacionada ao esforço realizado pelo cérebro em busca da memória desejada.

Sobre esse tema, Ricoeur afirma, baseado em Henri Bergson, que “a distinção principal está entre a „recordação laboriosa‟ e a „recordação instantânea‟, podendo a recordação instantânea ser considerada o grau zero da busca e a recordação laboriosa, como sua forma expressa” (RICOEUR, 2007, p. 46). Em outras palavras, trata-se aqui do esforço intelectual envolvido para trazer uma memória à tona. Obviamente, consideramos haver uma espécie de gatilho para buscar essa lembrança, e a partir desse momento, a mente começar seu trabalho. Esse gatilho pode ser algo espontâneo, sem qualquer intenção de recuperar uma lembrança, como por exemplo, as situações estimuladas pelos sentidos como o olfato, em que ao sentir uma determinada fragrância, o individuo imediatamente se remeta à recordação de alguma pessoa ou situação. Além desse tipo, existe o gatilho de certa forma intencional, levando o indivíduo a pensar em algum elemento ou evento do passado que precisa ser lembrado naquele momento. Assim, há nesse processo as lembranças que surgem de modo instantâneo ao estímulo, uma associação imediata; entretanto, há também aquelas que demandam um maior esforço intelectual, uma maior associação de ideias para a criação de uma imagem na memória. Estaríamos, portanto, neste último caso, diante de uma recordação laboriosa, que baseados na afirmação de Ricoeur poderíamos considerar ainda como a etapa final do ato de recordar.

Nesse processo, seria necessário pensar também no trabalho intelectual em uma gradação, da ação mais fácil – por exemplo, ter uma representação, uma lembrança pronta e clara – até a mais complexa, que envolveria inclusive a produção ou invenção; ao não ter a recordação perfeita e com clareza, nosso cérebro faria um trabalho de produzir ou inventar essa lembrança ou parte dela para preencher as lacunas deixadas pelo esquecimento. Nessa atitude inventiva do cérebro, por assim dizer, interferem não somente aspectos como o tempo (se um evento está mais próximo ou mais distante do presente em que é rememorado), mas ainda elementos relacionados à afetividade (o amor, a amizade, o ódio, a tristeza, etc.,

associados às pessoas e/ou eventos) e mesmo ao desejo (como o indivíduo gostaria que tivessem ocorrido os fatos).

Para essa lógica de pensamento, faz-se necessário recorrermos novamente às ideias de Maurice Halbwachs quando o filósofo defende que o grau de envolvimento afetivo interfere na capacidade de resgatar algo na memória ou de ser armazenado por ela:

Na ordem das relações afetivas [...] um ser humano que é muito amado e que ama moderadamente muitas vezes só se dá conta tarde demais ou talvez jamais se dê conta da importância que foi atribuída às suas menores ações, às suas palavras mais insignificantes. O que mais amou um dia recordará ao outro declarações e promessas, das quais este não guardou nenhuma lembrança. Nem sempre isto é consequência da inconstância, da infidelidade, da superficialidade – mas porque ele estava bem menos envolvido do que o outro na sociedade que os dois formavam, que se baseava num sentimento desigualmente partilhado (HALBWACHS, 2003, p. 35).

O fragmento exemplifica a ação da memória de acordo com o grau de afetividade existente entre as pessoas, partindo do princípio de que quanto mais envolvido um indivíduo esteja, quanto maior seja seu sentimento, mais atenção ele dará aos fatos envolvendo outra(s) pessoa(s) e, portanto, mais informações ele será capaz de guardar na memória sobre dado

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