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4 NA CONTRAMÃO NO ESQUECIMENTO: AS MEMÓRIAS DE

4.1 MALINCHE: PALAVRAS E MEMÓRIAS AO VENTO

“Al viento”. Esta é a dedicatória de Laura Esquivel ao iniciar seu livro. Em seu texto, o narrador nos apresenta uma fala da avó de Malinalli na qual declara que o vento é eterno, “nunca termina. Cuando el viento entra a nuestro cuerpo, nacemos y, cuando se sale, es que morimos, por eso hay que ser amigos del viento" (ESQUIVEL, 2011, p. 28)23. Em sentido vernáculo, o vento é ar em movimento, em deslocamento, mas pode também ter a acepção de sorte, destino24. A avó da protagonista atribui ao vento a existência da própria vida humana, o que faz sentido, sobretudo, se pensarmos que necessitamos respirar para sobreviver; se o ar deixar de passar em nossos pulmões, nossa existência acaba. Além disso,

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A partir desse momento, utilizaremos neste tópico, apenas o número das páginas dos fragmentos da obra analisada.

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Explicação baseada no conceito de vento disponível no Dicionário Unesp do Português Contemporâneo, edição de 2011.

ao pensar no vento enquanto destino, temos outro ponto relevante, pois ao longo de toda a obra literária, há a discussão dos acontecimentos na vida de Malinalli como parte de seu destino a se cumprir. E, podemos ainda refletir sobre essa dedicatória, considerando que, cotidianamente, referimo-nos à capacidade do vento de espalhar, transportar as coisas pelo ar, sendo capaz de levá-las a distâncias inimagináveis.

Desse modo, podemos pensar essas palavras como um prenúncio do que está por vir no livro, ou apenas, que são palavras que se deseja lançar ao vento, para que este leve aos mais distantes e variados lugares e, assim, a existência de Malinalli possa ser conhecida e/ou repensada, que sua memória possa ser reescrita. Retornaremos a essa discussão mais adiante.

Debrucemo-nos a partir de agora sobre essas palavras lançadas ao vento, mais precisamente aos traços memorialísticos em suas diferentes formas presentes na narrativa. Nossa análise se dedicará a três vertentes principais: ao uso da estratégia de discurso dissimulado como forma de retomada das memórias de Malinalli; aos gatilhos motivadores para recuperação das lembranças da protagonista e a forma como se apresentam; e a relação da imagem de Malinalli construída por Laura Esquivel e a memória histórica em torno da personagem ficcionalizada pela escritora mexicana.

No transcorrer da narrativa, podemos identificar a recorrente utilização do recurso definido por Mikhail Bakhtin (2015, p. 82) como discurso dissimulado ou difuso do outro que, nas palavras do teórico, ocorre quando “na linguagem do autor (a narração) foi inserido o discurso do outro de forma dissimulada, isto é, sem quaisquer traços formais do discurso do outro – direto ou indireto” (Grifo do autor). Conforme abordado, nessa situação podemos identificar nas falas do narrador, opiniões, questionamentos, sentimentos expressos que muito provavelmente não são dele, ou seja, ficamos com a dúvida se não é na verdade, uma fala do personagem impregnada no discurso daquele que narra os fatos.

Esse aspecto pode ser observado em fragmentos como: “claro que eso no le quitaba la culpa ni la aclaraba lo que debía decir o lo que debía callar. ¿Qué tan válido era defender la vida a base de mentiras?” (p. 84). Vemos ainda a mesma estratégia no trecho:

En ningún momento los había visto interesados en las milpas, sólo en comer. Si Quetzalcóatl había robado la semilla de maíz del Monte Nuestro Sustento para dársela a los hombres, ¿no les interesaba saber cómo trataban los hombres de su gran obsequio? ¿No les daba curiosidad saber si al comerlo recordaban su origen divino? ¿Si lo cuidaban y veneraban como algo sagrado? ¿No les preocupaba que los hombres dejaran de sembrar la maíz? ¿Qué? (p. 86).

Nos dois excertos, o narrador formula perguntas em seu discurso, causando-nos dúvidas se são falas dele de fato ou se de modo dissimulado aparecem marcas do discurso alheio, nesse caso, de Malinalli. Como podemos notar, não existem marcas linguísticas, quaisquer termos que identifiquem a quem pertencem os questionamentos, entretanto, a forma como são feitos nos conduzem à percepção de que são de fato reflexões de Malinalli expressas através do narrador. São questionamentos que remetem à consciência da personagem sobre sua atuação como intérprete e suas consequências, mostrando que seus atos não foram deliberados nem que ignorou o próprio povo e as próprias crenças. É como se através do narrador pudéssemos observar os pensamentos e as dúvidas de Malinalli sem aviso prévio, visto que ele próprio está com marcas dos valores dela em seu discurso.

Refletindo um pouco mais sobre esse aspecto, percebemos nessas construções a definição do ponto de vista encaminhado pelo narrador, visto que recorrer à consciência e à memória da protagonista da obra, mesmo quando não identifica se tratarem de falas e pensamentos dela, implica em uma demonstração das diferenças culturais, do choque entre crenças e costumes do povo de origem de Malinalli e dos espanhóis. Evidencia-se a preocupação em permitir que ela fale da experiência vivida, mesmo sendo através dele (o narrador), uma realidade que não seria estranha para ela que trabalhou como intérprete, sendo o canal de comunicação através do qual falou Cortés, fazendo aqui uma analogia.

Em outro momento da obra no qual o uso desse recurso aparece exemplificado, o narrador nos conta que

La cruz de Quetzalcóatl se negaba a encender. Malinalli se preguntó el motivo. ¿Estaría enojado el señor Quetzalcóatl con ella? ¿Por qué? Ella no lo había traicionado, todo lo contrario. Había participado en la ceremonia del bautizo con la mente impregnada de su recuerdo. Es más, ¡desde antes de la ceremonia! (p. 63-64).

Novamente são inseridos questionamentos na narrativa e, embora antes seja mencionado o fato de Malinalli se perguntar sobre o ocorrido, não há marcadores textuais de discurso direto e poderíamos considerar as questões como sendo realizadas pelo narrador, ainda que refletindo ou refratando as ideias da protagonista. Além disso, no final do fragmento, é feita uma sentença exclamativa revelando uma ênfase ao pensamento da índia, podendo corresponder a algo de fato dito por ela. Assim, partindo da concepção de Bakhtin (2015) de que todo discurso é permeado por outros discursos, faz-se necessário reconhecermos que não há neutralidade por parte do narrador, ele encaminha um ponto de

vista todo o tempo baseado no que sente Malinalli e deixa claro que ela reflete sobre sua situação e sobre as consequências de seus atos, constituindo-se, portanto, um discurso de defesa da índia asteca. O trecho seguinte nos elucida essa discussão, quando o narrador relata que Malinalli:

Se sentía como polvo disperso en el viento, como pluma sin quetzal, como mazorca sin granos de maíz, sin propósito, sin deseo, sin vida. ¿Para qué había nacido? ¿Para ayudar a los españoles a destruir su mundo, sus ciudades, sus creencias, sus dioses? Se negaba a aceptarlo. Tenía que haber otra razón. (p. 120)

A índia asteca é quem fica desolada, mas quem de fato quer acreditar haver outra explicação para as ações dos espanhóis: Malinalli ou o narrador? Talvez o desejo de entender partisse dos dois, já que o narrador, com base em tudo o que sabe sobre a protagonista, assume claramente seu lado, permitindo-nos ter acesso não só ao que é de conhecimento dele, como também ao que se passa na mente de Malinalli e suas memórias.

De modo a complementar essa análise, recorremos a Robert Humphrey (1976, p. 6) quando este autor afirma que:

a consciência é o lugar onde tomamos conhecimento da experiência humana. E, para o romancista, é o quanto basta. Ele, coletivamente, não deixa nada de fora: sensações e lembranças, sentimentos e concepções, fantasias e imaginações – e aqueles fenômenos muito pouco filosóficos mas consistentemente inevitáveis a que chamamos intuições, visões, introspecções.

A consciência da personagem, nesse sentido, torna-se um elemento fundamental para o cumprimento do objetivo do narrador, de modo que, ao acessar lembranças, sentimentos, introspecções de Malinalli, esse narrador criado por Laura Esquivel consegue apresentar justificativas e explicações para o comportamento de sua protagonista. E, a utilização dessa estratégia favorece o desenvolvimento do ponto de vista proposto e a reescrita da história da personagem ficcionalizada. O conhecimento do que se passa na consciência da protagonista auxilia no uso do recurso de discurso difuso do outro e faz com que a voz de Malinalli, ao não poder falar por si mesma, possa fazê-lo através do outro que é o narrador. Se em seu momento de maior poder, ela não falou por si, mas sim em nome de Cortés, é lógico pensarmos que na narrativa alguém fale por ela, pela escrava. Além disso, coloca-se sob a responsabilidade de alguém a reconstrução de sua imagem, ou seja, outros criaram a imagem pejorativa da indígena, então esses outros precisam reconstruí-la, reescrevê-la.

Além do acesso à consciência de Malinalli e, consequentemente, às suas lembranças, identificamos outras formas de abordagem da memória na narrativa que trataremos nesse momento: as memórias relacionadas à avó paterna da protagonista e os gatilhos motivadores dessas e de outras lembranças.

Desde o início da obra, Malinalli precisa lidar com as noções de lembrar e esquecer. Conforme tratamos em nosso primeiro capítulo, o esquecer está diretamente relacionado ao ato de lembrar, pois de acordo com Paul Ricoeur, se lembramos de algo é porque antes esquecemos, além do fato de que nossa mente não é capaz de guardar todas as informações, apresentando assim traços de seletividade, aspecto tratado também por Le Goff.

Nesse sentido, a índia asteca se vê desde muito jovem, obrigada a esquecer sua figura materna que, de modo asseverativo, declara que “ella será entregada porque en esta vida se olvida todo” (p. 40). A mãe de Malinalli fala que esquecerá a filha e o mesmo deve ser feito por ela, partindo do princípio de que tudo pode ser esquecido, passa para o campo das lembranças. Entretanto, não considera as possibilidades de retomada dessas memórias, seja de modo espontâneo, seja de modo intencional. De fato, podemos identificar na narrativa diferentes momentos nos quais Malinalli retoma memórias por diversas razões, sejam elas parte de reflexões sobre suas ações e aprendizados com a avó, sejam elas motivadas por sensações físicas ou mesmo como estratégia de fuga do presente causador de sofrimento.

No campo das lições aprendidas com a avó, é destacável o fragmento no qual o narrador nos conta que a anciã “desde muy temprana edad, se había encargado de enseñarle a Malinalli a dibujar códices mentales para que ejercitara el lenguaje y la memoria. „La memoria‟, le dijo, „es ver desde dentro. Es dar forma y color a las palabras. Sin imágenes no hay memoria‟” (p. 41). Em sentido contrário ao da lição da mãe de Malinalli que fala muito cedo em esquecer, a avó propõe o exercício de recordar, de criar memórias, fazendo com que desde muito jovem ela tenha a compreensão temporal de passado e presente, que segundo Le Goff, é uma noção construída ao longo do tempo e o passo inicial para a identificação dos acontecimentos que já não fazem mais parte do momento atual.

Além disso, a anciã incentiva a criação de narrativas por parte da pequena Malinalli, constituindo-se essa ação em exercício da linguagem, mas, sobretudo, de organização, de sequenciação das lembranças, identificado como ato fundamental também do processo de formação da memória, procedimento este que, além de ser inerente ao ato mnemônico, contribui para evitar o esquecimento. Por fim, ainda na mesma citação, verificamos o incentivo à criação de códices mentais. Como vimos, os códices são representações gráficas

de povos indígenas como o de Malinalli, formas de registro de sua história. Ter a capacidade de elaborar imagens e códices é ter a possibilidade de criação de provas concretas da existência de algo ou alguém. Assim, devemos ressaltar que, embora não haja documentos históricos comprobatórios da criação de códices pela índia asteca, o fato é que ela aparece representada nas pinturas existentes, dado seu grau de importância nos acontecimentos do período da conquista do México.

Tratando um pouco mais da constituição da memória de Malinalli e de seu entendimento dessas representações, temos o seguinte excerto:

Con los días comprobó que su abuela tampoco había muerto, vivía en su mente, vivía en la milpa donde Malinalli había sembrado los granos de maíz que había traído en su morral. Juntas, la abuela y ella habían seleccionado los mejores granos de su última cosecha para ser sembrados antes de la próxima temporada de lluvias (p. 36).

No fragmento apresentado, evidencia-se a compreensão de Malinalli sobre a representação de alguém ou algo que no presente vivido por ela já não existe mais, no caso a avó. A mulher que se tornou sua referência de figura materna agora vive apenas no campo das lembranças, mas não somente nas imagens criadas mentalmente, como também em elementos concretos que recuperam sua existência, nesse caso, a plantação de milho feita por neta e avó. Tais lembranças são explicadas a luz de Ricoeur, ao tratar de recordações instantâneas e laboriosas, definindo os sentidos como exemplos de gatilhos motivadores de resgate das lembranças. Na situação descrita, mesclam-se sentidos como visão, tato e olfato, em um conjunto de ações da personagem desenroladas de modo a recuperar a imagem da avó já falecida e das práticas de seu povo compartilhadas por elas.

Em outro momento da narrativa, interessante para destacar esses elementos da memória, o narrador nos relata:

Unas mariposas llegaron hasta ellos. Venían salpicadas de sangre. Malinalli lloró en seco. Sus ojos ya no tenían lágrimas. Quiso huir, no ver, no oír, no saber. Su mente levantó el vuelo y se reencontró fuera del tiempo con su abuela y con el día en que la había llevado a visitar el santuario de mariposas monarca.

Aquél había sido un día muy feliz. Un día de primavera (p. 121).

Ver as borboletas e pensar na situação de sofrimento na qual se encontrava motivou Malinalli a se remeter a uma lembrança de um dia com a avó, definido por ela como um dia feliz, sendo realizada uma associação imediata. A personagem decide se transportar para um

passado sem dor, fugir do presente que a aflige. Nesse ponto, notamos uma vez mais a seletividade da memória, abordada por Le Goff, com o intuito de lançar a lembrança ruim ao esquecimento; esquecer porque nesse caso lembrar causa dor. Entretanto, é valido retomarmos Maurice Halbwachs, para perceber que a afetividade é responsável por fazer Malinalli remeter-se a essa memória do dia feliz com tanta intensidade e para entender que o simples “querer esquecer” nem sempre é possível alcançar, já que o referido autor explica que a intensidade da experiência vivida interfere diretamente no armazenamento da memória. Essa informação leva-nos a pensar em duas possibilidades: a magnitude da experiência vivida gerando certa incapacidade de esquecer ou então levar ao esquecimento devido ao forte trauma. No momento em questão da narrativa, notamos a ocorrência da primeira opção, visto ser o esquecimento do evento que causou o sofrimento, apenas temporário; é esquecido somente durante a vivência da lembrança do dia com a avó.

Seguindo um pouco mais no campo das memórias associadas aos sentidos, lemos a seguinte descrição da experiência de Malinalli no mercado de Tlatelolco:

Malinalli en ese momento era testigo del desarrollo comercial alcanzado en el reinado de Moctezuma. De pronto, Malinalli se detuvo, su boca se secó, su estómago se revolvió y la diversión se acabó momentáneamente. El olor mezclado de las madejas de pelo de conejo y las plumas de quetzal, con el que despedían las hojas de chipilín, de hoja santa, los huevos de tortuga, la yuca, el camote con miel de abeja y la vainilla la hicieron recordar de golpe el momento más triste de su infancia. El del día en que su madre la había regalado a unos mercaderes de Xicalango.

[...] Le dolió recordar que ofrecieron mucho más por unas plumas de quetzal que por ella. Esa parte de su pasado le molestaba tanto que decidió borrarla de un plumazo. Decidió pintar en su cabeza un nuevo códice en el cual ella aparecía como compradora y no como un objeto en venta (p. 149).

A combinação de odores leva Malinalli a recordar algo que fazia questão de esquecer, demonstrando que a memória não funciona de acordo com a vontade de quem a detém, sobretudo no caso de lembranças surgidas por motivações espontâneas. Para complementar essa discussão, recorremos à definição de lembrança espontânea apresentada por Henri Bergson (1990, p. 64), na qual o autor explica: “a lembrança espontânea é imediatamente perfeita; o tempo não poderá acrescentar nada à sua imagem sem desnaturá-la; ela conservará para a memória seu lugar e sua data”. Em outras palavras, a recordação espontânea corresponderia a uma imagem precisa do acontecimento passado, constituindo-se no que Bergson chama de “memória por excelência”. Analisando o trecho da obra literária percebemos que mesmo o desejo de apagar e a tentativa de criar uma nova memória através

da elaboração de um códice mental não foram suficientes para conseguir sepultar no esquecimento esse momento traumático para a protagonista. A lembrança em questão não está formada apenas pela ação de entrega da filha pela mãe, há o cenário no qual se desenvolve, repleto de elementos visuais, sonoros, olfativos. Todos eles são percebidos em conjunto, não havendo uma atenção específica para cada um eles, no entanto, estão compondo o cenário e fazem parte da recordação. Por essa razão, é extremamente compreensível que ao ter contato com esses elementos, a memória seja ativada involuntariamente e com uma intensidade inesperada.

Outro trecho da obra de Esquivel bastante significativo para essa abordagem é o que descreve o estado de Malinalli após o massacre de Cholula:

Su espíritu ya no le pertenecía, había sido capturado durante la batalla por esos cuerpos inertes, indefensos, insalvables. Nadie, ni del bando de los españoles ni del bando de los indígenas, le causó daño alguno, nadie le hirió el cuerpo, nadie la lastimó; sin embargo, estaba muerta y cargaba sobre sus espaldas cientos de muertos. Sus ojos ya no tenían vida, ya no brillaban, su respiración casi no se sentía, los latidos de su corazón eran débiles. Tenía un buen rato sin mover un solo músculo. Estaba muerta de frío, pero no le interesaba en lo más mínimo cubrirse con una manta. Además de que estaba segura de que no podría encontrar una sola manta que no estuviera manchada de sangre. El frío de octubre le calaba los huesos, el alma. Ella, que siempre había vivido en la costa bendecida por el calor del sol, sufría con el cambio de temperatura, pero mucho más con el recuerdo de las imágenes que sus ojos habían presenciado (p. 115).

Nesse momento, o narrador faz uma associação entre o sofrimento de Malinalli pelo massacre que havia acontecido há pouco tempo e a sensação térmica de frio sentida por ela. Esse aspecto parece-nos interessante na medida em que se propõe associar mais o frio sentido pela índia às recordações do evento violento do que à sensação física provocada pelo tempo atmosférico. Bergson também nos é elucidativo nessa questão ao tratar da relação entre sensação e lembrança. Afirma o autor: “a questão é saber se a lembrança da dor era verdadeiramente dor na origem” e ainda “do fato de a lembrança de uma sensação se prolongar nessa própria sensação, não se deve também concluir que a lembrança tenha sido uma sensação nascente” (BERGSON, 1990, p. 112). A abordagem de Bergson destaca que a sensação sentida no momento da recordação não tem, necessariamente, a mesma origem da lembrança, bem como a dor pode ser mais intensa no instante da rememoração.

Relacionando essa compreensão ao texto literário, teríamos que a sensação de frio sentida por Malinalli não tem origem no momento do massacre, mas sim no momento da

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