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A metafísica é a principal das ciências teoréticas, as quais, por sua vez, são as ciências mais elevadas (para uma compreensão mais aprofundada do que seja Metafísica, Cf. CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002, p. 206-246). À metafísica, portanto, toca uma espécie de primado absoluto. O pensador grego oferece quatro definições dela:

 Ela indaga as causas ou os princípios supremos (etiologia).  Ela indaga o ser enquanto ser (ontologia).

Etiologia

Quanto ao que se refere à pesquisa das causas e dos princípios primeiros, Aristóteles formulou a célebre teoria das quatro causas:

 Causa formal: aquilo que explica a forma que uma essência possui (por exemplo: o rio ou o mar são formas da água; mesa é a forma assumida pela matéria madeira com a ação do carpinteiro; margarida é a forma que a matéria vegetal possui na essência de uma flor determinada, etc.).  Causa material: aquilo de que é composta toda a realidade sensível (por exemplo: água, fogo,

ar e terra).

 Causa eficiente: também chamada de causa motriz; aquilo que produz geração, movimento e transformação; aquilo que explica como uma matéria recebeu uma forma para construir uma essência (por exemplo: o ato sexual é a causa eficiente que faz a matéria do espermatozoide e do óvulo receber a forma de um novo animal ou de uma criança; o carpinteiro é a causa eficiente que faz a madeira receber a forma de mesa; o fogo é a causa eficiente que faz os corpos frios tornarem-se quentes, etc.

 Causa final: a causa que dá o motivo, a razão ou a finalidade para alguma coisa existir e ser tal como ela é (por exemplo: o bem comum é a causa final da política, a felicidade é a causa final da ação ética; a flor é a causa final de a semente transformar-se em árvore).

Ontologia

Segundo Aristóteles, a metafísica é a ciência que indaga o ser enquanto ser:

Há uma ciência que considera o ser enquanto ser e as propriedades que lhe cabem enquanto tal. Ela não se identifica com nenhuma das ciências particulares: com efeito, nenhuma das ciências particulares considera o ser enquanto ser universal; com efeito, depois de delimitar uma parte dele, cada uma estuda as características dessa parte. (ARISTÓTELES apud REALE, 2007, p. 197).

Na pesquisa em torno do ser, Aristóteles retoma a temática debatida pelos pré-socráticos e a resolve refutando a tese da univocidade do ser (a tese que apregoa que existe um só tipo de ser em sentido absoluto, que se opõe ao não-ser em sentido absoluto). A tese aristotélica é que o ser tem múltiplos significados, em vários níveis, que se reduzem aos quatro seguintes:

 O ser como categoria (ou o ser em si): as categorias constituem os gêneros supremos do ser, ou seja, aquilo que é chamado de ser ou é substância ou é qualidade. São dez categorias: substância, qualidade, quantidade, relação, ação, paixão, onde, quando, ter, jazer ( CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995. p. 219-222).

 O ser como ato e potência: potência e ato: a potência indica a possibilidade por parte da matéria de assumir uma determinada forma. O ato indica a realização dessa possibilidade. A potência está para a matéria como o ato está para a forma.

 O ser como acidente: o que pode existir ou não em uma substância, as qualidades do ser. O ser acidental é aquele que se apresenta de modo casual e fortuito e que, portanto, não é nem sempre nem no mais das vezes, mas apenas às vezes.

 O ser como verdadeiro: o ser como verdadeiro se tem quando a mente reúne coisas que na realidade estão de fato reunidas, ou desune coisas que na realidade estão desunidas (aqui se ocupa a lógica; a metafísica se ocupará da questão das categorias e da potência e ato).

Ousiologia

As categorias do ser se referem todas à primeira, ou seja, à substância; e a pressupõe (não existe qualidade a não ser da substância, não existe quantidade a não ser da substância, etc.). Assim, é evidente que o estudo da substância é fundamental para a metafísica.

O que é a substância? Assim como para o ser, Aristóteles ensejou uma resposta multifacetada: substância pode ser considerada como matéria (assim como os pré-socráticos afirmaram), mas no seu mais alto grau deve ser considerada como forma (ou seja, a essência de determinada realidade); e ainda como sínolo (união de matéria e forma, ou seja, os entes singulares individuais).

Para Aristóteles, todo ser possui matéria/forma e ato/potência, o que ficou conhecido como teoria do

hilemorfismo (hilé = matéria; morphé = forma). Para ilustrar a relação entre a matéria e a forma, a

potência e o ato, Aristóteles recorre ao exemplo da estátua de bronze. Na estátua é fácil distinguir a matéria (exemplo: bronze). Mas também não é difícil ligar a matéria à potência: o bronze poderia ter assumido qualquer forma (sino, roda, estátuas mais variadas, etc.).

Teologia

O problema de fundo da metafísica assim se apresenta: existem apenas substâncias sensíveis ou também substâncias suprassensíveis? A resposta de Aristóteles é que as substâncias suprassensíveis eternas existem, enquanto sem o eterno não poderia subsistir nem mesmo o devir.

Na demonstração, ele parte da análise do tempo e do movimento. O tempo é, portanto, também o movimento do qual é a medida – é eterno (com efeito, não pode existir um momento de origem do tempo, porque de outro modo deveríamos admitir um “antes” daquele momento, mas isso seria por sua vez um tempo; nem pode existir um fim do tempo, porque posteriormente a tal fim deveria existir um “depois”, que também é tempo). Contudo, se é assim, deve também existir uma causa adequada ao efeito, isto é, uma causa eterna, como um princípio do qual eternamente deriva o tempo-movimento.

E como deve ser esta causa eterna?

Deve ser imóvel, porque, se a causa fosse móvel, requereria outra causa e esta ainda outra, ad infinitum. Além disso, para ser eterna e imóvel, não deve ter nenhuma potencialidade (de outro modo poderia também não passar para o ato), isto é, nenhuma matéria; e, portanto, será ato puro, ou seja, pura forma imaterial (e, portanto, suprassensível).

Contudo, como é possível que uma realidade mova permanecendo imóvel?

O Motor Imóvel move como o objeto de amor move o amante. Deus, portanto, é a causa final do mundo, e o efeito do movimento que produz, o produz justamente atraindo o primeiro céu por causa de sua perfeição.

Assim, a teologia aristotélica pode ser resumida nos seguintes termos: não cabe na metafísica aristotélica um Deus criador. Deus não cria o mundo, pois este é eterno. Deus é o Motor Imóvel, que move o mundo por atração (causa final); o mundo é atraído pelo Motor Imóvel, que é pensamento do pensamento. O Motor Imóvel tem supremacia na ordem hierárquica das inteligências, que estão numa forma intermediária, mas que não foram criadas por ele.

No documento Filosofia Antiga. Filosofia Antiga 1 (páginas 36-40)

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