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PARTE I – CORPOS VESTIDOS

1. A modernidade dos corpos

A sociedade brasileira durante o século XIX, em nada se parecia com a sociedade européia no mesmo período. Sinais do que era moderno, e do que era antigo chocavam-se a todo momento. Vivíamos em uma miscelânea cultural parte indígena, parte africana, parte européia. Mantínhamos traços dos mais de 300 anos que servimos à Metrópole portuguesa, de uma independência tardia e elitista, e ainda de um sistema imperial em declínio. Porém, o crescimento da economia brasileira através da exportação do café, possibilitaria mudanças significativas, trazendo imigrantes, consolidando o capitalismo e incrementando a vida urbana.

Apesar de tantas diferenças, para a elite brasileira nada impediria de trazer a modernidade para essas terras tropicais. Todo o avanço tecnológico, o discurso médico- científico, a urbanização das cidades, e a instauração de novos hábitos e comportamentos chegaram ao Brasil simbolizando os “novos tempos” nos moldes europeus. Os responsáveis pela modernização brasileira concentraram suas atenções a duas grandes questões, que, a seu ver, seriam importantes e definidoras para o sucesso desta campanha: a família e a cidade. Um povo civilizado e limpo, habitando um país civilizado e urbano.

Com a República emergente no final do século XIX, esta busca pela modernidade aumentaria consideravelmente. As primeiras cidades a vivenciarem tais transformações foram Recife e Rio de Janeiro, porém, São Paulo aos poucos as alcançava. Num salto de crescimento, no período que abrange de 1870 até 1920, a

cidade de São Paulo, se transformaria no centro econômico e político do Brasil36.

Durante esse período, artistas, arquitetos, urbanistas, médicos, sanitaristas e intelectuais trabalhavam para a modernização da cidade e de seus habitantes. E logo, era possível notar a diferença da antiga São Paulo rural e pequena, limitada às ruas situadas entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, para o grande centro urbano do Brasil, com ruas movimentadas, fábricas, lojas, cafés, teatros, cinematógrafos, escolas, bondes, e principalmente, energia elétrica. A urbanização da capital paulista podia ser experimentada de várias formas, o que permitiu o surgimento de novas relações sociais através dos novos espaços de convivência37.

36

Cruz, Heloisa de Faria. São Paulo em Papel e Tinta: periodismo e vida urbana 1890-1915. SP: Educ, 2000. P. 60.

37

Vale dizer que a campanha de modernização não se dava para toda a sociedade paulistana, pelo contrário, ela tinha um forte caráter elitista. Seriam apenas as classes abastadas que realmente se beneficiariam com essas mudanças. Além de se beneficiarem com tais mudanças na estrutura na cidade de São Paulo, seriam esses grupos que deveriam também passar pelas maiores transformações.

A importância econômica dessa fração da classe cafeicultora é medida principalmente pelo montante da sua riqueza e mais, pela diversificação e complexidade dos seus investimentos. Porém, seu ser social só ganha realidade através de um conjunto de marcas e distinções visíveis que indicam a sua posição específica no todo da sociedade. 38

A multidão da cidade dificultava olhares minuciosos. Tornava-se difícil observar os detalhes das próprias pessoas, dos ricos e dos pobres, na massa que circulava pelas ruas movimentadas. E assim, a moda, os hábitos e o comportamento, que já eram utilizados pela burguesia européia como forma de distinção social, seriam também utilizados nos centros urbanos que se modernizavam no Brasil, principalmente em São Paulo. Seria valorizada uma forma de conduta considerada moderna, que implicava num conjunto de características, tais como a valorização da família, e a adoção de hábitos saudáveis e higiênicos. É neste momento que especificamente na imprensa se constrói uma nova imagem da mulher, capaz de acompanhar tais mudanças.

A imprensa periódica paulista, durante a virada do século XIX para o XX, seria um importante meio de divulgar e discutir os novos hábitos da modernidade. A Revista

Feminina sendo um significante veículo de informações às mulheres da elite paulistana

neste período, tentaria ao longo de seus artigos, orientar e ensinar o que era ser uma mulher em tempos de modernidade. As novas formas de sociabilidade, permitiam à mulher perambular pelo espaço público, a ocupação da rua, dos locais de lazer e de

comércio – e, especificamente em relação às mulheres burguesas, dos espaços

38

dedicados à vida mundana – exige preparação, trabalho prévio a ser realizado sobre o rosto e sobre o corpo. 39

Qual é o papel da mulher na sociedade moderna?

A meu ver, o papel desempenhado pela Mulher até aqui, tem sido deficiente e ao mesmo tempo deprimente... Só no Brasil a Mulher parece conservar-se inactiva... Mas é preciso que ella se faça nympha e crie azas, que alargue o seu horisonte rompendo obstáculos e entraves para conquistar o lugar que lhe compete nas sociedades modernas. E é por isso que saúdo [...] a Exma Sra. D. Virgilina de Souza Salles, pela brilhante iniciativa, fundando um jornal para senhoras que, embora isento de caracter feminista, concorrerá para o preparo do espírito da Mulher brasileira de hoje para que amanhan ella reconquiste o lugar a que tem direito nas sociedades bem organizadas. 40

Em 1915, em um dos exemplares inaugurais da Revista Feminina já percebemos a presença da discussão sobre a função da mulher na sociedade moderna que se forja. Percebemos que para a autora era fato que se viviam novos tempos, e que a mulher deveria acompanhar tais mudanças. Para D. Bartyra, em comparação a outros países, o Brasil estava atrasado em relação à condição feminina, e ainda, que a Revista Feminina seria de extrema importância para revelar à mulher da elite brasileira, e principalmente paulistana, qual deveria ser sua nova função dentro desta nova sociedade. Percebemos um tom ao mesmo tempo romântico e de ousadia nas palavras da autora, ao dizer às mulheres que elas deveriam soltar as amarras dos outros tempos, e se aventurarem ao modernismo. Ressaltamos o uso da palavra “mulher” com a letra maiúscula neste artigo, provavelmente para demonstrar sua grande importância social.

Quando a autora relata que a Revista Feminina não era “feminista”, lembramos que este conceito para a época se traduzia na campanha pelo sufrágio feminino. Ao

39

Schupn, Mônica R. Beleza em Jogo: cultura física e comportamento em São Paulo nos anos 20. SP: Senac, 1999. P. 23.

40

“Qual é o papel da mulher na sociedade moderna?” de Sra. D. Bartyra Tybiriça, em Revista Feminina

longo dos anos em que a Revista foi publicada, esta discussão acerca do feminismo irá aparecer, porém, até o momento em que este artigo havia sido escrito, não notamos tal presença.

O artigo atribuído a Sra. D. Bartyra Tybiriça discute com propriedade o assunto, porém, vale lembrar que na época era comum o uso de pseudônimos, e até traduções de textos de outros países, por isso não podemos afirmar com certeza quem seria realmente o autor. Mas a questionável autoria do artigo, em nada afeta sua importância e credibilidade. Afinal a grande importância deste seria sua mensagem, em esta chegar às leitoras da Revista, e em fazê-las crer como uma verdade a ser seguida.

As nossas avós não tinham vontades, nem mesmo no seu amor. Conheciam os noivos no dia do casamento [...] Por uma imposição paterna entregavam a meiga candura da virgindade á nupcia fria de uma conveniência, privada ou social. A reacção da Eva moderna é, portanto, um movimento de reinvidicação, que se vem formando na alma, através dos séculos: suffragettes. 41

Neste artigo do Dr. Cláudio de Souza, percebemos a quem o discurso da modernidade, contido na Revista se opõe. A Revista Feminina como porta-voz das mulheres modernas, se coloca contra a posição das mulheres na sociedade patriarcal das famílias paulistas do século XIX. Enclausuradas nas alcovas familiares, sua única função era cuidar dos filhos, da casa e do marido. O casamento era realizado por conveniência, qualquer tipo de educação ou instrução lhe era negado.

Por isso nesta comparação, o Dr. Cláudio de Souza demonstra claramente que a posição das mulheres na sociedade estaria agora, em 1917, melhorando e evoluindo. Agora as mulheres poderiam ser mais participativas e manifestar suas vontades, ou pelo menos sua participação já era discutida pelos membros da sociedade.

O autor aponta as suffragettes como o reflexo desta “nova mulher” mais ativa socialmente, porém, lembramos que o voto feminino só seria uma realidade em 1934 pela Constituição Varguista. Ressaltamos o uso da palavra “Eva” para se referir à mulher, demonstrando que, apesar da busca em romper com a posição social feminina

41

de tempos anteriores, a instauração dos “novos tempos” não rompia com a forte presença religiosa no país. Pelo contrário, o discurso da modernidade se alia às regras

de uma moral católica42.

Mas este não é o único momento em que a Revista traria um artigo mostrando os avanços da participação feminina, e de sua posição na sociedade.

As moças de hoje, é innegavel, em nada se parecem com as de vinte annos atraz [...] A sua preoccupação máxima, entre outras, era então, ter uma cinturinha a força de espartilho, a comprimir pulmões e vísceras. Não andavam; tinham o passinho miúdo; não comiam, lambiscavam. O chic era ser pálidas e delgadas... Que mudança se operou d’alli por diante! Quem em tal acreditaria?Com effeito, as jovens de hoje são mais praticas, mais enérgicas, cheia de vida na liberdade de movimentos que adquiriram com os habitos de uma nova era desportiva, toda de gymnastica, que aboliu as torturas do espartilho, pela adopção de uma educação physica moderna. 43

Neste artigo anônimo, a Revista novamente levanta a questão de que as mulheres naquele tempo adquiriram novos hábitos, porém, traz as diferenças entre as mulheres de antigamente, e dos novos tempos. Matronas corpulentas e mocinhas frágeis deveriam

ceder lugar a uma mulher enérgica, vigorosa, delgada, ágil, de aparência jovem e

saudável44. A mulher moderna, no início do século XX, deveria ser prática, ágil,

saudável, com corpos mais livres e trabalhados. Assim como a estrutura da cidade de São Paulo se transformava com o advento da urbanização, os corpos femininos deveriam também, passar por tais transformações através da moda e da aparência. A transformação na estética da cidade, devia refletir na estética dos corpos através do

42

Sant’Anna, Denise B. “Cuidados de si e embelezamento feminino: fragmentos para uma história do corpo no Brasil” in: Políticas do Corpo. SP: Estação Liberdade, 1995. P. 124.

43

“Mulher e a Gymnastica” autor anônimo, em Revista Feminina de dezembro de 1919. 44

Bonadio, Maria Claudia. Moda e sociabilidade. Mulheres e consumo na São Paulo dos anos 20. SP: Senac, 2007. P. 139.

trabalho corporal com o movimento, a adoção de roupas mais leves, e de hábitos mais saudáveis.

As comparações entre as mulheres de décadas anteriores, e as modernas mulheres exaltadas pela Revista Feminina, parecem diminuir ao longo da década de 20. Mantendo apenas as formas de como cuidar da mente e do corpo, para se adquirir tal “personalidade”. Talvez, sendo nos anos 10 uma grande novidade este tipo de mulher, havia a necessidade em explicar às leitoras o que estava havendo com sua sociedade, e ainda o que esta esperava delas. Percebemos ao longo da década de 20 a presença apenas das “receitas” para se adquirir este visual moderno, porém nenhuma justificativa para tal. Provavelmente, já estaria claro às mulheres, do que se tratava a tão almejada modernidade.

Em 1935, o artigo intitulado “Nova Mulher Brasileira”, aponta os resultados desta modernização da posição da mulher na sociedade paulistana e talvez, brasileira.

A classe feminina está se transformando de tal forma que o mundo inteiro observa assustado o alarmante estado de cousas. Alguns ha que declaram já tempo passado para a mulher moderna lembrar-se de sua verdadeira missão e altos deveres, os quaes, dizem, são incompatíveis com os muitos abusos e excessos da vida actual. Acham que a mulher está se dedicando a prazeres frívolos em desaccôrdo com as leis da moral e da família. Outros ha que explicam o caso dizendo que as mulheres ávida de diversões constituem uma grave ameaça á sociedade moderna [...] Não puderam resolver como moderar o modernismo. 45

Neste artigo da década de 30, percebemos que a modernidade tão exaltada trouxe problemas para a sociedade. A autora apresenta com clareza que a modernidade e a liberdade que esta trazia, devia ser simplesmente para beneficiar as mulheres a exercer suas funções e deveres sociais. Porém, essa liberdade trouxe também uma série de possibilidades a elas, como por exemplo, a desta transitar pelas ruas desacompanhadas.

45

Aos poucos, ocupando lugares que antes eram exclusivamente masculinos, as mulheres passariam a ser vistas em festas, com roupas exageradas, maquiagens mundanas, até alguns vícios. Logo, para uma sociedade que visava a modernização através da civilização dos corpos e da moral, isto seria inaceitável. As “mães da Nação” deveriam usufruir de suas novas liberdades, apenas para beneficiar a pátria, e não prazeres fúteis. Porém, como a própria autora relata, seria impossível, naquele momento, moderar o modernismo. Alguns princípios da modernidade já eram uma realidade.

Ao final deste editorial, a autora lembra que ainda existem avanços consideráveis para as mulheres na sociedade moderna, como sua participação no mercado de trabalho e até em escolas superiores. E que muitas, utilizavam sabiamente os avanços em sua posição social para beneficiar seus deveres sagrados enquanto mãe/esposa/dona de casa.

Entre os anos de 1915 a 1923, aparecem na Revista Feminina, dezenas de artigos que valorizam as funções de mãe/esposa/dona de casa. Como se buscassem responder de forma didática às perguntas formuladas pelas próprias leitoras, sobre como continuar a exercer tais funções, dentro de uma sociedade que se reestruturou.

As moças devem aprender a conhecer sua importancia neste mundo. A obra da mulher; o seu valor para a família, para a comunidade, para a nação e para a raça [...] E´ bom que as moças pensem no casamento e na maternidade, se o fizerem de maneira sensata. 46

Neste artigo de 1916 destinado às jovens leitoras da Revista Feminina notamos seu caráter didático, “ensinando” às moças sua importância para a sociedade. O casamento e a maternidade deveriam continuar sendo sua meta, e que assim, ela estaria contribuindo para o crescimento e desenvolvimento da nação brasileira. Na sociedade do início do século XX, exercer sabiamente sua função como mãe e esposa era uma responsabilidade em benefício não só para a família, mas para toda sociedade brasileira. A mulher como “rainha do lar”, figura como o agente catalisador da família, ou seja, a mulher concentra os filhos e o marido no núcleo familiar. Sendo a família de extrema

46

importância para o bom desenvolvimento da sociedade nos moldes modernos do início do século XX, a mulher como mãe/esposa, tem um importante papel. Por isso deve saber quais são suas tarefas e seus deveres, para a boa execução de seu papel enquanto mulher, e assim, o bom andamento de toda a família. Permitindo através de suas funções, que o homem e até as crianças, bem executassem a sua. Deveriam ser, ao

mesmo tempo, símbolos de modernidade e baluartes da estabilidade contra os efeitos desestabilizadores do desenvolvimento industrial capitalista, protegendo a família das influências “corruptoras” 47.

Em muitos artigos a Revista Feminina concede conselhos às mulheres casadas, para essas exercerem com completude sua função de esposa. A primeira coisa que é ressaltada é a necessidade da esposa “estudar” o marido, entender seus hábitos, saber o que lhe agrada e o que lhe desagrada. E ainda afirma com convicção que se algo der errado no casamento, ou até se o marido não fizer sua parte, a culpa é da mulher/esposa por não ter exercido bem sua função.

Na maior parte do tempo de casado, e principalmente por culpa da mulher, o marido, mesmo conservando a sua afeição e o respeito aos deveres de esposo, desleixa-se e esquece o desejo de agradar. A vida de dois esposos é um compromisso entre pessoas que não são perfeitas... E eis

porque a esposa deve estudar o marido. 48

Através do estudo dos gostos do marido, a mulher pode manter o lar da forma que lhe agrada, manter a felicidade no casamento, e ainda contribuir para o bom andamento da sociedade. Essa idéia difundida na Revista demonstra que a função de esposa é principalmente agradar, para fazer seu lar atraente para o marido. Apesar da

Revista não mencionar em nenhum momento a vida “fora de casa” dos maridos,

sabemos que durante o período49, além da família saudável que médicos e autoridades queriam valorizar, existia um mundo de jogos, prostituição, vícios e até a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis. Os freqüentadores deste submundo eram

47

Apud, Besse, Susan. Modernizando a desigualdade. Reestruturação da ideologia de gênero no Brasil 1914-1940. In: Bonadio, op. cit. P. 131.

48

“A esposa deve conhecer bem o marido”, anônimo, em Revista Feminina de maio de 1917. 49

Sobre o submundo das primeiras décadas do século XX paulistanas, Os Prazeres da Noite da historiadora Margareth Rago faz um grande estudo sobre os códigos da prostituição feminina entre 1890 e 1930, e a presença dos “maridos” da elite brasileira.

membros da elite brasileira, o que ameaçava todo o desenvolvimento da família nuclear e saudável. Sendo de grande preocupação a constituição de uma elite modernizada, civilizada e saudável, a participação das mulheres transformando o lar em um lugar atraente para manter os maridos fora de casa no momento de trabalho, e principalmente fazê-lo voltar para casa no fim do dia para exercer sua função de pai/provedor, e assim, o bom andamento da sociedade.

A esposa deve cuidar para que todos os objectos estejam em seus logares para que o marido encontre á mão tudo que necessita para seus arranjos. Não quer isto dizer, que damos ao marido o privilégio de gosar todos os carinhos e solicitudes da esposa, sem que deixe retribuir- lhe da mesma forma... Trabalhando a esposa pela felicidade do marido, trabalha pela sua própria felicidade. 50

A vontade da mulher é subestimada a todo o momento para o bom andamento do casamento e da família. Seus desejos pessoais devem estar abaixo do marido, do filho e da sociedade em geral. E a Revista Feminina afirma que é assim que deve ser, e que os desejos da mulher são na verdade os do homem, os dos filhos e os da sociedade. Em nenhum momento as vontades individuais da mulher são estimuladas. Neste artigo é afirmado que a partir do momento em que a mulher exerce com sucesso e sabedoria sua função, não haveria o porquê do homem também não exercer a sua enquanto pai/provedor. Ou seja, ambos possuíam funções e resposanbilidades dentro da sociedade moderna, e esta só teria êxito se os dois a cumprissem. A felicidade da família e da nação, dependia da boa execução das funções do homem e da mulher nesta sociedade.

O artigo “A sciencia da dor” de 1916 chama atenção quando fala sobre a necessidade do sofrimento.

O soffrimento é um facto universal e indiscutível [...] Ninguém escapa ao soffrimento. Apertae qualquer coração; não é preciso expremel-o muito para que delle

50

“Como a esposa consegue dar felicidade ao marido”, anônimo, em Revista Feminina de outubro de

jorrem lagrimas [...] E a dor é útil: ella nos melhora, torna-nos mais reflectidos e menos egoístas. A dor purifica e nobilita a alma, approxima-os de Deus e as faz dignas do céu. Devemos recebel-a com resignação e

porque não dizer? Com alegria. 51

Provavelmente a mulher do início do século XX devia se sentir acuada entre as vontades e os desejos da sociedade, do marido e dos filhos. A preocupação com o bem- estar de todos seria um pesado fardo, porém, necessário para o bom funcionamento desta sociedade. A responsabilidade da mulher como mãe, esposa e dona de casa, além das preocupações com seu corpo, da moda, das roupas, do consumo, do comportamento controlado, e ainda, da incessante busca pela beleza, poderiam causar um grande conflito. Este conflito podia ser o causador de um sentimento próximo à dor, ao sofrimento, e à angústia. Novamente vemos valorizados pela Revista os valores da religiosidade cristã, que entendem o sofrimento como algo bom e purificador.

Assim vem o casamento e a lua de mel [...] mas o amor sentimental como todas as exaltações dos sentimentos humanos, não é duradoiro [...] É este momento critico de as recém casadas caírem nos braços de suas mães, dizendo entre soluços: Meu marido é um monstro!

Geralmente aquele monstro é um bello e excelente rapaz

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