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A MUDANÇA PARADIGMÁTICA REPRESENTADA PELO P1MC

4 PROCESSO DE CRIAÇÃO DA SUDENE

5.3 A MUDANÇA PARADIGMÁTICA REPRESENTADA PELO P1MC

Será abordado o porquê de esta concepção representar uma mudança de paradigma, onde se tem a importância do conceito de convivência com o semiárido representando outra perspectiva de desenvolvimento para o semiárido. Com isso, espera-se evidenciar a oposição entre estas formas de atuação e de concepção do fenômeno da seca no semiárido.

Conforme o dicionário Aurélio, paradigma é um modelo, padrão. O termo paradigma representa a aceitação de determinadas teoria, métodos e aqueles objetos durante certo período. Mas Kuhn além de demonstrar que a ciência evolui por rupturas, também a cada momento ela seleciona aquelas teorias, aqueles métodos que são válidos por determinado tempo, mas esse processo de mudança não quer dizer que todos aceitem facilmente a mudança.

Segundo Abramovay (2007) o paradigma é um conjunto de crenças comunitariamente partilhadas pelos cientistas sobre o que, como e para que pesquisar. E a mudança de paradigma ocorre quando os próprios resultados começam a colocar em xeque o que se acreditava anteriormente, assim o novo surge da ruptura. Foi o que ocorreu com o paradigma da solução hidrológica do combate à seca que via como causa única o fenômeno climático da escassez de chuvas, deixando de perceber as inter-relações ali existentes que possibilitam o

enriquecimento de uma pequena parcela da sua população. Enquanto isso, a parcela dos camponeses é subjugada e submetida a condições degradantes.

Não é possível fornecer uma explicação única para definição e solução dos problemas do Brasil e do Nordeste, pois

É difícil não exagerar com respeito ao Nordeste do Brasil. Aí tudo escapa as explicações fáceis. A sociedade não é fruto nem de conquista nem de um projeto de colonização. Desde seus primórdios, tudo se apresenta como definitivo com traços básicos que persistiriam por séculos. (FURTADO, 1989, p.15).

Essa citação transmite a noção do desafio que é implantar políticas de mudança sociais, em geral no Brasil, mas essa mudança é ainda mais complexa e necessária no Nordeste semiárido devido à condição de sua fragilidade.

“Julgamentos superficiais sobre o fenômeno e interesses políticos locais conduziram à construção de explicações reducionistas dos problemas regionais como produtos de condições naturais adversas do clima, da terra e de sua gente” (SILVA, 2007, p. 467). Na perspectiva de mudança da imagem de fragilidade associada à região semiárida, o pensamento de que o problema se restringe a fatores climáticos, deve ser repensado. Portanto outros fatores de sua formação sócio-econômica como grande concentração fundiária, políticas públicas de combate à seca, economia marginalizada, pobreza, degradação ambiental, práticas políticas como coronelismo e o clientelismo fazem parte do contexto que leva ao agravamento dos problemas sociais da região, que apresenta geralmente os piores indicadores sociais do país.

Com a ocorrência de secas prolongadas na segunda metade do século XIX, devido à situação de calamidade que colocou em risco o povoamento e as atividades econômicas, teve-se início estudos científicos sobre este fenômeno natural. Segundo Silva (2007) a visão parcial do semiárido como a região das secas conduziu a adoção de soluções fragmentadas, cujo núcleo gerador é o combate à seca e aos seus efeitos.

Surgem novas abordagens para a problemática na metade do século XX onde está presente a análise sociológica com a ênfase na forma de ocupação e exploração da região desde os colonizadores que levava à concentração de riqueza e poder político e à disseminação da situação de pobreza e miséria para a maior parte da população. Isso é uma quebra de

paradigma e desmistificou as ações de combate à seca que, além de ineficazes reproduziam as estruturas locais de dominação (SILVA, 2007).

Ao se pensar no desenvolvimento sustentável não se pode modificar a natureza de forma indiscriminada, como se o homem pudesse se apropriar e controlar tudo. Mas o que se propõe com o desenvolvimento sustentável é conviver de forma mais harmônica com o meio ambiente. O homem modifica a natureza segundo Silva (2007) conhecendo as causas naturais da seca e agindo sobre os seus efeitos para promoção do progresso da humanidade, daí a crença de que o combate à seca represente a modernidade e o progresso.

Para Buarque (2001, p.224 apud Silva 2007, p.480), “na modernidade técnica, o avanço técnico define a racionalidade econômica, subordinando a ela os objetivos sociais e ignorando os valores éticos”. Assim, outros valores ficam sujeitos à lógica econômica.

Segundo Silva (2008) a crítica contra a política de combate à seca é, principalmente, a crítica da exploração política da miséria nos períodos de seca. Embora já indicado por Celso Furtado no final da década de 1950, a necessidade da formulação de uma nova proposta de desenvolvimento diante da constatação dos problemas enfrentados pela região Nordeste, essa discussão volta à tona somente após a redemocratização, pois sem a consolidação de um processo democrático é muito difícil ter soluções vindas do próprio seio da sociedade.

Com a redemocratização nos anos 1980, a proposta para o desenvolvimento da região semiárida se modifica, há uma aproximação da realidade local com a entrada em cena de outros sujeitos. Nessa proposta o Estado não é mais o protagonista como antes, e sim a sociedade civil organizada e, não tem a monopolização pelas elites dominantes. A população é agente de modificação e o conhecedor da própria realidade do semiárido (SILVA, 2008; DUQUE, 2008).

Para Silva (2008) uma das principais causas para o fracasso das políticas públicas implantadas no Semiárido brasileiro é a falta de participação ativa e autônoma. Diante disso, se procura dar maior atenção à necessidade destes aspectos para o sucesso das políticas de erradicação da pobreza e da miséria implantadas pelas organizações.

Os projetos e os programas das entidades/organizações que trabalham com a proposta de convivência têm a compreensão de que o desenvolvimento é uma construção societária, ou seja, pode-se construir um novo paradigma de desenvolvimento, onde conforme Veiga (2008) se tem a presença dos esforços culturais, econômicos, políticos e sejam todos subordinados á finalidade da melhoria das condições de vida.

Neste sentido, o P1MC representa uma tentativa de promoção do desenvolvimento sustentável nas localidades rurais dos municípios do Semiárido brasileiro, pois vê como necessária a capacitação da população para resistir aos efeitos da seca, dando condições de elevação do nível de vida de sua população.

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