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CONTEXTO HISTÓRICO DE CRIAÇÃO DA SUDENE

4 PROCESSO DE CRIAÇÃO DA SUDENE

4.1 CONTEXTO HISTÓRICO DE CRIAÇÃO DA SUDENE

No período de criação da SUDENE o Brasil passava por problemas nas contas externas, devido a dívidas contraídas e pela construção de Brasília teve-se que aumentar a quantidade de moeda em circulação, o que fez com que a inflação se elevasse. Neste período, segundo Furtado (1989) há um clima de insatisfação com o governo de grande parte dos governadores nordestinos que apoiaram o candidato de oposição a Kubitschek. Além disso, os militares elaboraram um relatório descrevendo as ações governamentais na seca de 1958, que apresentava o favorecimento político da oligarquia nordestina do que viria a se chamar a “indústria das secas”. Termo/conceito esse, segundo Furtado (1989), usado para descrever a utilização dos recursos ditos para socorrer os sertanejos que sofriam com a seca por uma parcela de comerciantes e fazendeiros em benefício próprio, onde muitas vezes superfaturavam e utilizavam trabalhadores fantasmas nas frentes de trabalho.

Diante desse contexto, de 1958 a 1959, o Nordeste passa por um momento de descontentamento social, pois segundo Furtado (1989, p. 35) “aumentava o nível de emprego, mas reduzia-se o salário real”. O Nordeste é visto nacionalmente como região problema, sendo associado a imagem de pobreza, fome, terra esturricada/seca e crianças e mulheres caminhando longas distância para pegarem água.

O planejamento não é algo externo, ele se adapta e, segundo Oliveira (1977, p. 244) “não pode realizar a superação da contradição básica do sistema capitalista”. Isso é dito porque continua a antítese entre trabalho pago e não pago, ou seja, maior exploração dos recursos, meios de produção, enquanto se acumula o máximo possível.

Embora se pretendesse uma mudança econômica e social na região, se observa que no Nordeste, o que se verifica é que não houve o fortalecimento das empresas nordestinas essencialmente, mas sim, a expansão para o Nordeste de oligopólios de empresas do Centro- Sul. Portanto, o planejamento estatal serviu para a manutenção da ordem social e da mesma estrutura de poder em um momento em que boa parte do povo nordestino estava descontente com a situação em que se encontrava (OLIVEIRA, 1977).

A criação da SUDENE é fruto, inclusive, do medo do descontentamento social em relação a possíveis forças políticas contrárias a Kubitschek que poderiam ser fortalecidos em relação aos adversários. No entanto, a classe proprietária não parecia tão afetada conforme relata Furtado, na seca de 1958, devido a ação do poder público permitir que as estruturas tradicionais de classe sobrevivam (GTDN, 1959).

A difícil situação em que se encontram os trabalhadores sem terra do Nordeste, constantemente a agravar-se, sobretudo a partir de 1959, faz com que a massa camponesa procure por si mesma uma solução e afaste a possibilidade de solução do problema agrário regional, através da colonização. (ANDRADE, 1980, p.250).

Houvesse nessa época um clima revolucionário que não fosse apaziguado poderia resultar em grandes mudanças para as elites locais do Nordeste, conforme alerta o Governador Aluísio Alves (apud ANDRADE 1980, p.251) “ou as elites decifram o Nordeste em 62, abrindo uma porta de esperança, ou então serão responsáveis - porque advertidas – do imprevisível revolucionário.”

Conforme relata Furtado (1989) a ação do governo, sob controle da classe latifundiária, reforçava as estruturas existentes e agravava os efeitos sociais da seca. Beneficiava-se uma pequena parcela da população (comerciantes e fazendeiros) que obtinham ganhos com a seca e a miséria de grande parte da população.

Muitas das águas represadas encontravam-se em terras irrigadas de fazendeiros que se beneficiaram de recursos do governo federal, com isso, tem-se o aprofundamento da estrutura fundiária da região semiárida com a concentração de grandes extensões nas mãos de poucos. Para Furtado (1989) o que nos faltava era uma lei regulamentando o uso das águas e das terras nas bacias de irrigação beneficiárias do investimento público. Mas isso iria de encontro à “indústria da seca”, a qual detinha muito poder político para a defesa dos seus interesses.

Celso Furtado defendia a aprovação da Lei de Irrigação, que foi proposta na década de 1960, e possibilitaria modificar a estrutura fundiária nordestina com a destinação de terras antes monopolizadas com o cultivo do açúcar para a produção de gêneros agrícolas alimentares. Isso facilitaria o processo de industrialização no aspecto do fornecimento de gêneros agrícolas a menores custos. Nesse aspecto, seria uma medida importante para o processo de industrialização pretendido pela SUDENE para o Nordeste, pois reduziria os custos com a

alimentação dos trabalhadores, reduziria seu custo de reprodução, e possibilitaria que as terras fossem mais bem distribuídas. Mas não foi possível aprová-la no Congresso devido a grande resistência de políticos pertencentes à oligarquia nordestina (FURTADO, 1989).

Devido à expansão da economia do Centro-Sul, com produtos agrícolas, além da atividade açucareira e algodoeira, a economia nordestina sofre com a concorrência, fazendo que se dependa cada vez mais da agricultura de subsistência, ao mesmo tempo em que reduz os preços de produtos excedentes comercializados. Nesse clima,

(...) a dissolução desse semi-campesinato, quer pela expulsão das terras –a elevação da renda da terra abria para os proprietários uma possibilidade de especialização nas antigas culturas de subsistência, isto é, uma forma de concentração em capital variável- quer pelo aumento do sobre-trabalho, reforçando os mecanismos do trabalho semi-compulsório, e “cambão”. É nesse contexto, e exatamente nessas zonas, que a pax agrariae nordestina entra em colapso, e esse semi-campesinato aparece como ator políticos por excelência, sob a égide das ligas Camponesas de Francisco Julião. (OLIVEIRA, 1977, p.81).

Esse movimento será um dos representantes da luta camponesa e seguindo seu exemplo começam a surgir outros movimentos semelhantes na reivindicação de direitos e lutando pela posse/propriedade da terra.

Outro fator que influenciará para o surgimento de nova atitude em relação à participação do governo no Nordeste serão as Ligas Camponesas, de onde primeiro se teve registro de reivindicação de direito pela terra. A participação nas ligas representava uma alternativa à condição de miséria, pobreza e desesperança em que se encontravam, uma vez que, ao se organizarem, eles poderiam juntos buscar uma melhora em suas condições de vida. Portanto, houve nesse período temeridade por parte do governo brasileiro e dos EUA que proporão o acordo Aliança para o Progresso para conter a onda de revoltas que poderiam resultar em uma revolta socialista na região ou simplesmente a difusão dos ideais socialistas.

Apesar das críticas feitas por Chico de Oliveira à SUDENE, conforme será abordado, é possível reconhecer em termos de propostas, que esta modificou e melhorou a infra-estrutura da região Nordeste, embora estejam direcionadas mais a manutenção da estrutura social vigente que era a principal causa da pobreza causada pela seca, não conseguindo se isentar do favorecimento da classe que política e economicamente se beneficiava da “indústria da seca”.

(...) a SUDENE foi um empreendimento de uma audácia inédita na história nacional. Ela anunciava um dos dois novos casos: se os vencedores tivessem sido as forças populares, o Nordeste e o Brasil hoje seriam muito diferentes; tendo sido vencedoras as forças do capitalismo monopolista, chamadas a socorrer combalidos latifundiários e barões do açúcar, essa vitória também mudou o curso da história. (OLIVEIRA, 1977, p. 18).

A percepção contida em Oliveira (1977) é de que a SUDENE implanta um padrão dito “planejado”, mas a crítica está na necessidade de relacionar não só aspectos econômicos, mas também sociais e políticos. Desta forma, é preciso observar o planejamento como conseqüência das relações sociais intrínsecas ao sistema capitalistas, como sinaliza Oliveira (1977) com base em pronunciamento proferido por Paul Baran em 1963 na conferência da SUDENE, quando disse que não é o planejamento que planeja o capitalismo. Desta forma, a ordem das coisas se inverte e a lógica capitalista é que determinará o planejamento.

Diante do clima de agitação social registrado no Nordeste na década de 1950, a massa agrária que pela primeira vez aparecia no Nordeste como agente político autônomo reivindicando direitos e indo de encontro aos interesses dos latifundiários, representou uma ameaça à classe proprietária.

Tais “forças populares” são constituídas pelos semicamponeses, pequenos sitiantes, meeiros, arrendatários, cuja expressão política mais evidente passou a serem as Ligas Camponesas, mas que também estavam representados em sindicatos, de diversa filiação e orientação, inclusive da Igreja Católica. (OLIVEIRA, 1977, p. 92).

O conflito entre as forças populares e as forças dominantes decadentes locais- burguesia industrial e oligarquia latifundiária- segundo Oliveira (1977) desemboca claramente na perda de hegemonia daquelas classes dominantes. Isso ocorre num momento de expansão do capitalismo do Centro-Sul.

Desta forma, o que aparece como resultado de conflitos regionais ou dos “desequilíbrios regionais” como parece ser o caso para Celso Furtado, na verdade para Francisco de Oliveira o que ocorreu foi: “o conflito de classes que aparece sob as roupagens de conflitos regionais ou dos “desequilíbrios regionais” chegará a uma exacerbação cujo resultado mais imediato é a intervenção “planejada” do Estado no Nordeste, ou a SUDENE”. (OLIVEIRA, 1977, p. 99).

Assim, o mesmo considera que não faz sentido falar que a SUDENE foi resultado dos conflitos de classes em escala regional e sim, uma solução para resolução dos conflitos de classes em escala nacional.

4.2 UMA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO PARA O NORDESTE: A

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