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A narrativa seqüencial: histórias em quadrinhos

4 REVISÃO DE LITERATURA

4.3 A NARRATIVA IMAGÉTICA NO LIVRO INFANTIL

4.3.2 A narrativa seqüencial: histórias em quadrinhos

Ao longo de mais de um século de existência, muitas têm sido as definições para as HQ, que podem ser entendidas como um encadeamento entre textos e imagens, sugerindo uma seqüência lógica, utilizando ao mesmo tempo os recursos do desenho e narrativas próprias da Literatura, tornando-se, assim, uma técnica narrativa e não propriamente uma linguagem. Portanto, define-se, resumidamente, que HQ é uma técnica em que textos e imagens, colocados de forma complementar e em seqüência, tem o objetivo de contar histórias dos mais variados gêneros e estilos.

As HQs caracterizaram-se por serem produtos de uma cultura de massa e, portanto, nem sempre têm a assinatura presente dos profissionais envolvidos em sua produção, que envolvem, entres outros profissionais, os da área de cores, desenho, roteiro e arte-final. A sua produção é bem típica da produção em série, uma das facetas do capitalismo de consumo.

Eisner (1995) afirma que, durante o processo de criação de quadrinhos, os autores conseguiram uma hibridação bem-sucedida de ilustração e prosa e a configuração geral, e a HQ

apresenta uma sobreposição de palavra e imagem, e, assim, é preciso que o leitor exerça as suas habilidades interpretativas visuais e verbais. As regências da arte (por exemplo, perspectiva, simetria, pincelada) e as regências da literatura (por exemplo, gramática, enredo, sintaxe) superpõem-se mutuamente

(EISNER , 1995, p. 8).

O conhecimento e a utilização prática dos recursos narrativos das HQs, por muito tempo publicadas apenas no formato de revistinhas – usualmente chamadas de gibis – ou de pequenos trechos editados em jornais e revistas, foram aos poucos sendo apreendidos e utilizados na Literatura Infantil. Essa disposição veio, principalmente, da popularidade das HQs

entre as crianças, pois, a princípio, as HQs consagraram-se como leituras que privilegiaram o caráter recreativo.

A narrativa de uma HQ se dá basicamente dentro de vinhetas, que são representações gráficas de um espaço de tempo, quadrada ou retangular, um quadro que contém as imagens da história. O tamanho das vinhetas é diferenciado de acordo com o interesse da ação que esta narra, com o andamento da história e com o grau de emoção a transmitir ao leitor, assim como o tempo de leitura.

A leitura de HQ não é considerada tarefa simples. A leitura baseia-se, fundamentalmente, na comunicação visual de elementos pré-estabelecidos, com linguagem convencionada. Aparentemente, o texto visual é de fácil compreensão, mas a leitura efetiva só se dará se o leitor reconhecer os diversos recursos de linguagem, pois suas convenções sugerem um conhecimento prévio dos códigos usados na narrativa. Em outras palavras, a leitura só será completa aos leitores que foram iniciados nessa linguagem e a ela têm acesso.

Um exemplo de convenção na HQs é o uso de balões. O balão é o espaço que determina os diálogos ou os pensamentos dos personagens. O balão pode ser colocado em qualquer lugar na história, porém de maneira que seja perfeitamente visualizado pelo leitor, pois mesmo na leitura de livros infantis em HQs lê-se da esquerda para a direita e de cima para baixo. O conteúdo dos balões pode ser constituído apenas de um sinal lingüístico ou um grafema: um ponto de interrogação ou de exclamação, ou apenas uma letra. Estes sinais são índices de dúvidas, surpresas, ou que o personagem está dormindo para o balão com da letra Z. A figura a seguir apresenta alguns exemplos de balões:

Fonte: http://www.chinitarte.com/bd5.html, acesso em 8 jan. 2008.

Na convenção, diálogos e pensamentos são representados em balões parecidos, com uma linha contínua, a diferença está apenas na seta ou rabicho que sai em direção ao personagem, para indicar o diálogo; enquanto que no de pensamento esse caminho é formado por pequenos círculos ou borbulhas. Na Figura 8, os balões 1, 2 e 3 representam o diálogo, e o 4 representa o pensamento.

O sussurrar ou a fala em voz baixa é representada em balões com limites ou risos tracejados, exemplificado pelo balão 7 na Figura 8. Este balão serve também para representar segredos, confidências ou a voz fraca de alguém prestes a morrer.

O balão elétrico, número 6 da Figura 8, em forma de dentes de serra, pode representar a voz saída de um robô, um grito ou uma voz ao telefone, por exemplo. O balão 5 na Figura 8 representa a voz trêmula de alguém em fim de vida ou que sente muito frio, ou, ainda, aterrorizada.

O efeito do duplo balão é o que se pode ver na ilustração 8 da Figura 8; são dois balões unidos por uma junção e servem para indicar que entre um balão e outro o personagem fez uma pausa no diálogo ou mudou de assunto.

Além dos balões, podem ser destacadas as convenções: o uso de sinais gráficos como as onomatopéias, para a tradução de um ruído específico – “POF”, “SOC”, ”TUMPT”, “CRASH”, “SPLASH” –; as pequenas estrelas sobre a cabeça de um personagem, indicando dor ou tontura; o uso de linhas para separar um quadro de outro e estabelecer um sentido de evolução no tempo entre as cenas representadas; o uso de tiras para mostrar uma "voz do narrador" dentro da história; entre outros.

Outro detalhe importante na leitura de livros infantis em HQs é o percurso visual, que é a direção que o leitor deve seguir para acompanhar a história sem esforço e sem se perder, dando atenção à totalidade das vinhetas e, o que é mais importante, ao centro de interesse de cada vinheta. No entanto, o percurso visual, com a prática, torna-se algo instintivo.

Na Literatura Infantil, vários autores usam narrativas em HQs, buscando a intertextualidade e a dinâmica apresentada na sua estrutura de linguagem verbal e não verbal. Dessa forma, as HQs empregam uma série de imagens repetitivas e símbolos reconhecíveis para expressar idéias similares, é essa aplicação que designa a narrativa seqüencial.