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A informação e a leitura de imagens

4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO DA IMAGEM COMO INFORMAÇÃO

4.1.2 A informação e a leitura de imagens

Foi esculpindo nas cavernas que o homem começou a manifestar seu desejo de perpetuar a sua história, informar sobre os acontecimentos do seu cotidiano, comunicar. Graças aos rabiscos em rochas, foi possível o conhecimento sobre aquele momento histórico e sua evolução. A partir de um olhar crítico, atento às suas necessidades, do olhar multi-sensível, o homem, nessa primeira etapa de desenvolvimento cultural, fazia da Arte um reflexo da sua vida social e produzia um certo tipo de informação, que era, essencialmente, a experiência de sua realidade.

Nas regiões mais frias, uma caverna, protegida por uma fogueira na entrada, era um abrigo perfeito para os grupos e tribos. A vida durava mais e havia mais tempo para a observação e o acúmulo de conhecimento. Com o desenvolvimento da fala, o convívio e a troca de experiências ganhavam uma nova dimensão. Ouve-se e conta-se histórias: há um aprendizado a partir da palavra, da observação, da troca de impressões. A terra endurecida em volta do fogo surge a cerâmica; rabiscos no chão, traçando estratégias de caça, se transformam em desenhos. Fazendo a ligação entre mão – que amassa, desenha, esculpe e caça – e o olho – que observa e absorve (COELHO, 1998, p. 33).

Em princípio, esta foi a melhor forma de manifestação do conhecimento que o homem encontrou para expressar a sua visão de mundo, por meio de imagens, de desenhos. São várias as formas de manifestar e propagar o conhecimento e a imagem continua sendo a mais usual, no entanto, aperfeiçoada. Ela ganha espaço nas paredes das salas de estar, outdoors das grandes avenidas, nos painéis luminosos, nos livros, jornais, revistas, televisões, jogos eletrônicos, computadores e muitos outros lugares.

É no século XX que a imagem ganha destaque e muitos o consideram como o século da imagem, quando a informação imagética tramita levando idéias, acontecimentos, fatos reais e imaginários, registrando o mundo de forma dinâmica. A mídia passa a usar amplamente a imagem como potencial persuasivo, aprimora produção de comerciais e propagandas, abusa de recursos como cores, luzes, sombras, sobreposições, movimento, sons, etc.: tudo para atingir de forma mais eficiente um maior número de espectadores. Nada foi mais visível do que a revolução que a Internet nos trouxe: veloz, simultânea, antitemporal e antilinear em comunicar por imagens.

[...] cada vez mais a existência cultural do homem contemporâneo situa-se no plano da comunicação visual por imagens. Psicólogos, antropólogos, epistomologistas e educadores são unânimes em afirmar que a maioria absoluta das informações que o homem moderno recebe, direta ou indiretamente, lhe vem pelas imagens (ALMEIDA JUNIOR, 1997, p. 14).

É nessa revolução eletrônica que se observa a imagem como ampliação do universo da informação e do conhecimento. A imagem, antes paisagem a ser contemplada, agora pode ser manipulada e oferecida tal como um texto para ser lido, decifrado, interpretado pelo espectador. Torna-se informação.

Entretanto, como definir a informação? Conforme Le Coadic (1996, p. 5):

A informação comporta um elemento de sentido. É um significado transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacial-temporal: impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc. Essa inscrição é feita graças a um sistema de signos (linguagem), signo este que é elemento da linguagem que associa um significante a um significado: signo alfabético, palavra, sinal de pontuação.

Portanto, pode-se considerar informação tudo o que nos faz sentir: um odor, um sabor, um som, uma imagem – desde que se tenha consciência deste sentido. A informação por si mesma não é dotada de valor; sua relevância depende de sua inclusão num sistema de produção de conhecimento e, ainda, é muito relacionada ao seu uso social, como um instrumento – e nenhum instrumento vale por si só, mas pela utilidade que dele se faz.

[...] a qualificação da informação pela etimologia da palavra a associa objetivamente ao coletivo. Verifica-se, por essa via, que a sua importância encontra-se relacionada ao fato de a mesma promover modos de organização social que vão além de noções espaciais e territoriais: a agregação dos indivíduos, assim como a segregação entre eles, faz-se pela informação, sua circulação, distribuição e consumo (KOBASHI, SMIT, TÁLAMO, 2001).

Kobashi, Smit, Tálamo (2001) ponderam que a informação está associada não só aos seus produtos, mas também ao modo de funcionamento de sua produção (processo e produto).

Sobre a cognição na apreensão da informação, Varela (2006, p. 17) esclarece que compreender a informação não é apenas um ato cognitivo, mas, sobretudo, um ato social em que estão envolvidos ao menos dois sujeitos: o emissor e o receptor. Varela complementa que se faz necessário considerar a informação uma estrutura ou uma totalidade relativa, verificando a sua funcionalidade:

[...] refletir sobre o conhecimento e acompanhar os processos cognitivos são passos que levam à formação de um receptor que percebe e forma relações com um texto maior, que descobre e infere informações e significados mediante estratégias cada vez mais flexíveis e originais. Isto não quer dizer que compreender informações seja apenas um ato cognitivo; compreender informações é também um ato social em que interagem ao menos dois sujeitos: o emissor e o receptor (VARELA, 2006, p. 17).

Analisando a informação no contexto das práticas sociais, Araújo (2000) observa que os sujeitos constroem as práticas informacionais; ações de recepção, geração e transferência de informação. A informação é imprescindível na conscientização crítica da realidade “pois é através do intercâmbio informacional que os sujeitos sociais se comunicam e tomam conhecimento de seus direitos e deveres e, a partir daí, tomam decisões sobre suas vidas, seja em nível individual ou coletivo” (ARAÚJO, 2000, p. 1).

Para Le Coadic (1996, p. 10), as ciências são produtoras e utilizadoras de conhecimento científicos e técnicos, sendo que a Ciência da Informação tem por objeto o estudo das propriedades gerais da informação (natureza, gênese, efeitos), mais precisamente os processos – construção, comunicação e uso – que se sucedem e se alimentam reciprocamente.

Modelo social

Figura 1: O ciclo da informação Fonte: Le Coadic (1996, p. 11).

A respeito da construção da informação, é consenso que a produção de informação tem tido um crescimento exorbitante. Em especial, na literatura científica, Le Coadic (1996, p. 28) estimou que tudo acontecesse como se a densidade da Ciência em nossa cultura quadruplicasse a cada geração e dobrasse a cada 15 anos. O autor esclarece que as características do crescimento do conhecimento e da informação giram em torno da ampliação dos setores onde se exerce esse conhecimento, no movimento de síntese e de um profundo desejo de unidade e no aparecimento de novos produtos, processos, atividades e empresas. Portanto, a prática da construção da informação consiste na compreensão do código utilizado e recepção.

CONSTRUÇÃO

COMUNICAÇÃO

O papel da comunicação da informação consiste em assegurar a troca, a difusão e a promoção de informações junto à sociedade. A comunicação está relacionada ao movimento que carrega a matéria informação e a disponibiliza.

A respeito do uso da informação, Le Coadic (1996, p.39) conclui que “usar informação é trabalhar com a matéria informação para obter um efeito que satisfaça a uma necessidade de informação”. Trata-se de empregar o produto informação para obter a satisfação de uma necessidade, oriunda da vida social, exigência de saber, de comunicação, etc., e que esse objeto subsista, modifique, desapareça ou seja consumido.

A imagem como informação também passa, necessariamente, por esses três processos: construção, uso e comunicação. O homem, desde os primeiros registros na história, utilizou estes processos para representar o cotidiano. O que se aperfeiçoou foi a ferramenta nos processos, a forma como é utilizada e a forma de propagar a imagem-informação. No princípio, para construir, tinha-se um toco de carvão; atualmente, usam-se os mais variados objetos, desde o lápis, a caneta, o pincel, etc., até as mais modernas tecnologias, em especial o computador. O uso e a comunicação da imagem são cada vez mais diversificados e modernizados, estão na propaganda, na Arte, na Educação, enfim, na Ciência. A comunicação também passa pelas novas tecnologias; a imagem digital e a Internet detêm a maior contribuição nesta tarefa.

Assim, mais do que nunca, devido à evolução do homem na construção, uso e comunicação, a cognição das informações faz-se, quase que necessariamente, pelo visual. A imagem instiga a nossa capacidade de imaginar, criar e decodificar a informação do mundo à nossa volta, daí sua importância como construtora do saber. Ao representar o mundo em seus mais diversos suportes, as imagens exercem o papel de mediadoras entre o homem e o mundo.