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4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO DA IMAGEM COMO INFORMAÇÃO

4.1.4 Semiótica

A investigação semiótica abarca todas as áreas do conhecimento ligadas às linguagens ou sistemas de significação, tais como a Lingüística (linguagem verbal), as Artes (linguagem estética), a Matemática (linguagem dos números), a Psicologia (linguagem do pensamento), a Biologia (linguagem da vida), o Direito (linguagem das leis), entre outras. Sua principal utilidade está na possibilidade de descrever e analisar a dimensão representativa (estruturação sígnica) de objetos, processos ou fenômenos em categorias ou classes organizadas.

A Semiótica vem do grego semeiotiké e significa arte dos sinais, sintomas. É a ciência dos signos e da semiose, do processo de significação na natureza, na linguagem e na cultura. Desde o seu surgimento se preocupa em indagar como um texto, independente da linguagem que o veicule, constrói um sentido.

A faculdade da linguagem é inerente ao ser humano; ele já nasce com ela. As relações com o mundo, com o outro ou consigo mesmo se dão pela mediação da linguagem. A Semiótica estuda essa mediação, que pode ser considerada de representações ou apresentações do mundo.

A Semiótica conduz à compreensão do movimento interno das mensagens, à produção de sentidos baseadas nas relações entre os signos; possibilita entender os procedimentos e recursos empregados nas palavras, imagens, diagramas, sons, gestos, nas relações entre eles, permitindo a análise e uso das mensagens. Considerada a ciência dos signos, ela estuda todos eles, como se relacionam e a cultura onde estes signos existem.

Portanto, o processo de leitura, em qualquer suporte, é, por natureza, semiótico. A semiose caracteriza-se como um sistema interpretativo, que se define pela passagem contínua de signo a signo. A leitura desenvolve-se a partir de experiências e interpretações de signos anteriores, está sempre em processo de construção e dependente de novos signos para seu aperfeiçoamento. Por meio de hipóteses, selecionam-se algumas qualidades e propriedades de um signo que são mais relevantes, pela experiência ou necessidade e, a partir delas, faz-se generalizações e segmentações, adicionam-se novas características, reorganizam-se ou rejeitam- se os modelos anteriores.

A Semiótica é uma das mais jovens ciências a surgir no domínio das chamadas Ciências Humanas. Surgiu, simultaneamente, em três lugares diferentes: nos EUA, com Charles Sanders Peirce (1839-1914); na União Soviética, com os filólogos N. Viesselovski e A. Potiebniá; e na Europa Ocidental, com o lingüista Ferdinand Saussure (1857-1913). Contudo, Peirce e Saussure são os nomes mais associados à Semiótica, Peirce com uma forte tonalidade filosófica, enquanto Saussure aborda mais a Lingüística e usa o termo semiologia.

A Semiótica é uma ciência de grande amplitude e variedade teórica e prática. Percebe-se um merecido esforço em formalizar, completar e desenvolver suas teorias e aplicações, destacando-se estudiosos como Roland Barthes, Umberto Eco e Maria Lúcia Santaella, sendo esta última o destaque nacional.

Santaella (1983, p. 13) traz esta definição: “a semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e de sentido”. Ela adverte que o campo de abrangência da Semiótica é vasto, mas não indefinido. O que se busca descrever e analisar nos fenômenos é a sua constituição como linguagem, ou seja, descrever a ação de todos os tipos de signos em cada área do conhecimento. Embora a Semiótica esteja presente e intricada nas mais variadas ciências, desde a Culinária até a Psicanálise, na Meteorologia como também na Anatomia, na Ciência Política e até na Música, ela não vem para roubar ou pilhar o campo do saber e da investigação específica de outras ciências, mas fornecer a elas fundamentações lógicas nas suas elaborações como linguagem que são.

Santaella (1983) preocupa-se, também em alertar sobre a distinção entre as duas linguagens em crescimento desde o século XX: a Lingüística, ciência da linguagem verbal, e a Semiótica, ciência de toda e qualquer linguagem.

Contudo, analisando a Semiótica com relação à análise da imagem parada, Penn (2002, p. 322) realça a diferença entre a linguagem verbal e a linguagem imagética: “tanto na linguagem escrita como na falada, os signos aparecerem seqüencialmente. Nas imagens, contudo, os signos estão presentes simultaneamente. Suas relações sintagmáticas são espaciais e não temporais”.

Penn (2002, p. 322-325) aponta uma segunda distinção entre linguagem verbal e imagética. Está relacionada à distinção entre o arbitrário e o motivado. Uma das formas de analisar a questão da motivação está entre os diferentes desníveis de significação que podem ser denotativo e conotativo. A imagem pode ser portadora de várias mensagens simultaneamente. A denotativa, ou primeiro nível, é literal ou motivada, o leitor necessita apenas de conhecimentos lingüísticos e antropológicos. A conotativa, ou de segundo nível, é codificada, requer do leitor um determinado saber cultural. A partir dessas concepções, Penn (2002, p. 325) estabelece a ocupação do semiólogo na leitura da imagem:

A tarefa do semiólogo é desmistificar, ou “desmascarar” esse processo de naturalização, chamando a atenção para a natureza construída da imagem, por exemplo, identificando os conhecimentos culturais que estão implicitamente referidos pela imagem ou contrastando os signos escolhidos com outros elementos de seus conjuntos paradigmáticos.

Portanto, o semiólogo usa os conhecimentos da Semiótica para a interpretação das mensagens obtidas na produção de sentidos resultantes das relações entre os signos. Assim, objetiva tornar explícitos os conhecimentos culturais necessários para que o leitor compreenda a imagem. Nesse processo, há que se considerar a importância do modelo semiótico estabelecido por Peirce (2000) no auxílio ao semiólogo na análise e leitura de imagens.