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A NECESSIDADE DA REVISÃO DO PACTO FEDERATIVO

Por que a revisão do pacto federativo é importante? Simplesmente porque o pacto federativo é responsável pela divisão dos impostos que são arrecadados pelo país,125 além de

prever as atribuições constitucionais de cada ente público. Acontece que como vem ocorrendo atualmente a União tem-se demonstrado uma máquina inchada e centralizadora fazendo das administrações estaduais e principalmente municipais meras gestoras de programas federais.126

O próprio Presidente da República Michel Temer logo que assumiu a interinidade no comando do país em maio de 2016 afirmou que há um desequilíbrio entre tributos que vão para a União e o que é recebido por Estados e Municípios, devendo encontrar soluções para recompor o pacto federativo para que se obtenha uma verdadeira Federação no Brasil.127

Segundo interlocutores, o Presidente da República defende a descentralização administrativa com a consequente redistribuição da arrecadação para fortalecer as gestões municipais.128

125 CADAMINUTO. Michel Temer: rever a revisão do pacto federativo não seja só uma promessa.

Disponível em: <http://www.cadaminuto.com.br/blog/blog-do-vilar/287005/2016/05/16/michel-temer-que-a- revisao-do-pacto-federativo-nao-seja-so-uma-promessa>. Acesso em: 27 nov. 2016.

126 Ibid.

127 FOLHA DE SÃO PAULO. Temer diz que não vai "fazer milagres" e promete novo pacto federativo.

Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1771026-temer-diz-que-nao-vai-fazer-milagres-e- promete-novo-pacto-federativo.shtml>. Acesso em: 02 dez. 2016.

128 JORNAL ESTADÃO. Por apoio à reeleição à presidência do PMDB, Temer deve defender mudança no pacto federativo. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,por-apoio-a-reeleicao-a-

presidencia-do-pmdb--temer-deve-defender-mudanca-no-pacto-federativo,10000006444>. Acesso em: 05 dez. 2016.

Admitiu que, no modelo atual, a União fica com a maior parte da arrecadação tributária e entrega parcos recursos para os Estados e Municípios.129

É notória a romaria de prefeitos para Brasília que acontece ano após ano, com o objetivo de buscar aprovação de liberação de recursos para as suas cidades. Isso é uma consequência do poder centralizador da União, no qual faz com que prefeitos tenham que se submeter ao frequente auxílio financeiro do ente central para investimentos municipais.

Esse modelo federativo sempre foi uma reclamação dos prefeitos, contudo sempre se mostraram tímidos quando reclamavam pelo medo de represálias do poder central.130

Contudo, a partir de 2015 começou a de fato haver uma união entre prefeitos e governadores, a fim de rever o pacto federativo. Em junho de 2015 integrantes da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) foram ao Congresso Nacional defender a revisão do pacto federativo na busca da mudança do modelo atual, o qual concentra a arrecadação tributária na União, em detrimento dos demais entes federados, em especial dos Municípios.131

Também em dezembro de 2015 prefeitos e governadores apresentaram queixas no Senado Federal sobre como é realizado o federalismo, criticando a União na retenção da maior parte dos impostos recolhidos, além do recebimento de novos encargos sem o devido repasse financeiro correspondente.132

A Senadora Ana Amélia do Estado do Rio Grande do Sul, uma das principais defensoras da revisão do pacto federativo, ressaltou, em maio de 2016, que está ocorrendo uma crise federativa sem precedentes, uma desarmonia entre a União, Estados e Municípios e que isso não é consequência de uma má administração de seus governantes, mas sim da estrutura federativa que precisa ser revista.133 Segundo ela, existe uma dependência dos

Estados e Municípios em relação ao poder central, devendo haver, por consequência, um compartilhamento mais solidário da arrecadação tributária entre os entes federativos.134

Ainda, segundo essa senadora, essa situação não pode continuar do jeito que está, sob pena de se ter uma Federação absolutamente fragilizada e até mesmo violentada no seu

129 JORNAL OPÇÃO. Thiago Peixoto diz que, se assumir a Presidência, Michel Temer quer mudar o pacto federativo. Disponível em: <http://www.jornalopcao.com.br/bastidores/thiago-peixoto-diz-que-se-assumir-

presidencia-michel-temer-quer-mudar-o-pacto-federativo-63919/>. Acesso em: 10 dez. 2016.

130 CADAMINUTO. Michel Temer... op. cit.

131 FNP - FRENTE NACIONAL DE PREFEITOS, op. cit.

132 BRASIL. Senado Federal. Governadores e prefeitos pediram novo pacto federativo. Disponível em:

<http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/12/28/governadores-e-prefeitos-pediram-novo-pacto- federativo>. Acesso em: 14 dez. 2016.

133 CONGRESSO EM FOCO, op. cit. 134Ibid.

espírito de convivência fraterna entre os integrantes da organização político-administrativa da República Federativa do Brasil.135

Ressalta-se que Estados-membros como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais e cerca de ao menos 62 Municípios já decretaram estado de calamidade financeira entre 2016 e 2017, haja vista não conseguirem arcar com as despesas públicas devido ao endividamento crescente.136

Assim, da supremacia e imposição da União frente aos demais entes federados, do poder concentrado e da necessidade de descentralização, entende-se que há uma necessidade de desconcentração do poder da União, pois o Brasil necessita de um maior controle de seus governantes e que seus entes detenham maior autonomia para gerência de sua população, principalmente no que diz respeito aos Municípios.137

Logo, destaca-se que mesmo que uma "eventual reformulação da divisão de competências acarretasse um fortalecimento dos Estados em detrimento da União, com a devida proporcionalidade nas adaptações das atribuições, não haveria de se falar em extinção do federalismo, mas apenas o desenvolvimento de um novo modelo federalista,"138 até porque

tal modelo é cláusula pétrea constitucional, sendo, portanto, imutável, conforme artigo 60, §4º, I, da Constituição Federal.139

Ademais, um dos principais problemas que margeiam a repartição de competências e de receitas tributárias está nos encargos aos entes periféricos sem o devido repasse financeiro adequado ou sem um devido auxílio constitucional. Nesse sentido, como, por exemplo, a saúde que apesar de ser competência comum entre os entes, conforme artigo 23, inciso II da Constituição Federal, incumbindo ao Município em prestar serviços de atendimento à saúde da população com a cooperação técnica da União e dos Estados; verifica-se que a União não coopera como deveria com recursos financeiros e, consequentemente, os Municípios não conseguem prestar devidamente esse encargo tão importante para a sociedade brasileira. O Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Federal Rodrigo Maia, admitiu durante a 20ª Marcha dos Prefeitos em maio de 2017 que desde a aprovação da Constituição de 1988, há

135 BRASIL. Senado Federal. Estados e municípios aumentam a pressão para mudar termos dos contratos dos quase R$ 500 bilhões em dívidas que têm com a União. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/contas-publicas/contexto/estados-e-municipios- aumentam-a-pressao-para-mudar-os-termos-dos-contratos-dos-quase-r-500-bilhoes-em-dividas-que-tem-com-a- uniao.aspx>. Acesso em: 15 jan. 2017.

136 JORNAL ESTADÃO. Desde o ano passado, 62 municípios decretaram calamidade financeira.

Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,desde-o-ano-passado-62-municipios-decretaram- calamidade-financeira,10000100510> Acesso em: 19 jan. 2017.

137 PRESTES, op. cit. 138 SEVERIN, op. cit.

uma situação permanente de concentração de renda da União em prejuízo dos Municípios.140

Relatou que a prestação dos serviços acabou sendo concentrada nos municípios e acabou gerando boa parte da crise que se vivencia atualmente, com descontrole fiscal.141

Consequentemente o modelo presente no federalismo brasileiro faz com que os governos locais dependam fortemente das transferências de recursos para prestar os serviços médicos assistenciais à população.142 "Roberta Camineiro Baggio, citando Celina Souza e

Inaiá Carvalho, assevera que a Constituição Federal manteve o monopólio legislativo concentrado na esfera federal e este fato, é um dos paradoxos do federalismo brasileiro e o distingue das demais federações."143

Referido paradoxo pode ser analisado, por exemplo, comparando certas matérias constantes do artigo 22 ao estabelecer como competência privativa da União legislar sobre diversos temas, os quais poderiam ser certamente competência concorrente entre os entes federativos.

O próprio Presidente da República Michel Temer durante a 20ª Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios em maio de 2017 ressaltou a importância de fortalecer os Estados e os Municípios, declarando que para a União ser forte é preciso, em primeiro lugar, que os Municípios sejam fortalecidos, pois se os Municípios e os Estados não forem fortes a União forte não será.144 Ponderou ainda o Presidente da República que a história da formação do

Estado Brasileiro levou a uma "vocação centralizadora extraordinária", cuja perspectiva é de que tudo deve ser feito pela União.145 Disse que a ordem jurídica nacional acaba conduzindo

os tributos e os recursos para a União, tendo, por conseguinte, uma Federação formal no país por que está escrito na Constituição, mas que não há uma Federação real, que é aquilo que se passa no dia a dia do Estado brasileiro.146

Assim, o que se deseja com um novo pacto federativo é um maior equilíbrio na distribuição do poder em nível central como regional através do princípio da subsidiariedade, o qual visa dar poder o mais próximo possível aos cidadãos, visando o maior controle do poder estatal pela população e ainda a possibilidade da verificação de quais poderes poderiam

140 VALOR ECONÔMICO. Temer assina MP para parcelamento de dívidas de municípios com o INSS.

Disponível em: < http://www.valor.com.br/politica/4969944/temer-assina-mp-para-parcelamento-de-dividas-de- municipios-com-o-inss> Acesso em: 16 maio 2017.

141 Ibid.

142 MOMO, op. cit. 143 Ibid.

144 VALOR ECONÔMICO, op. cit. 145 Ibid.

ser delegados aos Estados-membros.147 Por consequência almeja-se que o novo pacto

federativo seja mais descentralizador propiciando uma maior aproximação entre representantes e representados, acarretando o controle dos cidadãos sobre seus representantes eleitos e também aumentando a participação popular nas decisões político-administrativas,148

uma vez que a centralização como está ocorrendo atualmente, que é contrária ao federalismo, retarda decisões e distancia os cidadãos daqueles que têm o poder de decisão e a elaboração e implantação de políticas públicas de seu interesse.149

3.2 RENEGOCIAÇÃO DAS DÍVIDAS E A PROIBIÇÃO DE NOVOS ENCARGOS SEM A