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A necessidade de uma rede integrada de relações (Paradigma

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Subcapítulo 1 – Tecendo reflexões sobre os paradigmas Cartesiano,

1.2 A necessidade de uma rede integrada de relações (Paradigma

Ao mesmo tempo em que a Biologia molecular alcançou um relativo triunfo a despeito do “fracionamento” do DNA e das suas consecutivas implicações “na área de genética, medicina e fisiologia celular e em outros campos”, também evidenciou a necessidade de uma Biologia “organísmica”7

, ou seja, de ocupar-se dos demais níveis de organização da matéria viva (BERTALANFFY, 2012, p.24). Isto porque, “o princípio de separação nos torna mais lúcidos quanto as pequenas partes separadas do seu contexto, ‘mas, ele nos’ torna cegos ou míopes sobre a relação entre a parte e o seu contexto” (MORIN, 2003, p.8).

A introdução da ideia de uma “teoria geral dos sistemas” foi proposta por Bertalanffy (1937), quando este se dispõe a investigar a controvérsia entre o mecanicismo e o vitalismo. O mecanicismo empenhava-se em compreender o “organismo vivo em partes e processos parciais”. Para ele, “o organismo era um agregado de células, a célula um conjunto de colóides e moléculas orgânicas, o comportamento uma soma de reflexos incondicionados e condicionados e assim por diante [...]”; contudo, os mecanismos de regulação

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Pensamento que compreende os organismos como seres dotados de auto-organização (BERTALANFFY, 2012).

da organização destas partes não eram considerados ou explicados, segundo os vitalistas8 (BERTALANFFY, 2012, p.125).

Bertalanffy (2012, p.126) acreditava que o seu pensamento sobre uma “teoria geral dos sistemas” era uma idiossincrasia pessoal e isolada, entretanto, ele observou que muitos cientistas haviam trilhado um caminho semelhante, ou seja, tratava-se de “uma tendência do pensamento moderno”.

Ele enumerou algumas destas tendências – 1, a cibernética, baseada no princípio de retroação e comportamento autorregulador; 2, a teoria da informação (mensuração da informação por meio de uma expressão isomórfica da entropia negativa e o estabelecimento de seus princípios de transmissão); 3, a teoria dos jogos (competição entre dois ou mais antagonistas visando ao máximo de ganho e mínima perda); 4, a teoria da decisão (análise de escolhas racionais nas organizações humanas); 5, a topologia ou a matemática relacional e seus campos de natureza não métrica (a teoria das redes e dos gráficos), 6, a análise fatorial (isolamento matemático de fatores onde existem múltiplas variáveis) e 7, a teoria geral dos sistemas (deriva da definição de “sistema” como Complexo de componentes em interação, ou melhor, da interação dos conceitos de soma, mecanização, centralização, competição, finalidade etc., característicos das totalidades organizadas) (BERTALANFFY, 2012).

O autor utiliza o termo “sistemas” como sinônimo de “complexidade organizada” e afirma que os “problemas da complexidade organizada, isto é a interação de um número grande, mas não infinito, de varáveis brotam por todo lado e exigem novos instrumentos conceituais” (BERTALANFFY, 2012, p.130). Contudo, perpetuou-se a compreensão de Sistêmico como uma contraposição excludente, ou seja, uma substituição do pensamento Cartesiano e, não como uma oposição complementar (Complexo).

Um grande disseminador do pensamento Sistêmico é Fritjof Capra, autor de uma vasta literatura sobre o tema. Para Capra, o pensar Sistêmico deriva de

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Vitalismo – 1. Doutrina que considera que existe em cada indivíduo, como ser vivo, um

princípio vital, que não se reduz nem à alma ou à mente, nem ao corpo físico, mas que gera a vida através de uma energia própria. 2. Na epistemologia contemporânea, é uma concepção que defende a especificidade dos fenômenos vitais, argumentando contra o materialismo e o mecanicismo que a dimensão físico-química “não é capaz de agrupar, de harmonizar os fenômenos na ordem e na sucessão relativas especialmente aos seres vivos. Claud Bernard” (JAPIASSÚ e MARCONDES, 2008, p.189).

uma série de mudanças de pontos de vista – das partes para o todo, dos objetos para as relações, do conhecimento objetivo para o contextualizado, da quantidade para a qualidade, da estrutura para o processo, dos conteúdos para os padrões (CAPRA, 2006).

Em uma visão Sistêmica, o mundo é compreendido em termos de ligação e de integração, enfatizando os princípios básicos de organização. Isto porque os sistemas vivos têm a tendência para formar estruturas de múltiplos e diferentes níveis que diferem em sua Complexidade. Tais níveis possuem sistemas integrados e auto-organizadores (CAPRA, 2006). Sendo assim,

as moléculas combinam-se para formar as organelas, as quais, por seu turno para formar as células. Células formam tecidos e órgãos, os quais formam sistemas maiores, como o aparelho digestivo ou o sistema nervoso. Estes, finalmente, combinam-se para formar a mulher ou o homem vivos; e a “ordem estratificada” [...]. As pessoas formam famílias, tribos, sociedades, nações [...] (CAPRA, 2006, p.40).

Não podemos esquecer que tais sistemas são abertos e interagem com o ambiente em que estão inseridos (BERTALLANFFY, 2012), resultando em retroalimentações (arranjos circulares positivos ou negativos de elementos ligados por vínculos causais, nos quais cada elemento tem efeito sobre o seguinte e o último elemento), criando autorregulações regenerativas positivas ou negativas (UHLMANN, 2002; CAPRA, 2006).

Na esfera da educação, uma perspectiva Sistêmica deverá transcender as fronteiras disciplinares e conceituais e, portanto, há a necessidade de uma “formulação gradual de uma rede de conceitos e modelos interligados [...]” em múltiplos níveis de realidade (CAPRA, 2006, p.259).

Nesta direção, várias pesquisas de natureza Sistêmica e Sistêmico- Complexa foram empreendidas pelo grupo de pesquisa Biologia Sistêmico- Complexa9 [Sá (2017), Andrade-Monteiro, (2016), Brayner-Lopes (2015), Souza (2015), Macêdo (2014), Silva (2011), Medeiros (2011), Pereira (2008) dentre outras], no âmbito do programa de Pós-Graduação em Ensino das Ciências/UFRPE, com o intuito de possibilitar uma construção conceitual

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Grupo de pesquisa vinculado ao grupo Formação de Professores da Universidade Federal

Rural de Pernambuco (http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/18449). Teve início em 2009 e

encontra-se em plena atividade até o momento. Tem por objetivo discutir e investigar processos de ensino-aprendizagem voltados para a construção de conceitos biológicos.

Participam do grupo – professores e estudantes da graduação e da pós-graduação das

Universidades Federais de Pernambuco (UFRPE e UFPE) e da Universidade Estadual de Pernambuco (UPE).

articulada de significados biológicos. Uma vez que, os trabalhos do grupo caminham para trazer voz e vez à rede integrada de relações entre as diferentes áreas da Biologia (Sistêmico) e, agora se encaminha para o estudo e inserção do paradigma da Complexo.

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