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Postagens no Facebook e respostas via e-mail durante a formação

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SUBCAPÍTULO 1 – Sistematização das vivências, vivências, pré e pós-

1.1 Pré-vivências – análise dos audiovisuais

3.2.2 Postagens no Facebook e respostas via e-mail durante a formação

Inicialmente, solicitou-se que os participantes assistissem ao audiovisual Super Size Me, em seguida, mediante a pergunta orientadora: Quais as relações bio-sócio-histórico-culturais estão no filme entre humano-ambiente- teia alimentar? Requereu-se que realizassem uma nova leitura respondendo a este questionamento.

Neste momento, foram postadas quatro mensagens no grupo secreto do Facebook e duas respostas foram encaminhadas via e-mail. A maioria (seis postagens/respostas) centrou no macrodiscurso, ou seja, na interpretação de sua textualidade como um todo. Do ponto de vista semiótico peirceano, estas interpretações, quanto à internalização dos signos, variaram entre os níveis de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade e é possível observar tais transições nas respostas/postagens dos diferentes participantes/colaboradores, como também esse transitar se faz presente na construção do mesmo participante como ator da comunicação. Tais transições podem se apresentar sobrepostas umas às outras, não ordenadas ou de maneira sequencial. Apresentamos um recorte da leitura da participante/colaboradora Jasmim dos poetas para exemplificar a identificação das categorias (Quad. 16).

Quadro 16. Correlação entre as categorias (Primeiridade, Secundidade e Terceiridade) e suas respectivas unidades de discurso.

Categoria Unidades do discurso ID

Primeiridade Após a abertura de um processo, por duas jovens obesas, contra a

McDonald’s, um homem decidiu se submeter a um experimento e passar 1 mês comendo apenas o que era vendido nessa franquia. Inicialmente, ele realizou exames médicos com um cardiologista, um clínico geral e uma gastroenterologista. [...].

Ja

smim

do

s po

etas

Secundidade Lembro que na casa da minha avó (atualmente com 95 anos) o café

era moído na hora, a água era de cacimba, fervida e posta em filtros de barro e não de plástico. O sal era pilado. A manteiga e o queijo feito em casa. Não se usava margarina. Tudo era armazenado em potes de vidro ou latas de metal. Várias panelas eram de barro, poucas de alumínio. As frutas eram as da época, em geral colhidas no pé ou compradas na feira e o moço que carregava o balaio levava na porta, não existiam sacolas plásticas [...]

Terceiridade Definitivamente não fomos feitos para esse tipo de alimentação! A evolução do homem retrata um grupo de coletores e rapinadores e, posteriormente, de caçadores e agricultores. Passávamos o dia inteiro andando para encontrar comida ou plantando e colhendo. Assim, em época de escassez, aqueles que conseguiam manter-se com o mínimo de calorias necessárias foram os que deixaram descendentes. Então sejamos gratos aos gordos. Eles forneceram os genes que na época mantiveram nossa sobrevivência como espécie. No entanto, hoje, com

os supermercados, as comidas prontas, o micro-ondas, a geladeira e a

internet, a maioria da população tem a comida à disposição sempre

que “precisa”, o que pode contribuir para a menor movimentação e gasto calórico, o que pode favorecer a síndrome metabólica e suas consequências [...].

Legenda. ID- Identificação.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das respostas/postagens dos professores.

Inserimos a primeira parte da resposta “Após a abertura de um processo, por duas jovens obesas, contra a McDonald’s [...]”, descrever o conteúdo do audiovisual, sem reflexão explícita, como pertencente ao nível de Primeiridade, pelo fato de ser uma descrição das informações contidas no texto em questão. É preciso deixar claro que identificar o nível de Primeiridade não é tão fácil, isto porque ele se caracteriza pelo sentir, pela apreensão dos elementos qualitativos (cor, enquadramento, dentre outros) sem que haja o estabelecimento com conexões cognitivas ou reflexões. Mas, como seria possível afirmar que os participantes/colaboradores, no momento em que assistem ao audiovisual, não estejam realizando conexões cognitivas e reflexões sobre os conteúdos? Elas acontecem mesmo que não sejam explícitas e/ou materializadas em suas respostas?

No nível de Secundidade, inicia-se uma interação entre os elementos do texto, elementos de sua realidade e conexões cognitivas já pré-existentes em relação ao conteúdo. No trecho selecionado, a participante/colaboradora Jasmim dos poetas recorre a lembranças de sua infância para construir o seu raciocínio: “Lembro que na casa da minha avó (atualmente com 95 anos) o café era moído na hora, a água era de cacimba, fervida e posta em filtros de barro e não de plástico. [...]”. Neste momento ela estabelece uma comparação entre o modo em que a sua avó obtinha o alimento e a atual, observamos também aspectos afetivos.

A Terceiridade compreende uma síntese articulada entre os níveis de Primeiridade e Secundidade, suscitando reflexões e a construção de argumentos. “Definitivamente não fomos feitos para esse tipo de alimentação! [...]”. A participante constrói o seu argumento baseando-se na articulação entre o fator extrínseco (modo de vida nômade), onde os hominídeos percorriam longas distâncias para coletar e caçar o seu alimento, encaminhando-se para o modo sedentário (colheita) e o fator intrínseco (gene, hereditariedade) que

garantiam a reserva mínima de calorias necessárias para a manutenção da vida em momentos de adversidade como o período de escassez.

Nas respostas/postagens dos demais participantes/colaboradores não foi possível identificar o nível de Primeiridade. Sendo recorrentes, nessa mesma resposta, os níveis de Secundidade e Terceiridade. Como exemplo, apresentamos trazemos a postagem da participante Beija-flor (Quad. 17).

Quadro 17. Correlação entre as categorias (Primeiridade, Secundidade e Terceiridade) e suas respectivas unidades de discurso.

Categoria Unidades do discurso ID

Secundidade A partir da chegada da McDonald’s no Brasil, no final dos anos 70 e

expansão dos anos, como uma rede de fast food.

Beija

-f

lor

Terceiridade [...] propaganda na mídia, houve um estímulo aos alimentos hipercalóricos, que certamente, são mais atraentes que os alimentos menos calóricos e mais saudáveis como as frutas, legumes, sucos e outros, alimentos balanceados quanto à necessidade orgânica. Essa expansão levou, consequentemente, a um aumento de pessoas obesas e por tabela o surgimento de algumas patologias. É fato que essas patologias são multifatoriais e a alimentação é um fator agravante, mas não é o único; a hereditariedade, dentre outros fatores, também tem um peso neste processo. [...]

Legenda. ID- Identificação.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das respostas/postagens dos professores.

Do ponto de vista conceitual, estabelecemos três categorias principais (1, Biológica, 2, Sócio-histórico-cultural e 3, Bio-sócio-histórico-cultural), de acordo com a ênfase dada pelos participantes e, após várias leituras das postagens/respostas foram identificadas cinco subcategorias para a categoria Sócio-histórico-cultural (Quad. 18), sete para a categoria Biológica (Quad. 19) e cinco subcategorias para a categoria Bio-sócio-histórico-cultural (Quad. 20).

Quadro 18. Subcategorias relacionadas à categoria Sócio-histórico-cultural.

Cat ego ria S ó c io -h istó rico - cult u ral

Subcategorias Unidades do discurso ID

Poder da mídia/ Marketing

O documentário nos leva refletir a cerca do poder da mídia sobre a sociedade, bem como sobre a propagação da alimentação do tipo fast food, considerando para tal a McDonald’s, uma potência mundial nesse tipo de alimentação, visto que a rede é imensa e continua em expansão [...] Desta forma, tal proposta de uma alimentação fácil e rápida ganhou espaço entre as pessoas, sendo a propaganda a alma do negócio [...] são tantos milhões investidos para trazer estes milhões de volta, que as propagandas da MC acabam funcionando como mantra e as pessoas acabam fixando e comprando a ideia [...]

Ja

smim

do

s po

Facilidade/ disponibilidade/

preço

Em minha percepção, a McDonald’s vai ganhando espaço com seu cardápio pelo fato de trazer fatores interessantes à sociedade: facilidade, disponibilidade, rapidez e preço [...]

Cadeia de produção- consumo

O McDonald’s é uma boa representação dessa cadeia de produção-consumo. É vendida uma marca e o produto é o que menos importa, incluindo a saúde das pessoas. Os nuggets produzidos são feitos à base de carne processada de aves, em confinamento, expostas a hormônios, antibióticos e estresse. Além de tudo são utilizados conservantes e estabilizantes [...].

Variabilidade na preparação de

alimentos

Nossa alimentação passa diretamente pelo local onde nascemos. Pois comemos o que está disponível no local

ou o que nos acostumamos a comer. Mesmo sendo

nordestinos temos nossas variações, por exemplo, para mim mungunzá é um prato salgado, como aprendi com a minha família Potiguar, para os pernambucanos, é um prato doce. Entretanto, com a globalização, os meios de transporte e a internet o cenário da disponibilidade também está se modificando, posso comer maçãs argentinas ao invés de brasileiras [...].

Sociabilidade Com o passar dos anos a comida, que sempre ajudou

na socialização, tomou uma vertente de utilizar e

harmonizar sabores, texturas, trazendo outros

elementos. E dessa forma, se torna uma forma de diferenciar classes sociais [...]. Não assistíamos tanta TV e não existia internet. O mundo lá fora era onde brincávamos. Morávamos em casas, apartamentos eram poucos. O convívio social era maior [...].

Legenda. ID- Identificação.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das respostas/postagens dos professores.

As subcategorias mais frequentes nas postagens/respostas relativas à categoria Sócio-histórico-cultural foram: poder da mídia/marketing (80%); facilidade/disponibilidade/preço (100%). Predominou na resposta da professora Jasmim dos poetas, a categoria Sócio-histórico-cultural e suas subcategorias (Quad. 19).

Quadro 19. Distribuição do número de vezes em que as subcategorias referentes à categoria Sócio-histórico-cultural aparecem nas respostas/postagens dos professores.

Cat ego ria S ó c io - h istó rico -cult u ral Professores Subcategorias Alface Beija- flor Jasmim dos poetas

Pantera Serpente Humano e Bode Poder da mídia/marketing - 2 1 2 1 1 Facilidade/ disponibilidade/ preço 1 1 1 1 1 - Cadeia de produção- consumo - - 1 - - -

Variabilidade na preparação de

alimentos

- - 1 - - -

Sociabilidade - - 2 - - -

Legenda. ID- Identificação.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das respostas/postagens dos professores.

A partir destes resultados podemos inferir que os professores elaboraram as suas postagens/respostas tomando como ideias centrais a influência do marketing e sua disponibilidade/facilidade e preço como responsáveis pelo aumento no consumo de McDonald’s nos Estados Unidos. Esta ideia foi bastante explorada por Morgan durante todo o audiovisual. Porém, a professora Jasmim dos poetas abordou algumas categorias ausentes no texto do audiovisual, tais como: o processo evolutivo do hominídeo e outros que se faziam presente de modo sutil (cadeia de produção, variabilidade no preparo de alimentos e sociabilidade). Além disso, com relação aos elementos variabilidade e sociabilidade, ela fez uma relação direta entre a comida preparada em casa e o fortalecimento das interações familiares.

A maioria das subcategorias biológicas (Quad. 20) reflete fatores de natureza macroscópica (alimentação, patologias e adaptabilidade) sendo duas relacionadas aos tipos de alimentação (hipercalórica e saudável) e uma associando-a a exercícios físicos e alimentação saudável; e, em menor número, as relativas às características de natureza microscópica (hereditariedade e metabolismo).

Quadro 20. Subcategorias relacionadas à categoria Biológica.

Cat ego ria Bioló g ic a

Subcategorias Unidades do discurso ID

Alimentação hipercalórica

[...] uma vez que a alimentação baseada em açúcar, proteína e gordura não pode ser considerada balanceada [...]. P ant er a Alimentação saudável

[...] os alimentos menos calóricos e mais saudáveis como as frutas, legumes, sucos e outros, alimentos

balanceados quanto à necessidade orgânica. Beija

-F

lor

Patologias Em contrapartida, o excesso de fast food, leva a um

sobrepeso e altera na maioria das vezes, o colesterol, a pressão arterial, a glicemia, podendo desencadear

patologias como hipertensão, diabetes, doenças

cardiovasculares, obesidade dentre outros [...]

Hereditariedade [...] A hereditariedade, dentre outros fatores, também

Alimentação e atividade física

Passávamos o dia inteiro andando para encontrar comida ou plantando e colhendo.

Ja smim do s p o etas

Metabolismo O Metabolismo dos lipídeos foi enfatizado, assim como

a consequência de “engordar”. Human

o

Adaptabilidade Ressaltou-se ainda a adaptabilidade do organismo

frente a novas situações.

Legenda. ID- Identificação.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das respostas/postagens dos professores.

Quanto às subcategorias biológicas, a subcategoria patologias se fez presente em todas as postagens/respostas e, em alguns casos (Alface e Beija- flor), aparecendo mais de uma vez em uma mesma postagem/respostas. Ela foi seguida pela subcategoria alimentação hipercalórica/não saudável (50%), (Quad. 21).

Quadro 21. Distribuição do número de vezes em que as subcategorias referentes à categoria Biológica aparecem nas respostas/postagens dos professores.

Cat ego ria Bioló g ic a Professores Subcategorias Alface Beija- flor Jasmim dos poetas

Pantera Serpente Humano e Bode Alimentação hipercalórica/ não saudável 1 1 - 1 - - Alimentação saudável - - - - 1 - Patologias 2 3 1 1 1 1 Hereditariedade 1 Alimentação e atividade física - 1 - - - - Sustentabilidade - - 1 - - - Metabolismo - - - - 2 Adaptabilidade - - - - 1

Legenda. ID- Identificação.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das respostas/postagens dos professores.

Neste momento, inferimos que os professores, a partir dos elementos textuais, de suas reflexões (conhecimento da temática) e de suas articulações a experiências pessoais, compartilham a percepção da relação direta entre o consumo de fast food e o desenvolvimento de patologias.

Incluímos na categoria Bio-sócio-histórico-cultural as unidades do discurso em que não era possível dissociar os aspectos biológicos das

questões de natureza social presentes principalmente nos discursos da professora Jasmim dos poetas e da professora Humano (Quad. 22).

Quadro 22. Correlação entre as subcategorias da categoria Bio-sócio-histórico-cultural e suas unidades do discurso. Cat ego ria Bio -sócio -h istó rico -cult u ra l

Subcategorias Unidades do discurso ID

Processo evolutivo/ mudanças nos hábitos alimentares

A evolução do homem retrata um grupo de coletores e rapinadores e, posteriormente, de caçadores e agricultores. Passávamos o dia inteiro andando para encontrar comida ou plantando e colhendo. [...]

A comida era feita em casa, e restaurante eram destinados a ocasiões muito especiais.

Ja smim do s po etas Concepção histórica da relação da sociedade com a natureza

O tempo era diferente. E possuíamos uma noção de sustentabilidade diferente da atual. Não se admitia desperdício de nada. Hoje tudo é descartável, às vezes até os sentimentos. [...]

Os estadunidenses, assim como nós brasileiros perdemos a oportunidade de aprender com os nativos (índios), que respeitavam profundamente a Terra e agradeciam aos animais e plantas por doarem suas energias para que pudéssemos sobreviver, era uma compreensão profunda de teia ecológica e de que todos fazemos parte da natureza.

Responsabilidade x Adição

Ainda que em 59’00’’ seja exposto que “educação é

solução”, parece haver confusão entre a

responsabilidade individual (escolha consciente do alimento), adição (entendida como compulsão, seja

causada por insulinemia, seja de natureza

psicossocial) e responsabilidade corporativa. O lobby da indústria alimentar é fator importante no marketing do fast food e no enculturamento deste tipo de alimentação. A fácil disponibilidade de “alimentos” baratos, associada a um marketing agressivo, favorecem a ingesta do fast food, que “satisfaz” (devido à predominância de carboidratos digeríveis e gorduras) e é rápida. Paralelo: Compreendo o temaki como uma versão fast food do sushi.

Hu man o e b o d e Estética do corpo corporal

Minha avó achava bonita gente gorda, que ela chamava de forte. Pois gente magra era sinal de escassez, fome e pobreza.

Ja smim do s p o etas

Emocional Hoje tudo é descartável, às vezes até os sentimentos.

Legenda. ID- Identificação.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das respostas/postagens dos professores.

Em relação às subcategorias de natureza Bio-sócio-histórico-cultural, a mais frequente foi processo evolutivo/mudanças de hábito presente em 4 postagens/respostas (67%). Não menos importantes, outras subcategorias se fazem presentes, por exemplo, a emocional e a estética corporal, subcategorias intimamente inter-relacionadas (Quad. 23).

Quadro 23. Distribuição do número de vezes em que as subcategorias referentes à categoria Bio-sócio-histórico-cultural aparecem nas respostas/postagens dos professores.

Cat ego ria Bio -sócio - h istó rico -cult u ral Professores Subcategorias Alface Beija- flor Jasmim dos poetas

Pantera Serpente Humano e Bode Processo evolutivo/ mudanças de hábitos 1 1 1 - 1 - Sustentabilidade - - 1 - - - Responsabilidade x Adição - - - 1 Estética corporal - - 1 - - 1 Emocional - - 1 - 1

Legenda. ID- Identificação.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das respostas/postagens dos professores.

Observamos dois tipos de construções, a primeira, em que as imagens de corpos ideais levam ao sofrimento (construção da professora Humano e Bode) ao escolher e selecionar uma cena em que uma adolescente com sobrepeso descreve o que sente ao ver imagens em revistas, comerciais etc.) e segunda, construída pela professora Jasmim dos poetas, utilizando como referencial a sua avó: “[...] Minha avó achava bonita gente gorda, que ela chamava de forte. Pois gente magra era sinal de escassez, fome e pobreza.[...]”. Tal reflexão aponta para a mudança da imagem de corpo ideal de saúde, resistência e sobrevivência além do modelo atual de corpos (estética em detrimento da saúde, quando do aparecimento de distúrbios alimentares

para atender a expectativa social). Apesar disso, o sobrepeso não significa saúde, assim como toda magreza não significa a sua ausência.

Em outro momento, Jasmim dos poetas acrescenta: “Hoje tudo é descartável, às vezes até os sentimentos”. Para ela fica claro a dissociação que fazemos entre os aspectos emocionais e os racionais, ou melhor, neste trecho há a reflexão de que os sentimentos são julgados como de menor valor e que, portanto, devem ser desprezados.

A leitura realizada em conjunto pela professora Humano e o professor Bode, encaminhada via e-mail, trilhou um caminho diferente das demais leituras, pois eles direcionaram os seus olhares para as crianças, identificadas como principal elemento no texto. Também foi a única leitura que incorporou a análise, prints das cenas selecionadas do audiovisual, de modo a apoiar a sua interpretação (Quad. 24).

Quadro 24. Correlação entre categoria Crianças e unidade do discurso.

Categoria Unidades do discurso ID

Crianças Crianças. Esse foi o elemento crucial do filme, em minha opinião. Desde

a cena inicial (00’35’’- 01’06’’), em que crianças cantam alegremente: Uma Pizza Hut,

uma Pizza Hut,

Kentucky Fried Chicken e uma Pizza Hut, McDonald’s, McDonald’s,

Kentucky Fried Chicken e uma Pizza Hut, Eu gosto de comida, Eu gosto de comida [...] Hu man o e b o d e

As referências ao universo infantil se multiplicam, seja de forma explícita como na cena supracitada e em imagens relacionadas à obesidade infantil:

.

Fonte: Spurlock (2004).

Legenda. ID- Identificação.

Ao todo, foram utilizados 11 prints de cenas. Quatro faziam referência a crianças; duas relacionavam-se a respeito da sobreposição da cor amarela sobre a cor vermelha fazendo alusão à marca; outra apresenta um quadro de possíveis patologias associadas à obesidade; outra faz referência à contraposição responsabilidade e adição (compulsão alimentar) e a última faz alusão às inúmeras marcas de produtos industrializados.

Duas imagens da figura do palhaço chamaram a atenção da dupla; elas representam uma imagem distorcida da figura alegre do palhaço como se existisse uma “perversidade” velada. Além disso, o uso de sombras e da cor vermelha tornou a cena em questão sinistra e sanguinolenta (Secundidade, Quad. 25).

Quadro 25. Cenas representativas de imagens distorcidas do palhaço.

Categoria Unidades do discurso ID

Criança U29 – Em paralelo, bonecos e palhaços são apresentados de forma

distorcida, como que pontuando “perversidade” pressuposta. O uso recorrente do vermelho nas sombras transmite uma perspectiva sanguinolenta e sinistra do que não deveria ser comum no universo infantil:

Fonte: Spurlock (2004). Hu man o e b o d e Fonte: Spurlock (2004).

Legenda. ID- Identificação.

Em análise a priori, também tivemos as mesmas impressões, não só pela presença de sombras, presença da cor preta misturada à cor vermelha e amarela, como também devido às expressões faciais. Neste momento, ao olhar para a figura intitulada the impact, vem à lembrança uma certa semelhança com uma cena do filme O iluminado dirigido por Stanley Kubrick (1980) em que uma criança aparece no corredor (Fig. 51).

Figura 50. Cena do filme O iluminado.

Fonte: http://cinemarcocriticas.blogspot.com/2010/07/o-iluminado.html.

O jogo entre luz e sombra, característico do estilo expressionista (JULLIER; MARIE, 2009), faz-se presente tanto nas pinturas, quanto na cena ilustrada e instaura um “ar sobrenatural” e de ameaça.

Após analisar as imagens relacionadas ao universo infantil, a dupla retorna a uma caracterização do texto como um experimento e suas etapas metodológicas:

Outro aspecto do filme, talvez o mais visível, é o “experimento”, em

que Morgan Spurlock (MS) se submete à dieta exclusiva de fast food do McDonald’s, 3x/dia, por 3º dias. São evidenciados os controles clínicos, laboratoriais e de performance física. [Professora Humano e Professor Bode] (Negrito, professores).

A dupla conclui, então, que o percurso narrativo se desenvolve em uma relação causal direta entre obesidade e distúrbios de metabolismo:

Estabelece-se, ao longo do filme, uma relação causal direta:

CONSUMO FAST FOOD → OBESIDADE → DISTÚRBIOS

METABOLISMO → OUTRAS DOENÇAS. É interessante, no aspecto conceitual específico, considerar que a obesidade “precede” os distúrbios de metabolismo.

1. Referências...

Orgulho e Preconceito (Jane Austen): Os perigos da comida são universalmente conhecidos... 4’02’’

Laranja Mecânica: Comerciais que passam rapidamente 44’00’’

Demoiselles d’Avignon (Picasso).

A sobreposição de recortes de outros textos de figuras humanas do sexo feminino em diferentes poses (Índices, Fig. 52A) fez a participante lembrar-se do quadro Demoiselles d’Avignon (Fig. 52B) (Secundidade). Observamos também, a presença do duplo discurso, pois à medida que a adolescente fala sobre a presença de corpos magros nas revistas, imagens recortadas começam a se sobrepor na cena, reiterando a sua fala. As outras duas

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