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2 A PESQUISA EMPÍRICA

2.4 A coleta de dados e os sujeitos da pesquisa

2.4.2 A observação virtual

Ao realizar suas investigações no campo da educação e das tecnologias digitais, os pesquisadores começam a fazer uso de formas distintas de observação. Podemos citar aquelas realizadas no próprio computador, com a utilização de softwares que identificam ―os programas em uso, páginas de internet, e-mails, tempo de uso, entre outros, apresentando um relatório detalhado desse monitoramento‖ (LIMA, G., 2004, p. 81) ou aquelas realizadas na internet, como a observação de fóruns de discussão ao longo de determinado período de tempo (REZENDE e CASTELLS, 2009).

Em diversas pesquisas, nos deparamos com procedimentos condizentes com o que aqui denominamos observação virtual. Dentre estas, são poucas, entretanto, em que tais procedimentos sejam assim designados e, em menor número ainda aquelas que trazem alguma problematização para além da descrição dos passos que a pesquisa empírica seguiu. Estão neste grupo as pesquisas que mencionamos a seguir.

Maria Tereza Freitas (2002), citando Vygotsky (1991), considera que ―o estudo de situações fundamentalmente novas exigem inevitavelmente novos métodos de investigação e análise‖ (p. 34). Em sua pesquisa, a autora

21 Sempre que dados dos dois questionários forem apresentados em um mesmo gráfico ou

tabela, usaremos os percentuais relativos aos totais de respondentes – 324 para o primeiro questionário e 292 para o segundo.

investiga a escrita de adolescentes na escola e na internet e, para isso, percebe a necessidade de se familiarizar com os sites e com as aplicações que são objeto de navegação dos seus sujeitos na web, assim como de lidar com novas estratégias metodológicas, conforme afirma: ―Aprendemos uma nova forma de observar, de coletar dados e artefatos‖ (FREITAS, M. T., 2002, p. 35). Outros autores reforçam essa especificidade da observação virtual, como Vilarinho et al (2003), que ao realizarem estudos no contexto de uma formação online, consideraram que a observação deveria se ajustar ao ambiente virtual, ou seja, que seria necessário navegar semanalmente no ambiente virtual do curso, buscando observar e registrar a movimentação e as escritas de tutores e alunos. Mendonça (2009) realizou uma pesquisa também em um ambiente virtual de aprendizagem e, por meio da observação virtual, buscou interpretar as ações, interações e registros produzidos nesse ambiente. Ao reconhecer a necessidade de adaptar, para esse contexto, algumas formas de pesquisa comumente aplicadas em situações de interação face a face, o autor remete-se ao termo netnografia que, segundo afirma, foi cunhado por pesquisadores norte-americanos em meados da década de 1990, para descrever o desafio metodológico de ‗seguir‘ os sujeitos de uma pesquisa usando o meio digital. Cardoso (2006) destaca algumas vantagens encontradas enquanto realizou sua pesquisa por meio da observação virtual, a saber: a pouca ou nenhuma influência da presença do observador no ambiente que está sendo observado, já que ele não é visto ou percebido pelos sujeitos ao longo das interações; o registro dos dados no ambiente virtual, que permanecem ali para serem acessados a qualquer tempo e lugar, minimizando os trabalhos de registro pelo próprio observador e a sua preocupação entre observar e registrar simultaneamente (como ocorre na observação presencial). A autora registra não ter encontrado nenhuma referência teórico-metodológica sobre a observação em espaço virtual.

Percebemos, assim, que a observação virtual é um aprendizado recente entre os pesquisadores e, consequentemente, ainda incipiente como procedimento de coleta de dados na pesquisa acadêmica. Em nosso

trabalho, tal procedimento foi amplamente utilizado, já que todos os dados relativos às participações, acessos e contribuições escritas dos sujeitos no ambiente virtual foram coletados por meio da observação aí realizada. Esses dados foram copiados e armazenados em arquivos digitais (doc) e posteriormente organizados e categorizados em quadros e planilhas, de onde pudemos, então, proceder à sua análise.

Inicialmente, nos propusemos à coleta sistemática de dados ao longo dos quatro primeiros semestres letivos. Entretanto, durante os diálogos com as avaliadoras no exame de qualificação, percebemos que a coincidência de início e conclusão, fevereiro de 2008 e dezembro de 2011, respectivamente, desta pesquisa e do curso investigado, apresentava-se como uma oportunidade única de se realizar um estudo do curso em sua totalidade.

Ao todo, foram oito semestres letivos de coleta, sendo que ao longo de cada período, fazíamos observações aleatórias, explorando diferentes salas e diferentes atividades em andamento, fazendo o que Bardin (1977) denomina leitura flutuante dos dados, quando já íamos fazendo registros parciais de algumas informações e das primeiras impressões. Concluído cada semestre, voltávamos às salas virtuais para então realizar a coleta sistematicamente, quantificar, classificar, organizar os dados daquele período.

Nota-se, assim, que o fato de as interações estarem registradas no ambiente virtual não torna o trabalho mais simples, apenas é um meio diferente e que, como pudemos perceber, exige do pesquisador especial atenção quanto à sistematização do processo de observação, para que ele não se perca diante de tantos links e acessos aleatórios e diante da facilidade dessa observação poder ser feita a qualquer tempo. É importante não deixar que essas especificidades da observação virtual comprometam a credibilidade do processo, mas, ao contrário, possam ser usadas a favor da pesquisa, como, por exemplo, voltar ao campo ao longo do estudo. Durante o trabalho aqui realizado, pudemos voltar aos dados in loco enquanto aprofundávamos os estudos teóricos, seja para buscar novas informações ou

mesmo para rever, em seu contexto, algumas informações já coletadas. Foi como se observássemos a mesma sala diversas vezes, as mesmas interações, porém em momentos diferentes da pesquisa. A cena não mudava, mas o nosso olhar e o nosso entendimento se faziam diferentes a cada observação.

A cada semestre do curso, foram propostas aos alunos, pelas equipes de tutoria, diferentes atividades no ambiente virtual do curso, a maior parte delas comuns a todos os polos, além de outras, propostas diferenciadamente em determinados polos. Aqui detivemo-nos em verificar a participação dos alunos nas atividades comuns, abertas em todas as turmas, detalhadas no Quadro 3:

Quadro 3 - Atividades propostas no ambiente virtual do curso, a cada semestre letivo. 2008/1 2008/2 2009/1 2009/2 2010/1 2010/2 2011/1 2011/2 Ati vi da de s po st ad as / ta re fa s Atividades dos

guias Atividades dos guias

Questões elaboradas pela equipe Questões elaboradas pela equipe Questões elaboradas pela equipe Questões elaboradas pela equipe Questões elaboradas pela equipe -

Relatório de estágio Relatório de estágio Memorial Relatório de estágio Memorial Relatório de estágio Pré-projeto de pesquisa Relatório de estágio Projeto de Pesquisa Relatório de estágio Monografia Relatório de estágio Monografia Relatório de estágio Monografia Fó ru ns

Quadro de avisos Fórum de notícias Fórum de notícias Fórum de notícias Fórum de notícias Fórum de notícias Fórum de notícias Fórum de notícias Hora do Cafezinho Hora do Cafezinho Hora do Cafezinho Hora do Cafezinho Hora do Cafezinho Hora do Cafezinho Hora do Cafezinho Hora do Cafezinho Identidade do

professor O texto e o Leitor

Docência e organização do trabalho escolar Múltiplas linguagens e interações sociais Produção do conhecimento pela criança Possibilidades e limites da ação docente Temas diferenciados -

- - Do memorial à monografia Conversando sobre a monografia Conversando sobre a monografia Conversando sobre a monografia Conversando sobre a monografia Conversando sobre a monografia - - Fórum de dúvidas Fórum de dúvidas Fórum de dúvidas Fórum de dúvidas Fórum de dúvidas Fórum de dúvidas - - - - Fórum sobre estágio Fórum sobre estágio Fórum sobre estágio Fórum sobre estágio

Wi

ki - O texto e o leitor A infância - - - - -

Q ue sti on . - Dimensão da aprendizagem autônoma Autoavaliação do

Memorial Perfil Alunos Pedagogia UAB

Dimensão da aprendizagem autônoma - - Autoavaliação e avaliação do curso Bl og - - - O aluno e sua monografia O aluno e sua monografia Espaço livre O aluno e sua monografia

Espaço livre Espaço livre Espaço livre

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- - - Chats sobre monografia,

estágio, etc. Chats sobre monografia, estágio, etc. Chats sobre monografia, estágio, etc.

Observamos que a quantidade de atividades foi aumentando gradativamente, assim como ocorreu uma variação nos tipos de atividades e recursos utilizados. No início do curso, o processo de cadastramento dos alunos no Portal Minha UFMG e a criação de login e senha por cada um deles foi bastante moroso, seja pelos procedimentos técnicos, seja pela pouca familiaridade que muitos alunos tinham com as tecnologias digitais e com o uso da internet ou, ainda, pela não disponibilidade de recursos de acesso à web. Assim, praticamente durante todo o primeiro semestre letivo, observamos o baixo ou nenhum acesso de muitos alunos ao ambiente virtual. A partir do segundo semestre, esse problema foi sendo minimizado e a participação dos alunos foi, aos poucos, se consolidando.

Inicialmente, limitamo-nos à quantificação das contribuições e respostas dos alunos em cada atividade proposta e, nesse momento, consideramos todos os itens apresentados no Quadro 3. Em seguida, já numa abordagem qualitativa, realizamos a transcrição e organização dos textos publicados pelos alunos nos fóruns, blogs e wikis, para um estudo das práticas discursivas ali presentes.