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A oferta de alimentos funcionais no Rio Grande do Sul

4.4 O MERCADO DE ALIMENTOS FUNCIONAIS NO RIO GRANDE DO SUL

4.4.2 A oferta de alimentos funcionais no Rio Grande do Sul

A observação de alimentos funcionais nos pontos de venda gerou uma listagem de 127 produtos, organizados de acordo com as quatro categorias previamente apresentadas no referencial teórico (FAO, 2007): compostos antioxidantes (CA), redutores de riscos cardiovasculares (RC), reguladores da fisiologia e do trato gastrointestinal (RFT) e moduladores de funções comportamentais e fisiológicas (MFC). Além das categorias, a listagem (disposta no apêndice F desta pesquisa) contém nome comercial, descrição do produto, nome do produtor, fabricante ou importador, estado brasileiro de origem (UF), origem da importação (no caso de produtos de origem estrangeira) e tipo de ponto de venda aonde o produto foi encontrado (supermercado ou loja especializada).

Foram analisados a partir da observação: a quantidade de produtos em cada categoria, a disposição dos produtos nos pontos de venda e a representatividade dos produtos gaúchos no universo de alimentos funcionais observados.

Em relação à quantidade de produtos em cada uma das categorias previamente estabelecidas, a maioria corresponde à categoria de reguladores da fisiologia e do trato gastrointestinal (RFT), no qual constam leites fermentados, iogurtes e outros. Tal predominância pode estar relacionada ao fato de o primeiro produto funcional reconhecido – o leite fermentado Yakult (KIMURA, 2010) – estar

enquadrado nesta categoria. A maior longevidade do tipo de produto tende a indicar uma maior aceitação de mercado e conseqüente volume elevado de oferta.

Todavia, as categorias compostos antioxidantes (CA) e moduladores de funções comportamentais e fisiológicas (MFC) somam volumes pouco menores do que esta, apresentando ainda um comportamento próximo entre si. A categoria de redutores de riscos cardiovasculares (RC) se destaca pelo menor número de produtos, o que pode estar relacionado à inexistência de alegações da ANVISA diretamente ligada à redução de riscos cardiovasculares. As expressões “riscos cardiovasculares” ou “coração” não estão na lista de permissões legais. Contudo, é possível alegar “redução de colesterol”, sob condições específicas, o que geraria benefício cardiovascular (ANVISA, 2011).

A categoria MFC é a que possui maior concentração em um tipo de produto, estando polarizada entre barras de cereais e bebidas energéticas. Embora com grande número de leites fermentados e iogurtes, o grupo de reguladores fisiológicos (RFT) também abrange outras bebidas lácteas, biscoitos e demais alimentos, que tornam a categoria mais dispersa que a anterior.

Os compostos antioxidantes (CA) apresentam variedade similar à categoria RFT, não estando concentrada em um tipo de produto, embora com destaque para a base de soja encontrada em grande parte dos itens catalogados. Óleos e margarinas são os produtos de maior incidência na categoria de redutores cardiovasculares (RC), contudo, com volumes significativamente menores que os demais grupos.

A segunda constatação de pesquisa está relacionada à disposição dos produtos nas gôndolas. Diversos alimentos funcionais foram vistos intercalados com produtos de outras categorias, como alimentos tradicionais, suplementos alimentares, alimentos naturais, orgânicos, entre outros, prejudicando sua visibilidade. Em outros momentos, indicativos visuais (placas e catálogos) com a denominação “alimentos funcionais” apontavam produtos que não correspondem a esta categoria, à exemplo dos grãos in natura e das frutas secas. No mesmo sentido, profissionais das lojas especializadas visitadas não demonstraram saber a definição de alimento funcional, tendo indicado alimentos de outras categorias quando esses produtos foram solicitados.

Este cenário pode estar relacionado a um vasto volume de produtos que podem ser considerados alimentos funcionais e não possuem nenhum indicativo de

benefício adicional à saúde. Conforme a ANVISA, os alimentos funcionais não podem conter esta nomeação, uma vez que a expressão “alimento funcional” não é reconhecida como válida por lei até o momento.

Contudo, diversas alegações de saúde são permitidas como o auxílio no controle do colesterol e outras, dispostas no anexo B deste estudo. Ainda assim, diversos fabricantes apenas descrevem seu produto sem fazer uso de alegações especiais. Tal situação prejudica a identificação do produto como funcional e pode, ainda, confundir o consumidor, uma vez que o mesmo tipo de produto (como por exemplo, óleo de canola), possui ou não a informação de benefício à saúde, dependendo do fabricante.

Os profissionais da saúde também aparentaram confusão em relação ao conceito de alimento funcional, tendo indicado também alimentos naturais como funcionais. Este resultado reflete a questão levantada no referencial teórico quanto à variedade de conceitos atribuídos aos alimentos funcionais. É relevante reiterar que, para fins desta pesquisa, foi considerado o conceito de origem japonesa, que considera como alimentos funcionais aqueles que são industrializados e possuem benefício adicional à saúde (FAO, 2007).

O terceiro aspecto da observação refere-se à representatividade dos produtos gaúchos no universo de produtos disponíveis nos pontos de venda. Dos 127 itens catalogados, apenas 33 (cerca de 26%) são produzidos por empresas gaúchas. Esta proporção indica que grande parte do mercado gaúcho ainda é suprida por fabricantes de outras localidades. É possível destacar também, a presença de produtos importados na listagem.

Alguns itens importados, como a bebida energética, possuem diversos concorrentes locais, inclusive no Rio Grande do Sul. Contudo, para alguns produtos importados não foi encontrado substituto nacional, como ocorreu com o fermento probiótico para uso doméstico.

Este cenário reforça o potencial de expansão da produção local para concorrer com inovações em alimentos funcionais que estão sendo produzidas em outros países e consumidas no estado, fazendo uso, assim, de uma estratégia imitativa (FREEMAN; SOETE, 1997).

Em contraponto, é possível encontrar produtos fabricados no Rio Grande do Sul para os quais não foram identificados concorrentes durante a coleta, como o queijo minas com probióticos (SanBios, da empresa Santa Clara), o leite

condensado de soja (Soy Milke, da fabricante Empresa B), o pão com colágeno (Benefice, da Empresa A) e o iogurte de mirtilo (Casa da Ovelha). O fato de não terem sido identificados outros fabricantes para estes produtos denota um mercado menos explorado e tende a indicar uma estratégia mais ofensiva destes fabricantes gaúchos (FREEMAN; SOETE, 1997). Contudo, o baixo volume de produtos pode também indicar que não há mercado para estes alimentos funcionais.