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4.4 O MERCADO DE ALIMENTOS FUNCIONAIS NO RIO GRANDE DO SUL

4.4.1 Fatores empresariais para a inovação

4.4.1.4 Fatores que favorecem ou prejudicam a inovação

Os fatores internos que favorecem ou prejudicam a inovação foram um ponto de grande hesitação por parte dos entrevistados. Segundo os respondentes, o favorecimento ou prejuízo da inovação é uma questão altamente complexa nas organizações, visto que aspectos aparentemente pouco relacionados - como o funcionamento do setor de expedição - podem impactar no desenvolvimento de novas inovações.

As entrevistadas da Empresa A manifestaram apenas fatores que favorecem a inovação na organização. As reuniões interdisciplinares periódicas para discutir novos produtos, a cultura inovadora (a partir da qual um número anual de novos produtos é previsto e todos os colaboradores são incentivados a sugerir novos alimentos) são, para as mesmas, aspectos determinantes para o alto volume de

novos projetos em andamento na empresa. Em adicional, as pesquisas internas (marketing e P&D) e o sucesso de produtos próprios da empresa igualmente serve de fonte para inovações. As sugestões de novas aplicações e composições de produtos também provém do sistema de inovação (fornecedores de insumos), o que foi igualmente citado como aspecto facilitador da inovação nas empresas.

A Empresa B, por seu turno, apontou tanto fatores favoráveis quanto prejudiciais. O insumo base de todos os produtos da empresa - a base de soja - facilita o desenvolvimento de novos produtos, pois além de possuir propriedades funcionais, é versátil (já é utilizado em óleos, chocolates, misturas para bolos, sucos e outras bebidas, doces e sobremesas). Em adicional, o foco estratégico da empresa para a inovação gera planejamento interno para a pesquisa de novos alimentos, o que propicia e incentiva novos testes. As reuniões periódicas também foram citadas pela empresa, que alega possuir um alto índice de sugestões de projetos pioneiros provenientes do pessoal interno. Como facilitador externo, citou as sugestões dos consumidores, que tem um peso significativo no desenvolvimento de novos produtos. Como fator prejudicial, citou a falta de recursos financeiros e tecnológicos para determinados projetos. Nas palavras da entrevistada da empresa B:

Já teve casos de projetos muito bons, de produtos que não tem nem fora do Brasil, inovadores mesmo, que foram cancelados porque o investimento era muito alto. [...] Aí diretoria [...] não autorizou. Eles acharam que o risco era muito grande porque o custo era alto e demoraria a retornar (o investimento). É uma pena, assim, os trabalhos que a gente já deixou de pôr em prática. [...] isso realmente é bem complicado.

Em adicional, a falta de estrutura na própria planta - que leva à produção terceirizada de 90% dos produtos – limita as inovações, visto que a capacidade produtiva é determinada pela disponibilidade da planta fabril de terceiros. A falta de determinadas máquinas e equipamentos também prejudica a inovação, visto que a empresa precisa depender dos fabricantes terceirizados para realizar testes de novos produtos. Outro entrave interno refere-se à distribuição dos produtos, que não tem alcance nacional e não detém o mesmo prestígio das multinacionais, limitando- se assim a uma parcela dos pontos de venda.

A alegação de alto risco das empresas sugere resistência do mercado consumidor e conflita com a posição dos consumidores ouvidos (BARCELLOS et al,

2001), que se mostraram altamente abertos para recepcionar alimentos funcionais com as mais diversas alegações.

Nas duas empresas, as informações gerais (informações abertas de mercado, como a tendência por alimentos funcionais e os estudos acadêmicos na área) são amplamente utilizadas no desenvolvimento de novos produtos, como já previsto na literatura (OECD,2010). Embora não identificadas pelos entrevistados como um dos fatores que favorece a inovação, foram citadas reiteradamente no processo de desenvolvimento de novos alimentos, indicando assim, sua relevância.

Com base nas declarações das empresas é possível correlacionar as percepções individuais, agrupadas de acordo com os fatores facilitadores e prejudiciais previstos no Manual de Oslo (2010).

FATORES FAVORÁVEIS FATORES PREJUDICIAIS

INT

E

RNO

S

- Sugestões dos colaboradores - Reuniões periódicas para a

inovação

- Resultados de marketing e P&D.

- Insuficiência tecnológica (máquinas e equipamentos para testes)

- Deficiências na disponibilidade de serviços externos (fabricação terceirizada, falta de estrutura física interna para a produção, poucos pontos de distribuição) E X T E RNO S

- Sugestões de fornecedores a respeito de novas aplicações

- Sugestões de consumidores a respeito de novos produtos

- Dados de mercado e pesquisas acadêmicas

- Custos altos

- Carência de recursos financeiros financiamentos

- Prazo longo de retorno de investimentos

Quadro 7 – Fatores favoráveis e prejudiciais à inovação.

Conforme indicado pelo quadro, o capital humano (do qual provém sugestões, reuniões, resultados internos) mostra-se o mais relevante recurso para a obtenção de aspectos favoráveis à inovação dentro das organizações. Em contraponto, os recursos financeiros, responsáveis pela compra, entre outros, de máquinas, equipamentos e pela resolução de entraves como a falta de estrutura física, mostram-se o principal fator prejudicial à inovação nas empresas.

É importante ressaltar ainda que, embora as empresas entrevistadas tenham indicado não possuir patentes e, por conseguinte, não possuírem proteção aos direitos de propriedade dos alimentos funcionais produzidos, este fator não foi considerado como prejudicial, como previa a literatura (OECD, 2010).

As fontes internas de informação ressaltadas pelos entrevistados podem também ser relacionadas com a aprendizagem por experiência citada por Kretzer (2009), que provém do desenvolvimento de conhecimento interno.

Ambas as empresas alegaram que o interesse prévio em alimentos diferenciados facilitou a introdução de alimentos funcionais no portfólio de produtos, visto que a cultura inovadora já estava inserida na filosofia organizacional. Cooke, Uranga e Etxebarria (1997) haviam identificado a importância da cultura no processo de inovação, corroborando assim os resultados da pesquisa. Embora não previsto como fator facilitador no Manual de Oslo (OECD, 2010), a cultura inovadora pode, neste caso, também ser considerada um fator facilitador para a inovação.