• Nenhum resultado encontrado

Capítulo I: Quadro teórico de referência

3. A organização do espaço

“A estrutura da sala deve ser construída de modo a que os espaços organizados possuam elasticidade e flexibilidade”. (Fabboni cit. em Zabalza, 1992 in Filgueiras, 2010:59)

É importante compreender do que se trata a organização do espaço. Para Távora (1982 in Pisa, 2005:83)

“[…] o conceito de organizar espaço tem um significado diferente do de ocupar espaço. Organizar pressupõe desejo, manifestação de vontade, um sentido que a palavra ocupar não possui. Assim, organização do espaço indica que por detrás está o homem ser inteligente e artista por natureza, donde resultará que o espaço ocupado pelo homem tende sempre para, caminhar sempre no sentido de, tem como fim, a criação da harmonia do espaço […]”.

Neste sentido o espaço irá sempre transmitir a sua perspetiva educativa, como este pensa e por isso a organização influenciará quem o utiliza. Assim,

“[…] um planeamento cuidadoso do ambiente físico é parte integrante de um bom manejo do ensino, pois dependendo da maneira como estão dispostos, os materiais, objetos e móveis podem, ou não, influenciar no desenvolvimento das crianças”. (David & Weinstein 1987 in Pereira & França, 2008:4)

Apesar dos autores citados estarem a fazer referência ao primeiro ciclo, penso que se pode adaptar aos educadores e às crianças da primeira e segunda infância.

É sempre importante não esquecer que ao organizarmos o espaço da sala vamos colocar nessa organização aquilo com que nos identificamos, a conceção que temos da criança, o modelo que perfilhamos, estamos por isso a deixar uma mensagem curricular. Logo quando colocamos diversos materiais devemos ter em conta os “[…] múltiplos níveis do desenvolvimento da criança que desejamos potenciar” (Zabalza, 1992:127).

A organização do espaço é influenciada por diversas situações como é o caso do número de crianças, a faixa etária e as características do grupo. Torna-se fundamental que a organização do espaço seja feita em parceria com as crianças e não apenas pelo educador.

Os espaços devem ser organizados de modo a desenvolver a autonomia das crianças, tornando-se importante promover o desenvolvimento da identidade pessoal, bem como de outras competências. Como refere Carvalho (cit. em Rossetti-Ferreira [et al.], 2007 in Nono, 2011:102) o simples facto da criança “[…] poder tomar água sozinha e alcançar o interruptor da luz, [cria] oportunidades para movimentos corporais diversos, a estimulação dos sentidos, a sensação de segurança e confiança e, finalmente, oportunidades para contacto social e privacidade”.

Na primeira e segunda infância as crianças apresentam diversas necessidades que passam pelas necessidades afetivas até ao simples descanso, logo é fundamental a existência de espaços que permitam a criança estar em repouso mas também espaços que a criança possa estar em constante movimento, espaços onde possam ter contacto e sentirem necessidade de se relacionar ou, como já mencionei espaço onde possam estar sozinhas.

O espaço da sala torna-se um local insubstituível para as crianças em idade de creche e pré-escolar e por isso “[…] a organização dos espaços deve privilegiar os processos de conhecimentos das crianças e as diversas estratégias cognitivas adotadas por elas” (Bassi e Giacopini, 2007 in Pereira & França, 2008:3), assim, a organização

detém um papel determinante, uma vez que a “[…] estruturação de todos os elementos influi diretamente na aprendizagem […]” (Filgueiras, 2010:50) das crianças.

Deste modo, quando se organiza um espaço de modo adequado, está-se também a contribuir para uma otimização nas aprendizagens das crianças, pois ao terem tudo ao seu alcance não sentem a necessidade de estar à espera do educador para lhes dar o que desejam, o que iria colocar o educador no centro do processo, quando se pretende que as crianças brinquem com outras crianças, apesar de também ser importante as crianças brincarem com o adulto de modo “[…] estabelecer ente si um vínculo maior e as crianças, na maioria das vezes, mostram-se satisfeitos por terem o educador a brincar com elas […]” (Barros [et al.], 2011:7541).

Organizar um espaço implica todas as argumentações, anteriormente citadas, mas

“Não basta a criança estar num espaço organizado de modo a desafiar suas competências; é preciso que ela interaja com esse espaço para vivê-lo intencionalmente. Isso quer dizer que essas vivências, na realidade, estruturam-se em uma rede de relações e expressam-se em papéis que as crianças desempenham em um contexto no qual os móveis, os materiais, os rituais de rotina, a professora e a vida das crianças fora da escola interferem nessas vivências.” (Rossetti-Ferreira, 1999 in Horn, 2004:15)

Alguns autores apresentam propostas de como deve estar organizado o espaço da sala, como é o caso de Bassedas, Huguet e Solé (1996 in Parramón Ediciones, 2002:180), que apresentam seis lugares.

O primeiro trata-se de lugares de encontro que favorecem que as crianças falem umas com as outras, de seguida apresentam lugares de ação individual ou em pequeno grupo, aqui pretende-se que as crianças possam saltar, correr e sentir com movimentos amplos do próprio corpo, o terceiro remete para lugares de grande grupo que deverá ter um tapete onde o grupo se reúne em círculo ou poderá tratar-se da sala de psicomotricidade ou ainda de música e dança, fazem referência a lugares para dormir e descansar que se trata de um dormitório, o espaço do tapete para descansar, ouvir histórias, em quinto apresentam lugares para se mudar ou fazer a sua higiene que trata- se da casa de banho, por último fazem referência a lugares de ação individual. Os últimos remetem para cantos onde as crianças possam se deslocar quando sentem

necessidade de estar sozinhas, onde possam resolver determinados conflitos que ocorram com as restantes crianças.

Para além da sugestão apresentada pode-se encontrar mais ideias dessa organização, que já tenho vindo a apresentar ao longo do quadro teórico, como por exemplo, organizar o espaço a partir de áreas de interesse, ter espaços com cadeiras e mesas, ter fotografias das crianças na sala.

Como já mencionei, os autores apresentam diversas maneiras de organização dos contextos educacionais e Carvalho e Meneghini (1998 in Pereira & França, 2008:6) mencionam dois tipos de arranjo espacial de ambiente – aberto e semi-aberto.

No que remete para o arranjo espacial aberto, “[…] neste tipo de ambiente há espaços vazios com poucos móveis, objetos e equipamentos, as crianças acabam por brincar ao redor da educadora, solicitando sua atenção o tempo inteiro” (Carvalho e Meneghini, 1998 in Pereira & França, 2008:6).

Em relação ao arranjo espacial semi-aberto, “[…] neste tipo de espaço os móveis são baixos e há o aproveitamento da quina de duas paredes ou do desnível do solo, assim, formam-se cantos ou zonas circunscritas, que são áreas delimitadas em três ou quatro lados, sendo que o fechamento de um lado é delimitado pelo material que o educador ou as crianças levam para brincar” (Carvalho e Meneghini, 1998 in Pereira & França, 2008:6). É necessário referir que as áreas circunscritas também não devem apoderar-se de todo o espaço que existe na sala.

Mas o que são, em concreto, as zonas/áreas circunscritas que referem as autoras mencionadas anteriormente? As autoras, como mencionei anteriormente, elucidam que “a característica principal é o fechamento em pelo menos três lados […]”, mas é interessante compreender como é delimitado esse espaço. As autoras explicam que é através de “[…] mesinhas ou cadeirinhas” ou ainda “[…] podem ser constituídas com caixotes de madeira ou cabaninhas, desde que contenham aberturas”, um material que também poderá ser útil são as “[…] cortinas para delimitar um ou dois lados” (Nono, 2011:101).

Quando o educador organiza a sala com base nas áreas circunscritas pretende que a criança fique mais tempo a brincar e a interagir com outras crianças, esquecendo

um pouco que o educador está presente, estando mais atenta aos materiais que estão à sua disposição.

Para além das zonas circunscritas, outros autores defendem que um arranjo do espaço poderá “[…] ampliar as oportunidades de contacto e interações sociais tendo a ajuda de zonas atividades delimitadas por divisórias baixas” (Oliveira [et al.], 1992 in Pereira & França, 2008:5). Na minha opinião, considero que se trata de propostas pedagógicas idênticas pois ambas permitem a criança realizar diversas atividades, brincadeiras e especialmente descentralizar o educador.

Neste contexto vai surgindo o termo áreas e cantos. Diversos autores defendem que o espaço da sala deve estar dividido em diversas áreas para que a criança compreenda o que faz em cada espaço diferente, por exemplo, na cozinha alimenta-se. Assim,

“como se trata de um local para educar e também cuidar, as escolas que atendem a demanda da Educação Infantil necessitam de áreas para a criança se desenvolver e aprender, ou seja, espaços para brincar, se alimentar, tomar banho, ouvir e contar histórias, dormir, desenhar, colorir e pintar” (Julião, 2007 cit. em Miranda, 2007 in Pereira & França, 2008:7).

Na minha opinião é importante o que é uma área, segundo Serrão & Caralho (2011:4) é um termo habitual na educação pré-escolar para designar formas de pensar e organizar a intervenção do educador e as experiências a proporcionar às crianças.

Com a criação das áreas está a dar-se à criança a hipótese de desempenhar diversas personagens, explorando cada área, que apresenta situações do quotidiano.

Deste modo, “[…] a organização por áreas corresponde ao facto de que os espaços têm funções específicas, e que os mesmos, serão organizados em função das atividades a desenvolver e da faixa etária […]” (Filgueiras, 2010). Considero interessante referir que com esta organização as crianças poderão usufruir de um espaço com maior privacidade, além disso, as áreas bem organizadas permitem às crianças realizarem diversas ações.

Para que as crianças reconheçam facilmente as áreas torna-se necessário a utilização de símbolos ou nomes escritos (consoante a faixa etária), desenvolvendo na criança competências de escrita e leitura.

O que torna a organização por áreas um assunto bastante falado é o facto de que “[…] muitos educadores tentam organizar suas salas em áreas de atividades diversificadas, mas, nem sempre essa organização está fundamentada numa conceção de criança e de educação que a sustente” (Nono, 2011:100).