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Capítulo I: Quadro teórico de referência

4. O ambiente na sala

Zabalza (1992) refere que aceitar que existem fortes relações mútuas entre as pessoas e o seu meio ambiente parece ser algo do senso comum. Assim, um bom ambiente é fundamental para o bom funcionamento da sala, sendo que a organização escolhida influencia nesse ambiente.

Quando se pensa numa sala de creche ou de jardim de infância deve pensar-se de imediato num ambiente que estimule a criança e que promova o desenvolvimento, ou seja um espaço que seja seguro.

Neste sentido, é importante não nos cingirmos apenas às questões de arquitetura ou mesmo de estrutura física, pois o mais importante passa por “[…] um ambiente que possa oferecer à criança, condições para o seu desenvolvimento físico, social e cultural” (Barros [et al.], 2011:7537).

É do mesmo modo importante o educador ter em conta o ambiente em que a criança está regularmente, mas “[…] as crianças precisam experimentar ambientes diferentes” (Andrejew, 2007 in Pereira & França, 2008:6). A criança também deverá passar por diversas situações em termos afetivos, como por exemplo, tensão, de modo a saber lidar com este tipo de frustrações.

O ambiente que uma sala transmite traduz-se também na proposta pedagógica que o educador faz, estando mais uma vez presente as conceções que o educador tem sobre a criança.

“o ambiente escolar deve ser um lugar que acolha o individuo e o grupo, que propicie a ação e a reflexão. Uma escola ou uma creche é antes de mais nada, um sistema de relações em que as crianças e os adultos não são apenas formalmente apresentados a organizações que são uma forma da nossa cultura, mas também a possibilidade de criar uma cultura. […] É essencial criar uma escola ou creche em que todos os integrantes sintam-se acolhidos, um lugar que abra espaço às relações […]”.

Ou seja, os educadores não podem apenas ter em conta as suas práticas pedagógicas, é fundamental pensar também em cada criança e no meio que a rodeia para que a sala possa ser organizada da melhor forma possível abrangendo a necessidade de todos.

José Morgado (APEI, 2004. IX Encontro) refere que

“no trabalho educativo e considerando as idades das crianças, parece fundamental que as tarefas propostas se desenrolem num ambiente tranquilo, empático, estimulante das interações entre as crianças e entre as crianças e adultos, em que as dificuldades ou insucessos sejam entendidos como naturais e não sobrevalorizados correndo o risco de motivar nas crianças reações inibidoras ou medo de aprender. Provavelmente muitas situações de dificuldades escolares radicam na inexistência destes ambientes favoráveis de aprendizagem”.

Por vezes a sala é vista como um espaço de armazenamento, onde colocamos tudo sem ter propriamente um objetivo, mas não deverá assim acontecer, pois com a devida organização tornar-se-á acolhedor e o ambiente favorável às aprendizagens das crianças, logo devemos dar-lhe significado, de modo a promover a aprendizagem das crianças.

As Orientações Curriculares (1997:26) complementam a ideia anterior, explicando que “[…] o planeamento do ambiente educativo permite às crianças explorarem e utilizar espaços, materiais e instrumentos colocados à sua disposição, proporcionando-lhes interações diversificadas com todo o grupo, em pequenos grupos e entre pares, e também a possibilidade de interagir com outros adultos”.

Assim, no espaço da educação infantil é importante haver um ambiente acolhedor e estimulante.

Pretende-se que a criança dentro do espaço da sala consiga ser o mais autónoma possível, para que isso aconteça é necessário que haja uma organização da sala favorável, com essa organização é possível que o ambiente seja também favorável para a criança, neste sentido Zabalza (1998 in Filgueiras, 2010:50) refere que “[…] o

ambiente é um educador à disposição tanto da criança, como do adulto. Mas só será isso se estiver organizado de um certo modo. Só será isso se estiver equipado de uma determinada maneira”.

Fernández (1994 in Parramón Ediciones, 2002:169), apresenta determinados critérios para a conceção de um ambiente na sala de creche, mas que também se poderão aplicar a sala de jardim de infância. Assim, o autor refere que

“[…] o ambiente é criado pelo educador; o ambiente é algo dinâmico, flexível e sujeito a transformações múltiplas; para planificar corretamente o ambiente das crianças é preciso formular-se com antecedência algumas questões, como por exemplo, quantas crianças irão ocupar o espaço ao mesmo tempo, as necessidades específicas e prioritárias, que tipo de atividades se pretende desenvolver espontaneamente, se existe alguma criança com NEE e pensar também nos materiais e mobiliário; qualquer ambiente deve transmitir às crianças mensagens de segurança que lhes deem a confiança suficiente, as informem da ausência de riscos, possibilidade de atuar, confiança de que estão protegidas por um adulto e que transmitam afeto; as crianças necessitam de espaço para viver e se desenvolverem. O ambiente deve proporcionar-lhes: espaços para satisfazer as suas necessidades vitais, espaço para uma atividade estimulante, espaço para movimento e a deambulação, para o encontro com outros e comunicação e de intimidade e tempo de ócio; qualquer ambiente condiciona ou estimula comportamentos e valores […]”.

Claro que é possível encontrar algumas diferenças relativamente ao ambiente de creche e de jardim de infância. Enquanto as crianças muito pequenas precisam de espaços com poucos ruídos exteriores, de modo a conseguirem descansar durante o período em que estão a dormir, para as crianças da segunda infância já é mais importante espaços para socialização, se bem que em creche também deverão existir espaços onde as crianças estabeleçam relações sociais.

Um bom ambiente não facilita apenas no decorrer do dia, facilita principalmente na primeira “tarefa” do dia e a mais complicada de todas – a separação dos familiares, uma vez que “nas creches e nas escolas da infância a separação dos pais é complicada, um ambiente acolhedor facilita a disponibilidade de adaptação das crianças” (Julião, 2007 cit. em Miranda, 2007 in Pereira & França, 2008:7).