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Os recursos educativos – materiais e brinquedos

Capítulo I: Quadro teórico de referência

5. Os recursos educativos – materiais e brinquedos

“O conhecimento não provém, nem dos objectos, nem da criança, mas sim das interações entre a criança e os objectos”. (Jean Piaget in Hohmann & Weikart, 2011:19)

Os materiais que o educador coloca na sala ao dispor da criança também são fundamentais para o desenvolvimento da mesma. Assim considero importante o espaço estar “[…] recheado de materiais adequados ao desenvolvimento e à cultura […]” que, por sua vez, vão valorizar “[…] a experimentação, a reflexão, a autonomia e a cooperação da criança porque acredita na sua competência a esse nível” (Formosinho [et al.], 1999:59).

Vários autores apresentam diversas formas de organizar o espaço da sala tendo em conta os materiais. Para Silva (1997 in Filgueiras, 2010:52) “[…] os espaços de educação pré-escolar podem ser diversos, mas o tipo de equipamento, os materiais existentes e a forma como estão dispostos condicionam, em grande medida, o que as crianças podem fazer e aprender”.

Antes de mais será pertinente refletir sobre os materiais. Estes podem ser entendidos como recursos, e pode-se dizer que são “[…] tudo aquilo que de forma operacional, nos ajudará na consecução dos fins que pretendemos alcançar” (Silva, 1997 in Filgueiras, 2010:56). Assim, o educador tem de ter em conta o que pretende desenvolver com o grupo, ou seja, deve pensar nos interesses/necessidades do grupo optando por escolhas inteligentes, tendo em conta a prioridade que pretende dar.

As crianças em idade de creche e jardim de infância, passam pelas mais diversas mudanças, não só a nível da linguagem, a nível motor, mas principalmente “[…] os seus interesses são diversos e mutáveis […]”, logo os “[…] materiais têm de ser interessantes […]”, pretende-se que haja uma “[…] variedade de materiais […]” que por sua vez “[…] destinam-se à manipulação da criança, portanto, estão no seu controlo […]”, querendo dizer “[…] que a criança tem sempre oportunidades para os usar e para os partilhar” (Formosinho [et al.], 1999:58).

Mais uma vez é essencial fazer referência à autonomia, como já tenho vindo a mencionar é muito mais propício a criança ter os materiais à sua disposição, porque não tem de andar constantemente a pedir o auxílio do educador, começando a compreender que para determinadas atividades poderá necessitar de certos materiais que estarão sempre ao seu dispor.

Indo ao encontro do referido, Silva (1997 in Filgueiras, 2010:58) define que

“[…] o conhecimento do espaço, dos materiais e das atividades possíveis é também condição de autonomia da criança e do grupo. […] O educador define prioridades na aquisição do equipamento e do material, de acordo com as necessidades das crianças e o seu Projeto Pedagógico, tendo em conta critérios de qualidade. […] a escolha de materiais […] atenderá a critérios tais como variedade, funcionalidade, durabilidade, segurança e valor estético”.

Os educadores devem estar em constante observação para que consigam atender às necessidades e interesses de todo o grupo.

Mas a escolha dos materiais não abrange apenas a observação do educador, há vários critérios de variedade que deverão ser tidos em conta, como por exemplo, a durabilidade do material, a segurança que o material deverá apresentar, o educador também deverá ter em conta em termos estéticos, porque o material que está a colocar na sala deverá cativas a atenção das crianças.

O brinquedo é também um dos recursos que o educador poderá ter no espaço da sala, pois o “[…] brinquedo, tal como todo o material didático das escolas, quando bem escolhido, contribui para o desenvolvimento harmonioso das atividades mentais” (Bandet & Sarazanas, 1973:16). Para além do referido, o “[…] brinquedo provoca o impulso de atividades que vai converter-se em jogo é ele que suporta essa atividade, é função da sua associação com o jogo” (R. Pinon in Bandet & Sarazanas, 1973:16).

Assim, a presença do brinquedo na sala é bastante importante para o desenvolvimento da criança e por isso é necessário ter em conta a quantidade de brinquedos que se tem na sala.

Será importante fazer referência à criação de materiais por parte dos educadores porque estes enriquecem o espaço da sala e “[…] esses objetos enriquecem as experiências das crianças, na medida em que permitem uma maior liberdade de ação com eles, com os quais podem inventar novos usos” (Barros [et al.], 2011:7541).

Os educadores deparam-se várias vezes com os mais diversos obstáculos, no caso da organização do espaço da sala, por vezes não existem os recursos necessários, mas não só, por vezes poderá haver “[…] falta de apoio da equipa gestora da escola, condições inadequadas da própria escola de Educação Infantil” (Nono, 2011:101).

Mas no caso dos recursos facilmente se encontram soluções como é o caso da construção de materiais, como referi, a quantidade de objetos torna-se também importante e com esta solução o educador poderá construir a quantidade que pretende para que deste modo haja a “[…] possibilidade das crianças brincarem juntas, sem disputa” (Barros [et al.], 2011:7541).

Considero que os modelos curriculares e abordagens pedagógicas, perfilhados pelas educadoras, influenciam o modo como estas organizam o espaço e os materiais.

Assim, irei fazer uma pequena introdução aos modelos e em seguida farei uma abordagem a dois modelos mais específicos – High/Scope e Movimento da Escola Moderna, porque sei que as educadoras seguem as metodologias do High/Scope, mas que a educadora de creche opta também por utilizar outras metodologias, logo considerei que estes seriam os fundamentais.

Um modelo poderá ser classificado de diferentes maneiras, pois podemos encontrar os mais diversos autores a fazer referência a essa questão.

É possível olhar para cada uma das definições que os vários autores sugerem e retirar algumas conclusões, ou seja, independentemente de que autor se trate “[…] um modelo curricular diz respeito a um sistema educacional compreensivo que se caracteriza por combinar a teoria e a prática” (Oliveira-Formosinho, 1997 in Gonçalves, 2008:27).

Seguindo a linha de pensamento do autora mencionado, esta diz-nos “[…] que um modelo curricular constitui, simultaneamente, um referencial teórico e prático. Teórico, porque permite conceptualizar a criança e o seu processo educativo; prático, porque também serve para pensar antes-da-ação, na-ação e sobre-a-ação” (Oliveira- Formosinho, 1998b in Gonçalves, 2008:28).

Olhando para outros autores, percebemos que para Spodek & Brown (1998 in Gonçalves, 2008:28) um modelo curricular é uma representação ideal de premissas teóricas, políticas, administrativas e de componentes pedagógicos de um programa, destinado a obter um determinado resultado educativo. Deriva de teorias que explicam como as crianças se desenvolvem e aprendem, de noções sobre a melhor forma de organizar os recursos e oportunidades de aprendizagem para as crianças e de juízos de valor acerca do que é importante que as crianças saibam.

Podemos, assim, chegar a uma conclusão com a ajuda de Cardona (1992 cit. Forneiro, 1998 cit. Zabalza, 1998 in Gonçalves, 2008:29), mencionando que “os modelos curriculares congregam uma visão integradora dos objetivos e dos métodos de

ensino, das fontes de currículo e das finalidades da educação, bem como da organização espácio-temporal”.