CAPÍTULO I - A PRESENÇA DOS COLONOS (I)MIGRANTES NO INÍCIO DO
1.2 A IMPLANTAÇÃO DE UM PROJETO SOCIOECONÔMICO PELAS MÃOS DO
1.2.2 A organização econômica e as atividades produtivas desenvolvidas na Colônia
Erechim
O serviço de colonização não se destinava só a retalhar as terras e povoá-las, mas
também à promoção e ao aparelhamento das novas regiões para que posteriormente se
tornassem territórios autônomos. Para isso, era preciso realizar o aproveitamento do bem
público de maneira eficaz, conservando, modificando, adaptando, conhecendo os elementos
colonizadores e os que já estavam no espaço a fim de realizar a comunhão entre eles.
Com a remodelação dos serviços de colonização foram tomadas algumas medidas
quanto à organização dos núcleos coloniais
45. Uma delas era que só poderiam ser organizados
em terras que já dispunham, ou que em curto prazo iriam dispor, de vias de exportação
fluviais ou férreas. Ao serem escolhidas as terras destinadas ao novo núcleo, organizava-se a
planta, com o levantamento das principais estradas de rodagem, fazendo a bifurcação com a
ferrovia; delimitava-se uma faixa de 8 km para cada lado, destinada à exploração florestal,
isso ao redor de cursos de água navegáveis ou das ferrovias. Quanto aos locais destinados aos
povoados, deveriam ter distâncias entre si de 5 a 20 km; ter reservadas áreas de cerca de 400
ha; ter aguadas boas e abundantes; não serem muito acidentados e com panoramas agradáveis.
Só fugiriam dessas regras caso se localizassem perto das rodovias. Também dentro dos limites
do povoado exigia-se a reserva de 1 a 3 ha, ou mais, para espaços de diversão ou utilidade
pública.
A partir desta organização dos espaços da colônia, são criadas as pequenas
comunidades rurais, como um espaço destinado a construção das capelas, dos espaços de lazer
e das escolas, que se constituíram em pontos de encontros para festas, reuniões e oração,
surgindo deste modo a atuação do colono na comunidade, como um espaço de organização
coletiva.
Em termos econômicos, a região Alto Uruguai era uma das mais atrasadas da
província, caracterizando-se por ervais, grandes florestas virgens, pinhais, numa mistura de
extrativismo, madeira, pecuária e agricultura local.
As atividades produtivas desenvolvidas pelo colono articulavam-se em torno de duas
esferas: uma de subsistência (pequena criação) e outra mercantil (milho, trigo e vinho) e o
trabalho era braçal fazendo-se roçadas, queimadas e plantio.
45 O Rio Grande do Sul tinha uma população colonial superior a 600 mil habitantes, que crescia em torno de 15 mil por ano, dedicada principalmente à atividade agrícola. Nesse contexto, eram necessárias outras terras e resolver a situação dos elementos nacionais, que também necessitavam de amparo. RELATÓRIO enviado à Presidência do Estado pela Secretaria do Governo dos Negócios das Obras Públicas (partes). 1914, p. 168. Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.
Figura 10 – Derrubada da mata e queimada para posterior plantio na década de 1920.
Fonte: Arquivo Histórico de Erechim.
Os métodos de cultivo e as dificuldades nos primeiros tempos nas colônias do Rio
Grande do Sul são assim descritos por Maestri:
Sobretudo nos tempos iniciais eram rústicos os métodos de cultivo. A qualidade dos solos, a abundância das terras e a escassez relativa de braços determinava que a agricultura colonial imitasse a coivara indígena. Os terrenos eram desmatados e limpos, abatendo-se as árvores menores e os arbustos, que eram reunidos e, quando secos, queimados. Após, plantava-se. Comumente, por causa do terreno irregular, das raízes e das pedras abandonava-se o arado e, até mesmo, a enxada usando o rústico bastão de plantar, que abria covas para os grãos de milho46.
O desenvolvimento da Colônia Erechim
47seguiu os padrões das colônias velhas, com
atividades agropecuárias que atendiam a subsistência da família e posteriormente
comercializava-se o excedente.
46 MAESTRI, Mário. Os senhores da serra: a colonização italiana do Rio Grande do Sul 1875-1914. 2. ed. Passo
Fundo: UPF, 2001, p. 84.
47
Para a instalação da colônia Erechim realizou-se levantamento prévio dos cursos de água e os lotes seguiram
orientação uniforme, embora os traçados das estradas não pudessem ser planejados antes da subdivisão dos lotes. Fazendo-se indispensável o transporte interno na colônia Erechim desde cedo, logo estradas seriam criadas. A colônia foi se aparelhando com uma boa rede de estradas de rodagem, cerca de 120 km de estradas, distribuídos da seguinte forma: 56 kms., da Estação Erechim à colônia Sananduva, passando pela séde Erechim; 25 kms., desta ultima séde ao lageado Marcellino, faltando 11 kms., para chegar ao povoado do mesmo nome; 8 kms., da séde Erechim ao povoado Erebango, faltando 2 kms.; 14 kms., da estação Paiol-Grande (séde geral emO comerciante assumia um papel central neste processo de comercialização. Giaretta
48descreve que “o comerciante era o dinamizador do lugar; pois a ele chegavam todas as
notícias, as novidades; ele vendia produtos para pagamento na safra.”
Figura 11 – Casa comercial situada na sede da colônia Erechim, de propriedade de Enrique Bischof - Casa Verde - 1913
Fonte: Divisão de Terras Públicas. Porto Alegre.