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SUMÁRIO

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

1.1 A origem da insustentabilidade atual

Atualmente vivenciamos diversos conflitos que nos levam a questão da insustentabilidade em vários aspectos, tanto sociais, quanto econômicos e ambientais. A isso procuramos incessantemente a busca de uma solução e de alternativas diversificadas para a sua superação. Por vezes realizam-se discursos que só tendem a fortificar esta relação insustentável, para que as relações hegemônicas e de dependência no mundo permaneçam inquestionáveis, favorecendo alguns poucos em detrimento de muitos. Por isso se faz necessário compreender a origem destas problemáticas.

Para compreendermos as origens da crise ambiental, sua influência e consequências sobre a sociedade, se faz necessário nos remetermos ao início da Era Moderna, a origem de nosso pensamento. Destaca-se que:

para compreender la crisis ambiental que hoy vive el planeta es imprescindible sumergirse en ella com interrogantes acerca de las raíces de nuestro pensamiento, indagando em la génesis de los modelos que Occidente há expandido por todo el mundo (NOVO, 2007, p.3).

A modernidade e o modelo de pensamento por ela constituído se centram no paradigma positivista, no racionalismo, na “matematização” do conhecimento e na busca da objetividade descartando qualquer subjetividade na constituição dos conhecimentos. A verdade é considerada científica, e tudo o que é científico pode ser quantificado e testado. Ocorre então uma grande separação, ruptura no modelo de pensamento e compreensão dos fenômenos (STENGERS, 2004).

Esta separação que ocorre na Modernidade se reflete na formulação do conhecimento, nas ciências, pois separa-se o que é tido como científico do que é tido como saberes tradicionais ou cotidianos. Passa-se para uma postura cartesiana que encontra uma referência no universal e na lógica, subjugando o particular em prol do global. Neste enfoque deixa-se claro um elemento chave do pensamento moderno que, em seus excessos conduziria a subestimação da diversidade natural e das culturas originais e locais (NOVO, 2007).

A divisão cartesiana entre corpo e mente, se reflete na separação entre o pensamento e o mundo físico, será o início de uma visão dual de mundo que influencia todos os territórios do saber, permanecendo até os dias atuais. A modernidade é caracterizada pela separação, dualidade que atinge a maneira de se pensar e agir, levando a busca de certezas e da

homogeneização como questão de ordenamento, extinguindo e considerando atrasado tudo o que leva à diversidade, considerado o “caos” (NOVO, 2007). Os aspectos que embasam o pensamento atual nos levam a existência de várias “monoculturas” que organizam a sociedade atual, levando a perda das diversidades em vários aspectos (SHIVA, 2003).

Se constrói um modelo de desenvolvimento que está centrado sob o paradigma cientificista, característico da Idade Moderna, considerada antropocêntrica, econômica, individualista e consumista. Sendo que ele é tido somente em seus aspectos econômicos, que significa alcançar os níveis dos países do Norte e não almeja o desenvolvimento social e nem a proteção e sustentabilidade da natureza. Este é desigual para as sociedades e nocivo aos sistemas ambientais.

Esta concepção de desenvolvimento foi o que gerou os impactos socioambientais, devido ao modelo de consumo que ultrapassa os limites dos recursos naturais. Diante disso, “como realizar um desenvolvimento tido como infinito em um espaço com recursos naturais finitos” (GUIMARÃES, 2005, p.89). Este processo nos impõem a necessidade de adquirir o novo, o moderno, para que sejamos vistos pela sociedade assim “consumidos”5 por esta e pelos outros.

A qualidade de vida se torna sinônimo de poder de compra, que por sua vez necessita de alta quantidade de produção, causando a exploração exaustiva dos recursos naturais, degradando-os. Estes aspectos caracterizam a cultura do ocidente que é difundida por todo o mundo, atingindo diversas culturas e causando a massificação sob uma sociedade do consumo. Esta cultura é considerada moderna, e símbolo do desenvolvimento, mas gera por sua vez o empobrecimento das demais culturas e a perda de sistemas ambientais e seus recursos naturais, relevantes à sobrevivência de todos os seres vivos do planeta. Estes aspectos nos remetem a uma monocultura que tende a retirar a diversidade para dar uma “ordem”, e homogeneizar a cultura, os saberes e até mesmo a produção de alimentos (SHIVA, 2003)

Esses aspectos vão ao encontro com a visão de mundo hegemônica, refletindo na separação entre sociedade e natureza, na postura antropocêntrica e individualista de dominação do homem sobre a natureza, pois aquele não se vê mais parte deste. Além disso, há também a dominação do homem sobre o próprio homem (GUIMARÃES, 2005). Evidencia-se

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O sentido empregado ao utilizar o termo “consumidos” remete-se a questão de sermos aceitos, vistos e agregados à sociedade. No sentido de sermos produtos e não mais sujeitos nas relações sociais, que depende do que consumimos.

esta grande ruptura, separação, que permeia as relações da sociedade internamente, assim como com a natureza.

O reflexo das relações de dominação entre indivíduos humanos, entre classes e entre natureza e sociedade, baseadas nas concepções de isolamento e parcelamento dos fenômenos e da realidade, gerando a separação, dominação do homem sobre a natureza. Justificando as desigualdades sociais sustentadas no individualismo e competição, bases do liberalismo, que privilegia o particular ao coletivo gerando desigualdade e exploração.

Conclui-se que o modelo capitalista vigente nas relações econômicas atuais, impõem a sua própria concepção de desenvolvimento, privilegiando o crescimento econômico ao invés do meio ambiente e do desenvolvimento da sociedade. Onde verifica-se a prevalência dos interesses individuais, privados (econômico) aos coletivos (meio ambiente).

Esta abordagem fragmenta e simplifica a compreensão da realidade. Dando soluções simplistas e pontuais aos problemas ambientais que por si só são complexos. O paradigma cientificista baseado na fragmentação e simplificação da realidade é considerado “um dos pilares da crise ambiental da atualidade, por não dar conta da sociedade e do meio ambiente, e em sua relação, com uma realidade complexa” (GUIMARÃES, 2005).

Diante desta questão de insustentabilidade percebe-se a expansão do modelo de desenvolvimento econômico, de base industrial, que aumenta os efeitos desagregados dos sistemas naturais. Há uma tentativa do discurso dominante em se apropriar do significado de sustentabilidade para levá-lo a sua compreensão de desenvolvimento. Esta noção de desenvolvimento reconhece os problemas ambientais, mas sugere soluções na mesma lógica, a do mercado. Como uma maneira de preservar a ordem estabelecida. Surge o embate entre o conceito de sustentabilidade atribuído pelo discurso dominante e outro discurso que priorize a questão do desenvolvimento social.

Dentro da lógica do capital explica-se a problemática ambiental a partir de características ecológicas, sem mencionar a questão econômica. Onde a causa do problema não é discutida. As influências da sociedade não são vistas em sua complexidade de relações, mas apenas suas consequências sobre a natureza, que é o final de todo este longo processo que atinge a natureza por meio da modificação das relações sociais, propiciadas pela mudança na maneira de agir e pensar dos diferentes indivíduos.

Observa-se que é necessário romper com esta forma de agir e pensar, com os paradigmas instaurados com a modernidade; romper com o tipo de desenvolvimento que se emprega no mundo hoje, em que se almeja um crescimento econômico sem levar em consideração a questão social, ambiental e cultural; romper com os padrões de consumo que

atualmente são insustentáveis e que se encontram acima do que realmente necessitamos para sobreviver. É necessário deixar para tras a concepção individualista deste processo para irmos ao encontro de ações coletivas, onde a sociedade possa se unir em prol de um desenvolvimento que seja realmente sustentável. Satisfazendo as necessidades atuais sem impossibilitar que as futuras gerações também as façam, por meio da preservação do meio ambiente e reestruturação social e econômica, para que sejam justas e igualitárias.

1.2 A aceleração da degradação ambiental, os grandes desastres e a tomada de