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A aceleração da degradação ambiental, os grandes desastres e a tomada de consciência da insustentabilidade

SUMÁRIO

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

1.2 A aceleração da degradação ambiental, os grandes desastres e a tomada de consciência da insustentabilidade

Como já comentado anteriormente, devido a um modelo econômico, que faz uso da natureza de maneira intensiva e desenfreada, para além dos limites de auto-regulação dos ecossistemas, causa danos irreversíveis ao meio e a sociedade. O mecanismo que faz o homem abusar da natureza está em nome de um desenvolvimento, provindo deste sistema econômico hegemônico vigente.

Diante da situação de eminente crise e insustentabilidade econômica e sócioambiental em que vivemos atualmente, se faz necessário observar quando inicia essa aceleração no uso dos recursos naturais.

Os recursos naturais no início eram tidos como infinitos, ilimitados e à disposição do homem. Isso porque "se acreditava que o crescimento econômico não tinha limites e que o desenvolvimento significava dominar a natureza e os homens" (BERNARDES, FERREIRA, 2005, p.17). Remonta-se esta aceleração ao desenvolvimento do sistema capitalista e ao advento da Revolução Industrial, no século XVIII. Estes se expandem pelo mundo no século XIX promovendo o desenvolvimento de um modelo de ciências e tecnologias que se extendem até a atualidade.

Com a criação da máquina e o surgimento das indústrias realiza-se a transformação da matéria prima rapidamente em produtos finais. Soma-se a isso o aumento das cidades que geram um maior mercado consumidor, maior pressão sobre a produção de alimentos e diversos bens, que por sua vez ampliam a necessidade de matéria-prima, incluindo a água (THEODORO; CORDEIRO; BEKE, s/d).

Outro marco dessa aceleração ocorreu após a 2ª Guerra Mundial, onde verificou-se um aumento significativo da população, das atividades econômicas e do consumo, o que acelerou a intensidade do uso dos recursos naturais (THEODORO; CORDEIRO; BEKE, s/d).

O atual modelo de desenvolvimento e agricultura, gestado no interior das sociedades industriais capitalistas e implementado no pós guerra, foi norteado por uma racionalidade técnico-econômica. Os processos de urbanização, industrialização e modernização, ancorados neste modelo e no modo de produção capitalista, foram concebidos como hegemônicos e inevitáveis, ou até mesmo necessários, em escala planetária. No entanto, ao privilegiar o crescimento econômico como sua mola propulsora, este modelo foi o responsável pela degradação ambiental, pelo êxodo rural e consequente inchaço dos centros urbanos e pela marginalização sócio- econômica de uma grande parcela da população mundial (MULLER, 2007,s/n)

Com a necessidade de maior quantidade de matéria prima gera-se maior pressão sobre os recursos naturais, sobre a natureza e a produção agrícola. Isso leva à destruição de áreas naturais para a retirada da madeira e ocupação deste espaço pela agropecuária que se torna cada vez mais mecanizada, utilizando insumos químicos para a produção, e o uso de tecnologia na produção de organismos geneticamente modificados. Isso causa problemas de degradação dos solos, água e perda de biodiversidade (TUNDISI, 2005).

Com o aumento das indústrias e das cidades, estas confluem para graves problemas de poluição do ar, dos recursos hídricos, da retirada de florestas, além da geração de lixo, esgoto e ocupação de espaços inadequados. A isso se soma a necessidade de energia que causa pressão sobre fontes renováveis e não renováveis, causando impactos sobre o meio (TUNDISI, 2005).

Diante do exposto, com o passar dos anos, passa-se de mera subsistência e uma relação mais próxima com a natureza, para uma ruptura entre sociedade e meio, num processo de produção e consumo desenfreado, pois atualmente consumimos mais do que necessitamos. Gera-se uma sobrecarga sobre o planeta e sua natureza com padrões insustentáveis de produção, consumo e renda. Destaca-se que "as crises sociais, econômicas e ambientais provocadas pelas conquistas da revolução industrial, do avanço tecnológico e grande população mundial geram conflitos alarmantes" (THEODORO; CORDEIRO; BEKE, s/d).

Durante muito tempo este processo de degradação foi se desenvolvendo e se agravando, mas suas consequências não foram consideradas, pois:

Durante séculos, o desenvolvimento econômico decorrente da Revolução Industrial impediu que os problemas ambientais fossem considerados. O meio ambiente era predominantemente visto como acessório do desenvolvimento, e não como parte intrínseca dele. A poluição e os impactos ambientais do desenvolvimento desordenado eram visíveis, mas os benefícios proporcionados pelo progresso os justificam como um "mal necessário" algo com que se deveria resignar (GOLDEMBERG; BARBOSA, 2004, s/n).

Além disso, "os fenômenos naturais são considerados como pressuposto geral de toda a produção". E pelo "trabalho o homem modifica as formas dos materiais naturais, de modo a satisfazer suas necessidades" (GOLDEMBERG; BARBOSA, 2004, s/n).

As consequências sobre o meio ambiente levaram a "alguns acontecimentos marcantes no século XX que auxiliaram numa tomada de consciência sobre os riscos da industrialização e do uso indiscriminado da tecnologia" (BERNARDES, FERREIRA, 2005, p. 29). Estes acontecimentos geraram modificações nas paisagens, que, por sua vez, ocasionaram profundas mudanças na qualiquantidade das águas, pois estas ao percolarem pelas mais variadas superfícies vão adquirindo as características das mesmas. Estes acontecimentos serão expostos a seguir, segundo os mesmos autores citados acima.

Pode-se ressaltar que desde o início da Revolução Industrial, destacava-se a degradação de Londres. Esgotos lançados nos córregos de água o que provocou a disseminação de epidemias de diversas doenças veiculadas pelo consumo de água contaminada.

No século XX, com o final da 2º Guerra Mundial, houve o lançamento das bombas atômicas e surge a preocupação com o potencial destrutivo produzido pelo desenvolvimento técnico científico.

O incidente na Baía de Minamata, no Japão, ao final da década de 1950. O Japão estava passando por uma rápida industrialização, mas as pessoas na Baía de Minamata viviam de maneira tradicional, isto é, tiravam os peixes dos quais se alimentavam diariamente do mar. Aos poucos foram se percebendo que animais e pessoas que se alimentavam dos peixes adoeciam e chegavam a morrer, várias crianças nasceram com problemas de saúde. Os médicos identificaram que os sintomas apresentados pela população eram sinais de envenenamento por metais pesados. Por longo tempo não se sabia o motivo de tais fatos, mas o mesmo iniciou com a instalação de uma indústria próxima da Baía de Minamata. Na verdade era a indústria que estava poluindo as águas e causando as enfermidades na população, o que perdurou por mais de dez anos.

Outro caso marcante foi proveniente da industrialização do campo que causou efeitos negativos sobre o meio natural e suas consequências sobre a sociedade, devido ao uso intensivo de pesticidas. Este fato foi denunciado pela bióloga Rachel Carson, por meio de seu livro "Silent Spring", nos Estados Unidos, onde afirmava que os produtos químicos usados no campo eliminavam as pragas, mas também os insetos importantes para a produção, causando o envenenamento dos solos, das águas e das pessoas.

Ao final dos anos 60, na costa oeste da Inglaterra ocorreu um derramamento de óleo, que chocou o mundo. Causou a morte de diversos animais que foram atingidos pelo petróleo e contaminaram as águas e as praias. Outro derramamento de óleo ocorreu no Alasca, em 1989,

quando o navio Exxon Valdez se chocou com os rochedos, rompendo o casco e derramou 40 milhões de litros de petróleo no mar.

Em dezembro de 1984, na Índia, a cidade de Bhopal foi contaminada por gás tóxico, devido a um incidente na fábrica de pesticidas Union Carbide. As consequências deste desastre provocou queimaduras e cegueira às pessoas atingidas, além daquelas que morreram na hora, sendo que até hoje os sobreviventes possuem vários problemas de saúde.

As chuvas ácidas também ganharam destaque, ocorrendo principalmente próximo de grandes concentrações urbanas no mundo. Pode-se destacar aquelas que causaram a poluição dos Grandes Lagos na América do Norte e os Lagos Alpinos.

Em abril de 1986 ocorreu o maior incidente nuclear da história na antiga União Soviética, na região de Chernobil. Este acidente espalhou radiação por cerca de 3000 km, muitas pessoas morreram e as que sobreviveram sofrem com as consequências da radiação até hoje.

E mais recentemente o acidente que ocorreu no Golfo do México, com o derramamento de 4,9 milhões de litros de petróleo. O acidente foi devido a explosão de um dos poços de perfuração ligados a uma das plataformas de perfuração, de propriedade da empresa British Petroleum que ocorreu no dia 20 de abril de 2010 e somente cessou no dia 9 de agosto de 2010 (ESTADÃO).

Diante de todos os desastres que ocorreram no âmbito global durante o século XX, foram se despertando preocupações quanto à perda de qualidade ambiental do espaço e suas consequências sobre a sociedade e sobre as águas. A sociedade toma consciência da ação predatória do homem por sobre a natureza a partir dos:

Anos de 60/70 percebeu-se que os recursos naturais são esgotáveis e que o crescimento sem limites começava a se revelar insustentável. Neste contexto, emerge a necessidade de se elegerem novos valores e paradigmas capazes de romper com a dicotomia sociedade/natureza (BERNARDES; FERREIRA, 2005, p.17).

Esta tomada de consciência da degradação da natureza pelo homem nos faz repensar várias questões, gera várias discussões, e evidencia a necessidade da mudança da relação sociedade/natureza antes que o planeta se torne inabitável.

Diante destas preocupações emergem em nível global várias discussões em eventos internacionais e a elaboração de relatórios chamando a atenção da temática ambiental. Estas discussões em nível global influenciaram as políticas públicas e a formulação da legislação de proteção ambiental em vários países, e principalmente as do Brasil, como veremos a seguir.

1.3 A discussão da crise ambiental em âmbito global, e sua influência sobre a legislação