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3 COOPERAÇÃO TRANSNACIONAL PARA O COMBATE AO NARCOTRÁFICO NA COLÕMBIA NO SÉCULO XX E XXI.

3.1 A ORIGEM DO NARCOTRÁFICO EM SOLO COLOMBIANO

A Colômbia teve e ainda tem muita influência do narcotráfico nos seus pilares econômicos, políticos e sociais. Aqui será retratado as origens do tráfico de drogas e o narcotráfico no país latino americano. Na década de 80 a Colômbia tornava-se uma singularidade no sistema internacional, engatinhando para um sólido centro de tráfico de narcóticos, todavia, o aprofundamento nesse contexto se deu anos antes. Assim como na Bolívia e Peru, em menor quantidade, as populações indígenas da Colômbia utilizavam a coca por milhares de anos, o cultivo da maconha, ao contrário, foi um fenômeno muito mais recente. (MEDITZ, 1988).

Para ingressar no contexto do narcotráfico em especial retratando a cocaína, antes deve-se observar como o tráfico de maconha incentivou de maneira geral o tráfico de drogas não só por parte dos colombianos como também através dos norte- americanos. A real produção de marijuana se deu meados e finais da década de 60 como resultado de uma forte demanda gerada pelo mercado norte americano e muito por conta da “bonanza marimbera” que será citada posteriormente. Na década seguinte, 1970, a Colômbia surgiu como um dos principais fornecedores ilícitos do mercado estadunidense, embora a maior parte deste mercado permaneça nas mãos dos traficantes mexicanos naquela época. Nos anos 80 e 90 foi quando a cocaína surgiu como a principal droga exportada através de um dos maiores narcotraficantes já revelado no país latino americano, Pablo Escobar. Ainda assim, aqui estará alguns fatores em ordem cronológica que contribuíram para a formação do narcotráfico. (HANRATTY, 1988).

Segundo Dabène (2003), ocorreu um importante fato para o crescimento do narcotráfico em solo colombiano. O autor cita a eleição do conservador Mariano Ospina Perez em 1946, como um fator de enfraquecimento para o Estado latino que desencadeou um novo período regido pela violência, que ficou conhecido como La Violencia Famosa.

Conforme Santos (2011) a rivalidade interna entre liberais e conservadores era forte acerca de temas como descentralização política e a

secularização do Estado, o que induziu a violentos conflitos protagonizados pelas classes populares. Ainda na ótica de Santos (2011), o empobrecimento dos setores mais populares gerou o fim da ligação destes com partidos tradicionais, principalmente os liberais, o que resultou na criação de grupos armados de esquerda.

Como dito anteriormente através da visão de Dabène (2003), a eleição de Mariano Ospina Perez apenas tornou caótica a situação que já era ruim. O conflito perdurou até meados dos anos 60, mais em específico até 1958 quando as negociações entre o Partido Liberal e o Conservador levaram a formação de uma Frente Nacional, que estipulava a alternância entre os dois grupos nas esferas do Poder Executivo e Legislativo.

Houve a convergência entre as duas partes concorrentes ao poder da Colômbia e a elite da política colombiana voltada para o pensamento norte- americano sob a doutrina de perseguir grupos comunistas, acabou por promover uma exclusão de outros classes na política. Em decorrência disso, a partir da década de 60, no ápice da Guerra Fria e da doutrina americana em questão a segurança nacional, o país latino viu surgir grupos guerrilheiros de esquerda e o aparecimento de organizações paramilitares de direita. Através destes fatores, o Estado colombiano estava enfraquecido o suficiente para o surgimento do narcotráfico em seu próprio solo. (DARIO, 2010).

Conforme Puentes (2008), ainda na década de 60 mais em específico 1961, o então presidente estadunidense John F. Kennedy, anunciou o segundo projeto da iniciativa “Cuerpos de Paz” consolidada através do governo norte –americano para conter o comunismo em países subdesenvolvidos. No projeto, 64 voluntários estariam a cargo de acompanhar as comunidades rurais em projetos de desenvolvimento agrícola, de educação e saúde. Entretanto foi através desta iniciativa que a “Bonanza Marimbeira” foi instaurada. Segundo Britto (2016), a bonanza marimbeira foi a época de ouro das exportações de maconha na Colômbia entre os anos 70 e 80.

Outro fator de pressão segundo Hanratty (1988), foi no início dos anos 70 onde as políticas anti-drogas americanas foram reforçadas e aplicadas ao longo da fronteira entre EUA-México tendo como consequência um impulso contra os produtores domésticos dentro do solo mexicano partindo do seu próprio estado. Tal

feito fez com que o epicentro da produção de maconha tenha sido deslocado do México para a Colômbia, mais especificamente para a península de Guajira e as encostas da Sierra Nevada de Santa Marta. No final daquela década a representação da Colômbia chegava a cerca de 70% da maconha em solo americano, entre 30.000 e 50.000 pequenos agricultores ao longo da costa do Caribe da Colômbia dependiam diretamente do cultivo da marijuana, enquanto pelo menos outros 50.000 colombianos entre eles; selecionadores, transportadores, guardas e banqueiros sazonais, ganhavam a vida com isso.

A ótica de Meditz (1988) afirma que a península de Guajira experimentou um aumento dramático na violência relacionada a drogas e fora isso a corrupção começava a tomar ganho, desintegrando progressivamente a polícia local e as instituições judiciais através do suborno. Outros índices importantes também vinham a ser questionados, como por exemplo, a produção local de alimentos que diminuiu a medida que milhares de hectares foram convertidos para a plantação e cultivo da maconha. Os agricultores que dependiam da produção de alimentos, como as bananas, sofreram com um trabalho mais caro e escasso. Diante disso a inflação ganhou corpo e foi estimulada, especialmente nos mercados terrestres além de muitas empresas legítimas como bancos, hotéis, restaurantes (...) terem sido compradas pelos traficantes e usadas para lavagem de lucros ilícitos.

Voltando para Puentes (2008), durante esse período da bonanza marimbera (1976-1985), os voluntários estadunidenses que incorporavam o projeto de acompanhamento agrícola na Colômbia, descobriram as qualidades da maconha de Sierra Nevada e Santa Marta e converteram-se em traficantes de menor porte que posteriormente seriam manejados no que seria um “negócio” para a máfia norte- americana com o auxílio de traficantes colombianos.

Porém, cientes dos vários riscos que corriam não tardou para que os traficantes norte-americanos estudassem a fundo o cultivo da maconha. Através da tecnologia da época que eventualmente era melhor do que no país colombiano e também com a ajuda de fertilizantes e matérias químicas, começaram a produzir sua própria marijuana. Essa seria uma das causas que levariam o enfraquecimento da bonanza maribera. Alguns entendidos sustentavam a teoria de que a maconha produzida em solo americano era melhor se não do mesmo nível da colombiana. Segundo dados oficiais, 90% do consumo estadunidense em 1978 provinha do país

latino americano, em decorrência da produção em solo americano caiu para 40%. (ANGULO, 1982).

Puntes (2008) revela que finais dos anos 70, com o enfraquecimento da bonanza marimbera, os cultivadores da folha de coca começaram a seguir o mesmo rumo dos traficantes de maconha. A exportação ilícita de marijuana gerava altos custos e o lucro não cobria, a demanda era alta e o meio de transporte pouco difundido, os consumidores passaram a buscar drogas mais fortes além também da produção americana que revelava uma erva mais forte e de melhor qualidade. A intensificação por parte dos Estados Unidos contra as drogas também tiveram peso, pois a marijuana era fácil de ser descoberta através do seu forte cheiro. Por meio destas consequências o monopólio da cocaína e também os traficantes da mesma começaram a surgir.

Outros dois fatores foram importantes para o engrosso da produção de cocaína em solo colombiano. Os dois fatos ocorreram na mesma década de 70, sendo o primeiro deles o golpe militar chileno, que provou ser um duro golpe para as quadrilhas criminosas chilenas que já tinham conhecimento sobre a cocaína. A reação destas quadrilhas foi a fuga para as redes nascentes de contrabando e refino na Colômbia, como boa parte tinham profundo conhecimento sobre a produção e até componentes químicos, houve uma forte alavancagem. O segundo fator foi a “importação” da pasta de coca de países como Bolívia e Peru, que acrescentados com os suprimentos de coca crus produzidos na Colômbia e refinados no mesmo local, era contrabandeado para os Estados Unidos. (MEDITZ, 1988).

Virando a década, agora nos anos 80, devido ao forte comércio ilegal de cocaína foi evidente a formação de organizações criminosas, como o famoso Cartel de Medellín, Cartel de Cali dentre outros. O cultivo de marijuana estava eclipsado pela cocaína que agora era a mais cotada. Diante de uma forte produção e cultivo da folha de coca os cartéis viram a necessidade de proteger seus interesses de forma sólida, que era indispensável um aparelho armado contra o Estado e até mesmo outros grupos criminosos. Os grupos esquerdistas armados foram cotados para cobrir o cargo de protetores de seus interesses e a servir os interesses da máfia, uma vez que já possuíam uma estrutura armada, controlavam os territórios de interesse para os traficantes de drogas e influenciavam a população.

As FARC, por exemplo, cogitou a negociar com os traficantes de drogas para cuidar de suas atividades em troca de dinheiro. (PUENTES, 2008).

Puentes (2008) ainda comenta que a relação entre os cartéis e os grupos armados esquerdistas era problemática e não durou muito, exemplo disso foram os atentados contra a máfia colombiana por parte das FARC e também do M- 19, deteriorando seus laços. Em 1981, o M-19 sequestrou Martha Nieves Ochoa, irmã dos famosos irmãos Ochoa que também integravam o grupo que fundou o Cartel de Medellín. Tal feito gerou uma ação por parte dos cartéis de drogas colombianos que junto a proprietários de terras, fazendeiros e até membros da Força Pública, decidiram criar um grupo de autodefesa denominado de Morte para Sequestradores (MAS).

Se tratando de cocaína, Colômbia e cartel é impossível não citar o nome de Pablo Emilio Escobar Gaviria, responsável pela imensa remessa de cocaína rumo ao solo estadunidense, membro e um dos fundadores do Cartel de Medellín, o mais influente cartel da história do tráfico de cocaína na Colômbia. Segundo Minster (2017), Escobar foi responsável nos anos 80 por 80% de toda a cocaína exportada para os Estados Unidos, uma marca expressiva. De certa forma, Escobar era o responsável na questão do fluxo de cocaína, era quem mantinha o rendimento dos cartéis através de sua influência economia e política e sem ele o tráfico seria menos expressivo.

Rincón (2015) revela que no ápice de seu poder, os anos 80 até início dos 90, Escobar contrabandeava 15 toneladas de cocaína por dia aos Estados Unidos, um dos seus métodos consistia em esconder a droga nos pneus de aviões e o narcotraficante chegava a pagar até U$ 500 mil por viagem. O Cartel de Medellín o qual fez parte movimentava cerca de U$ 1 milhão ao dia. Além disso, estima-se que o traficante tenha sido o responsável por mais de 4 mil mortes ao longo dos seus anos frente ao poder, incluindo mais de um candidato a presidência da Colômbia, mais de 200 juízes, dezenas de milhares de policiais, um ex-ministro da Justiça e dezenas de jornalistas.

Após a morte de Pablo Escobar, em 2 de dezembro de 1993 através da unidade de operações especiais da Polícia Nacional da Colômbia, o cartel de Cali ascendeu de maneira sólida e tomando a liderança frente ao tráfico de cocaína na Colômbia. Com a queda de Escobar houve a fragmentação do cartel de Medellín e

por fim o seu total desmantelamento. Cali ainda reinava bravamente usando o método de Escobar para continuar seguindo com o tráfico. Entretanto, em 1995 houve a captura dos irmãos Gilberto Rodriguez Orejuela e Miguel Rodriguez Orejuela o que decretava não só o fim do cartel de Cali mas como também o fim do modelo de Pablo Escobar, o modelo “vertical” de cartel. Após o fato nunca houve um cartel tão poderoso quanto Medellín ou Cali. O autor ainda cita Javier Peña, agente da US Drug Enforcement Administration: “O cartel de Cali ficou mais forte, certo? E então os tiramos. O cartel do Nortel de Valle assume o controle, nós os derrubamos.” (WOODY, 2017).

Costa (2016) relata o contexto atual dos chefões do narcotráfico colombiano e revela a grande decadência desde Escobar. A prisão de Daniel “El Loco” Barrera, o último grande narcotraficante colombiano preso em 2012, só consolida a liderança dos cartéis mexicanos frente ao mercado ilícito de drogas na América.

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