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O estudo de caso sobre a cooperação transnacional para o combate ao narcotráfico no México e na Colômbia no século XX e XXI

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TÍTULO DO TRABALHO: NARCOTRÁFICO NA AMÉRICA LATINA

SUBTÍTULO DO TRABALHO: O ESTUDO DE CASO SOBRE A COOPERAÇÃO TRANSNACIONAL PARA O COMBATE AO NARCOTRÁFICO NO MÉXICO E NA

COLÔMBIA NO SÉCULO XX E XXI

Cidade Florianópolis

Ano 2017

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TÍTULO: NARCOTRÁFICO NA AMÉRICA LATINA

SUBTÍTULO: O ESTUDO DE CASO SOBRE A COOPERAÇÃO TRANSNACIONAL PARA O COMBATE AO NARCOTRÁFICO NO MÉXICO E NA COLÔMBIA NO

SÉCULO XX E XXI

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Orientador: Paulo Roberto Ferreira.

Cidade Florianópolis

Ano 2017

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Sumário 1 INTRODUÇÃO...4 1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA...4 1.2 JUSTIFICATIVA...5 1.3 OBJETIVOS...6 1.3.1 Objetivo Geral...6 1.3.2 Objetivos específicos...7 1.4 METODOLOGIA...7 2 REFERENCIAL TEORICO...9 2.1 NARCOTRÁFICO...9 2.2 NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL...10 2.3 COOPERAÇÃO TRANSNACIONAL...12

3 COOPERAÇÃO TRANSNACIONAL PARA O COMBATE AO NARCOTRÁFICO NO MÉXICO NO SÉCULO XXI...15

3.1 A ORIGEM DO NARCOTRÁFICO EM SOLO MEXICANO...15

3.2 OS PROBLEMAS INTERNOS CAUSADOS PELO NARCOTRÁFICO...20

3.3 OS PROBLEMAS TRANSNACIONAIS A PARTIR DO NARCOTRÁFICO MEXICANO...25

3.4 COOPERAÇÃO MÉXICO – E.U.A. EM COMBATE AO NARCOTRÁFICO...30

4 COOPERAÇÃO TRANSNACIONAL PARA O COMBATE AO NARCOTRÁFICO NA COLÕMBIA NO SÉCULO XX E XXI...40

4.1 A ORIGEM DO NARCOTRÁFICO EM SOLO COLOMBIANO...40

5 COMPARAÇÃO ENTRE O NARCOTRÁFICO COLOMBIANO E MEXICANO E SUAS COOPERAÇÕES COM OS ESTADOS UNIDOS...49

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...51

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1 INTRODUÇÃO

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA

Foi analisado o Narcotráfico no âmbito transnacional e suas características, devemos antes nos submeter a sua história na América Latina; México e Colômbia mais precisamente. O conceito do Narcotráfico vem da prática do comércio ilegal de substâncias tóxicas ou dos próprios narcóticos. É um mercado extremamente lucrativo, porém não traz apenas o lucro, a consequência de seu funcionamento abala todos os mecanismos inerentes a norma e a segurança. Em decorrência disso, o Narcotráfico pode vir a ser demasiado perigoso para o âmbito internacional, uma vez que o crime organizado estimula a corrupção nos órgãos públicos para garantir os interesses do tráfico. Ou seja, um poder paralelo ao estado surge. Como se não bastasse o alto capital, o tráfico obtém seu próprio poder militar, com armamento bélico sofisticado. Hoje em dia com um mundo altamente globalizado, podemos dizer que o Narcotráfico também é globalizado, o que pode alterar e direcionar o rumo de vários países tornando-se assim uma questão além das fronteiras.

As Relações Internacionais permitiu estudar e analisar questões e características do Narcotráfico, âmbito importante dentro de RI, sendo um dos caminhos através da globalização. Nos dias atuais não devemos apenas pensar como o tráfico internacional de narcóticos influencia apenas dentro de um determinado Estado, devemos ter uma visão mais abrangente, que nos permita ver como isso atinge fora do seu território. Através da globalização estamos com o globo mais aproximado e a facilidade para temas locais se expandirem tornam-se muito mais fáceis do que tempos atrás. A questão do tráfico de narcóticos feito pelo tráfico local da Colômbia ou México, por exemplo, podem vir a influenciar em questões sociais no país consumidor. O tráfico pode vir a difundir-se naquela determinada localização, índices de violência aumentarem e questões como saúde e segurança pública serem ameaçadas, além também da situação carcerária. Sem citar detalhes importantes como economia e política.

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Não necessitamos ir afora dos limites territoriais dos estados para ver o quão ameaçador isso possa ser. Dentro dos países onde o tráfico exerce intensa influência, Colômbia e México como fortes exemplos, os sintomas são claros e de altos riscos. Na Colômbia a produção de narcóticos está tão presente que influencia diretamente no PIB. Fora isso, guerrilha, paramilitares e os cartéis surgem para manter a corrupção interna, sendo o último citado como um dos que detém forte poder de persuasão. Políticos são promovidos apenas para manter o interesse do tráfico dentro dos corpos estatais. O poder de alcance chega a um nível preocupante, onde o governo muitas vezes acaba ficando à mercê. No México a situação funciona de forma semelhante, sendo muitas cidades controladas por milícias e/ou cartéis, principalmente as cidades próximas ou fronteiriças com os EUA. Lembrando que os cartéis mexicanos começaram a ganhar força devido ao enfraquecimento dos cartéis colombianos nos anos 90.

Por isso, hoje em dia cria-se a cooperação internacional justamente para conter o avanço preocupante do narcotráfico. Internamente normas e políticas internas são promovidas, mas devem ter apoio e ganho de força com a cooperação externa. Um dos grandes nomes contra o Narcotráfico é o próprio Estados Unidos, que, desde a era de Pablo Escobar vem tomando iniciativas afim de conter o avanço dos narcóticos. Atualmente o estado norte americano vê-se contra o fato iminente de um novo agente do tráfico internacional, ainda mais próximo do seu território, os cartéis mexicanos. Portanto, diante dos fatos, quais as principais características da cooperação transnacional para o combate ao narcotráfico no México e na Colômbia no século XXI?

1.2 JUSTIFICATIVA

Visto que o narcotráfico é uma importante área dentro de Relações Internacionais, o trabalho tem a proposta de analisar questões acerca do fato, trazendo estudo e questões estatísticas acerca do assunto. O tema vigente é e pode ser traduzido de forma bastante atual, uma vez que também que vivemos o ápice da globalização, o que funciona como alavanca para o tráfico internacional expandir-se.

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Os números impressionam e devem ser vistos com maior atenção pelas autoridades. Em 2012, estimativas indicavam que, a cada quinze minutos quatro pessoas eram vítimas de homicídios na América Latina e no Caribe. Pode vir a ser definida como uma das zonas mais perigosas do planeta. Em 2013, das 50 cidades mais violentas do mundo, 42 estavam localizadas nessa região, onde o narcotráfico é muito presente. Esses índices não desafiam somente o crescimento econômico dos países, mas também a cooperação, a prevenção da criminalidade, segurança pública como tantas outras questões de suma importância. (Organização das Nações Unidas).

A relação entre os governos dos EUA e México, por exemplo, retrata a tentativa de conter o tráfico internacional de entorpecentes. Desde 2008, o Congresso norte-americano destinou 1,2 bilhão de dólares para o México através da Iniciativa Mérida, um programa para comprar equipamento para a capacitação na luta contra os cartéis do narcotráfico, uma batalha que deixou mais de 70.000 mortos desde 2006. (El País). O México não funciona somente como produtor de entorpecentes, é uma importantíssima rota para que a droga chegue aos Estados Unidos.

Assim como o México, o estado colombiano também recebe ajuda do governo dos Estados Unidos. Essa ajuda pode ser chamada de “Plano Colômbia”, que consiste em apoio logístico e financeiro, visando precisamente combater produção e o tráfico de cocaína, entretanto, também tem o propósito de desestruturar as guerrilhas de esquerda, como as FARC. (BBC)

O tema é importante e retrata de inúmeras formas como o narcotráfico pode influenciar em questões econômicas, políticas de um estado. Com os índices fica claro o quão perigoso isso é, pois poder vir a abalar questões sociais principalmente na América Latina. Por fim, a proposta segue relevante para o curso de Relações Internacionais da UNISUL, pois pode oferecer resultados que auxiliem as disciplinas, ou até, um estudo mais aprofundado.

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1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar as principais características da cooperação transnacional para o combate ao narcotráfico no México e na Colômbia no século XXI.

1.3.2 Objetivos específicos

 Entender os principais estudos sobre o tráfico internacional de drogas na América Latina

 Estudar a cooperação transnacional para o combate ao Narcotráfico no México no século XX e XXI

 Estudar a cooperação transnacional para o combate ao Narcotráfico na Colômbia no século XX e XXI

 Formalizar um estudo de caso sobre a cooperação transnacional para o combate ao narcotráfico no México e na Colômbia no século XX e XXI

1.4 METODOLOGIA

A pesquisa é qualitativa e básica. O levantamento dos dados e informações para análise será feito através de artigos, método bibliográfico e sites governamentais.

Para entender os principais estudos sobre o tráfico internacional de drogas na América Latina, as fontes utilizadas serão aquelas disponíveis em livros, artigos e até sites oficiais relacionados ao tema. Os resultados serão dispostos em forma de relatório, trazendo para o leitor informações acerca do assunto abordado.

Através do estudo sobre a cooperação transnacional para o combate ao narcotráfico no México no século XXI, utilizarei de fontes e documentos que

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comprovem tal cooperação. Um dos pontos a serem citados nesse tópico, será o Plano Mérida: uma cooperação entre Estados Unidos e México em combate aos narcotraficantes.

Já para estudar a cooperação transnacional para o combate ao narcotráfico da Colômbia no século XXI, também serão utilizados fontes, artigos e documentos que comprovem tal manifesto. Entre eles, o Plano Colômbia que também envolve os Estados Unidos no combate ao narcotráfico colombiano.

Por fim, com ambos os casos analisados, a proposta será de uma comparação entre México e Colômbia. A ideia é expor como cada país tomou conta da questão do narcotráfico internamente e, também, de que forma receberam ajuda/cooperação externamente. Tendo em vista esses fatores, a conclusão será dada mostrando os métodos mais eficazes de cada um.

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2 REFERENCIAL TEORICO

2.1 NARCOTRÁFICO

O narcotráfico pode ser conceituado como a prática ilegal da venda de substâncias ilícitas em larga escala. O processo vem muito antes da comercialização, começando pelo cultivo das substâncias que irão gerar as drogas tóxicas. A lógica é seguida através da produção para então finalizar com a distribuição e venda. É um processo realizado por diversos cartéis e quando esses detém poder, possuem enorme presença global e ostentam um poder semelhante ao de um governo. (CONCEITO, 2017)

Na América Latina é muito perceptível o vínculo com o narcotráfico, segundo a própria Organização das Nações Unidas, México e Colômbia estão entre os lugares mais perigosos do mundo. Em 2012, estimativas indicavam que, a cada 15 minutos, quatro pessoas eram vítimas de homicídios na América Latina e Caribe. Outro dado interessante é que, das 50 cidades mais perigosas, 42 delas estavam situadas nessa região, onde a presença do narcotráfico é evidente. Porém temos casos como os Estados Unidos, onde o consumo de cocaína e outras drogas é altíssimo mesmo sendo um país com uma das economias mais fortes do mundo. (PEREIRA, 2016.)

Em 2002, um estudo realizado pela UNESCO sobre juventude, violência e vulnerabilidade social na América Latina, destaca:

“A violência sofrida pelos jovens possui fortes vínculos com a vulnerabilidade social em que se encontra a juventude nos países latino-americanos, dificultando, por conseguinte, o seu acesso às estruturas de oportunidades disponíveis nos campos da saúde, educação, trabalho, lazer e cultura. O contingente de jovens em situação de vulnerabilidade, aliada às turbulentas condições socioeconômicas de muitos países latino-americanos ocasiona uma grande tensão entre os jovens que agrava

diretamente os processos de integração social e, em algumas situações, fomenta o aumento da violência e da criminalidade” (UNESCO, p. 9, 2002).

Como explícito anteriormente, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), ficou visível que a região da América Latina é uma das zonas mais perigosas

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do mundo e falar dessa região e vincular o narcotráfico sem citar México e Colômbia é uma tarefa praticamente impossível. A Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), órgão vinculado as Nações Unidas, em 2016 a América do Sul continuou sendo praticamente a única fornecedora de cocaína nos mercados de uso ilegal de drogas por todo o globo e que o consumo de maneira geral vem aumentando naquela região. Na Colômbia entre 2014 e 2015 o país teve um aumento de quase 40% do cultivo da planta de coca, ou seja, quase duplicou. O estudo também remete a outras Comissões como a Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas (CICAD) e também o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e segundo eles, o fato do cultivo quase ser duplicado se deve as grandes expectativas geradas em torno das negociações do processo de paz naquela região, e essas poderiam ter contribuído para que os agricultores tivesse maiores esperanças de benefícios através de programas de desenvolvimento alternativo, porém, motivou também o mercado de cultivo ilícito. (EL PAIS, 2017)

No México, existem os famosos cartéis responsáveis pelo cultivo, produção, distribuição e todas as formas possíveis de ligação com o narcotráfico. Em 2015, ainda segundo a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), além de serem um problema de ameaça constante contra o bem estar social, os cartéis mexicanos tornaram-se os principais provedores ilícitos de maconha, metanfetamina e heroína para os Estados Unidos. Além disso, quase 70% das armas confiscadas na guerra contra o narcotráfico entre 2007 e 2011, são provenientes do solo americano. (MUEDANO, 2016).

2.2 NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL

O tráfico internacional de drogas nada mais é que um acontecimento transnacional, sendo ditado pelas leis da oferta e demanda. A partir dos anos setenta pode-se perceber que o mundo intensificaria questões como fluxo de bens, capitais e até pessoas através de fronteiras nacionais. Com o final da guerra fria, a visão de ameaça internacional seria vista de forma diferente por países em desenvolvimento e em especial por parte dos Estados Unidos. Com o avanço do

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narcotráfico nessa época pós mundo bipolar, o tráfico internacional recebia uma atenção diferente na agenda política do continente americano. Somando isso a intensificação da globalização, liberalização do fluxo de bens e áreas econômicas integradas, o narcotráfico ganhava força por ser uma ameaça internacional inovadora e também pelo mercado ser extremamente lucrativo, o que ostentava um grande poder. (PROCOPIO FILHO, 1997).

Segundo Williams (2008), para facilitar o entendimento é necessário examinar as forças subnacionais e transnacionais, assim como as relações interestatais. Existem várias razões do porquê organizações criminosas são uma ameaça para a segurança internacional: são organizações econômicas poderosas em vez de políticas, ostentam um poder muito paralelo ao estado, fortemente armada e ainda detém um poder de persuasão altíssimo no cenário internacional.

É verdade que o crime organizado tem sido visto como um problema interno de lei e ordem e, de fato, o seu surgimento nasce internamente dentro de um território estatal. No entanto nas últimas décadas o crime assumiu uma nova face, uma dimensão internacional que se desenvolve nos dias atuais se assemelhando muito como uma empresa transnacional para exemplo de comparação. Após o mundo bipolar, vimos uma explosão de acontecimentos transnacionais acontecerem como dito anteriormente: fluxo de bens, capitais, informações, dinheiro, pessoas e tantos outros objetos tangíveis e intangíveis. Essa explosão também serviu de incentivo para o crescimento do crime organizado, as oportunidades crescentes para atividades internacionais facilitaram e facilitam o crescimento dessas organizações criminosas. Atrelando isso com o aumento da interdependência entre as nações, temos um ambiente favorável para que o tráfico de drogas encontre dispositivos e incentivo para cometerem a ilegalidade. (WILLIAMS, 2008).

Como descreve Williams (2008), o caráter dessas organizações as tornam particular, são grupos que exploram novas oportunidades e não carecem do medo por justamente se manterem fora da regra, fora de normas, leis e jurisdições que cercam o âmbito internacional. Por praticarem dessa forma, a atividade de cruzar as fronteiras de forma ilegal torna-se um hábito. Operam fora de estruturas existentes, a não ser a sua própria, e desenvolvem estratégias para burlar as autoridades, políticas e Estados na comunidade global. Como observou Edward Morse, praticamente todos os itens tangíveis em uma transação detêm do valor econômico

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que posteriormente terá um valor monetário anexado. Então não é surpreendente que as organizações criminosas transportam commodities ilícitas em jurisdições nacionais contra o desejo dos governos.

De acordo com os dados do Escritório da ONU contra Drogas e Crimes o comércio ilegal do crime organizado registra ganhos anuais de US$ 2 trilhões. Este número equivalente a cerca de 3,6% de tudo que se produz e é consumido no planeta. (BBC, 2016). Uma pesquisa feita em 2011 pela Global Financial Integrity, revelou que o narcotráfico vem sendo o tráfico mais rentável. Pode-se concluir que, definitivamente, o narcotráfico é um problema de Relações Internacionais.

2.1 COOPERAÇÃO TRANSNACIONAL

Em face da globalização e também da iminente intensificação das relações internacionais, alguns países passaram a formar e aplicar normas com o objetivo claro de cooperação entre Estados soberanos. Uma vez que a soberania é em grande parte essência de um Estado concretizado, deve-se ter normas e diálogo para que os países usem sua soberania em prol da cooperação e não do contrário. (DONIZETTE, 2016.)

O processo de cooperação internacional está muito além de apenas ajuda mútua, o conceito estende-se a todas as áreas desde o comércio e finanças até questões como segurança, meio-ambiente, saúde e educação. Cooperação internacional tem um significado muito mais amplo do que apenas ajuda entre instituições e governos distintos, ela parte da premissa de tomar decisões com empatia, de criar e formular programas em prol do benefício da comunidade internacional e também de tomar decisões em conjunto acerca do que pode ser ameaçador e favorável a esta comunidade. (SATO, 2010)

Sato argumenta a existência frequente de uma agenda internacional dividida em dois momentos: high politics e low politics. A primeira referia-se as questões associadas diretamente a segurança estratégica/militar o que tornava complexa a cooperação nesse sentido. A expressão low politics era caracterizada pelas preocupações acerca de questões como comércio, educação, saúde, desenvolvimento entre outros temas que não estavam diretamente associados as preocupações de segurança estratégica dos países, sendo assim, a low politics por

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natureza é muito mais flexível e fácil de cooperar do que as questões associadas à high politics. Negociações, ações cooperativas no âmbito do comercio, educação, meio ambiente, sustentabilidade entre outros temas, ocorre de menor tensão e muito mais propenso a concretização da cooperação se comparado às negociações e discussões envolvendo investimentos em sistemas de defesa, militar e bélico. Estas negociações e discussões envolvendo investimentos na área de segurança/estratégica envolvem aspectos sensíveis criando assim um ambiente de enorme tensão, ou ainda, existe a grande possibilidade de criar um ambiente caracterizado como “soma zero”. Em outras palavras, alguém que está ganhando em relação a alguém que está perdendo. Por outro lado, as questões da low politics tendem a oferecer múltiplas alternativas o que pode ter ganho para todas as partes envolvidas. Portanto, é necessário encontrar uma forma de equilibrar as políticas e ceder quando a questão é cooperação internacional.

Um das formas de balancear as políticas internacionais é através da integração internacional, segundo Sato, a cooperação teve progresso através deste meio, que trouxeram diferentes visões e mudanças nas lideranças governamentais fazendo com que a agenda de muitos deles colocasse como preocupação regular as variáveis formas de cooperação internacional. Com o término da segunda grande guerra, os países daquele momento tentaram criar mecanismos para que houvesse uma maior cooperação e naquela situação a integração europeia acabou destacando-se E O SISTEMA ONU. Após a guerra fria, houve uma crescente no que se diz respeito a transações extraterritoriais e com isso a globalização ganhou força, o mundo ficou mais interligado e o Estado como ator principal no cenário internacional perdeu espaço, uma das provas disso foi a crise de 2008, onde um fato isolado desencadeou inúmeras consequências negativas nas principais economias mundiais. O fato é que hoje em dia a comunidade internacional leva muito a sério as “low politics” e todas as nações devem e precisam construir políticas para essa cooperação, além de que um Estado com políticas voltadas para a cooperação internacional atualmente tem grandes chances de uma maior estabilidade, coerência e segurança com relações externa a outros países. (SATO, 2010).

Meados dos anos 90 a globalização ganhou ímpeto, mas junto a isso novos problemas advindos da grande interligação que os países estavam vinculados foram surgindo e potencialmente ameaçadores à cooperação internacional. Uma vez

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que as fronteiras foram diminuindo, questões como o tráfico internacional de drogas foram aparecendo cada vez com mais frequência, assim como as atividades criminosas correlacionadas ao narcotráfico. Os Estados Unidos como grande potência daquela época e atualmente, teve as estruturas balançadas em decorrência do tráfico internacional de drogas advindos dos países latinos, em especial Colômbia e México. (SEELKE & FINKLEA, 2010).

Como argumenta Seelke e Finklea (2010), nos anos 90 a preocupação dos Estados Unidos com o narcotráfico da América Latina apenas aumentava. Era visível que naquela época o fluxo do tráfico era intenso no solo norte americano. Em resposta, o governo dos Estados Unidos desenvolveu estratégias para conter o avanço ou a ao menos a tentativa de frear o narcotráfico no próprio solo. Colômbia e México são países que necessitam de ajuda externa para conter ou diminuir o tráfico de drogas dentro do seu território. Boa parte dessa ajuda veio por parte dos EUA, que lançaram programas para conter esse fenômeno que atingia cada vez mais o solo americano. Iniciativa Mérida era a cooperação bilateral entre EUA e México e o Plano Colômbia, era eventualmente a ajuda dos estadunidenses para com o governo colombiano.

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3 COOPERAÇÃO TRANSNACIONAL PARA O COMBATE AO NARCOTRÁFICO NO MÉXICO NO SÉCULO XXI.

2.2 A ORIGEM DO NARCOTRÁFICO EM SOLO MEXICANO

A história do narcotráfico no México vem acompanhada de um nível de violência extremo. Desde meados dos anos 80 até atualmente, os governos passaram a concretizar investidas contra o narcotráfico porém sem êxitos. Em contrapartida, os cartéis vem se multiplicando, tomando forma e corpo além de esboçarem um sólido alicerce. Não é surpresa ver a expansão desses grupos por grande parte da geografia mexicana. O México passa a assumir um lugar crítico de fornecimento de drogas após a Segunda Guerra Mundial, o que veremos a seguir serão fatos e acontecimentos sobre a origem do narcotráfico em solo mexicano. (TEAGUE, 2016).

Sánchez (2017) e outras pesquisas relacionadas ao tema apontam que a origem do narcotráfico no México é permeado por sombras. Muitos estudos assemelham o estopim do narcotráfico com a vinda dos imigrantes chineses por volta do início do século XX, considerando que esses imigrantes traziam consigo o conhecimento sobre o cultivo de ópio e sua dependência em relação ao mesmo.

Ainda nesse contexto, Higuera (2014), investigador visitante do Centro de Estudos México-Estados Unidos da Universidade da Califórnia, reconstrói a história da origem do narcotráfico em seu artigo. Nele, Higuera aponta a vinda de Lai Chang Wong, um imigrante chinês que havia chego ao México em 1911. Inicialmente Chang Wong havia desembarcado aos Estados Unidos onde viajou posteriormente para o México, se alistando como médico junto aos revolucionários do noroeste. Após ficar gravemente ferido por um tiro, Chang Wong aplicou-se a estudar medicina naturalista em El Dorado, Sinaloa, onde um sacerdote católico o converteu ao cristianismo batizando-o como José Amarillas. Com consultório em San José de la Puerta, no município de Badiraguato, Amarillas desempenhava um papel como curandeiro naturalista, cultivando as polemicas papoulas. A história de Chang Wong era uma porta aberta para a concretização da utilização do ópio em Sinaloa, tanto como uso de narcótico ou medicinal.

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Superficialmente, Higuera (2014) também comenta acerca do assunto posteriormente, quando os Estados Unidos fica sob comando de Franklin Delano Roosevelt, que supostamente teria incentivado o cultivo de papoula em solo mexicano. O plano consistia produzir em larga escala a morfina necessária para ajudar na reabilitação dos militares estadunidenses durante a segunda grande guerra.

Os autores convergem para um ponto em comum: a vinda dos imigrantes chineses para as terras mexicanas. Entretanto, Teague (2016) vai ainda mais afundo. Como citado antes, o ópio e a maconha são encontradas há séculos na sociedade mexicana e embora proibidas pelos governos locais e estaduais do seu tempo, sua regulamentação nacional oficial só ocorreu após início do século XX. Na América do Sul os indígenas utilizavam a Cannabis sativa para seus fins, entretanto, a erva não era indígena no México. Os colonos espanhóis adquiriam a planta na Ásia e posteriormente, no século 16 e 17, é que trouxeram. No período pós independência do México em relação a sua metrópole, Espanha, a Cannabis era encontrada em posse de militares de baixo escalão e camponeses. Os mexicanos tinham crença de que a maconha desencadeava uma onda de loucura e violência por parte daqueles que a usavam.

Em contrapartida, a secretaria de saúde pública do México junto do Dr. Leopoldo Salazar Viniegra, liderou uma campanha para explicar o uso da maconha e seus efeitos a partir de uma perspectiva médica. Em 1938 um estudo feito pelo Dr. Leopoldo foi publicado e nele continha o argumento de que a maconha não oferecia a ameaça/risco para a sociedade e que ainda não promovia atividades criminosas como muitos imaginavam. Apesar do estudo e argumento feito por Viniegra, o uso da maconha nunca foi uma séria ameaça para a sociedade mexicana. Ao decorrer das décadas, especialmente em 40, apenas o ocasional turista americano e algumas máfias estadunidense obtiveram o suprimento de narcóticos provindo do México. (TEAGUE, 2016).

Durante a década de 50, como comenta Teague (2016), os EUA começaram a tornar as políticas de controle de drogas mais sólidas. Agentes do Departamento Federal de Narcóticos (DEA) começaram a trabalhar em solo mexicano para controlar o suprimento, primeiramente, de medicamentos. Entretanto, comparado as missões realizadas posteriormente, essa em questão não foi

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coordenada com certa rigidez e muito menos financiada, porém, deixava clara a intenção da DEA em solo mexicano.

Nos anos seguintes, mais específico na década de 60 e 70, muitos fatores convergiam para o aumento do consumo de drogas psicoativas, principalmente por parte dos Estados Unidos. Até então, a toxicodependência no México não era um problema que afetava diretamente na segurança nacional, como seria o caso nos Estados Unidos no final da década de 60. A sociedade mexicana já havia sido exposta aos danos e uso de substancias psicoativas por conta das práticas culturais indígenas daquela região que faziam o uso de peiote e cogumelos alucinógenos. Em outras palavras, o país mexicano tratou de forma branda o controle de substancias psicoativas. (TEAGUE, 2016).

Já com os Estados Unidos funcionou de forma diferente. Pós segunda guerra, houve um aumento acentuado no uso doméstico de drogas nos EUA, principalmente por parte dos jovens em resposta as figuras autoritárias daquela época. O segundo fator foi o triunfo do modelo proibitivo e punitivo de execução na burocracia governamental dos EUA em relação aos modelos de tributação, que no caso facilitou o aumento das medidas de controle de oferta no exterior. Essa mudança derivava da administração do presidente Richard Nixon. Por fim, o terceiro fator ficou por conta do desmantelamento da rota de fornecimento de heroína franco-turca que teve como consequência o aumento da demanda por heroína marrom mexicana. Esses fatores serviram de incentivo para as atividades criminosas mexicanas agir em solo estadunidense, que foi o que aconteceu nos anos 70. Segundo estudo em treze cidades dos EUA, em 1972, 40% da heroína vinha de solo mexicano e três anos depois esse número aumentou para 90%. (TEAGUE, 2016).

No final de 1976, junto com a assistência do governo norte-americano, o governo mexicano iniciou o que seria um programa de destruição de cultura de drogas em larga escala, usando produtos químicos para degradar o cultivo de maconha e ópio. A cooperação beneficiava os dois lados, pois tinham como foco o desmantelamento do tráfico de drogas. Desde o planejamento da Operação Intercept em 1969, que consistia basicamente em fechar a fronteira com o México, os Estados Unidos queriam um programa antidrogas que eliminasse em larga escala as drogas ilícitas diretamente na fonte. O centro desse programa de controle e política antidrogas tornou-se a Operação Condor. Nixon proclamava que o povo

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americano haviam-se tornado dependentes de drogas e que necessitava de medidas drásticas, o aumento acentuado por parte dos ilícitos em 1974 provavam seu argumento. (TEAGUE, 2016).

Já década de 80 foi marcada pelo foco implacável norte-americano no controle de uso, transito e venda de narcóticos em solo americano. Na época quem estava à frente da administração de combate as drogas era Ronald Reagan (1981-1989) que se traduziu por um controle de mão de ferro, rígido e mais agressivo no México, América Central e Caribe, incluindo também uma participação mais aberta do Departamento Federal de Narcóticos (DEA) e força militar. Por mais rígido que fosse o controle aplicado por Reagan, ele não atuava sozinho, necessitava da ajuda do governo mexicano para com o combate ao narcotráfico. Era como nadar contra a correnteza, Reagan exercia sua rigidez em relação as ações ilícitas provindas dos cartéis mexicanos, no entanto vários agentes do governo mexicano e comandantes militares haviam sido incluídos no tráfico de drogas e por muitas vezes estavam diretamente ligados a folha de pagamento das organizações mais notórias de narcotraficantes. A década de 80 foi repleta de fatores importantes na relação de combate ao narcotráfico sendo um deles já citado, o rígido controle de Reagan. (TEAGUE, 2016).

A conexão da Operação Condor e posteriormente o severo controle de Reagan serviram de estopim para a junção/reagrupamento dos cartéis de drogas mexicanos, que resultou em uma violência intermitente desde então. A violência resultante gerada pelo ligamento dos cartéis não cabia somente aos agentes do governo mexicano, soldados e a polícia. Em fevereiro de 85, o agente da DEA Enrique “Kiki” Camarena e seu piloto haviam sido sequestrados, brutalmente torturados e por fim assassinados pelas organizações criminosas mexicana, um importante marco que mudaria a postura de combate aos cartéis de narcotraficantes. O agente Camarena era vital, sua presença em solo mexicano já havia ameaçado os interesses dos cartéis no ano anterior, em Chihuahua. O governo americano prolongou uma extensa investigação sobre o assassinato do agente, pressionando as autoridades mexicanas do presidente Miguel de la Madrid (1982-1988) a indicarem um autor para o crime. Contudo não era uma tarefa fácil, visto que boa parte dos agentes mexicanos e pessoas ligadas ao governo estavam na folha de pagamento de muitas organizações criminosas. (TEAGUE, 2016).

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Gonzalez Jr (2016), explica que haviam dois grandes grupos de cartéis no México na época em que o agente Camarena foi executado. Eram eles o Cartel de Guadalajara e o Cartel do Golfo sendo o primeiro citado responsável pela tortura e assassinato do agente do Departamento Federal de Narcóticos. Em resposta ao assassinato de Camarena, houve a dissolução do Cartel de Guadalajara que ficou fragmentado em várias organizações de menor porte, sendo uma delas o Cartel de Sinaloa.

O Cartel de Sinaloa tornou-se sólido rapidamente e as guerras contra seus rivais, os cartéis de Tijuana e Juarez, ajudaram nesse processo. Outro confronto entre Los Zetas e o Cartel do Golfo em que ambos ficaram enfraquecidos, permitiram que o Cartel de Sinaloa sob domínio de Joaquin “El Chapo” Guzman Loera, dominasse a paisagem dos cartéis mexicanos. Outro fator que contribuiu para a grande formação do Cartel de Sinaloa, foi a queda de Pablo Escobar nos anos 90, que teve como consequência um vácuo de poder dentro do submundo criminoso, especialmente se tratando dos cartéis. Quem preenchia esse vazio agora eram as cartéis mexicanos, que lutavam entre si para tomar o controle de liderança. Contudo, no geral todos os cartéis mexicanos tiveram uma alavancagem de poder com a queda de Escobar e agora passavam a assumir com destreza os meios de produção e distribuição de drogas que antes ficavam muito por conta do Cartel de Medelín. O Cartel de Sinaloa destacou-se e assumia um papel de suma importância e presença no contexto de tráfico, trânsito, produção e escoamento de drogas, se não o mais importante dos cartéis desde o Cartel de Medelín. (GONZALEZ JR, 2016).

Início dos anos 2000, uma outra mudança crítica e vital pode ser percebida para o sucesso dos cartéis mexicanos. Além dos fatos acontecido em 1990, houve a promulgação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA). Fundada em 1994, o NAFTA abriu fronteira entre os EUA e o México para livre comércio e isso destacou a correlação entre o comércio ilegal de drogas e a instabilidade local. Com as fronteiras abertas ficava mais fácil a passagem de ilícitos e mais difícil a vistoria deles. Isso criou um desconforto no setor agrícola mexicano, pois os produtos agrícolas dos Estados Unidos procediam com preço baixo forçando o mercado mexicano a tomar novas medidas sendo uma delas o cultivo de drogas. (TEAGUE, 2016).

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Gonzalez Jr (2016), traz consigo a visão de outros observadores como Steven Dudley, co-diretos da organização de jornalismo investigativo sem fins lucrativos Insight Crime, onde afirma que a terceira recaptura de “El Chapo” realizada em 2016, foi resultado de uma fragmentação preexistente e que essa fragmentação é um sinal de fraqueza de um cartel. “Uma das razões pelas quais ele é capturado é por causa da fragmentação” comenta Dudley, complementando “A fragmentação é o que torna mais vulnerável... o fato de que existem inúmeros pedaços desse quebra-cabeça e que não há uma única estrutura vertical com ele na parte superior, puxando todas as cordas.” Em outras palavras, um cartel fragmentado, desestruturado e sem alicerces significa uma colheita mais fácil para as forças que combatem os cartéis mexicanos.

Na ótica de Teague (2016), atualmente a guerra das drogas no México tem sido um conflito contínuo entre as organizações de narcotraficantes e o governo, tendo como telespectador os Estados Unidos. O ciclo torna-se vicioso, pois as prisões e/ou assassinatos de líderes importantes de cartéis, especialmente nas regiões fronteiriças, resultam em um aumento significativo da violência que por muitas vezes acabam atingindo os civis, na medida em que os cartéis lutam e guerreiam entre si pela disputa de controle das rotas de tráfico para os Estados Unidos. Com a assistência dos EUA, o presidente Felipe Calderón (2006-2012) presidiu uma mobilização sem recursos mexicanos para combater os cartéis de drogas que carregam consigo um número estimado de mortes de mais de 70 mil¹. Os

impactos violentos da guerra de drogas no México e do combate para tal, chegam a níveis alarmantes e desestruturam uma sociedade inteira, trazendo consigo inúmeros problemas sociais.

2.3 OS PROBLEMAS INTERNOS CAUSADOS PELO NARCOTRÁFICO

Primeiramente, antes de ingressar nas consequências sociais que emergem em decorrência do tráfico de drogas dentro do seu território, no caso o México, é necessário ter o entendimento básico de como se configura o contexto de um local

¹

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regido por esse sistema, ou seja, compreender e saber como funciona essa máquina parasitaria chamada de narcotráfico.

A visão de que os cartéis são grupos homogêneos nos quais seus integrantes obedecem a somente um grande chefe está ultrapassada. A realidade que vem se delineando é outra. Englobando o entendimento de que o esqueleto dessas organizações, em sua grande maioria, se assemelha muito com as grandes empresas multinacionais, segundo especialistas. Existem cartéis que produzem e exportam sua própria droga, enquanto outros exercem a função de intermediários. (NÁJAR, 2017).

Para ilustrar esse funcionamento, temos como exemplo o cartel de Los Zetas e o Cartel do Golfo que são, na verdade, a unificação de fragmentos ou pequenos grupos ao qual forma-se um grupo sólido. Cada fragmento deste único grupo opera de forma diferenciada, como os setores de uma multinacional. (NÁJAR, 2017).

A nível organizacional existe uma divisão de tarefas: os responsáveis por comprar, produzir, armazenar e cuidar dos bens; aqueles responsáveis pelas relações jurídicas e políticas como, por exemplo, à defesa dos membros do cartel em tribunais e também a parte de subordinação de policiais e autoridades locais e por fim a parte financeira, a qual destina-se por reinvestir os lucros e lavagem de dinheiro. (NÁJAR, 2017).

De acordo com a Agência Antidrogas dos Estados Unidos (DEA), os cartéis geram um lucro de US$ 30 bilhões de dólares ao ano. Isso é uma visão incipiente do que realmente acontece dentro de um estado manipulado pelo narcotráfico. Aprofundando um pouco o contexto, temos inúmeros casos de assassinatos, sequestros, subornos e todo tipo de violência relacionada ao tráfico de drogas. A violência dos cartéis traz consigo inúmeros problemas sociais e de segurança pública, afetando diretamente a população mexicana. (NÁJAR, 2017).

Diante do exposto, a atividade mais divulgada do crime organizado é o narcotráfico, porém não é a única, juntam-se a ele o tráfico de armas e o tráfico de pessoas, bastante comum no país latino americano. Houveram três fatores importantes ligados ao narcotráfico que alavancaram o retrocesso social dentro do estado mexicano e que atingiram diretamente a população. O primeiro fator define que as organizações criminosas tinham territórios bem definidos e que havia

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acordos para que os cartéis respeitassem o espaço, não interferindo nas áreas controladas por outro cartel. (PONTE, 2010).

Diante disso, o acordo foi rompido quando o Estado resolveu tomar providencias de fechar certas rotas de tráfego e isso obrigou as organizações a entrarem em territórios já ocupados. Como consequência houve guerra por ocupação de território, o que leva a crescer números como homicídios e sequestros. O segundo fator se deve ao fato do consumo de narcóticos no país aumentou, formando-se um mercado interno que era abastecido por uma rede de narcotraficantes até chegar ao consumidor final. O terceiro ponto é a própria corrupção, a cumplicidade entre as organizações criminosas e os governantes, a polícia e o poder Judiciário que foram crescendo e junto ameaçando a autonomia do Estado. Os problemas citados geram fatores mais do que suficiente para a fraqueza predominar o estado. (PONTE, 2010).

Ainda sob a ótica de Ponte (2010), diante destes acontecimentos, o governo do presidente Felipe Calderón (2006-2012) declarou guerra ao crime organizado e, com isso, a violência entre os cartéis e entre as forças do Estado aumentou. Um ciclo vicioso foi criado desde então, ataques mais intensos por parte do governo contra os cartéis com confiscos de drogas e com líderes de alto escalão sendo afetados e/ou mortos, gerando a promoção da violência, maior divisão dos cartéis e expansão territorial. Conforme interpretações oficiais, os ataques promovidos pelo governo de Calderón obtiveram êxito e acarretou no enfraquecimento de alguns cartéis, porém, abriu precedentes para que facções internas lutassem abertamente pelo controle das organizações criminosas e zonas de território afetadas, o que a primeira vista não foi bom para as questões internas do país.

A partir daí a luta tornou-se encarniçada, cada vez mais brutal. Era corriqueiro encontrar corpos com marcas de tortura, cadáveres esquartejados ou pendurados em pontes, servindo de exemplo e aviso para os grupos rivais. O nível de violência chegou a tal ponto que carros bombas foram explodidos durante a guerra entre as facções, dando início a táticas terroristas. Segundo Lomnitz-Adler (2014), conforme alguns cálculos desde 2006 já houve mais de 100 mil¹ mortos e 22 mil

desaparecidos.

¹

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Os crimes cometidos pelo narcotráfico são de alçada federal, razão pela qual os estados não intervêm na questão. Como agravante, as organizações criminosas fazem uso da corrupção para corromperem as policias estaduais e municipais, afim de proteger suas atividades ilegais e nelas infiltram-se para anular suas estratégias. Isso acarreta diretamente na eficiência das forças federais. As mudanças necessárias para o afrontamento aos grupos ligados ao narcotráfico não foram aprovadas pelo Congresso, governadores e prefeitos opõem-se a existência de uma polícia a nível nacional ou de polícias únicas em cada estado. Há rumores e acusações de que alguns governantes e prefeitos abdicaram da luta e afirma-se que outros aliaram-se aos criminosos. (PONTE, 2010).

Ponte (2010) ainda destaca três implicações do crime organizado relacionadas diretamente com aspectos econômicos, políticos e sociais. O primeiro fato é que embora não exista noção ou estimativa do volume de dinheiro gerado pelo narcotráfico que entra e sai do país, se ao menos uma pequena parte desse dinheiro é “lavado” no México e circula no mercado interno, seu impacto na economia deve ser considerável. O questionamento ou a hipótese de que os recursos do narcotráfico tenham possibilitado um certo dinamismo a economia mexicana devem ser considerados. Entretanto, o dinheiro público gasto em combate as organizações criminosas aumentaram, o que gera um impacto negativo no orçamento público.

Para ter-se noção, o governo federal aumentou em 25% o gasto com segurança pública na última década. Embora haja apoio dos Estados Unidos através do Plano Mérida, os gastos excessivos para conter o narcotráfico prejudica no orçamento público, que poderia redirecionar o dinheiro aplicado em outras necessidades nacionais, atendendo políticas de desenvolvimento, infraestrutura e gastos sociais. O raio de corrupção é extenso e atinge até mesmo as instituições financeiras, pois nas estratégias de combate a lavagem de dinheiro, sugere-se as instituições bancárias restrições no manejo de divisas e transações em efetivo. (PONTE, 2010).

O segundo ponto se destaca pelos vínculos das organizações criminosas com a política e ainda, pelas várias formas de ligações e suas diversas consequências. A ligação mais evidente entre uma organização criminosa e o funcionalismo público é a corrupção, que de fato limita a autonomia dos funcionários públicos em geral. Fica

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clara a participação do narcotráfico em campanhas eleitorais, financiando aqueles candidatos ou partidos que lhe são benéficos além de impor nomes para cargos públicos eletivos. (PONTE, 2010).

Além disso, a atividade no ramo da política expanda-se através de maneiras mais brutas. Assassinatos de candidatos que não lhes são favoráveis ou que estejam comprometidos com organizações rivais são promovidos, o que afeta diretamente no funcionamento de uma democracia eleitoral. Ademais, a corrupção chega a níveis significativos na administração pública. Evidencia-se também como o crime organizado controla os presídios, de onde os “chefes” detidos operam, redefinindo todo o contexto das organizações criminosas. (PONTE, 2010).

Em terceiro lugar temos o impacto do narcotráfico na sociedade em si. Os grupos criminosos ligaram-se à grupos sociais, especialmente grupos aos quais em sua grande maioria os jovens são a representação. Através dessa ligação, os narcotraficantes promovem a segurança e melhoria material para os grupos sociais. Todavia, a mudança mais impressionante dentro desse círculo social seja a questão cultural, de como o narcotráfico molda toda uma cultura. Os grupos criminosos conciliam o cenário de desesperança em que se encontra o México com a ligação criada através dos grupos sociais com os jovens. Por meio disso, oferecem empregos certamente ilegais porém bem remunerados, envolvendo as tarefas próprias do narcotráfico, como: atividades de sicário¹, soldados das organizações no

embate com cartéis rivais e/ou forças oficiais entre outras deste meio. (PONTE, 2010).

É intrigante observar até que ponto a questão cultural foi moldada, ou ainda, uma “narco” cultura criada. Preferem desfrutar de uma vida com os prazeres oferecidos pelo dinheiro ao invés de uma vida longa e cheia de privações e não só renunciam a uma existência longa como também, segundo eles, a salvação no outro mundo. Estão mais do que convictos de que as suas lutas e ódio entre as facções não terminam nesta vida. A partir deste ponto, a religiosidade dos envolvidos no narcotráfico são se define somente nos ritos e símbolos do catolicismo, pois eles próprios criam novos santos que são considerados seus protetores. Um dos casos mais conhecidos é o de Jesús Malverde, no estado de Sinaloa, ou o da Santa Morte. É curioso e interessante ver como os grupos criminosos moldam uma sociedade, ¹

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uma cultura inteira com suas características peculiares, alternativas de obterem seus próprios santos para os defender. (PONTE, 2010).

As peculiaridades da simbiose entre o contexto social e o narcotráfico, desenvolveram uma rica cultura de canções e cantigas de corrido², narrando a vida

dos grandes narcotraficantes e sua relação com a sociedade, idolatrando-os e apresentando-os como uma versão generosa dos criminosos que roubam para entregar ao seu povo.

Ponte (2010) ainda cita a migração como outra resultante do tráfico narcotráfico, que mescladas com as questões de falta de empregos e a busca pelo modo americano de se viver, tornam o problema ainda mais complexo. O país latino americano em muitas vezes necessita do dinheiro que os migrantes enviam a seus familiares. O montante de dinheiro revertido em dólares, cerca de 77,5 bilhões anual, representa a segunda maior fonte de divisas depois dos ingressos relativos ao petróleo e aos rendimentos provenientes do turismo. Através de uma ótica menos crítica, o processo de migração resulta em divisas para o país mexicano e menos pressão em busca de emprego no mercado interno.

As atuais estatísticas revelam que o México registra seu maior número mensal homicídios dolosos em 20 anos, foram 2.234 homicídios em junho de 2017, o mais alto já registrado. No primeiro semestre do mesmo ano foram contabilizadas 12.155 assassinatos segundo os dados divulgados pelo Sistema Nacional de Segurança Pública. A situação se deve ao conflito entre cartéis e já começam a atingir áreas do país que antes eram consideradas livres de confrontos armados. Fazendo uma análise de dados em relação ao ano anterior, de 2016, houve um aumento de 31% nos homicídios no primeiro semestre, quebrando o recorde anterior de maio de 2.191. Por curiosidade os registros superam até mesmo os índices verificados no primeiro semestre de 2011, quando houve o ápice da guerra do governo e das Forças Armadas contra os cartéis, tendo como resultado 60 mil mortos entre 2006 e 2012. Se mantido o ritmo de crescimento nos próximos meses, é previsto que tenha uma nova quebra de recorde anual que é assegurado pelos 22.852 homicídios registrados em 2011. As graves consequências não respeitam as

²

² Gênero musical mexicano desenvolvido no século XVIII. As canções podem lidar com questões

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barreiras fronteiriças e acabam por se espalhar afora das fronteiras mexicanas, causando outro problema a nível transnacional. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2017).

2.4 OS PROBLEMAS TRANSNACIONAIS A PARTIR DO NARCOTRÁFICO MEXICANO

Antes de ingressar nas consequências advindas do narcotráfico para o contexto internacional, para uma melhor compreensão, devemos nos situar na fronteira física entre México-EUA, tornando assim a visualização do cenário mais sólida. (NADDI e BELUCI, 2014).

A linha divisória entre os Estados Unidos e México possui uma extensão de 3.141 quilômetros desde o Oceano Pacífico até o Golfo do México. O Convênio de La Paz, realizado em 1983, traz consigo “o propósito de proteger, melhorar e conservar o meio ambiente ao longo da fronteira” (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE, 2012, P.747). A faixa fronteiriça foi delimitada de ambos os países em 100km para o norte, no caso os Estados Unidos, e para o sul, México, a partir da linha limítrofe. As faixas juntas formam a zona fronteiriça, que por sua vez, conta com 48 condados norte-americanos que pertencem a quatro estados (Califórnia, Arizona, Novo México e Texas) e 94 municípios mexicanos pertencentes a seis estados (Baja Califórnia, Chihuahua, Coahuila, Nuevo León, Sonora e Tamaulipas). (NADDI e BELUCI, 2014).

Os cartéis mexicanos alavancam não só os problemas internos como também os transforam em preocupações transnacionais. Antes de ingressar no cenário internacional, deve-se ter a noção de quem são as principais organizações criminosas dentro do território mexicano e sua atuação afora das fronteiras.

Apresentado como pioneiro e também o maior do México, o cartel de Sinaloa é peça chave no negócio formado por produtores ilegais de drogas na América do Sul e no mercado norte-americano. Segundo as autoridades e suas contas, existe uma estimativa que essa organização movimente cerca de US$ 3 bilhões por ano, obtidos através do contrabando de cocaína, maconha, metanfetamina e heróina. O

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ingresso dos narcóticos se dá por via terrestre ou por túneis para os EUA onde muitos deles localizam-se no deserto do Arizona. (FRANCA, 2016).

Outro famoso cartel mexicano citado por França (2016) são os “Los Zetas” que ficaram muito conhecidos por cometerem crimes violentos na América Latina e por terem transformado o México em um campo de batalha. O líder do grupo, Miguel Angel Trevino Morales, tem o fetiche de queimar todas as suas vítimas vivas. A organização criminosa tem como esqueleto ex-militares e atua no cenário de tráfico de drogas, transporte ilegal de petróleo e sequestros. O poder desses cartéis e outros não citados é tão grande que hoje em dia cerca de 60% da economia mexicana é formada indiretamente ou diretamente através deles. Existe a estimativa que cerca de US$ 6,5 bilhões saem dos EUA diretamente para os cartéis mexicanos.

Os problemas sociais como exposto no capítulo anterior, servem de alicerce para uma sólida problemática a nível transnacional que será vista a seguir. Jim Benning (2016), da BBC, traz dados interessantes onde relata que diariamente passam pela fronteira do EUA-México mais de 100 mil pessoas. Em 2014 27 mil veículos foram inspecionados, 76 toneladas de narcóticos foram apreendidas e 33 mil prisões foram feitas por violações da lei de imigração dos EUA. Segundo Alonso (2017), atualmente os Estados Unidos vem sofrendo a pior crise de drogas desde os anos 80, segundo um levantamento anual apresentado em 2017. O levantamento aponta que entre 90% e 94% da heroína consumida nos EUA vem do México.

Gallegos (2016) expõe como crucial o ponto entre Arizona e Sonora, uma das portas de entrada de drogas para os EUA e onde o cartel de Sinaloa controla 90% dos narcóticos dessa área. O ponto de maior conflito da fronteira entre Sonora e Arizona é o deserto de Altar, onde as temperaturas podem ultrapassar os 50 graus. Em decorrência disso se dá uma zona inabitável, desolada e isso se converte em brechas para uma maior atividade para o tráfico de drogas. Uma das formas mais comuns é por meio de burreros, grupos de 10 a 15 homens que fazem a travessia de quase quinze dias no deserto com carregamentos de maconha nas costas, pesando cerca de 20 a 25 quilos.

Um relatório da Patrulha de Fronteira relata que, durante o ano fiscal de 2015, ao longo de toda a fronteira dos Estados Unidos com o México, foram apreendidos 680 mil quilos de maconha e 1.947 quilos de cocaína. O setor Tucson que fica

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localizado entre a região fronteiriça entre Arizona e Sonora, foi o que apresentou mais apreensões, com 48,6% do total relatado.

Atrelado as causas temos o processo imigratório que o narcotráfico acaba concretizando. O tráfico de drogas gera fatores como alto índice de homicídios, más condições sócias, fraca presença estatal e de segurança pública entre diversas outras. Uma pressão é criada e o processo migratório acaba sendo a válvula de escape. Muitos dos mexicanos que cruzam a fronteira acabam ingressando nas chamadas “cidades-santuário”, cidades as quais não se opõe a colaborar com as autoridades federais no cumprimento de políticas de controle imigratório. A razão dessa oposição se dá pelo fator econômico, conciliando mão de obra barata e a necessidade dos imigrantes para áreas como construção civil, agricultura e setores de serviço em geral. Dos 11 milhões de imigrantes, cerca de 6,2 são mexicanos. (noticiasr7, 2017).

O tráfico de drogas está presente em grande peso na América Latina. A Colômbia juntamente com a Bolívia e Peru, formam o epicentro de produção de cocaína no hemisfério. Equador e Venezuela por sua vez, exercem as rotas de transito por cartéis mexicanos e colombianos, enquanto Chile e Argentina servem de portas de saída para a exportação da droga rumo a África e Europa. O Brasil, além de ser o maior consumidor na América Latina e o segundo maior consumidor de cocaína do mundo, é também o maior fornecedor de insumos químicos para o refino da própria cocaína. O México apesar da sua atual guerra com o narcotráfico, foi incapaz de evitar e desmantelar os cartéis que hoje em dia transcendem as fronteiras. (OTERO E GUADERRAMA, 2012).

Ainda segundo Otero e Guaderrama (2012), a realidade que aflige o continente não é somente o narcotráfico, ramificações e atividades ligadas ao tráfico de drogas também agravam o problema. Contrabando de armas, lavagem de dinheiro, extorsão, sequestro, controle de produtos piratas, tráfico de pessoas, roubos de veículos e combustível, entre outras atividades ilícitas com células especializadas para cada operação.

O Brasil entra em cena como jóia rara. Além de rota internacional, o país brasileiro representa o maior mercado consumidor de cocaína da América do Sul e o segundo maior consumidor do mundo, além de oferecer produtos químicos para a indústria ilícita do narcotráfico. Segundo o ex-secretário nacional antidrogas e

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especialista em crime organizado Walter Maierovitch, sem a fiscalização da indústria química, o Brasil tem o potencial de se tornar um forte país produtor de drogas sintéticas. Ainda revela que 25% da população carcerária responde a processo ou foi condenado por tráficos de drogas. Através de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2011, o consumo de cocaína e crack corresponde por 4,1 milhões de pessoas nos Estados Unidos, 2,8 milhões no Brasil e 2,4 milhões na América do Sul com exceção do Brasil. Ou seja, somente o Brasil consome mais do que a América do Sul inteira. (OTERO e GUADERRAMA, 2012).

De acordo com o Relatório de Estratégia de Controle Internacional de Narcóticos 2013 (INCSR, sigla em inglês), divulgado pelo Departamento de Estado dos EUA, mais de 80% da cocaína contrabandeada por meio de organizações criminosas como Cartel de Sinaloa, La Familia Michoacana, Cartel do Golfo, entre outros é transportada através da América Central. Limón, que fica localizada no Mar do Caribe na fronteira com Nicarágua, é uma importante área de transporte para os narcotraficantes. Eles também operam no litoral do Pacífico da Costa Rica. (PELCASTRE, 2014).

A Costa Rica vem sendo utilizada com cada vez mais frequência por grupos criminosos. De acordo com o jornal colombiano El Tiempo, as forças de segurança da Costa Rica apreenderam 18 toneladas de drogas em 2013, sendo que em 2011 houve 8,9 toneladas de apreensões, quase o dobro. A penetração dos cartéis mexicanos pela América Central é preocupante. Jesús Aranda Terrones, pesquisador da Organização Coletivo de Análise da Segurança com Democracia (CASEDE), afirma que a presença do cartel mexicano Cavaleiros Templários em solo costa riquenho é uma surpresa. O cartel mexicano é conhecido por atuar regionalmente entre México-EUA, entretanto, é uma organização forte e potencialmente caracterizada como transnacional. O que se vê é apenas um exemplo dos vários no forte avanço das organizações criminosas, cada qual lutando pelo seu espaço e suas rotas de trânsito. (PELCASTRE, 2014).

O alcance das organizações é tão extenso que atinge até mesmo facções criminosas dentro do Brasil, no caso o PCC (Primeiro Comando da Capital). Em 2014 uma investigação da Polícia Federal apontou ligações entre o PCC e os cartéis mexicanos. Ao testar uma nova rota, a organização brasileira mandou cocaína para os narcotraficantes mexicanos, todavia, a operação entre as duas organizações

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criminosas não foi adiante por conta da PF. A relação foi descoberta durante uma operação contra uma terceira quadrilha que utilizava o Porto de Santos para também enviar drogas ao exterior. Os agentes federais descobriram o que aponta ser o início de um vínculo comercial entre uma quadrilha brasileira e uma mexicana. O carregamento com 22 tabletes de cocaína era na verdade um teste para uma nova rota entre as duas organizações. Tinha como destino o porto de Vera Cruz, no México. A cidade mexicana, no golfo do México, é residência e palco do confronto entre os cartéis do Golfo e Los Zetas que lutam pelo controle do tráfico de drogas naquela região e em várias cidades do norte e do leste do país. As organizações criminosas despertavam o interesse dos funcionários para facilitar o embarque das drogas, através do poder financeiro oferecendo 3.300 reais por quilo da droga embarcada. (BAND, 2014).

Em dezembro de 2008, na tentativa de contenção do narcotráfico, México e Estados Unidos firmaram o acordo sobre a Iniciativa Mérida, reconhecendo uma cooperação internacional de responsabilidades divididas com a finalidade de combater a violência gerada pelas drogas que ameaçam ambos os lados da fronteira. Fundamentada em quatro pilares, o próximo capítulo tratará de diluir e explicar o que é a Iniciativa Mérida. (EMBAJADA Y CONSULADOS DE ESTADOS UNIDOS EM MÉXICO, Acesso 2017).

2.5 COOPERAÇÃO MÉXICO – E.U.A. EM COMBATE AO NARCOTRÁFICO

A Iniciativa Mérida tem sua origem em dezembro de 2006, quando Felipe Calderón assumiu a presidência mexicana em meio ao caos e violência instaurada por conta do narcotráfico. Combater tal crime e suas ramificações tornou-se sua principal política doméstica. Em Março do ano seguinte, 2007, Calderón pediu ao presidente da época George W. Bush uma assistência dos Estados Unidos no combate à droga e ao crime organizado. A curto prazo o México não recebeu um grande assistencialismo por parte do país estadunidense em relação ao combate de drogas, em parte devido as preocupações que poderia haver no envolvimento dos EUA nos assuntos internos do país. (SEELKE & FINKLEA, 2017).

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No mesmo ano de 2007, México recebeu US $36,7 milhões em auxílio antidrogas dos Estados Unidos. Ainda no mesmo ano, em outubro, os Estados Unidos e México anunciaram a Iniciativa Mérida, um pacote assistencial provindo dos EUA para o México e a América Central que começaria no final de 2008. A grande ênfase da Iniciativa Mérida se traduzia pela cooperação mútua entre os dos países para o combate às drogas, diante disso o governo mexicano também tinha o comprometimento a combater a criminalidade e a corrupção, enquanto os Estados Unidos comprometia-se a lidar com a demanda doméstica de drogas, o tráfico ilícito de armas de fogo e moeda em massa para o país mexicano. Em Janeiro de 2016, o Government Accountability Office (GAO) concluiu que 70% das armas de fogo apreendidas pelas autoridades mexicanas entre 2009 e 2014 vieram de solo americano. (SEELKE & FINKLEA, 2017).

Seelke e Finklea (2017) ainda trazem a ajuda oferecia pelos norte-americanos na primeira fase da Iniciativa Mérida (2008-2010) que permitiu ao governo mexicano a compra de equipamentos para apoiar os esforços das forças de segurança federais, no caso policiais e militares. Não parando por aí, o primeiro pacote contava com US $590,5 milhões em aeronaves e helicópteros deixando o foco americano recair nas políticas antidrogas, na segurança pública e das fronteiras, aplicação da lei e da construção institucional e estado de direito. Em 2011, os funcionários do governo do então presidente Obama e do governo de Calderón revisam a estratégia por trás da Iniciativa Mérida. Após meses de consultas, os governos entraram em acordo e passaram a ampliar o alcance dos esforços bilaterais para se concentrar no fortalecimento institucional sobre transferências de tecnologia, desenvolvimento econômico e programas sociais baseados na comunidade, estados e municípios, principalmente aqueles nas regiões fronteiriças entre EUA-México. Todavia, desde o mesmo ano de 2011 o financiamento para o pilar dois – construir o estado de direito enquanto protege os direitos humanos – extrapolou a assistência para os outros três pilares.

Nos últimos anos, o Congresso americano manteve o interesse e a vontade em assegurar para a Iniciativa Mérida seus equipamentos e treinamentos e que fosse entregues de forma eficiente. Inicialmente havia atrasos por parte do governo americano em disponibilizar sua assistência, porém, após 2011, as entregas aceleraram com mais de US $500 milhões em equipamentos, treinamentos e

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assistência técnica. No final do mandato do presidente Calderón (Novembro de 2012), US $1.1 bilhão já havia sido fornecido. Durante o ano de 2013 os atrasos na implementação voltaram a tornar-se visíveis, porém, muito devido ao fato de que o novo presidente Peña Nieto estava desenvolvendo junto de seu governo, novas estratégias de segurança além de determinar a quantidade e o tipo de assistência prestada pelo governo americano. Naquele mesmo período de 2013 os governos concordaram com um novo processo mais ágil para aprovar novos projetos da Iniciativa Mérida. Concordaram em mais de 100 projetos, dos quais metade estão em andamento. Em Março de 2017 as entregas atingiram US 1,6 bilhão. Agora, o auxílio americano focava em apoiar os esforços para fortalecer instituições no México através de treinamento e assistência técnica. Enquanto isso, os fundos estadunidenses ajudam no treinamento oferecidos para o pessoal aduaneiro, equipes caninas e policias em todas as esferas: federal, estadual e local. Em boa parte a Iniciativa Mérida é fundamentada e dissolvida através de quatro pilares.

Pilar um: Interrupção da capacidade operacional do crime organizado.

Ainda de acordo com Seelke e Finklea (2017), a ajuda dos EUA se deu apropriada diante do contexto abordado no primeiro pilar, tal fase estendia-se entre o ano de 2008 e 2010. A assistência permitiu a compra de equipamentos junto ao apoio dos esforços às forças federais envolvidas no combate ao narcótico. O equipamento avaliado em US$ 590,5 milhões incluía aeronaves e helicópteros, assim como equipamentos forenses para a polícia federal e os respectivos laboratórios criminais. Além disso os EUA financiou a captação de inspeção não intrusiva, em torno de US$ 125 milhões aplicados e também contou com uma ajuda de 400 equipes caninas para ajudar as forças mexicanas a controlar e fiscalizar os fluxos ilícitos de droga, armas, dinheiro e tudo aquilo envolvente ao narcotráfico. Diante do aumento da demanda de opióides proveniente dos Estados Unidos, o México vive um crescente aumento no cultivo do ópio e na produção de heroína e fentanil. Ambos os governos trabalham de forma simultânea para se concentrar na melhora e padronização dos esforços de erradicação da narco-cultura no México, desenvolvendo nas agências mexicanas a capacidade de detectar e destruir laboratórios de drogas, trabalhando em conjunto até mesmo com as Nações Unidas na questão de investigação de traficante de drogas. A estratégia adotada pelo governo mexicano e apoiada pelo EUA tem o foco mais direcionado em perturbar os

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recursos criminais utilizados para financiar as operações de droga. (SEELKE & FINKLEA, 2017).

Diante de uma cooperação intensa, equipamentos de ponta e agentes treinados e preparados, os resultados começaram a aparecer. O lucro das organizações criminosas nas regiões fronteiriças com entre México-EUA começaram a cair, entretanto, um novo problema viria a surgir. As organizações que antes focavam seus esforços para o tráfico e rota de drogas, encurraladas diante da cooperação de ambos os governos, acabaram por se transformar em organizações poli-criminosas, o tráfico de seres humanos, por exemplo, passou a crescer. Alguns analistas pediram aos respectivos governos que trabalhassem em cima de uma estratégia para combater outros tipos de crime organizado, como sequestro e contrabando de humanos como citado. Inclusive foi sugerido as operações e investigações transfronteiras de aplicação da lei para uma maior área de cooperação. Trazendo para a prática, tem-se o exemplo da polícia federal mexicana na participação da iniciativa da Força-Tarefa de Segurança da Fronteira (BEST em inglês), liderada pela Imigração e Alfandega dos EUA (ICE em inglês). Em setembro de 2015 a ICE também lançou uma unidade de investigação criminal transnacional composta por policiais federais mexicanos selecionados especialmente para trabalhar em casos como contrabando de estrangeiros, tráfico de seres humanos e outros crimes. (SEELKE & FINKLEA, 2017).

O Departamento de Estado e Escritório de Drogas e Crime da Organização das Nações Unidas (UNODOC), também vem atuando junto as autoridades policiais mexicanas para desenvolver estratégias com a finalidade de desmantelar redes de contrabando e também conscientizar sobre os riscos de recrutamento de contrabandistas. A tecnologia e também profissionais dos EUA ajudam os esforços mexicanos na coleta de informações e compartilhamento destas no norte e no sul do México. Na região fronteiriça dos EUA e México, os drones estadunidenses se reúnem e compartilham informações com autoridades mexicanas também situadas naquela região. Toda essa assistência oferecida pelos norte-americanos ajudaram as forças federais, estaduais e municipais mexicanas a criarem forças comuns de inteligência por todo o país. Em 2015, foi aprovado por ambos os governos um programa dentro da Iniciativa Mérida, foi destinado 75 US$ milhões para ajudar o México a desenvolver um sistema automatizado de biometria interagências para

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