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A panorâmica apresentada como imagem plana

No documento A fotografia panorâmica de Dimitri Lee (páginas 52-62)

Este capítulo apresenta as técnicas usadas para produção de imagens panorâmicas, discutindo as diferenças entre as técnicas.

Nosso campo visual é a sobreposição incompleta da visão de cada um dos nossos olhos. Na área central da nossa visão, podemos avaliar distâncias. A paralaxe, o deslocamento da imagem dos objetos entre um e outro olho, permite avaliação de distância. Na visão periférica, apenas um olho forma a imagem, e a avaliação de distância apenas é possível em movimento, com a mudança da posição relativa entre os objetos. Nossa visão tem um campo visual restrito, que não alcança 180º. Imagens com 360º, produzida

artificialmente, criam um campo visual artificial. Com a fotografia panorâmica são produzidas imagens que não são possíveis à nossa visão desarmada. Diversas técnicas são usadas para a construção de imagens panorâmicas, e criam diferentes tipos de imagens, mostrando o mundo tridimensional na representação bidimensional tradicional da fotografia, mas agora com um espaço que inclui uma amplitude a que não estamos acostumados, desdobrando o horizonte.

A panorâmica apresentada como imagem plana

Philippe Dubois, em seu texto “A fotografia panorâmica ou quando a imagem fixa faz sua encenação” (DUBOIS 2005) faz uma classificação técnica das formas de produção da imagem panorâmica por tipos:

...os panoramas no sentido estrito (tipo I), isto é, oferecendo uma vista panorâmica numa única imagem (realizado numa só tomada); de um lado, e os panoramas no sentido amplo -se assim se pode falar - (tipo II), isto é, obtidos pelo meio de montagem de várias vistas...

...O “verdadeiro” panorama (tipo I) seria para a fotografia o que é o plano seqüência no cinema.

Este tipo I, produzido em uma única tomada, ele vai dividir em três subgrupos. Eu incluo outras possibilidades, a quarta possibilidade, a da imagem de “calota” e a quinta possibilidade, a imagem da câmera “omniscópica.”

...tipo (IA), onde nada se mexe (nem a objetiva, nem o aparelho, nem o suporte sensível...

...tipo (IB) - ...- é a objetiva que, à frente da caixa, opera um movimento giratório de rastreamento... ...inscrevendo a imagem sobre um suporte fixo (geralmente curvado simetricamente à rotação da objetiva.

A panorâmica apresentada como imagem plana ...tipo (IC) - desta vez o panorama “total” - a objetiva

permanece fixa, mas é o aparelho inteiro que gira sobre ele mesmo.

A quarta possibilidade, fora da lista de Dubois, é a imagem formada em uma calota que é colocada no centro do panorama que se desejar, e esta calota é fotografada a partir de seu eixo com a máquina montada em uma distância fixa (ver figura), depois a imagem é reconstruida digitalmente. Na imagem abaixo, a câmera é fixada junto com a calota e

elementos ópticos, dirigida para cima, apontando para a calota.1

A quinta possibilidade é a “pinhole” 360º, chamada de “Omniscope” em que se despreza a imagem direta produzida pelo que está à frente, e capta-se apenas a imagem periférica.

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É a forma de panorâmica que produz as distorções radicais.2 Esta máquina, é uma

“pinhole,” em que o filme, em vez de ficar na face oposta da abertura, fica na parede circular, registrando não o raio direto mas apenas os periféricos, tangentes à abertura.

Imagens bastante distorcidas são produzidas, e a visualização da imagem a ser produzida (tarefa do fotógrafo) e a interpretação da imagem (tarefa de quem vê a fotografia) é especialmente trabalhosa.

2. http://www.abelsonscopeworks.com/ (acesso em 18 de fevereiro de 2008)

Uma abertura (pin hole) sob a tampa permite expor o filme, que fica ao longo da parede cilíndrica. Um lado tem o rolo do filme, que pode ser avançado a cada exposição, permitindo fazer diversas tomadas. (http:// www.abelsonscopeworks.com/)

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As fotografias panorâmicas, quando usadas para reconstrução virtual do espaço,

colocam o observador inserido em um círculo: A imagem fica em torno de um centro, e o observador fica neste centro, em uma situação em que o espaço fotografado é

reconstruido virtualmente.

Quando a imagem panorâmica é colocada no plano, não acontece este reconhecimento imediato ou a reconstrução do ambiente fotografado. O espaço aparece distorcido na imagem, os círculos se tornam retas, e as retas se tornam círculos; e lado a lado, na mesma imagem ficam posições do espaço que normalmente se opõe: as oposições deixam de existir e coisas que no ambiente ficam frente a frente aparecem na imagem lado a lado. Vemos, por exemplo, lado a lado a sombra e a luz que produz a sombra.

É nesta apresentação plana que a imagem 360º mostra novas perspectivas, produz imagens que exigem tempo para serem compreendida, e em que a leitura das imagens não pode ser feita da forma que estamos acostumados. Philippe Dubois destaca quatro pontos para caracterizar esteticamente esta forma de representação, chamando-os de quatro paradoxos: (1) a ausência de extra-campo, na presença de um quadro, (2) a imagem achatada com um dado de profundidade, (3) a tomada única, mas com uma multiplicação de perspectivas, e (4) a tomada única com inscrição no tempo (DUBOIS, 2005:216). Além destes paradoxos, acrescento o (5) paradoxo da luz, que, a cada ponto, tem direção diferente, variando progressivamente.

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Revendo os paradoxos:

(1) Na imagem 360º você tem a fotografia dentro de um quadro, mas não há recorte, tudo é mostrado. O quadro permite a montagem mental, unindo as pontas, a leitura da imagem permite refazer a continuidade espacial.

(2) A tomada achatada com dado de profundidade é um paradoxo tradicional da fotografia, que a panorâmica radicaliza. Esta perda de dimensão na imagem plana está descrito nas idéias de Flusser, como escalada da abstração. Três planos (ou quatro, ao incluir o tempo) estão representados em uma superfície, com apenas 2 planos.

(3) A multiplicação de perspectivas. O ponto de fuga descrito a partir do renascimento, é infinitamente modificado, e é imaginado por Dubois em pelo menos três posições, uma para o centro, uma na esquerda e outra na direita. Em vez de pensar em ponto de fuga, imagino um ponto de convergência, um ponto que está sempre sobre o observador. Ao me mover olhando para a fotografia, eu percebo esta convergência, uma ilusão de ótica, as linhas do campo acompanham o movimento que realizo na frente da imagem.

(4) A tomada única com inserção no tempo, (que pode até mostrar o mesmo lugar várias vezes), uma fatia maior de tempo que a fatia que normalmente está presente na fotografia. Aqui uma das diversões da fotografia panorâmica, é encontrar o que mudou

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entre o lado esquerdo e direito da tomada, quando a imagem de um determinado ponto fica registrado duas vezes.

(5) O paradoxo da luz pode ser ao mesmo tempo sutil e grosseiro. As sombras, os locais onde a iluminação não chega por inteiro, trazem a informação sobre onde está a luz. Nestas imagens, a sombra e luz fazem uma dança de roda. Em um lado está a luz, do outro está a sombra. Ao longo da imagem, sombra e luz rodam, uma em torno a outra, até voltar a estar onde estavam originalmente, 360º adiante de onde começaram.

A realidade virtual em computadores, um sistema de montagem de fotografias para simulação 3D em computadores, de espaços ou objetos, tem sido desenvolvida pela Apple, com equipamentos, softwares e seminários entre os usuários de computadores Macintosh. Isto tem facilitado o conhecimento e acesso a equipamentos e tecnologias que permitem também a produção de imagens panorâmicas. A imagem de panoramas também pode ser produzida com desenhos ou pinturas. É o que comentamos no último quadro, sobre uma presença de panoramas que pode ser observada desde o século XI na China, como mostram imagens preservadas ou reconstruidas, com origem nesta época.

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Realidade Virtual: Novas técnicas na produção da panorâmica

Em 1995, com o programa Quick Time VR, a Apple apresenta uma nova forma de uso das imagens panorâmicas. Em vez da impressão, a imagem, montada em um cilindro, servia de base para a navegação deste espaço na tela de um computador. Eventualmente estas imagens evoluíram para construções cúbicas, em que, a partir de um ponto fixo, se pode olhar para qualquer lugar de um ambiente, 360º em volta, assim como para baixo e para cima

permitindo também aproximar ou afastar a imagem.

Em seguida foi criada a navegação por nós: pontos da imagem espacial podem ser clicados e passa-se a navegar a partir de um novo centro. Isto permite mudar posição dentro de um ambiente ou passar de um ambiente para outro.

Ao lado dos espaços virtuais, foram criados os objetos virtuais. Neste caso, um objeto é fotografado em toda a volta (e eventualmente em cima e em baixo) e com uma forma de navegação semelhante ao ambiente, o objeto pode ser visto de qualquer ângulo, com a aproximação ou afastamento que o programa permitir.

No passo seguinte a tecnologia produziu filmes em que se podia navegar e mudar o ponto de vista. A técnica para se produzir a imagem 360º a partir de várias tomadas usa

programas de computador, e exige que a captura de imagens seja feita com auxílio de tripés com bases especiais, que permitem o ajuste do ponto nodal da lente sobre o eixo do giro, evitando a ocorrência de deslocamento da paralaxe, e sobreposição da imagem entre as fotografias de 30 a 50% da área entre duas fotografias

consecutivas.

Podem ser feitas várias camadas para a produção de uma imagem de maior qualidade na navegação vertical. Quatro técnicas principais são usadas: Sticher (agrupar fotografias tiradas em seqüência com sobreposição de área), máquina com rotação sobre um eixo, rotação da lente, ou fotografia gerada a partir de imagem em calota espelhada. A fotografia pode ser analógica ou digital. Quando produzida em arquivo VR, a imagem é representada como um cubo. A técnica também de construção de objetos VR, e vídeos VR é semelhante.

Assim como o slide, o filme e outras formas visuais que exigem um equipamento para a visualização, o acesso da imagem VR é limitado a quem está em frente ao computador. A fotografia impressa ainda é mais eficiente, por não ter a necessidade de equipamentos especiais para a

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Panoramas: um formato presente através da história

O formato de paisagem com tamanho desproporcional, que se estende além da visão normal, com amplitude horizontal que chega a ultrapassar dez vezes a altura da imagem está presente desde o século XI na China1. Existe a possibilidade que esta forma de apresentação de imagens tenha sido levada para o Japão, e depois tenha chegado à Portugal por volta do século XV. O que sugere isto são as imagens do Brasil colonial que podem ser vistas no livro Vilas e Cidades do Brasil Colonial, (Nestor Goulart Reis et al. EDUSP, 2000). Estas imagens

portuguesas são sugestivas de imagem de inteligência militar, uma alternativa para mapas, descrevendo ambientes como portos e cidades a partir de uma perspectiva ampla, imagens que estão no museu da marinha portuguesa. Estas imagens são chamadas de prospecto pelos portugueses. Permite conhecer um local em detalhes, com todas as construções à volta de um ponto. Estas imagens podem ser enroladas, podem ser colocadas ao longo das paredes, reconstruindo locais. É o que acontece na torre da Basílica de Nossa Senhora Aparecida,

em Aparecida , SP. Nesta torre, as paredes estão cobertas por fotografias com a vista das janelas que ficam abaixo das fotografias. Você pode ver na fotografia o que vai confirmar pela janela. A imagem panorâmica

continuou a ser produzida quando surgiu a fotografia. A história registra o uso desta forma de apresentação, e opções misturando desenho e fotografia, na propaganda para a conquista do oeste americano, em que fotografias e pinturas tentavam criar um ambiente de imersão para mostrar como eram as terras a serem

colonizadas, ou dos Diadoramas das feiras universais do fim do século XIX em Paris. No registro de panorâmicas em fotografia existe, por exemplo, partes de uma imagem da cidade de São Francisco, de 1851. Esta imagem foi construida a partir com 11

dagerreótipos, dos quais restam apenas 5. Estas fotografias estão na Biblioteca do Congresso Americano, e podem ser vistas na internet2. 1. http://en.wikipedia.org/wiki/ Zhang_Zeduan (acesso em 24 de março de 2008) 2. http://memory.loc.gov/ammem/col- lections/panoramic_photo/

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