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Classificação de imagens

No documento A fotografia panorâmica de Dimitri Lee (páginas 62-74)

Classificação de imagens

Este capítulo discute a dificuldade de organizar as imagens. As imagens panorâmicas do fotógrafo Dimitri Lee não se encaixam nos grupos mais comuns de organização de imagem, como seriam por exemplo: o retrato, a flora, a fauna, o momento decisivo... A reflexão abaixo, com possibilidades de classificação foi o caminho para perceber esta situação especial. Foi preciso colocar as fotografias panorâmicas de lado, e pensar como enfrentar pela primeira vez uma imagem qualquer que não conhecemos.

A discussão sobre classificação tem o significado de permitir a localização da fotografia panorâmica dentro no universo de imagens fotográficas.

Porque classificar? O esforço de classificação é uma arbitrariedade, como diz Olga Pombo (POMBO, 1998); mesmo assim, ela afirma a necessidade da classificação, apesar dos problemas que encontraremos: “[sobre a classificação:] Do seu inacabamento é certo. Mas também da sua inexorável abertura à promessa de um saber em permanente crescimento.

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Olga Pombo comenta sobre as novas possibilidades tecnológicas a serviço da organização dos materiais culturais, e a necessidade de tempo para seus resultados:

Ora, esta mutação, resultante da introdução das novas tecnologias no campo de trabalho da documentação, vem como que sublinhar ainda mais o caráter pragmático da classificação documental: a transferência para o computador das tarefas de conservação, inventariação e catalogação (disco óptico, memória holográfica), gestão (base de dados), recepção e emissão (edição eletrônica, fibra óptica, difusão telemática) de documentos, vai exigir um reforço imenso das capacidades pragmáticas da classificação, nomeadamente no que diz respeito a uma determinação conceptual cada vez mais rigorosa e à definição cada vez mais fina de uma linguagem codificada universal.

A classificação de imagens pode ser comparada à classificação de animais imaginada de uma forma delirante por Borges, e citada por Foucault (FOUCAULT, 1999:IX)

“taxonomia de animais em uma certa enciclopédia chinesa,” que entre outras categorias apresenta, por exemplo: a) pertencente ao imperador e m) que acabaram de quebrar a bilha...

Classificação de imagens ...nos é indicado como o encanto exótico de um outro

pensamento, é o limite do nosso: a impossibilidade patente de pensar isso.

Esta situação classificatória é comentada por Pombo (POMBO, 1998):

“Nós não discutimos as classificações a partir das quais o nosso próprio discurso se constrói. "Anteriores às palavras, às percepções e aos gestos" (Foucault), essas (nossas) classificações primordiais aparecem-nos como óbvias e inquestionáveis. Elas são, como diz Foucault, os "códigos ordenadores" da nossa cultura.

Qualquer classificação tem aspectos pessoais e inconscientes. Independente de ter consciência de que a classificação foi feita, não nos colocamos frente a uma imagem sem automaticamente classificar.

Praticidade: uso da classificação alfabética

Classificações alfabéticas, como em um dicionário, são usadas comercialmente, para imagens de estoques de fotografias, são usadas em classificações para discussão

fotográfica, como no site “PhotoSIG.”1 e usado pela Biblioteca do Congresso Americano. A lista em ordem alfabética, em que cada item de texto pode corresponder a apenas uma fotografia está presente até nos arquivos Warburg, para referência das imagens existentes.

Classificação de imagens

Classificação Photosig

O site PhotoSIG, um site de fotógrafos para fotógrafos, é um site em que os

participantes apresentam fotografias, e criticam fotografias dos outros fotógrafos. Ao apresentar uma fotografia, é solicitado

que a mesma seja classificada pelo fotógrafo, a partir de uma lista

classificatória. A classificação pode ser feita em até 3 itens da lista apresentada:

Esta lista parece ter sido feita para caber em uma única página. A partir destas possibilidades de classificação cheguei às perguntas (porque, como, para que, e o que) que me ajudaram na classificação. A fotografia começa a ser definida antes de ser feita: a motivação para a realização da fotografia ( o PhotoSIG tem as categorias Trips and meetups” ou “Class Assgnments” que estão aqui como motivos para

produção de uma fotografia), o porque; a fotografia também pode ser definida

durante a sua produção pelas técnicas utilizadas, o “como” da fotografia (como no grupo “Pinhole” do Photosig). E é claro, a fotografia pode ser definida pelo que está contido na imagem, “o que” (como por exemplo no caso de “Cityscape”). E, finalmente, a fotografia pode ser definida em relação à sua utilidade final, o “para que” (como nos grupos “Publicity” ou “Stock”).

A indicação da fotografia em 3 opções se justifica.

Abstract Humorous Rural

Aerial Industrial Sea and Sand

Animal Interior Sky

Architecture Journalism Snapshot

Astrophotography Landscape Sports

Black and White Lomo Still Life

Cityscape Macro Stock

Class Assignments Nature Street Photography

Decisive Moment Panoramas/Mosaics Suburban

Documentary Performance Swimsuit

Emotive PhotoSIG trips and meetups Tourist

Erotic Pinhole Travel

Expression Portrait Underwater

Family Product Urban

Fashion Publicity Vehicle

Fine Art Random Vintage

Food Recycled Art Weather

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A opção de uma imagem sendo associada a outras imagens, como apresenta Antônio Gerreiro, comentando o método Warburg, no texto “Aby Warburg e os Arquivos da Memória” é uma opção que nos desafia, e exige uma outra forma de se colocar frente ao universo de imagens.

Outro projeto para organizar e associar imagens, usa tecnologia digital. É o projeto Sea Dragon, que permite associar imagens espacialmente, como em um plano infinito, com grande versatilidade a partir análise eletrônica de informações semânticas.

O método Warburg e a classificação da imagem em sí mesma

Aby Warburg, nascido em Hamburgo em 1866 abriu mão da direção do banco da família para se dedicar aos estudos de imagens. A técnica de organização de Warburg é independente dos sistemas verbais, como ordem alfabética ou do texto da descrição da imagem. A classificação de imagens (e também de livros em sua biblioteca) exige que cada item seja colocado de acordo com a lei da “boa vizinhança.” Com isto “o material visual reunido deveria produzir um efeito de conhecimento visual, capaz de “mudar a nossa imagem do mundo numa medida ainda imprevisível”, dispensando o

recurso ao texto, às palavras.”1 Warburg nos mostra a função da imagem como expressão de necessidades e expectativas sociais, e meio de comunicação religiosa e política.

O método de organização de imagens de Warburg está sendo novamente estudado como possibilidade de organização de imagens.

1. Antônio Guerreiro — http://www.educ.fc.ul.pt/ hyper/warburg.htm

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O método Warburg e o programa Sea Dragon pretendem organizar imagens de uma forma que não dependa do texto que as descreve. Nesta construção de conhecimentos, os encadeamentos de imagens geram contextos e compreensão de significados.

Sea Dragon e o recurso da Informática na organização da imagem

O projeto Sea Dragon tem similaridades com o método Warburg. Imagens semelhantes são associadas

automaticamente em um computador. Este programa, que estava sendo desenvolvido de forma independente, foi adquirido pela Microsoft, e agora faz parte do “Microsoft Live Labs” e associado ao sistema

“Photosynth Technology Preview” em que imagens são analisadas pelo computador, que localiza similaridades, e apresenta-as permitindo a reconstrução de espaços virtuais simulando uma

tridimensionalidade, e mostrando relações entre as imagens fornecidas.1 É uma tentativa de criar arranjos espaciais da imagem baseados em informações semânticas.

1. http://labs.live.com/photosynth/ : acesso em 22 de janeiro de 2008

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Classificação quando à necessidade da imagem: A imagem (esta imagem) é necessária?

O excesso de fotografias que nos devora

O tempo gasto para se ver uma imagem talvez devesse ser proporcional ao tempo e trabalho necessário para a produção da imagem. A viagem de férias que produz 8000 fotografias, sugere que estas fotografias possam ser vistas em alguns minutos. Ficaremos com as imagens que nos marcam. No padrão atual da

tecnologia, que permite produção superior a 200 fotografias por dia, faz com que o trabalho de fazer uma boa fotografia seja trocado pelo trabalho da procura entre as fotografias prontas, entre milhares de fotografias que estão à disposição. Esta profusão de imagens é problemática. Cláudio de Moura Casto, no texto Sociedade Interativa (CASTRO, 2007), compara como era feita a fotografia por Marc Ferrez no fim do século XIX, sobre chapas de vidro, e a situação atual em que 200 fotografias/dia/fotógrafo é uma situação normal. Para Cláudio de Moura Castro, a vida toda não é mais reflexão e escolha, e passa a ser uma questão de tentativa e erro.

Substituímos pela iteração (ou seja, pela ação reiterada de tentativa e erro) uma busca rigorosa e reflexiva da solução técnica ou estética. Tentamos até acertar. Não pensamos muito, vamos fazendo profusamente, na esperança de topar com alguma coisa boa. É a "arte lotérica".Se não der certo, tenta-se novamente. Sempre houve busca iterativa e nem tudo hoje em nossa sociedade é feito por esse método (e bendito seja o computador em que

escrevo!). Mas os avanços tecnológicos e o

espírito dos tempos tiveram como efeito aumentar a busca de soluções por esse caminho, substituindo-se o foco, o raciocínio, a concentração e a elaboração intelectual.

Ao lado disso, o excesso de imagens a que nos associamos, leva à iconofagia impura que nos fala o Professor Norval Baitello. Segundo Baitello, na iconofagia, devoramos as imagens. Na iconofagia impura, são as imagens que nos devoram. Ao devorar as imagens, se não somos capazes de digestão, de incorporar a imagem, nós e que nos transformamos na imagem. (BAITELLO, 2005:97).

Esta “Iconofagia” leva à perda de nós mesmos junto com a perda de significado das imagens, que se esgotam e nos esgotam. Esta situação exige, e ao mesmo tempo impede, uma organização. E a organização poderia servir até para esconder a imagem, dentro de um arquivo organizado, para que ela não esteja sempre presente. De forma semelhante ao que era feito com as imagens de devoção, nas igrejas (BELTING, 1996:183), em que se guardavam as imagens para serem

mostradas apenas nas festas específicas de cada santo, preservando a força da imagem, de forma que a imagem não se desgastasse pelo convívio, nem nos consuma como nos conta Hans Belting em seu livro ‘Likeness and Presence.’

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Classificação por tamanho:

Nas fotografias digitais e nos equipamentos eletrônicos é usada a quantidade de dados por imagem, seja por pixels, ou o tamanho, em pontos da imagem 480 x 640, seja por bits: tamanhos de 1, 2, 4, ou12 megabits são bastante comuns.

Não podemos ignorar o que ensina Boris Kossoy: que o que está ausente na imagem tem igual importância, indicando a postura do fotógrafo frente à sua época. Kossoy considera que tem imagens que o fotógrafo deseja mostrar, e outras imagens que prefere excluir da fotografia (KOSSOY 2007:158).

Classificação por proporção?

A imagem bidimensional em geral é proporcional. Nos livros, a imagem normalmente está limitada ao tamanho da página, ou de múltiplos do tamanho da página. Os diversos filmes resultam imagens de tamanhos variados, e nos acostumamos a estes tamanhos. Estes tamanhos proporcionais podem ser descritos com proporções entre números inteiros pequenos. A imagem de cinema ou televisão tem proporções especificadas, e a tela do computador também, com poucas opções. Quando as imagens não conservam uma proporção próxima entre a altura e comprimento, a imagem é desproporcional. Imagens “panorâmicas,” ou “prospectos,” imagens inadequadas para portar, precisam ser enroladas, devem ser transportadas de forma especial, precisam estar “instaladas” para que possamos aproveitá-las em sua totalidade. Estas fotografias desproporcionais, fogem da classificação, atrapalham a organização. Precisam ser guardadas em cima do armário, atrás do sofá… Ou precisam de equipamento especial para sua visualização, e ficam guardadas nas memórias dos computadores.

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Minha classificação:

Elaborei questões como um guia para interpretação de imagens. Estas questões

abrangem o antes, o durante e o depois da produção da imagem, e o que está presente na imagem. Finalmente, um grupo especial, para reconhecer a presença do vazio na imagem.

1— Porque a imagem foi produzida? 2— Como a imagem foi produzida? 3— Para que a imagem foi produzida? 4— O que contém a imagem?

5— Quem produziu a imagem? 6— Quando a imagem foi produzida? 7— Onde a imagem foi produzida?

A resposta para estas questões pode ser automática ou resultado de uma reflexão. Pode ser consciente ou inconsciente. Mas acredito que esta classificação ocorra, de uma forma ou de outra. A imagem perde valor estando em uma propaganda. Se a imagem é interpretada como tal, passa a merecer algum desprezo. A resposta da pergunta “3— Para que a imagem foi produzida?” se carrega a resposta “Para nos levar a consumir” reduz nossa aceitação da imagem. Por isso, quem produz imagens para alterar opiniões, procura se esquivar desta pergunta, evitando esta avaliação negativa da imagem. Boris Kossoy, (KOSSOY 2002:60) nos alerta sobre esta possibilidade.

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Outras perguntas são geradas a partir destas perguntas iniciais. Por exemplo, um desmembramento importante da pergunta “4— O que contém a imagem?” seria: “8— O que a imagem não contém?” Imaginando o tempo e local da imagem, e o que deveria haver na imagem que não é mostrado? Esta é um busca do “inconsciente” da imagem, a procura do que foi reprimido, da mesma forma que age a psicanálise.

A pergunta 2— Como a imagem foi produzida? produz perguntas como: “9— Quanto trabalho exige esta imagem? 10— Que riscos exigiu? 11—Quanto foi investido para que eu pudesse ver esta imagem?” Informações importantes, que mudam a avaliação da imagem. Também as perguntas: “12— Como eu devo olhar esta imagem? 14— O que esta imagem tem a ver comigo? 15—Em que esta imagem muda o que conheço ou acredito?”

A classificação de imagens por ordenamento alfabético é uma classificação arbitrária, um ordenamento esquizofrênico, mas é uma opção prática no universo escrito.

Nestes tempos de bancos de dados relacionais, a construção de um banco de dados para classificação de imagens pode acolher incontáveis formas de classificação, o que é melhor que ter poucos critérios classificatório. E principalmente, um banco de dados pode ter reprodução reduzida e detalhes das imagens que classifica, e eventualmente guardar uma cópia completa da imagem. Neste banco de dados, os campos “porque,” o

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“como,” o “o que” e o “para que” podem estar preenchidos ou não, mas são informações importantes, quando sabemos estas respostas.

Seja qual for a forma classificatória, a classificação sempre vai ter um viés pessoal, tratando da denotação e conotação da imagem. A conotação pode variar de pessoa para pessoa, e para a mesma pessoa, variar de uma época para outra.

Em “Sobre a Iconoteca Inteligente” de Vicente Rodrigues (RODRIGUES (2003:201-221), encontramos uma discussão sobre a possibilidade de classificação da conotação de uma imagem. Para a classificação poder mudar ao longo do tempo Vicen Rodriguez sugere um sistema tipo internet, no espírito colaborativo da Wikipédia, em que cada pessoa coloca sua posição sobre cada imagem, e a situação de cada imagem é construida a partir da resultante de opiniões dos diversos usuários da “iconoteca” em questão.

Esta reflexão sobre classificação se interrompe aqui. A organização e classificação das imagens fotográficas é um desafio. Além dos recursos tecnológicos, e mais importante, é a memória de cada um. Para uma imagem ser registrada na memória, a resposta emocional à imagem é fator decisivo. No final das contas, a emoção é o que fica por trás dos conhecimentos e comportamentos humanos. Termino comentando o vazio. No próximo capítulo, voltaremos às perguntas classificatórias levantadas.

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O vazio

A fotografia do deserto permitiu perceber que, nas fotografias dos campos de futebol, a ausência de vários elementos é de fundamental importância. A ausência da figura humana em um campo de futebol, onde se espera dois times com 11 jogadores cada, juízes, e um público de milhares de pessoas, faz com que as imagens de estádios da exposição templos politeístas apareça como as imagens do Coliseu de Roma, visto mostrando o vazio (ou apenas com turistas, deslocados) em uma arena criada para ser um local onde convive-se com a multidão.

No documento A fotografia panorâmica de Dimitri Lee (páginas 62-74)

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