A percepção de Pedro sobre o sistema de apoio

Na análise da informação, pareceu que Pedro percebeu de modo distinto os apoios dos seus tutores especiais, que compuseram basicamente o apoio ao aluno nas duas disciplinas destacadas. Essas diferenças foram marcadas por dois aspectos em particular: a relação de Pedro com os conhecimentos de Contabilidade e a relação com seu desempenho acadêmico.

Nesse sentido, foi importante considerar, particularmente, a díade tutorado - tutor e alguns aspectos significativos em seu relacionamento.

Disciplina III

No segundo semestre de 2005, Pedro não tinha colegas de curso conhecidos, e procurou um dos colegas de turma com mais disponibilidade, para atuar como tutor especial. O aluno relatou que teve certa dificuldade para buscar esse apoio, mas um colega da Licenciatura em ciências Biológicas ofereceu-se para atuar como seu tutor. Esse aspecto foi destacado no trecho de uma entrevista.

Tutor: Não, o Pedro chegou na sala de aula e pediu a ajuda de alguém, uma ou outra pessoa foi voluntário, mas acabava desistindo, aí via como era o negócio, então eu fui...voluntário.

Pedro compreendeu que o tutor desempenhou bem o papel de ledor na disciplina e, inclusive, deveria atuar como ledor nos vestibulares, enfatizou na

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primeira entrevista. Nos estudos feitos em conjunto, que visavam à prova de conteúdo, o aluno percebeu seu tutor como um “organizador” das informações que proporcionavam o suporte necessário ao desenvolvimento dos exercícios.

O tutor pareceu instrumentalizar bem seu colega, nessa disciplina. Porém, não demonstrou reconhecer e, até mesmo, respeitar o modo como Pedro buscava resolver os exercícios. Isso, associado ao desempenho insatisfatório nas provas, fez com que Pedro percebesse o tutor como um agente que instrumentalizou seu processo de aquisição de informação.

Vários elementos identificados em entrevistas e dinâmicas conversacionais constituíram indicadores que possibilitaram essa interpretação sobre a percepção de Pedro em relação ao tutor.

Tutor: Eu acho que ele tinha de ir só no grosso da matéria. Está estudando limite, está estudando derivada, integral, ele lá, ele estrutura a resposta, entendeu? Mas ele não precisaria resolver. Se tivesse muita conta envolvida ou muitas parcelas a partir do programa, está armado ali, eu acho que ele não precisaria ir até o fim.

[...] Esse se chama de u, esse daqui, se chama de x ... e devia usar como se eu fosse um “computador“ ou “olho”. Oh, me diz a parte 1, aí, me diz a parte 2, repete, como é que você montou isso no papel, aí, ele não está fazendo isso, está querendo guardar tudo na cabeça e me falar a resposta. Aí falei que se não dá, não vai dar, assim, o problema na, na [...]

No primeiro semestre de 2006, Pedro cursou a Disciplina III com vários colegas de Ciências Contábeis e, conforme destacado anteriormente, a proposta do professor foi trabalhar com conteúdos aplicáveis a diferentes áreas.

Foi observado que Pedro teve uma participação ativa em sala de aula e nos grupos de estudo, que compôs com sua tutora e mais duas colegas de Contabilidade. Pedro organizou o grupo e planejou com os colegas as atividades e os horários de estudo.

Observou-se que ele orientou alguns dos colegas, explicou conceitos e fórmulas, representou gráficos com o acompanhamento da tutora.

Pedro relatou que sempre teve o apoio e o reconhecimento dos professores, dos colegas e dos funcionários do Departamento de Ciências Contábeis. Em vários trechos de entrevistas e de dinâmicas conversacionais, pode- se exemplificar a construção de indicadores que fundamentaram a hipótese de que a motivação de Pedro para aprender estava relacionada ao desempenho no curso de Contabilidade e ao vínculo com colegas que reconheciam sua capacidade.

[...] mas meu departamento... o que eu quiser, eu faço lá dentro. Graças a Deus, eles são super abertos, assim... pra mim, não tem problema nenhum.

O professor conversou comigo, perguntou como ia ser a prova. Já pediu para o João passar o material que tem digitalizado e tudo isso, né? Então, ele já está super interessado. Ele já quer adiantar bastante.

[...] Pra você ver, eu não procurei o orientador... ele que me procurou [...]

Tutora: A Célia já foi tutora do Pedro no semestre anterior em mais de uma disciplina, e como ela reprovou na Disciplina III, ela não poderia ser a tutora dele agora. Ela me explicou que seria simples, pois o Pedro ajuda bastante, ela ia estudar com ele, acabava sendo ajudada por ele.

Outros elementos articularam-se aos anteriores para integrar aquela interpretação. Dentre eles, são exemplos:

Pesquisadora: Você acha que o Pedro aprendeu funções, derivada? Tutora: Todos na sala acham que ele aprendeu.

Embora a tutora tenha atuado de modo eficaz na orientação a Pedro em sala de aula e no grupo de estudo, Pedro percebeu a colega como apoio emocional, que, articulado com outros aspectos já mencionados, nesse semestre, viabilizaram o satisfatório desempenho de Pedro.

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Disciplina IV

Para a análise relativa a essa disciplina, as considerações anteriores sobre a Disciplina III do primeiro semestre de 2006 também foram relevantes, pois se relacionam direta ou indiretamente com a relação de Pedro com o curso de Contabilidade.

A tutora atuava nesse apoio desde o início de 2004, e era colega de Pedro desde o segundo semestre do curso. A tutora representou um apoio relevante nessa disciplina, conforme exemplificado nas ações em sala de aula, no estudo conjunto e na realização das provas com consulta. Além disso, a interação de Pedro com sua tutora caracterizou-se pela confiança e pelo afeto. Pôde-se interpretar que a interação de Pedro com seus tutores colegas de curso, participantes da pesquisa, teve uma qualidade diferenciada em seu percurso acadêmico. Foram selecionados os trechos abaixo para elucidar a construção sobre a percepção de Pedro em relação à tutora como apoio emocional:

[...] ser tutora do Pedro é um privilégio ... ele é que ajuda a gente [...] Patrícia, você conhece a Raquel... ela é um patrimônio ... está junto, tem tempo.

Em uma observação em sala de aula foi destacado o seguinte trecho que integrou essa interpretação:

Fica um tempo sem ninguém ao seu lado: nem amigo, nem tutora. Quando ela chega, avisa com um toque na mão dele e ele entende que ela chegou.