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2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA EFAP

2.2. A PERSPECTIVA POLÍTICA E PEDAGÓGICA DAS EFAS

As EFAs são instituições de ensino que têm como especificidades: 1) o foco na Pedagogia da Alternância; 2) e um direcionamento para a Educação do Campo. Têm como objetivo, sobretudo, oferecer uma educação diferenciada para o jovem rural. Essas escolas veiculam conteúdos que julgam adequados para a realidade dos estudantes, associando a formação intelectual e a formação para o trabalho e distanciando-se de um modelo educacional classificado como urbanocêntrico.

A Educação do Campo é uma formulação mais atual. Foi a partir da Primeira Conferencia Nacional por uma Educação Básica do Campo, realizada em Luziânia- GO, em 1998, que esse termo surgiu (NASCIMENTO, op.cit., 2005). Ela surge das iniciativas de diversos movimentos sociais e da articulação e mobilização das populações do campo em prol de políticas públicas que garantam o acesso à Educação do Campo, que seja no e do campo. A Educação do Campo engloba a reflexão de que o campo é um lugar em que não apenas se reproduz, mas se produz pedagogia (SILVA, op.cit., 2007).

E aqui cabe ressaltar que, muito mais que uma mudança de nomenclatura – rural para campo – a expressão Educação do Campo constituiu um dos traços marcantes da identidade de um movimento nacional que garantam o direito da população rural a uma educação que seja no e do campo. É um movimento que, conforme destaca Caldart (2004), mais que o direito da população ser educada onde vive, defende o direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com a sua participação, vinculada a sua cultura e às suas necessidades humanas e sociais. (ibid., p. 106).

Essa Educação do Campo seria diferente da educação rural, por ser protagonizada por e para os sujeitos e movimentos sociais, territórios, práticas e identidades, ou seja, o contexto sociocultural que compõe a diversidade do campo, vinculando-se com uma possibilidade desses sujeitos criarem condições de existência no meio rural (NASCIMENTO, op.cit., p. 6). A Educação do Campo, na visão de Molina (2011) apresenta-se como um projeto de sociedade maior, de uma educação da classe trabalhadora. Ela compreende estratégias de socialização que possam contribuir para manter a identidade, a memória, a cultura e os valores dos sujeitos do campo, por meio de um processo formativo. Nesse sentido, é importante compreender os elementos ideológicos, políticos e pedagógicos que a fundamentam, a fim de se criar as condições de análise da EFAP.

A Educação do Campo, segundo Silva (op.cit., 2007) deve ser pensada como um

Direito “universal, humano e social” e que forme “sujeitos de direitos”. Por isso a

necessidade da busca por uma política educacional que respeite esses sujeitos e o jeito de educá-los. Cabe ressaltar, assim, que a Educação do Campo surge como uma opção de política pública. Assim, em 2002, a Educação do Campo se afirma como iniciativa governamental, fruto, obviamente das mobilizações sociais, e as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo são estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação.

A Educação do Campo, portanto, é um movimento que, na afirmação e diálogo dos seus diferentes sujeitos, busca vincular a luta por educação com o conjunto de lutas pela transformação das condições sociais de vida no campo, marcadas por uma realidade de violenta desumanização. Vincular a luta por educação às lutas sociais tem como pressuposto básico de que não há como educar verdadeiramente sem transformar as condições atuais de sua desumanização [...]. (ibid., p. 107).

Como mencionado, outro princípio fundamental que norteia os projetos educacionais das EFAs é a Pedagogia da Alternância, que consiste na articulação e combinação de períodos de vivência na escola e períodos de vivência no meio familiar.

“Alterna-se, assim, a formação agrícola na propriedade com a formação teórica geral na escola [...]” (ibid., 2007). Segundo Pessotti (1975), o sistema de alternância permite ao

estudante passar, no decurso de um período de três anos, um terço do seu tempo num quadro escolar e os dois outros terços no quadro familiar. É um ritmo apropriado que engloba um período de estudo na escola, seguido de outro período no trabalho. Mais do que alternar o período escolar com o período familiar, o princípio educativo da alternância visa à formação integral do jovem a partir da interação entre universos os quais, a priori, são considerados opostos: o meio sócio-familiar e o meio sócio-escolar,

“a teoria e a prática, o abstrato e o concreto” (SILVA, op.cit., p. 108). Significa, dessa

forma, compreender que a dimensão da vida também tem valor educacional e de reflexão.

Tendo em vista o já mencionado cenário de abandono do Estado em relação às

escolas rurais, – marcado por insuficiência de instituições de ensino, precária

infraestrutura, currículos inadequados e profissionais sem a devida qualificação – e as

dificuldades encontradas pelos atores sociais do campo, que acabam por optar ou por evadir da escola ou pela migração para a cidade, a Pedagogia da Alternância surge como uma alternativa ao modelo educacional vigente (ibid, 2007). Nesse sentido, pode-

se apresentar como uma alternativa de acesso à escola sem ter que sair do campo, uma possibilidade de permanência do jovem no meio familiar:

[...] uma lógica de adequação da escola e da educação às condições de vida e de trabalho da população rural. A ideia de alternância assume, nesse contexto, um sentido de estratégia de escolarização que possibilita aos jovens que vivem no campo conjugar a formação escolar com as atividades e as tarefas na unidade produtiva familiar, sem desvincular-se da família e da cultura do campo. (ibid., p. 108).

A Pedagogia da Alternância prevê a família como uma importante agente de formação dos indivíduos e, assim, é de suma importância a colaboração das famílias no processo educacional no contexto das EFAs. Na verdadeira alternância, segundo Silva (ibid.), a família é co-produtora do processo educacional e não simplesmente espaço de aplicação do conhecimento teórico, adquirido na escola. Para a alternância ocorrer efetivamente é necessário que a sucessão família-escola também ocorra. A família deve ser uma parceira no processo de formação dos estudantes.

Além disso, a alternância tem que ser, para Silva (ibid.) de caráter integrativo tanto no âmbito familiar quanto no âmbito cultural, político e econômico dessas famílias. Para a alternância ocorrer é necessária a interação família, escola e contexto sociopolítico dos estudantes. Assim, as organizações e movimentos sociais da realidade local são outros pilares da educação por alternância, tendo em vista que, além de um projeto de vida para os jovens, as EFAs visam também um projeto para o futuro das localidades em que estão inseridas.

García-Marirrodriga e Puig-Calvó (op.cit., 2010) aludem que a alternância e a associação são aspectos fundamentais nas EFAs. Para eles a alternância é a diretriz educacional e metodológica para a formação dentro dessas instituições. E a associação envolve as famílias na gestão e funcionamento cotidiano da escola e consequentemente tornam-nas coautoras do desenvolvimento rural, outro papel das EFAs, mencionado por esses autores. Dessa forma, as EFAs são parte de um projeto de formação impulsionado por organizações associativas de comunidades do campo e que tem como componente educativo principal a alternância, elemento fundamental para o desenvolvimento social, profissional e cultural dos jovens. Sendo assim, as EFAs são associações de famílias,

“pessoas e instituições, que buscam solucionar uma problemática comum do

Desenvolvimento Local através de atividades de formação em alternância,

Os autores apontam, ainda, como finalidades das EFAs os seguintes pontos: a formação integral das pessoas e o desenvolvimento local. E, como meios para alcançar

tais finalidades, a alternância e a associação local. Esses elementos – a formação

integral das pessoas, o desenvolvimento local, a alternância e a associação – seriam os

quatro pilares das EFAs, como ilustrado na Figura 1.

Figura 1- Pilares da Formação das EFAs

Fonte: Site UNEFAB.

A formação integral dos jovens pressupõe, na visão de García-Marirrodriga e Puig-Calvó (ibid.), um processo educacional que ocorre em vários âmbitos, tais como: profissional, social, cultural, intelectual, humano, espiritual, etc. O desenvolvimento local aparece no sentido de tornar os estudantes das EFAs protagonistas do desenvolvimento do meio em que estão inseridos, evitando, assim, que os indivíduos do meio rural sejam obrigados a migrar. Para alcançar tais objetivos, é indispensável, segundo os autores, uma metodologia pedagógica como a alternância, que prima à formação do jovem tanto no âmbito escolar como no âmbito familiar ou sócio- profissional. Os autores chamam de alternância integrativa o envolvimento de todos os

atores – a família, os monitores, os estudantes, etc. – no processo educativo. E a

associação, por fim, torna as famílias dos estudantes os próprios gestores desse processo educativo. Esses elementos reunidos contribuem para o principal objetivo das EFAs: o desenvolvimento das pessoas e do seu meio social (ibid.).

Educação do Campo, a Pedagogia da Alternância, a formação integral do jovem, o desenvolvimento do meio e a participação das famílias na condução dos projetos educativos e na gestão da escola. Para tanto, as EFAs utilizam alguns instrumentos pedagógicos que são ferramentas adotadas para que esse processo de formação ocorra efetivamente. São eles: visitas às famílias, planos de estudos, visitas de estudo, cadernos de campo, colocação em comum, intervenções externas, projeto profissional jovem, etc. (SILVA, op.cit., 2007).

A escola, além de buscar a preparação básica escolar, visa contribuir para uma formação comunitária e associativa do estudante, por meio da aprendizagem da vida em grupo, ou seja, por meio da convivência coletiva que ocorre entre os próprios estudantes e entre estudantes e monitores no meio escolar. De acordo com seus propositores, as atividades realizadas coletivamente favorecem o estímulo da responsabilidade individual e para com o outro, e também a solidariedade entre os jovens. Para García- Maridorriga e Puig-Calvó (ibid.), esse aspecto da EFA permite que os estudantes possam se afirmar dentro do grupo e ser protagonistas de suas próprias formações. E, ao se organizarem nas responsabilidades internas, eles aprendem a viver em sociedade, bem como se preparam para a vida profissional.

Nesse sentido, as tarefas executadas, assim como as vivências em sala de aula, os momentos das refeições, dos jogos, das atividades de lazer e recreação, são consideradas situações que contribuem para favorecer momentos e modalidades diferentes de encontros e interações dos alunos entre si e dos alunos com os monitores. São situações que, diferentes do contexto das escolas tradicionais, estimulam e favorecem o diálogo, um clima de amizade e confiança, ampliando as relações entre os alunos e monitores e contribuindo para a criação de um ambiente educativo, favorável no cotidiano escolar das experiências de alternância (SILVA, op.cit., 2007, p. 108).

Para Silva (ibid.), as EFAs, sobretudo, buscam valorizar os sujeitos e os processos sociais do campo, ao construírem uma educação e uma escola enraizada na cultura, nos valores e nos modos de vida do campo. O projeto educativo das EFAs, em suma, visam a formação dos jovens e o desenvolvimento do próprio meio em que eles vivem.