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2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA EFAP

2.4. MINHA INSERÇÃO NA ESCOLA: PRIMEIROS OLHARES

Meu primeiro contato com a EFAP deu-se por meio de um pré-campo realizado no mês de março de 2013. A escola é de muito fácil acesso, pois fica às margens da rodovia MG 262. Antes de chegar na construção da escola propriamente dita, passei por um campo de futebol e por um galpão (de eventos), os quais descobri, posteriormente, que são de propriedade da comunidade, mas são utilizados frequentemente pela instituição.

Figura 4- Entrada da EFAP

Fonte: Marcella Costa.

Atravessei uma pequena ponte, visto que nos arredores da escola passa um pequeno riacho e há também uma cachoeira de pequeno porte aos fundos. Visualizei, desde já, as áreas plantadas e um viveiro de mudas. A escola, em geral, não dispõe de uma área muito extensa para a prática agrícola.

Figura 5- Viveiro de Mudas

Fonte: Marcella Costa.

Subi uma pequena escada e logo que se chega, há uma placa com os seguintes

dizeres: “EFAP – Ensino Médio e Profissional a serviço da promoção do desenvolvimento sustentável e solidário”. De antemão, já é possível perceber as

Figura 6- Escola Família Agrícola Paulo Freire

Fonte: Marcella Costa.

Deparei-me, ainda, com os corredores da escola, que, a priori, parece dispor de uma estrutura simples e básica. Nas paredes tem uma foto de Paulo Freire e a seguinte

mensagem: “Juventude que ousa lutar, constrói o poder popular”, além de cartazes sobre

movimentos sociais, agroecologia X agrotóxicos, meio ambiente, frases e poesias produzidas pelos jovens, etc. Mais uma vez é possível perceber a materialização da proposta político-pedagógica da escola.

Nessa ocasião cheguei à escola sozinha, mas já havia sido avisado, por um dos monitores com o qual fiz contato, que eu iria visitar a instituição. Fui muito bem recebida pelos estudantes, profissionais e diversos sujeitos que estavam lá. Fui acompanhada por olhares curiosos, que certamente me mapeavam. Alguns monitores, principalmente, demonstraram certo receio com a minha presença.

Fiquei à vontade para conhecer as instalações da escola, guiada por esse monitor com quem eu havia feito o contato. AEFAP conta, em geral, com uma estrutura muito

simples composta por: duas salas de aula; uma biblioteca; um quarto feminino, com

adolescentes cada; uma cozinha/cantina; uma secretaria; um refeitório, que fica ao ar livre e é um espaço muito frequentado pelos jovens nos horários vagos; quatro banheiros, sendo um dos funcionários, um masculino e dois femininos, dos quais um é muito pequeno; uma sala para os monitores; uma sala de informática; uma lavanderia, um jardim; uma pequena área de cultivo que consiste em hortas, viveiro de mudas, frutíferas, etc.; um chiqueiro e um galinheiro.

Fui encaminhada para uma reunião que seria realizada entre todos os profissionais, na qual apresentei a mim mesma e a minha proposta de pesquisa. Todos ouviram com atenção e alguns se pronunciaram, tiraram suas dúvidas, mas, ao final, acolheram a minha iniciativa, advertindo que não queriam ser tratados apenas como objetos de pesquisa, mas como sujeitos e que gostariam de algumas contrapartidas. Em linhas gerais, eles concordaram que a minha pesquisa tinha muito a contribuir com a realidade deles, uma vez que a própria escola já faz essa discussão e possui um instrumento pedagógico, intitulado Projeto Profissional Jovem (PPJ).

Após isso, fiquei à vontade para transitar pelas instalações da escola, para conhecer os estudantes, os quais me receberam com muita curiosidade, entusiasmo e interesse pelo que eu estaria fazendo ali. À tarde, uma das monitoras me encaminhou para a sala de aula do terceiro ano, visto que um dos professores havia faltado. Tive oportunidade de realizar uma conversa coletiva, no qual eu indaguei-os acerca da visão que eles tinham sobre a juventude e a juventude rural no mundo contemporâneo. Esse grupo respondeu com muita empolgação à proposta de atividade. Já de antemão pude criar muitos laços de amizade e afetividade com os jovens da escola.

Alguns meses depois, retornei para a realização da pesquisa de campo, que foi realizada em cerca de três meses, dentro dos quais eu tive oportunidade de ficar imersa, por alguns dias, na instituição. Mais uma vez fui recebida com muito carinho, entusiasmo e interesse. Nessa ocasião, a escola tinha sido pintada com tinta de solo e algumas paisagens, referentes à natureza e ao campo, haviam sido feitas em algumas paredes por um artista da região. A EFAP conta com uma área pequena, em geral, sempre muito decorada com muitos vasos de plantas e mensagens de cunho político, pedagógico, ideológico e religioso nas paredes.

A rotina era bem intensa. Os estudantes acordavam sempre por volta das seis da manhã e tinham até ás sete para fazer a primeira refeição, o café da manhã, que era servido às seis e meia. Desde já, começavam os ruídos e as brincadeiras. O espaço do refeitório, como já foi dito, era muito utilizado para a socialização dos jovens,

principalmente nos horários informais. Alguns jovens já começavam as atividades de manutenção pela manhã, visto que tinham a responsabilidade em arrumar a mesa ao fim.

Por volta das sete e meia iniciava a primeira aula, que geralmente durava a manhã inteira, mas tinha um intervalo para o lanche às dez. Em alguns dias mudava-se de disciplina após esse intervalo. O almoço era servido ao meio dia e era seguido de um intervalo, no qual os jovens ou descansavam ou faziam atividades variadas de recreação. Por volta de uma e meia da tarde dava-se início a outra aula que ia até ás quatro da tarde, horário em que era servido outro café. Após essa refeição, os jovens iniciavam as atividades de manutenção da escola, que compreendiam a limpeza dos espaços, manejo da horta, do viveiro e dos animais, etc...

Os jovens tinham um espaço de tempo livre que eles usavam para jogar futebol, conversar entre eles, ouvir música nos quartos, tomar banho, entre outras. O jantar era servido sempre às sete da noite. Logo após, ou os estudantes eram liberados ou havia os espaços que eles chamavam de serões, que compreendiam atividades extracurriculares, tais como oficinas, exibição de filmes, atividades com atores externos, etc...

A religiosidade estava muito presente na escola, apesar de ela se declarar formalmente laica, visto que os jovens e monitores eram, em sua maioria, católicos, e havia mensagens religiosas nas paredes. As místicas e as orações eram realizadas cotidianamente na hora do almoço e do jantar. Antes dessas referidas refeições, todos ficavam em círculo, faziam alguma atividade reflexiva e mística e só depois se serviam.

O ambiente escolar, em geral, é sempre muito alegre e tem a presença de muitos sons, uma vez que os jovens ficam durante todo o dia ouvindo músicas, cantando, rindo e brincando. Os espaços para a socialização, para além das questões curriculares, eram, geralmente, o campo de futebol e as áreas ao ar livre, que ficavam na frente da escola, além do próprio refeitório e os quartos.

Cada mês letivo era dividido em duas sessões de quinze dias cada. Na primeira delas estavam presentes os cerca de cinquenta estudantes do segundo e terceiro ano e na outra os quinze jovens do primeiro ano. Isso ocorria porque não havia condições da estrutura física da escolar comportar os 65 estudantes ao mesmo tempo. Por isso, obviamente, a sessão do segundo e terceiro ano era sempre mais agitada, com mais ruídos e animação, ao passo em que a sessão do primeiro era um pouco mais silenciosa.