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Narrativas dos projetos de vida dos jovens que querem trabalhar na área

4. PROJETOS DE VIDA E CAMPO DE POSSIBILIDADES DOS JOVENS ESTUDANTES

4.2. OS PROJETOS PROFISSIONAIS DOS JOVENS ESTUDANTES DA EFAP

4.2.2. Narrativas dos projetos de vida dos jovens que querem trabalhar na área

Nesta seção serão abordadas as narrativas dos sujeitos que destacaram como projeto de vida principal trabalhar na área da agropecuária, sem fazer nenhum curso superior, posteriormente. Esse grupo é mais reduzido, pois representa apenas 5% dos estudantes. Ele diferencia-se de alguns casos já relatados, de estudantes que têm a pretensão de exercer a profissão oferecida pela escola, mas que também vêem o ensino superior como norte. Aqui, será abordado, portanto, acerca dos jovens que buscam ser técnicos em agropecuária.

Antônio, estudante do segundo ano, deseja, depois que ele formar, procurar um

emprego: “Primeiramente caçar um emprego, onde que tiver um eu tô colado lá”

(ENTREVISTA COM UM DOS ESTUDANTES DA EFAP, 2013). Mas sua preferência é pelo trabalho como técnico em agropecuária. Caso ele não encontre, vai procurar outro tipo de serviço ou buscar uma faculdade, para graduar-se em outra área. Por enquanto ele não tem nenhum sonho, pois, na visão do estudante, ainda tem muita

correr debaixo da ponte ainda” (ENTREVISTA COM UM DOS ESTUDANTES DA EFAP, 2013). Se tiver jeito, ele pretende morar no meio rural, por ser mais pacífico, ter menos trânsito e barulho e ar puro. Antônio declarou, enfim, que o conteúdo técnico e metodológico da EFAP é apenas razoavelmente importante para a sua formação, pois está sendo fraco e precisa melhorar.

É perceptível no projeto de vida de Antônio, o objetivo da EFAP de formação profissional dos indivíduos na área técnica em agropecuária. O princípio da EFAP de contribuir para que os jovens criem condições de permanecer no meio rural também está presente nos planos que o referido estudante buscou elaborar para sua vida, haja vista que ele pretende morar no campo, caso seja possível.

Já o projeto de vida profissional de Patrick, que também é do segundo ano, é trabalhar como técnico em agropecuária. Segundo ele, uma possibilidade é trabalhar na EMATER, próximo à sua casa. Um sonho manifestado por ele é poder trabalhar na polícia ambiental e fazer um curso de legislação ambiental, mas isso é em longo prazo. Ele pretende casar e ter filhos, pois gosta muito de crianças. Como pretende trabalhar na EMATER, está pensando em ir morar na cidade. A EFA é muito importante para a concretização dos seus sonhos, pois, por meio dela, ele pode aprender sobre as leis ambientais e sobre a área da agricultura, que contribuirão em seus objetivos de ser, respectivamente, polícia ambiental e técnico em agropecuária. Mas, segundo Patrick o conhecimento veiculado pelos técnicos da EFAP é limitado e eles deveriam saber mais para poder passar mais conhecimento para os estudantes.

Ao contrário de Antônio, Patrick não tem planos de morar no meio rural, apesar de querer seguir a formação para a qual a EFAP busca prepará-los. O que sobressai da narrativa de Antônio é a sua motivação em relação ao cuidado com o meio ambiente, que verifica-se por meio de seu desejo de fazer parte da polícia ambiental. Nesse âmbito, seu projeto individual aproxima-se do projeto ético-político da EFAP, que leva em conta a perspectiva da valorização e proteção da natureza.

O estudante Rafael, matriculado no segundo ano, tem planos “de ser um bom técnico em agropecuária e conseguir boas coisas na vida”. Para isso, ele acredita que

tenha que ir para a cidade. Mas sonha também em poder voltar para o meio rural, para fazer a sua vida e formar uma família. Além de exercer o técnico em agropecuária, Rafael sonha, portanto, em posteriormente poder ser um agricultor, pois viveu a vida inteira no campo e tem o domínio do manejo da atividade agrícola. A EFA vai ter uma importância razoável na sua vida uma vez que ele pretende continuar na agricultura.

É perceptível no depoimento de Rafael a necessidade que ele vislumbra de ter de migrar para o meio urbano, em busca de melhores condições de trabalho, ou seja, o problema social da migração do jovem rural, que, segundo Castro (op.cit., 2009a; 2009b) está muito presente nas abordagens sobre juventude rural. A questão da limitação do seu campo de possibilidades pelas questões financeiras e a ambiguidade aparece no que esse jovem quer fazer – que é viver no meio rural, enquanto agricultor – e o que ele pode fazer – que é ir para cidade tentar exercer sua profissão de técnico em agropecuária. O caso de Rafael poderia, também, estar inserido na próxima seção, que tratará dos jovens que sonham em ser agricultor ou pecuarista, uma vez que ele planeja ser técnico, mas também sonha em poder viver no campo e da atividade agrícola. A perspectiva de poder fazer do meio rural um meio de vida e trabalho, que faz parte das diretrizes da escola, está presente nas escolhas individuais que esse jovem faz para sua vida.

Em linhas gerais, os casos de projetos de vida apresentados aqui parecem ter como referência aspectos da proposta da EFAP, tais como a formação profissional na área técnica em agropecuária e o retorno do conhecimento para ao meio rural, com vistas no seu desenvolvimento e a perspectiva de poder viver no campo. Esses indivíduos fazem parte do universo de cerca de 15% de estudantes que não manifestaram o sonho de entrar numa Universidade ou faculdade. Não há como inferir, precisamente, qual o motivo dessa escolha, seja por de afinidade ou não, ou pelo fato de o campo de possibilidades deles serem delimitados por sua realidade material ou por outras questões. O que gera unidade no presente conjunto de jovens é que eles concordam em relação ao fato de que a EFAP tem oferecido um conteúdo limitado, em termos técnicos, assunto esse que será mais bem abordado adiante, na seção que tratará acerca do campo de possibilidades para o qual a escola está preparando os seus estudantes.

4.2.3. Narrativas dos projetos de vida dos jovens que querem ser agricultores ou