• Nenhum resultado encontrado

A metodologia de análise de conteúdo (AC) aplicada (CASETTI; DI CHIO, 1999; BARDIN, 2009; TRAVANCAS, 2005) correlaciona-se com a realidade a qual planejamos examinar; foi preciso uma adequação dos procedimentos, levando em conta a sua real correspondência com o objeto investigado. A opção de dizer não à simples leitura do “real” apresentada nas reportagens sobre o Nordeste no Jornal Nacional foi o caminho que trilhamos. Ao lidar com o campo da comunicação, compreendemos ir além dos seus significados imediatos, da leitura fácil, da ilusão da transparência dos fatos sociais.

Esta atitude de “vigilância crítica” exige o desvio metodológico e o emprego de “técnicas de ruptura” e afigura-se tanto mais útil para o especialista das ciências humanas, quanto mais ele tenha sempre uma impressão de familiaridade face ao seu objeto de análise (BARDIN, 2009, p. 30).

Com o objetivo de analisar como são construídas as representações sociais do Nordeste no Jornal Nacional, adotamos como corpus todas as reportagens exibidas sobre a Região no ano de 2015. Trata-se da análise da informação contida nas mensagens, em nosso caso, mais especificamente, a análise dos “significados”, ou melhor, a análise dos enquadramentos que os jornalistas dão aos acontecimentos. Segundo Bardin (2009), a análise de conteúdo procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça. Uma busca de outras realidades através das mensagens.

A análise de conteúdo, por seu lado, visa o conhecimento de variáveis de ordem psicológica, sociológica, histórica, etc., por meio de um mecanismo de dedução com base em indicadores reconstruídos a partir de uma amostra de mensagens particulares (BARDIN, op. cit., p.46).

Na análise de conteúdo, há algo a descobrir, tomando-se partido do tratamento das mensagens: “A intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)” (BARDIN, op. cit., p.40). Sendo assim, a análise dos temas ou dos enquadramentos de um acontecimento é possível através de um ou vários itens de significação, numa unidade de codificação previamente determinada. A ideia é procurar multiplicar os desmembramentos temáticos, classificando e dividindo as significações do discurso em categorias. A categorização, na AC, tem como objetivo primeiro fornecer, por

condensação, uma representação simplificada dos dados brutos. Bardin (2009) estruturou o método em cinco etapas: (1) organização da análise; (2) codificação; (3) categorização; (4) inferência; e (5) tratamento informático.

Na etapa 1, determinamos que o nosso universo de análise seria todas as reportagens, notas simples e/ou notas cobertas e transmissões “ao vivo” sobre os nove estados que compõem a Região Nordeste do País veiculadas no “Jornal Nacional” durante todo o ano de 2015.

Gráfico 3: Universo das reportagens sobre o NE no "JN" em 2015

Fonte: Elaboração própria.

Nos 12 meses de coleta, cada mês com 26 dias úteis, pois o telejornal não é exibido aos domingos, deu-se um total de 312 edições. Deste universo, 177 programas mostraram alguma reportagem, nota ou “ao vivo” sobre o Nordeste, o equivalente a aproximadamente 57% de todas as edições exibidas (Gráfico 3).

57% 43%

Universo de 312 edições do JN em 2015

Matérias exibidas do NE 177 Matérias não exibidas 135

Gráfico 4: Percentual das matérias sobre o NE no "JN" em 2015

Fonte: Elaboração própria.

O “JN” tem aproximadamente 35 minutos de duração, o tempo pode variar conforme os dias da semana, assim, estipulando que cada reportagem tenha em média 1 minuto e 50 segundos, temos uma média diária de 23 reportagens, notas ou “ao vivo” exibidas por telejornal, resultando num total 7.176 notícias exibidas em 2015. Dessas 7.176 notícias exibidas, 246 foram sobre o Nordeste, correspondendo a 3,42% de todas as notícias veiculadas no telejornal em 2015 (Gráfico 4). Percentual considerado baixo se levarmos em conta que a Região Nordeste representa 33% do total dos 26 estados mais o Distrito Federal que compõem a Federação.

Figura 1: Imagens da nota coberta exibida no “JN” sobre o Carnaval nas capitais do Nordeste

Fonte: G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/02/blocos-arrastam-multidoes-em- diversas-cidades-do-pais.html>. Acesso em: 3 abr. de 2015.

Sem NE 97% Com NE 3%

7.176 matérias no JN em 2015

246 foram sobre o NE

Sem NE Com NE

NOTA COBERTA

CABEÇA: OS BLOCOS ARRASTARAM FOLIÕES EM DIVERSAS CIDADES DO PAÍS.

OFF: EM NATAL, UMA MULTIDÃO SE FANTASIOU COM LAMA PARA BRINCAR NO BLOCO DOS CÃO, QUE FOI CRIADO POR PESCADORES QUE NÃO TINHAM DINHEIRO PARA COMPRAR FANTASIA. O BLOCO DA RUA DO PERDÃO LEVOU MUITA GENTE PARA AS RUAS DE PORTO ALEGRE. ELE FOI CRIADO NOS ANOS 80 E É UM DOS MAIS TRADICIONAIS DA CIDADE. A TERÇA-FEIRA DE CARNAVAL TEVE ENCONTRO DE BLOCOS EM BRASÍLIA. O PACOTÃO TROUXE O SAMBA. E OS RAPARIGUEIROS, MÚSICA ELETRÔNICA. EM SÃO LUIZ DO PARAITINGA, NO INTERIOR PAULISTA, A ATRAÇÃO FOI O BLOCO DO BARBOSA. MAIS DE 20 MIL PESSOAS SE DIVERTIRAM. O RAGASDINHO, MAIOR BLOCO DE ARACAJU, ATRAIU MILHARES DE PESSOAS, AO SOM DE ORQUESTRAS DE FREVO. A ANIMAÇÃO FICOU POR CONTA DA BANDA PATUSCO, QUE VEIO DO RECIFE.

NO RIO, TEVE FOLIA PARA TODOS OS GOSTOS. O IRREVERENTE BLOCO DAS CARMELITAS, A ORQUESTRA VOADORA, COM SUA MISTURA DE RITMOS, E, NO FIM DA TARDE, A FESTA FOI DA TRADICIONAL BANDA DE IPANEMA. TEMPO: 1:18

A constituição do corpus foi pensada atendendo às regras de exaustividade, como indica Bardin (2009), não deixando de fora qualquer um dos elementos ligados diretamente às representações sociais do Nordeste no telejornal, como, por exemplo, uma nota coberta sobre a festa de Carnaval em estados do Nordeste, do Sul e do Centro-Oeste (Figura 1). Considera- se a amostragem rigorosa, pois é parte representativa, tratando-se de um universo heterogêneo, o qual requer uma amostra maior que um universo homogêneo.

Gráfico 5: Quantidade de notícias exibidas por mês sobre o NE no “JN” em 2015

Fonte: Elaboração própria.

Das 246 notícias sobre o Nordeste exibidas no “Jornal Nacional” em 2015, 171 foram reportagens: formato mais completo de notícia, composta pelo off, passagem do repórter (não obrigatória) e sonoras (entrevista gravada); 60 notas simples ou cobertas; e 11 transmissões “ao vivo”. Em janeiro, foram exibidas 23 notícias sobre o NE no “Jornal Nacional”; em fevereiro, 27; em março, 17; em abril, 26; em maio, 25; nos meses de junho, julho e agosto, 16; em setembro, 15; em outubro, 19; em novembro, 20; e em dezembro, 29 (Gráfico 5).

O estado que mais produziu matérias sobre o Nordeste no “Jornal Nacional” em 2015 foi Pernambuco, com 53 reportagens, 13 notas e 5 “entradas ao vivo”, totalizando 71 notícias; em segundo lugar, ficou a Bahia, com 24 reportagens, 9 notas e também 5 entradas “ao vivo”, 38 no total; em terceiro, Ceará, com 23 reportagens, 6 notas e 1 entrada “ao vivo”, totalizando 30 exibições; em quarto, São Luís do Maranhão, com 19 reportagens e 6 notas, produzindo 25 notícias no telejornal em 2015; em quinto, Sergipe, com 8 reportagens e 7 notas, num total de 15 inserções; em sexto lugar, ficou o Rio Grande do Norte, com 9 reportagens e 5 notas, num total de 14 exibições; em sétimo, Piauí, com 8 reportagens e 4 notas, totalizando 12 notícias; em oitavo, Alagoas, com 10 reportagens e 1 nota, com um total de 11 notícias, e, por último, a Paraíba, com 2 reportagens exibidas durante todo o ano de 2015.

23 27 17 26 25 16 16 16 15 19 20 29

Quantidade de notícias mês sobre o NE no

Jornal Nacional - 2015

janeiro fevereiro março abril maio junho julho agosto setembro outubro novembro dezembro

Gráfico 6: Número percentual por Estado das notícias exibidas sobre o NE no “JN” em 2015

Fonte: Elaboração própria.

Percentualmente, Pernambuco ficou com 29% do total das matérias produzidas no Nordeste; Bahia, com 15,44%; Ceará, 12,19%; Maranhão, 10,16%; Sergipe, 6,09%; Rio Grande do Norte, 5,69%; Piauí, 4,87%; Alagoas, 4,47%; e Paraíba, 0,81% (Gráfico 6). No decorrer das análises, constatamos que algumas reportagens e notas concentravam informações de mais de um Estado. Por exemplo, uma matéria sobre a posse dos governadores do Nordeste, exibida no dia 1º de janeiro de 2015, incluía a eleição em várias capitais nordestinas. Outro formato de notícia apresentado também com informações de vários estados do NE num só VT, mas com características de nota coberta, denominado no jargão telejornalístico de “lapada” ou “lapadão”, permitiu que criássemos um novo item de classificação, que denominamos “Nordeste”. Nesses exemplos, contabilizamos 19 reportagens e 9 “lapadas”, num total de 28 matérias, correspondendo a 11,38% do total das produções sobre o NE no “Jornal Nacional” (destacadas em amarelo no gráfico acima).

Apesar da análise de conteúdo ser tributária do positivismo, corrente de pensamento desenvolvida por Augusto Comte, cuja principal característica é a valorização das ciências exatas como paradigma de cientificidade, entendemos que a ênfase no aspecto quantitativo deva ser complementada com outras ferramentas de análise já expostas aqui, como a observação participante (PERUZZO, 2005), que consiste na inserção do pesquisador

no ambiente de ocorrência do fenômeno, ou seja, nas redações de TV onde se produz a notícia veiculada no telejornal.

Além da observação participante, descrita a seguir, quando a pesquisadora se inseriu no grupo pesquisado — no caso as três redações que mais geraram notícias sobre o Nordeste no Jornal Nacional em 2015: a TV Globo Nordeste, em Pernambuco; a TV Bahia, em Salvador; e a TV Verdes Mares, em Fortaleza, no Ceará —, optamos ainda por adotar entrevistas abertas semiestruturadas e em profundidade (DUARTE, 2005) como técnicas clássicas de obtenção de informações com larga utilização em diversas áreas, entre elas a comunicação:

A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer (DUARTE, 2005, p. 62).