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5.2 Imersão nas redações

5.2.2 TV Bahia

A visita à redação da TV Bahia, em Salvador, se deu entre os dias 5 e 7 de dezembro de 2016 (Figura 3). A Rede Bahia é um grupo empresarial que atua dentro e fora da Bahia, nos segmentos de mídia, conteúdo e entretenimento, composta por 14 empresas, entre jornal impresso, portais, rádios e televisões. São seis emissoras de TV aberta afiliadas à Rede Globo: TV Bahia, em Salvador; TV Oeste, em Barreiras; TV Sudoeste, em Vitória da Conquista; TV São Francisco, em Juazeiro; TV Santa Cruz, em Itabuna; e TV Subaé, em Feira de Santana, sendo o maior grupo de comunicação do Norte e Nordeste.

A equipe responsável pelo “Jornal Nacional” na redação da TV Bahia em Salvador é formada por uma editora-chefe do núcleo de rede, que denominaremos Editora 1; três produtoras, que são também editoras de texto; três repórteres; e uma equipe de externa, composta por um cinegrafista e um motorista. A Editora 1 coordena toda a comunicação com as cinco emissoras distribuídas no interior do Estado.

Tudo que vem de lá tem que passar por aqui para a gente mandar para a rede. Ou também a gente pede contribuição para eles, quando a gente precisa achar um personagem, um bom exemplo, eu sempre peço que eles me ofereçam matérias, o que está acontecendo lá, para depois eu oferecer para o “JN” (EDITORA 1, 2016, informação verbal).

Figura 3: Redação da TV Bahia em Salvador/BA

Fonte: Elaboração própria.

A Editora 1 chega à redação por volta das 11h30 da manhã e começa a checar os e- mails enviados pela equipe do “JN” no Rio de Janeiro, para saber se tem algum pedido mais urgente, mas, segundo ela, o trabalho começa bem antes desse horário:

Normalmente eu já começo a ver os e-mails lá de casa, na verdade no dia anterior, já tem alguns pedidos do “Jornal Nacional”, aí eu deixo recado para as meninas fazerem, porque tem uma que entra cedo e outra às 9h. E elas têm liberdade de oferecer as pautas (EDITORA 1, 2016, informação verbal).

O contato da coordenadora do núcleo de rede com os profissionais na redação do Rio de Janeiro é sempre por e-mail: “Eu vendo as matérias tentando convencê-los da importância dos assuntos, da relevância da pauta. Eu estou mostrando exemplos de quem faz a diferença” (EDITORA 1, 2016, informação verbal). Para ela, a oferta de assunto sobre o Estado é bem diversificada:

A minha visão é que a gente não tem que oferecer apenas o que é a cara da Bahia, para não ficar só no folclórico. A gente pode oferecer também matérias de economia, por exemplo, mudança de salário mínimo, porque tem que ser só por São Paulo? Na Bahia, 80% da população ganha salário mínimo, então é muito mais forte fechar por aqui. Até porque São Paulo está nas novelas, está nas propagandas, na maior parte das matérias, então, mesmo que seja outro sotaque, outro cenário de fundo das sonoras de “O Povo Fala”, já dá outro ar ao telejornal, isso é o que eu defendo lá, esse é o meu argumento. Isso dá uma cara de jornal nacional (EDITORA 1, 2016, informação verbal).

Para o repórter de rede José Raimundo, há 28 anos na emissora, os temas das pautas sobre a Região no “Jornal Nacional” foram mudando ao longo do tempo:

Já teve um período em que as matérias eram relacionadas a seca e a corrupção nas prefeituras do interior do Nordeste. Isso, durante muito tempo era um tema que invariavelmente tinha uma aprovação. De uns tempos para cá, eu acho que isso mudou um pouco porque o Nordeste tem muitas coisas que são interessantes. [...] O olhar da Globo para o Nordeste não é aquele apenas dos problemas da seca e da corrupção. Acho que os bons exemplos já fazem parte hoje do cardápio que o “Jornal Nacional” tenta oferecer para os telespectadores (APÊNDICE D).

Quando questionado se ainda existem muitos clichês sobre a Região, Zé Raimundo, como é mais conhecido, confessa que evita cair no “lugar comum”:

Eu sou muito exigente comigo mesmo. Eu não me permito fazer isso, não, eu não gosto desses clichês, eu tento fugir deles o máximo. Não sei se eu consigo, mas eu tento muito fugir deles. Eu acho que o texto de televisão, ele tem que facilitar o entendimento, ele não pode ser descritivo, até porque as imagens já estão ali contando tudo, né? O desafio é você interpretar aquilo que a imagem está mostrando que as pessoas às vezes não estão enxergando. O repórter é aquele que vai ali contando uma historinha, as estrelas são os personagens, são as pessoas que estão fazendo parte daquela história (APÊNDICE D).

Em relação ao sotaque nordestino, diz que pode até ajudar:

Eu nunca sofri a menor restrição em alguma matéria por causa do sotaque. Meu sotaque baiano, ninguém nunca reclamou disso. Eu acho que isso ajuda a identificar os repórteres. Quando entra a matéria do Chico José, todo mundo já sabe que é o Chico José, quando entra o José Raimundo, todo mundo já sabe também, porque é um sotaque bem característico (APÊNDICE D).

Segundo o outro repórter de rede, há 13 anos na TV Bahia, que denominamos aqui Repórter 2, no início, a política da Globo era contratar profissionais de outros estados e relocar para onde ela achava interessante e necessário:

Foi o meu caso. Eu sou paraense, de Belém, mas comecei minha carreira na EPTV de Ribeirão Preto, São Paulo. Fui para Alagoas e depois eu vim para a Bahia. Outros repórteres foram de São Paulo para Fortaleza. Eu acho que isso deu uma parada agora (REPÓRTER 2, 2016, informação verbal).

Quanto às pautas sobre a Bahia, o Repórter 2 diz que a variedade de assuntos é muito grande e que o Carnaval é inevitável:

O “JN” gosta muito do olhar diferenciado dentro de um fato que já é conhecido. O Carnaval já é uma coisa batida, então os caras querem alguma coisa diferente. Uma vez sugeri um Carnaval visto do alto do trio. Ficamos o tempo inteiro em cima do trio e gravamos só as coisas que a gente via curiosas lá de cima, também ficou muito legal. Eu faço também o varejo, digamos, do jornalismo do Estado, a seca por exemplo. Tive agora em Sobradinho. Como o “JN” é um jornal que abre espaço para diversas vertentes de pautas, acho que a gente pode trabalhar com uma variedade muito grande (REPÓRTER 2, 2016, informação verbal).